terça-feira, 13 de dezembro de 2016

FIGURAS DE LINGUAGEM (ESTILÍSTICA) Página:



FIGURAS DE LINGUAGEM   (ESTILÍSTICA)                                                  Página:  
 A Estilística estuda os processos de manipulação da linguagem que permitem a quem fala ou escreve sugerir conteúdos emotivos e intuitivos por meio das palavras. Além disso, estabelece princípios capazes de explicar as escolhas particulares feitas por indivíduos e grupos sociais no que se refere ao uso da língua.
As figuras de linguagem são exemplos de linguagem conotativa, por isso empregadas pelos autores em suas produções (narrativas ou versos poéticos), mas também, usadas na linguagem popular.
Revisão:Conotação e denotação
A língua portuguesa é rica, interessante, criativa e versátil, encontrando-se em constante evolução. As palavras não apresentam apenas um significado objetivo e literal, mas sim uma variedade de significados, mediante o contexto em que ocorrem e as vivências e conhecimentos das pessoas que as utilizam.

Exemplos de variação no significado das palavras:
·         Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido próprio ou literal)
·         Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido figurado)
·         Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)
As variações nos significados das palavras ocasionam o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo (conotação) das palavras. O sentido denotativo é também conhecido como sentido próprio ou literal e o sentido conotativo é também conhecido como sentido figurado.
Denotação
Uma palavra é usada no sentido denotativo (próprio ou literal) quando apresenta seu significado original, independentemente do contexto frásico em que aparece. Quando se refere ao seu significado mais objetivo e comum, aquele imediatamente reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro significado que aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da palavra.
A denotação tem como finalidade informar o receptor da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo assim um caráter prático e utilitário. É utilizada em textos informativos, como jornais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de medicamentos, textos científicos, entre outros.
Exemplos:
·         O elefante é um mamífero.
·         Já li esta página do livro.
·         A empregada limpou a casa.
Conotação
Uma palavra é usada no sentido conotativo (figurado) quando apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes interpretações, dependendo do contexto frásico em que aparece. Quando se refere a sentidos, associações e ideias que vão além do sentido original da palavra, ampliando sua significação mediante a circunstância em que a mesma é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbólico.
A conotação tem como finalidade provocar sentimentos no receptor da mensagem, através da expressividade e afetividade que transmite. É utilizada principalmente numa linguagem poética e na literatura, mas também ocorre em conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios publicitários, entre outros.
Exemplos:
·         Você é o meu sol!
·         Minha vida é um mar de tristezas.
·         Você tem um coração de pedra!

FIGURAS DE LINGUAGEM
I-  Figuras de palavras: metáfora,  metonímia, catacrese, perífrase e sinestesia

1-Metáfora- caracteriza-se pela substituição de um termo por outro. É o resultado de uma comparação mental, em que se apresentam dois ou mais elementos comparados em relação a uma qualidade comum a ambos os conjuntos. A metáfora é sempre uma imagem, isto é, representação mental de uma realidade sensível. Na metáfora, o raciocínio básico que se faz é o seguinte:
Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gifO leão é forte. Meu amigo é forte. – Fato
Meu amigo é forte como um leão. (Comparação)
Meu amigo é um leão. (Metáfora)
A rosa é bonita. Alessandra é bonita. – Fato
Alessandra é bonita como uma rosa. (Comparação)
Alessandra é uma rosa. (Metáfora)

Comparação-Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gifConsiste na aproximação de dois seres pela sua semelhança, de forma que as características de um sejam atribuídas ao outro. Na comparação, sempre há um elemento comparativo conectando os elementos, tais como como, tal qual, semelhante a, que nem, etc.
Exemplo: Paulo é forte como um touro.

