quinta-feira, 3 de novembro de 2016

MODERNISMO BRASILEIRO- 2ª fase(1930-1945)



Capítulo 4 - Página 82-               3º E.M.- MODERNISMO BRASILEIRO- 2ª fase(1930-1945)
Autores- Poesia- (fase existencialista e crítica na poesia )
 Um rico período de construção
 Abandonando o espírito destrutivo e irreverente dos primeiros momentos do Modernismo, a poesia, mais ou menos a partir de 1930, apresenta um gradual amadurecimento.
 Aproveitando a liberdade estética conquistada e elaborando uma linguagem pessoal, os poetas da segunda fase desenvolveram plenamente suas tendências próprias sem a preocupação de chocar ou agredir o público tradicionalista.
O caráter construtivo da segunda geração caracteriza-se por uma revalorização de determinadas formas tradicionais, como o soneto, conciliando a combatividade de sua linguagem com a necessidade de polissemia, de riqueza, de significados.
 Segunda geração (1930-1945): fase de consolidação do Modernismo no Brasil. Na poesia, autores como Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e Cecília Meireles (1901-1964) apresentam preocupação acentuada com a análise do ser humano e suas angústias - reflexo da sociedade em crise, na qual é essencial indagar o sentido da existência.

1-        
Carlos Drummond de
Andrade-
( M.G 1902- R.J. 1987)

 O mais importante poeta brasileiro.

Característica  da poesia:
A poesia mostra um ambiente familiar repleto de tradições e valores de Minas Gerais numa linguagem coloquial onde mistura sentimentalismo, irreverência e ironia. Constantes traços de  ironia, humor e antilirismo(sem sentimentalismo) .Tematicamente, expressa preocupações reflexivas, voltadas para o homem do mundo.
Trabalha tanto versos livres quanto tradicionais. Cria uma linguagem poética inimitável , inconfundível, seca, precisa, direta, que não disfarça o objeto ou a coisa.


 O Poema de Sete Faces(página 82) é significativo da primeira fase da poesia de Drummond, onde o poeta se coloca como um "gauche", um desajeitado, cujo coração - mais vasto que o mundo transborda. Mas transborda com ironia, humor, sarcasmo.
 No meio do caminho, por sua vez, é o poema mais "antipoético" da literatura brasileira , ilustra a travessia do poeta entre o individual e o social, o coração e o mundo.
 A pedra no caminho, é o obstáculo que distancia o sujeito do objeto, o homem de seus sonhos, marca o itinerário poético de Drummomd, cada vez mais dirigido ao real.
 José, é o "beco sem saída", a consciência da solidão, da vontade de não continuar. Oscilação entre o coração e o mundo, querer fugir sem ter para onde.
2-        
Cecília Meireles
(1901-1964)
Tem preferência pelo vago, espiritualista. Seus versos são curtos. Numa expressão poética muito rica e clara, conduz o leitor à visualização rápida e fácil. Trabalha a matéria histórica em “Romanceiro da Inconfidência”, mostrando o desastre que desabou sobre os poetas supostos conjurados.
A poesia de Cecília Meireles caracteriza-se principalmente pela leveza, pela delicadeza com que tematiza a passagem do tempo , a transitoriedade da vida, a fugacidade dos objetos, que aparecem impalpáveis em seus poemas, influenciados por filosofias orientais e elaborados com linguagem predominantemente sensorial e intuitiva, herdando a linguagem musical do Simbolismo. O sentimento de saudade, melancolia e do tempo que passa, marcada por nota de tristeza e desencanto, revela-se como uma das mais significativas expressões do lirismo moderno.

Retrato
 Eu não tinha este rosto de hoje,
 assim calmo, assim triste, assim magro
 nem estes olhos tão vazios,
 nem o lábio amargo.

 Eu não tinha estas mãos sem força,
 tão paradas e frias e mortas;
 eu não tinha este coração 
 que nem se mostra.

 Eu não por esta mudança,
 tão simples, tão certa, tão fácil:
 -Em que espelho ficou perdida a minha face?

