Soneto: Buscando a Cristo
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa
cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós,
divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós,
pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, pra chamar-me.
A vós,
lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
1- A quem o poeta se dirige nesse poema?
A
Jesus Cristo crucificado.
2-Com que intenção o eu lírico se dirige
a esse interlocutor?
Para
obter o perdão de seus pecados.
3-Qual pé a contradição presente na
primeira estrofe? Explique-a
O
eu lírico diz que os braços de Cristo estão abertos ( para recebe-lo) e
pregados ( para não castiga-lo)
4- Na segunda estrofe também há uma
contradição. Qual é ela?
Os
olhos de Cristo estão abertos, para perdoar o eu lírico, e fechados (cobertos
de sangue e lágrimas) , para não condená-lo.
5- no poema, há dois processos bastante utilizados
pela poesia do Barroco: a disseminação e recolha e a estrutura paralelística.
a) Aponte a passagem em que ocorre a disseminação
e recolha.
Na
última estrofe do poema, em que as palavras "unir” e “ atar” são colocadas nos dois
primeiros versos e retomadas no último.
b) Mostre o paralelismo no poema.
Aparece
na repetição de “ A vós”, no decorrer das estrofes, assim como na repetição da
estrutura sintática dos versos ( a vós+ vocativo+ por...)
Entendendo melhor:
Este soneto ilustra uma
característica típica do Barroco: o uso de situações ambivalentes, que
possibilitam dupla interpretação. Assim, os braços de Cristo são apresentados
como abertos e cravados (presos); seus olhos estão despertos e fechados, cada
um desses estados permite ao poeta fazer uma interpretação sempre positiva do
gesto divino. Os braços estão abertos para acolher o fiel que se dirige a Deus
e cravados para não castiga-lo pelos pecados que ele cometeu.
O soneto desenvolve uma argumentação que busca convencer o leitor de uma
verdade religiosa: o perdão de Deus é absoluto. A imagem de Cristo crucificado
dá origem às metonímias ( utilização da parte para referir-se ao todo) que
constituirão os argumentos apresentados por Gregório de Matos Guerra. Cada uma
das partes do corpo de Cristo representa uma atitude acolhedora, magnânima, uma
manifestação de bondade e comiseração.
Os versos 5, 9, 10, 11, 12 e 13
constroem-se com a omissão do verbo, já referido no 1º verso – correndo vou. Em todos eles
ocorre o procedimento estilístico denominado zeugma. Assim nos versos
mencionados você deve ler:
·
A vós (correndo vou) divinos olhos,
eclipsados.
·
A vós (correndo vou) pregados pés,
por não deixar-me,
·
A vós (correndo vou) pregados pés,
por não deixar-me,
·
A vós (correndo vou) sangue vertido,
para ungir-me,
·
A vós (correndo vou) cabeça baixa, pra
chamar-me
·
A vós ( correndo vou) lado
patente, quero unir-me,
Outro recurso estilístico utilizado
pelo autor é a anáfora – repetição de palavras no início de dois ou mais
versos. Observe o poema a repetição da expressão “ A VÓS”.
Na última estrofe, podemos
identificar o tema do FUSIONISMO: o fiel,
reconhecendo os sinais de que será acolhido por Deus, manifesta o seu desejo de
“ficar unido, atado e firme” ao Cristo crucificado
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