2-Metonímia - Consiste na utilização de uma palavra em lugar de outra, por um processo de semelhança existente entre elas. Os principais casos de metonímia são:
Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gif
a) o nome do autor pela obra – Ler Machado de Assis é complicado. (as obras de Machado de Assis). is Gosto de ler Machado de Assis. (= Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis.)
Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gifb) o nome da divindade pela função – Marte entra com força no terceiro milênio. (guerra)
Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gifc) o continente pelo conteúdo – Tome apenas uma xícara desse chá. (o chá contido na xícara),
 Bebeu o cálice todo. (= Bebeu todo o líquido que estava no cálice.)
*       d) o lugar pelo produto característico – Tomar champanhe em festas é comum. (produto originário da região francesa de Champagne), Fumei um saboroso havana. (= Fumei um saboroso charuto.)
Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gife) a causa pela consequência – Estão destruindo o verde do País. (as matas)
Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.giff) o concreto pelo abstrato – O futuro pertence aos jovens. (juventude)
Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gifg) a marca pelo produto – Ele sempre gostou de coca-cola. (refrigerante à base de cola) ,
*       Minha filha adora danone. (= Minha filha adora o iogurte que é da marca danone.)
 h) o efeito pela causa – Sócrates tomou a morte. (veneno) Sócrates bebeu a  morte. (= Sócrates tomou veneno.)
Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gifi) o conteúdo pelo continente – As ondas beijavam a areia. (= a praia)
Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gifj) o instrumento pela pessoa – Ele é um bom garfo. (comilão),
Os microfones foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás dos jogadores.)
kDescrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gif) o sinal pela coisa significada – A cruz atingirá o Oriente. (Cristianismo)
l) Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (= As lâmpadas iluminam o mundo.)
m) Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da cruz. (= Não te afastes da religião.)
A balança penderá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado.)
v) o todo pela parte – As rodas levam progresso ao Brasil inteiro. (os caminhões)
n) Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que produzo.)
o) Parte pelo todo: Várias pernas passavam apressadamente. (= Várias pessoas passavam apressadamente.)
p) Gênero pela espécie: Os mortais pensam e sofrem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse mundo.)
r) Singular pelo plural: A mulher foi chamada para ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram chamadas, não apenas uma mulher.)
s) Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (= Alguns astronautas foram à Lua.)
0) o singular pelo plural – O francês é famoso por sua culinária. (os franceses)
w) a matéria pelo instrumento – Chegara a hora das cordas. (instrumentos de corda)
y) o abstrato pelo concreto – A audácia vencerá sempre. (audaciosos)

3- Catacrese- Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro "emprestado". Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original.
Exemplos: "asa da xícara"
"batata da perna"
maçã do rosto"
"da mesa"
"braço da cadeira"
"coroa do abacaxi"
4- Perífrase- trata-se de uma expressão que designa um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.
Exemplo: A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua atraindo visitantes do mundo todo.
4.1.Antonomásia
Obs.: quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o nome de ANTONOMÁSIA.
Exemplos:
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem.
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
A exploração das camadas pré-sal promete revelar grandes bolsões de ouro negro.
Acima, a sequência de palavras ouro negro visa substituir o termo único petróleo.
Comerciantes do centro de São Paulo alertam sobre os prejuízos causados pelos amigos do alheio.
Neste caso, a expressão amigos do alheio, muito utilizada no início do período da República, visa substituir o termo ladrões.
“O apelido mais célebre ainda é ‘Dama de Ferro’, mas nas últimas semanas ela se tornou também a ‘Altamiranta Tatcher’ (...)”. No trecho acima, o autor usa a expressão “Dama de Ferro” para designar a primeira-ministra da Inglaterra, Margaret Thatcher, substituindo seu nome por uma característica da qual se tornou notória.
“O seminário de segunda-feira será sobre o ‘poeta dos escravos’.” Nesta sentença, a expressão “poeta dos escravos” foi usada para designar o poeta “Castro Alves”, que se tornou conhecido por escrever “O Navio Negreiro”, poema épico-dramático que denuncia a escravização e o modo de transportar os negros para o Brasil, apesar de já vigorar aqui a Lei Eusébio de Queiroz.
Quando designamos uma pessoa pelos seus atributos ou por referências a circunstâncias em que se envolveu, estamos fazendo uso da antonomásia. Essa figura de linguagem é muito utilizada nos textos escritos e falados.
Veja alguns exemplos de antonomásia muito comuns no cotidiano:
“O repórter de Canudos” – Euclides da Cunha.
“O engenheiro da palavra” – João Cabral de Melo Neto.
“O rei do cangaço” – Lampião.
“O rei do pop” – Michael Jackson.
“O rei do futebol” – Pelé.
“O Rei” – Roberto Carlos.