 Presença da primeira pessoa: "eu lírico" descrevendo o próprio rosto.
 Advérbio de negação e pronome demonstrativo = passagem de tempo e transitoriedade da vida. Melancolia do "eu lírico".
 Há também o uso seguido da palavra "assim", dando ritmo lento ao verso, como se a passagem do tempo fosse imperceptível para o "eu lírico".
 Cecília Meireles, abordou o tema da transitoriedade da vida, sua passagem de maneira filosófica, universal, recebendo influências do grupo espiritual ao qual pertenceu.
3-        
Vinícius de Moraes
(1913-1980)

Numa primeira fase é considerado poeta transcendental e místico. Na segunda fase traz a aproximação do poeta com o mundo material(sonetos). Suas poesias transbordam de lirismo.
Crítico cinematográfico, exerceu também a carreira diplomática. Foi  um dos poetas mais famosos do Brasil, principalmente pela projeção adquirida por sua ligação com a Bossa Nova. A sua poesia denota certa impregnação religiosa, com poemas longos, de acentos bíblicos, mas que abandonou pouco a pouco em favor de sua tendência natural: A poesia intimista, pessoal, voltada para o amor físico, com uma linguagem ao mesmo tempo realista, coloquial e lírica.
Soneto de separação página 91
. A forma soneto, os verbos decassílabos e as rimas regulares associam-se à musicalidade, às aliterações (silencioso e branco como a bruma), fazendo-se pensar no Simbolismo.
4-        
Murilo  Mendes
(poesias difíceis)
(1901-1975)
Poeta com grande liberdade de expressão.
Procurando incorporar uma visão global do ser humano na sua poesia, a linguagem de Murilo Mendes caminhou por diversos rumos, explorando profundamente as potencialidade linguísticas e exigindo sempre do leitor uma participação ativa na decifração de seus textos. Essa preocupação com a linguagem era uma constante fundamental de Murilo Mendes, para quem a poesia era "o pão quotidiano de todos, uma aventura simples e grandiosa do espírito".
Aproximação do terror
Dos braços do poeta
Pende a ópera do mundo
(Tempo, cirurgião do mundo) :

O abismo bate palmas,
A noite aponta o revólver.
Ouço a multidão, o coro do universo,
O trote das estrelas
Já nos subúrbios da caneta:
As rosas perderam a fala.
Entrega-se a morte a domicílio.
Dos braços...
pende a ópera do mundo.


5-        
Jorge de Lima
+ 1953
Descendente de senhores de engenho, sua poesia vem marcada pela paisagem de sua infância e adolescência, numa atmosfera carregada da presença do escravo negro e , do engenho. Em suas poesias há sentimento religioso(cristianismo)
De modo geral, a crítica costuma reconhecer quatro fases na evolução poética de Jorge de Lima: a parnasiana do livro XIV Alexandrinos, do qual se destaca o soneto "O acendedor de lampiões"; de 1927 a 1932, estava presente o tema das recordações da infância passada no nordeste. É desta fase o poema "Nega Fulô". Logo depois dessa preocupação regionalista, Jorge de Lima passou a escrever poemas de caráter religioso e místico; esta temática continuou em textos esparsos  e nos livros A túnica inconsútil, Anunciação e Encontro de Mira-Celi. O tema das recordações dos escravos e do misticismo africano reapareceu em Poemas negros. Sua última obra, Invenção de Orfeu, é um longo poema com características épicas que expressa simbolicamente uma profunda reflexão sobre a vida humana e o universo.
Pai João
 Pai João secou como um pau sem raiz.-
Pai João vai morrer.
Pai João remou nas canoas.-
Cavou a terra.
Fez brotar do chão a esmeralda,
Das folhas - café, cana, algodão.
Pai João cavou mais esmeraldas
Que Pais Leme.
A filha de Pai João tinha um peito de
Turina para os filhos de Ioiô mamar:
Quando o peito secou a filha de Pai João
Também secou agarrada num
Ferro de engomar.
A pele de Pai João ficou na ponta
Dos chicotes.
A força de Pai João ficou no cabo
Da enxada e da foice.
A mulher de Pai João o branco
A roubou para fazer mucamas.
O sangue de Pai João se sumiu no sangue bom
Como um torrão de açúcar bruto
Numa panela de leite.-
Pai João foi cavalo pra os filhos de Ioiô montar.
Pai João sabia histórias tão bonitas que
Davam vontade de chorar.
Pai João vai morrer.
Há uma noite lá fora como a pele de Pai João.
Nem uma estrela no céu.
Parece até mandinga de pai João.





