sexta-feira, 11 de março de 2022

Poema: Buscando a Cristo, Gregório de Matos

 Soneto: Buscando a Cristo

A vós correndo vou, braços sagrados,

Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

 

A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, pra chamar-me.

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

1- A quem o poeta se dirige nesse poema?

A Jesus Cristo crucificado.

 

2-Com que intenção o eu lírico se dirige a esse interlocutor?

Para obter o perdão de seus pecados.

 

3-Qual pé a contradição presente na primeira estrofe? Explique-a

O eu lírico diz que os braços de Cristo estão abertos ( para recebe-lo) e pregados ( para não castiga-lo)

 

4- Na segunda estrofe também há uma contradição. Qual é ela?

Os olhos de Cristo estão abertos, para perdoar o eu lírico, e fechados (cobertos de sangue e lágrimas) , para não condená-lo.

 

5- no poema, há dois processos bastante utilizados pela poesia do Barroco: a disseminação e recolha e a estrutura paralelística.

a) Aponte a passagem em que ocorre a disseminação e recolha.

Na última estrofe do poema, em que as palavras "unir” e “ atar” são colocadas nos dois primeiros versos e retomadas no último.

b) Mostre o  paralelismo no poema.

Aparece na repetição de “ A vós”, no decorrer das estrofes, assim como na repetição da estrutura sintática dos versos ( a vós+ vocativo+ por...)

 

Entendendo melhor:

 Este soneto ilustra uma característica típica do Barroco: o uso de situações ambivalentes, que possibilitam dupla interpretação. Assim, os braços de Cristo são apresentados como abertos e cravados (presos); seus olhos estão despertos e fechados, cada um desses estados permite ao poeta fazer uma interpretação sempre positiva do gesto divino. Os braços estão abertos para acolher o fiel que se dirige a Deus e cravados para não castiga-lo pelos pecados que ele cometeu.

O soneto desenvolve uma argumentação que busca convencer o leitor de uma verdade religiosa: o perdão de Deus é absoluto. A imagem de Cristo crucificado dá origem às metonímias ( utilização da parte para referir-se ao todo) que constituirão os argumentos apresentados por Gregório de Matos Guerra. Cada uma das partes do corpo de Cristo representa uma atitude acolhedora, magnânima, uma manifestação de bondade e comiseração.

Os versos 5, 9, 10, 11, 12 e 13 constroem-se com a omissão do verbo, já referido no 1º verso – correndo vou. Em todos eles ocorre o procedimento estilístico denominado zeugma. Assim nos versos mencionados você deve ler:

·         A vós (correndo vou) divinos olhos, eclipsados.

·         A vós (correndo vou) pregados pés, por não deixar-me,

·         A vós (correndo vou) pregados pés, por não deixar-me,

·         A vós (correndo vou) sangue vertido, para ungir-me,

·         A vós (correndo vou) cabeça baixa, pra chamar-me

·         A vós ( correndo vou)  lado patente, quero unir-me,

Outro recurso estilístico utilizado pelo autor é a anáfora – repetição de palavras no início de dois ou mais versos. Observe o poema a repetição da expressão “ A VÓS”.

Na última estrofe, podemos identificar o tema do FUSIONISMO: o fiel, reconhecendo os sinais de que será acolhido por Deus, manifesta o seu desejo de “ficar unido, atado e firme” ao Cristo crucificado

 

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