5-Sinestesia- Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido. (audição, tato, visão, olfato e paladar)
Exemplos: Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = auditivo; áspero = tátil)
No silêncio negro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = auditivo; negro = visual)
II -Figuras de pensamento: antítese, paradoxo, eufemismo, ironia, hipérbole, prosopopeia ou personificação, apóstrofe e gradação.
6-Antítese -(= ideias contrárias) -Consiste na utilização de dois termos que contrastam entre si. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos.
Exemplos: Buscas a morte, eu, a vida; buscas as trevas, eu, a luz.
 "O mito é o nada que é tudo." (Fernando Pessoa)
O corpo é grande e a alma é pequena.
"Quando um muro separa, uma ponte une."
"Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores." (Castro Alves)
Felicidade e tristeza tomaram conta de sua alma.
7-Paradoxo -Pode ser considerada uma antítese levada ao extremo, em que há quebra da lógica, chegando a atingir o  absurdo ( ideias contraditórias)
Exemplos: Amor é fogo que arde sem se ver / É ferida que dói e não se sente / É um contentamento descontente / É dor que desatina sem doer.
Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha mais tem dificuldades econômicas
8-Eufemismo -Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gifConsiste na utilização de formas mais suaves, menos agressiva para amenizar termos ou expressões que possam chocar o interlocutor.
Exemplos:Descrição: http://interna.coceducacao.com.br/ebook/pages/images/dot.gifFicou rico usando os meios ilícitos dentro daquele país.
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor. (= morreu)
O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)

9- Ironia- Consiste em se dizer exatamente o contrário do que realmente se deseja. Questionar certo tipo de pensamento com a intenção de ridicularizá-lo, ou ainda em  ressaltar algum aspecto passível de crítica. A ironia deve ser muito bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emissor.
Exemplos:A excelente D. Escolástica era mestra na arte de judiar de crianças. Ironia
Como você foi bem na última prova, não tirou nem a nota mínima!
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto.

10-Hipérbole- Consiste numa expressão intencionalmente exagerada, com a finalidade de impressionar o interlocutor.
Exemplos: Ele se afogava num dilúvio de e-mails todo final de semana.
. Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
"Rios te correrão dos olhos, se chorares." (Olavo Bilac)

11- Prosopopeia ou personificação :consiste em atribuir características animadas ou humanas a seres inanimados ou irracionais.
Exemplos: Ontem, as estrelas contavam histórias; hoje, choram mortos. Prosopopeia ou Personificação
As pedras andam vagarosamente.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um cego que guia.
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra.
O vento fazia promessas suaves a quem o escutasse.
Chora, violão.

12-Apóstrofe: Consiste na "invocação" de alguém ou de alguma coisa personificada, de acordo com o objetivo do discurso que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginário ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidência com tal invocação.  Realiza-se por meio do vocativo.
Exemplos: Deus, ó Deus, onde estás que não respondes? Castro Alves
Moça, que fazes aí parada?
"Pai Nosso, que estais no céu..."
"Liberdade, Liberdade,
Abre as asas sobre nós,
Das lutas, na tempestade,
Dá que ouçamos tua voz..." (Osório Duque Estrada)

13-Gradação. Consiste em dispor as ideias por meio de palavras, sinônimas ou não, em ordem crescente ou decrescente. Quando a progressão é ascendente, temos o clímax; quando é descendente, o anticlímax.
Exemplos: Tímida, sorriu... riu baixinho... sedutoramente...
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana com seus olhos claros e brincalhões...(O objetivo do narrador é mostrar a expressividade dos olhos de Joana. Para chegar a esse detalhe, ele se refere ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e seus olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso em ordem decrescente de intensidade. )
"Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu amor". (Olavo Bilac)
"O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se." (Padre Antônio Vieira)

III- Figuras de Construção ou Sintáticas: Elipse, Zeugma, Silepse, Polissíndeto / Assíndeto, Pleonasmo, Anáfora, Anacoluto, Hipérbato / Inversão
14- Elipse-Consiste na omissão de um ou mais termos numa oração que podem ser facilmente identificados, tanto por elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto pelo contexto. Exemplos:
 A cada um o que é seu. (Deve se dar a cada um o que é seu.)
 Tenho duas filhas, um filho e amo todos da mesma maneira. (Nesse exemplo, as desinências verbais de tenho e amo permitem-nos a identificação do sujeito em elipse "eu".)
 Regina estava atrasada. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ela, Regina, preferiu ir direto para o trabalho, pois estava atrasada.)
 As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto. (As margaridas florescem em agosto.) Sairemos mais cedo hoje. (nós)

15-Zeugma- Consiste na omissão de um termo que já apareceu anteriormente.
Exemplo: Eles seguem para direita, nós, para a esquerda. Zeugma
Ele gosta de geografia; eu, de português.
Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só móveis modernos.
Ela gosta de natação; eu, de vôlei.
No céu há estrelas; na terra, você.