Livro – O Quinze-



Livro –
 O Quinze- primeiro e mais popular romance de Raquel de Queirós((Fortaleza, 17 de novembro de 1910Rio de Janeiro, 4 de novembro de 2003)
Tema: o Flagelo da seca- (grande seca no nordeste em 1915, vivida pela escritora em sua infância)-  Século XX.
           O Quinze é um romance regionalista de temática social. A história tem dois planos: a saga da família de Chico Bento (recheada de amarguras e desgraças) e a história de amor entre Vicente e Conceição, que na verdade não foi um romance concretizado, visto que a falta de comunicação entre os dois e o desnível cultural que os separam foram alguns dos ingredientes que levaram ao desfecho infeliz.
           O romance tem característica psicológica. A análise exterior dos personagens existe, mas a autora vai soltando uma característica aqui, outra além, sem interromper a narrativa para pormenores. A autora situa a história do romance no Ceará de 1915. O fato histórico importante da época era a própria seca de 1915 (o que origina o título do livro). Não há avanços nem recuos no tempo: a história é contada maneira tradicional, obedecendo à sequência de início, meio e fim. 
           A história acontece no Ceará, principalmente na região de Quixadá, onde se situam as fazendas de Dona Inácia (avó de Conceição), do Major (pai de Vicente) e de Dona Maroca (patroa de Chico Bento).  Há também o cenário urbano, destacando Fortaleza, por onde passa a família de retirantes de Chico Bento e onde mora Conceição. Quanto à linguagem, Não há uso de palavreado erudito. Sua linguagem é natural, direta, coloquial, simples, sóbria, condicionada ao assunto e á região, própria da linguagem moderna brasileira. É uma linguagem regionalista sem afetação, sem pretensão literária e sem vínculo obrigatório a um falar específico (modismo comum na tendência regionalista).
Personagens:
Conceição: Neta de Dona Inácia. É culta e tem ideias avançadas sobre a condição feminina de sua época. Tinha vocação para ser “solteirona”: não sentia vontade de casar, tendo uma perspectiva diferente do comportamento feminino tradicional da época (casar e fazer crescer os filhos). O único homem que lhe despertou desejos é o primo Vicente.
Dona Inácia: Avó de Conceição, espécie de mãe, pois foi quem a criou depois que a mãe verdadeira morreu. É dona da fazenda Logradouro, na região de Quixadá. Não aprova as idéias liberais da neta.
Vicente: Filho de fazendeiro rico (major). Desde menino, quis ser vaqueiro. No início, isso causava tristeza e desgosto à família, principalmente à mãe, Dona Idalina. Vicente é o vaqueiro não-tradicional da região. Cuida do gado com um desvelo incomum, mas cuida do que é seu, ao contrário dos outros (Chico Bento é o exemplo) que cuidam de gado alheio. Tem boas condições financeiras, mas é humano em relação à família e aos empregados.
Chico Bento: Chico Bento é o vaqueiro pobre que cuida do rebanho de Dona Maroca, da fazenda das Aroeiras, na região de Quixadá. Ele e Vicente são compadres e vizinhos. Chico Bento tem a mulher (Cordulina) e cinco filhos, todos ainda pequenos. Expulso pela seca e pela dona da fazenda, Chico Bento e família empreendem uma caminhada desastrosa em direção a Fortaleza. Perde dois filhos no caminho: um morre envenenado (Josias), o outro desaparece (Pedro). Antes de embarcar para São Paulo, doa o mais novo (Duquinha) para a madrinha, Conceição (que estava em Fortaleza, com a Dona Inácia, por causa da seca). De Fortaleza, Chico Bento e parte da família vão, de navio, para São Paulo.
Cordulina: É a esposa de Chico Bento. Personifica a mulher submissa, analfabeta, sofredora, com o destino atrelado ao destino do marido. É o exemplo da miséria como conseqüência da falta de instrução. 
Resumo do parentesco dos personagens:
Dona Inácia é avó de Conceição. Conceição tem uma casa em Fortaleza (onde trabalha como professora) e passa as férias com Dona Inácia no Quixadá (na fazenda do Logradouro). Dona Idalina é prima de Dona Inácia e mãe de Vicente (logo, Vicente e Conceição são primos). Dona Idalina é casada com o Major e moram numa outra fazenda perto do Quixadá. Vicente tem três irmãos: Lourdinha, Alice e Paulo (o orgulho da família, pois é promotor). Na região do Quixadá, tem outra fazenda, que é administrada pela Dona Maroca. É a fazenda de Aroeiras, que tem como vaqueiro Chico Bento. O Chico Bento é casado com Cordulina e eles têm cinco filhos. Mocinha é a irmã de Cordulina e vive com eles também.