16- Silepse-  Consiste na  concordância que se faz com o termo que não está expresso no texto, mas sim com a ideia que ele representa. É uma concordância anormal, psicológica, espiritual, latente, porque se faz com um termo oculto, facilmente subentendido. Há três tipos de silepse: de gênero (Vossa Majestade mostrou-se preocupado.), de número (O povo assustaram-se com os impostos.) e de pessoa (Os brasileiros somos hospitaleiros.)
Silepse de Gênero -Os gêneros são masculino e feminino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:
1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor intenso.
Nesse caso, o adjetivo bonita não está concordando com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a cidade de Porto Velho).

2) Vossa excelência está preocupado.
Nesse exemplo, o adjetivo preocupado concorda com o sexo da pessoa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa excelência.
Silepse de Número- Os números são singular e plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas com a ideia que nele está contida. Exemplos:
A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade de Salvador.
Como vai a turma? Estão bem?
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.
Note que nos exemplos acima, os verbos andaram, estão e gritavam não concordam gramaticalmente com os sujeitos das orações (que se encontram no singular, procissão, turma e povo, respectivamente), mas com a ideia de pluralidade que neles está contida. Procissão, turma e povo dão a ideia de muita gente, por isso que os verbos estão no plural.
Silepse de Pessoa- Três são as pessoas gramaticais: a primeira, a segunda e a terceira. A silepse de pessoa ocorre quando há um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que está inscrita no sujeito.
Exemplos:
O que não compreendo é como os brasileiros persistamos em aceitar essa situação.
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
"Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins públicos." (Machado de Assis)
Observe que os verbos persistamos, temos e somos não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasileiros, agricultores e cariocas que estão na terceira pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, os agricultores e os cariocas).
17- Polissíndeto (muitas conjunções) / Assíndeto (sem conjunções)
Para estudarmos essas duas figuras de construção, é necessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre período composto. No período composto por coordenação, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo) é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assindética.
Recordado esse conceito, podemos definir as duas figuras de construção:
a) Polissíndeto:
É uma figura caracterizada pela repetição enfática dos conectivos. Observe o exemplo:
"Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)
E rola, e rebola, e mexe, e remexe...
"Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe da natureza.
b) Assíndeto
É uma figura caracterizada pela ausência, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando no uso de orações coordenadas assindéticas.
Exemplos:
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família.
"Vim, vi, venci." (Júlio César)
Trançou os cabelos, colocou o xale, saiu apressada

18-Pleonasmo:Consiste na repetição de uma ideia, com repetição ou não das mesmas palavras.
 A finalidade do pleonasmo é realçar a ideia, torná-la mais expressiva.
Exemplos:
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo. Nesta oração, os termos "o problema da violência" e "lo" exercem a mesma função sintática: objeto direto. Assim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o pronome "lo" classsificado como objeto direto pleonástico.
Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto
Nesse caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o pronome "lhes" exerce a função de objeto indireto pleonástico.
 "Vi, claramente visto, o lumo vivo." (Luís de Camões)
Resta-me a mim somente um caminho
"Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal." (Fernando Pessoa)
"E rir meu riso." (Vinícius de Moraes)
"O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem." (Manuel Bandeira)
Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quando confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um pleonasmo vicioso. Exemplos:
Vi aquela cena com meus próprios olhos.
Vamos subir para cima.

19-Anáfora: É a repetição de uma ou mais palavras no início de várias frases, criando assim, um efeito de reforço e de coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar determinado elemento textual. Os termos anafóricos podem muitas vezes ser substituídos por pronomes relativos
Exemplos: Tem mais samba no encontro que na espera. / Tem mais samba a maldade que a ferida...Chico Buarque
Encontrei um amigo ontem. Ele disse-me que te conhecia. O termo ele é um termo anafórico, já que se refere a um amigo anteriormente referido.
"Se você gritasse
Se você gemesse,
Se você tocasse
a valsa vienense
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro José!" (Carlos Drummond de Andrade)

20- Anacoluto: Consiste na  mudança da construção sintática no meio da frase, ficando alguns termos desligados do resto do período.
Exemplos:Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles. A expressão "esses alunos da escola" deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma interrupção da frase e essa expressão fica à parte, não exercendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é chamado de "frase quebrada", pois corresponde a uma interrupção na sequência lógica do pensamento.
O Alexandre, as coisas não lhe estão indo muito bem.
A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha. (Camilo Castelo Branco)
Obs.: o  anacoluto deve ser usado com finalidade expressiva em casos muito especiais. Em geral, deve-se evitá-lo.

21- Hipérbato ou inversão : é uma simples inversão dos termos da frase (inversão da ordem direta da frase- sujeito + predicado + complemento) , sem grandes dificuldades de entendimento do sentido.
Ex.: Já da morte o palor me cobre o rosto .Álvares de Azevedo

São como cristais as palavras. (Na ordem direta seria: As palavras são como cristais.)
Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: Eu cuido dos meus problemas.)

 Feliz ele estava.( Na ordem direta a frase ficaria: Ele estava feliz.)
Note que o uso do hipérbato pode comprometer muitas vezes o entendimento, ou mesmo gerar ambiguidade.
Hipérbato-Tanto na literatura, como na música, o hipérbato é usado muitas vezes para auxiliar na rima e sonoridade dos versos.
Mas lembre-se que também utilizamos essa figura de linguagem no cotidiano, por exemplo:
·         Está pronta a comida. (na ordem direta: a comida está pronta)
·         Morreu meu vizinho (na ordem direta: meu vizinho morreu)
Hipérbato na Música
O hino nacional brasileiro é um exemplo notório em que o hipérbato foi utilizado muitas vezes. Analise abaixo os trechos:
·         Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante
·         E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos, /Brilhou no céu da Pátria nesse instante.”
Ordem direta do primeiro trecho: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.
Ordem direta do segundo trecho: O sol da Liberdade brilhou em raios fúlgidos no céu da Pátria nesse instante.
Hipérbato na Literatura
O hipérbato é utilizado com fins estilísticos para dar maior ênfase ou expressividade à linguagem literária.
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada/E triste, e triste e fatigado eu vinha. /Tinhas a alma de sonhos povoada, /E alma de sonhos povoada eu tinha...” (Olavo Bilac)
Na ordem direta, o poema de Olavo Bilac ficaria: E eu vinha triste, e triste e fatigado/ Tinhas a alma povoada de sonhos/ E eu tinha a alma povoada de sonhos.
Aquela triste e leda madrugada, /cheia toda de mágoa e de piedade, /enquanto houver no mundo saudade, /quero que seja sempre celebrada.” (Luís de Camões)
Na ordem direta o primeiro verso do soneto de Camões ficaria: aquela madrugada
*- Anástrofe e Sínquise- São outras figuras de sintaxe que invertem os termos da frase são: a anástrofe e a sínquise.
A anástrofe é uma inversão suave dos termos frasais.
Já a sínquise é uma inversão mais acentuada e que pode prejudicar o entendimento do período.
Por esse motivo, a anástrofe e a sínquise são consideradas por diversos estudiosos como tipos de hipérbato.
Observação:
Hipérbato e Anacoluto
Muitas vezes o hipérbato é confundido com o anacoluto, no entanto eles são diferentes. O anacoluto apresenta uma irregularidade gramatical na estrutura gramatical do período, mudando de maneira repentina a estrutura da frase.
Exemplo: Ele, parece que está passando mal.
Dessa maneira, temos a impressão de que o pronome “ele” não exerce sua função sintática corretamente visto a pausa do período. E de fato, ele não possui relação sintática com os outros termos da frase.
O anacoluto altera, portanto, a sequência lógica do plano sintático dos termos da frase, o que não ocorre no hipérbato.
Já o hipérbato não é marcado por uma pausa, e sim pela inversão sintática dos termos da frase.
IV-Figuras de Som: Aliteração, Assonância e Onomatopeia
22- Aliteração- Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro significativo.
Exemplos:
Três pratos de trigo para três tigres tristes.
O rato roeu a roupa do rei de Roma.
"Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."
                               Cruz e Souza (Aliteração em "v")

23- Assonância - Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos.
Exemplos:
"Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral."

24- Onomatopeia- Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade. Exemplos:
Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.
Miau, miau. (Som emitido pelo gato)
Tic-tac, tic-tac fazia o relógio da sala de jantar.
Cócórócócó, fez o galo às seis da manhã.

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