Outros personagens: Chiquinha Boa (trabalhava na fazenda de Vicente, mas deixou a região rural na época da seca achando que o governo estava ajudando os pobres que migravam para a capital). Luis Bezerra: amigo de Chico Bento. Também trabalhou na fazenda de Dona Maroca (fazenda de Aoreiras), mas saiu e se tornou delegado. Pedro (filho de Chico Bento que desapareceu), Josias (filho de Chico Bento morto envenenado) e Duquinha (filho de Chico Bento doado à Conceição).
Resumo da história
    A história tem dois planos: temos a história da saga de Chico Bento e temos a história de Conceição. Vamos ver cada uma das duas separado.
História de Conceição
     Conceição sempre passa as férias na fazenda de Dona Inácia, no Quixadá (fazenda do Logradouro). Ela “se engraçava” com seu primo Vicente. Porém, por causa da seca, resolve voltar para sua casa em Fortaleza e leva Dona Inácia e sua família junto de trem. Conceição passou a trabalhar no Campo de Concentração, um lugar onde os retirantes do sertão recebem apoio e ajuda. Lá encontrou Chiquinha Boa, que trabalhou por um período na fazenda de Vicente. As duas conversam e Conceição descobre, por meio de Chiquinha Boa, que Vicente teve um caso “com uma caboclinha qualquer”. Vicente visita Conceição e ela, revoltada, passa a tratá-lo de modo indiferente. Vicente ficou sem entender o motivo e fica ressentido. Quando a seca acabou e voltou a chover, Dona Inácia volta sozinha para o Logradouro: Conceição permanece na capital.
História de Chico Bento
Ao mesmo tempo que se desenrola a história de Conceição (viaja para a capital fugindo da seca e trabalha no Campo de Concentração), se desenrola a história de Chico Bento. Ele era vaqueiro da fazenda de Aroeiras, da Dona Maroca. Porém, com a seca, Dona Maroca manda soltar o rebanho e expulsa os empregados para evitar maiores prejuízos. Chico Bento tem duas opções: ficar no sertão e morrer de fome, ou então migrar para algum outro lugar para tentar sobreviver. Junta um pouco de dinheiro, troca e vende algumas reses e consegue uma burra negociando com Vicente. Começam a viajar (ele, a mulher, a cunhada Mocinha e os cinco filhos). A cunhada Mocinha, no trajeto, encontra uma casa para trabalhar (casa da dona Eugênia), vendendo café na estação de trem. Porém, ela passou mais tempo namorando e se engraçando com os homens do que trabalhando. Eugênia, revoltada, despediu Mocinha, que continuou vivendo por aí. Na história, acabou se tornando uma “mulher da vida”, com um filho sem pai.
Chico Bento continuou sua saga. Josias, seu filho, morrendo de fome, comeu uma mandioca crua e acabou morrendo envenenado. A burra já estava morrendo, então Chico a vendeu por 6 mil réis antes dela morrer. Depois vem o episódio da cabra roubada: Chico Bento encontra uma cabra no caminho e, desesperado, a mata para poder comê-la. Nesse ínterim, aparece o dono da cabra e, ao ver o animal morto, se revolta. Acusa Chico Bento de ladrão e recolhe o corpo do animal. Chico Bento, desesperado e com a família morrendo de fome, pede para o dono da cabra deixar um pouco de carne. Ele, revoltado com Chico Bento, deixa apenas as tripas para Chico Bento e vai embora.
Depois, Pedro (outro filho de Chico Bento) desaparece. Chico Bento vai até a delegacia para pedir ajuda e o delegado o reconhece (é o Luís Bezerra, amigo de Chico Bento há algum tempo). O delegado ajuda a procurar o menino e descobre que ele se misturou com comboieiros de cachaça (o que seria melhor para o menino do que ficar com o próprio pai e conviver c om sua desgraça de retirante). O delegado alimentou e arranjou passagens de trem para Chico Bento e sua família (quer dizer, para o que restou da família) viajar para Fortaleza.
Ao chegarem lá, Chico Bento e sua família ficou no Campo de Concentração e se encontraram com Conceição, que os ajudou. Com a ajuda de Conceição, Chico Bento conseguiu um trabalho no açude do Tauape. A moça enviou um bilhete à senhora que administrava o serviço, tentando comovê-la com a história da família do vaqueiro. Conceição adota Duquinha (Manuel), o caçula dos filhos de Chico Bento, já que estava doente e precisava de socorro: estava prestes a morrer. Chico Bento resolve ir para São Paulo para tentar novas oportunidades, visto que o emprego na represa (açude) do Tauape não estava rendendo (pagavam muito pouco, mal dava para sobreviver e sustentar a família). Foram de navio.