terça-feira, 30 de outubro de 2018

Biruta (1961) Lygia Fagundes Telles

Livro: De conto em conto   9º ano                                      08 de outubro            Obs.: grifos da professora.

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Biruta (1961)                                  Lygia Fagundes Telles
Alonso foi para o quintal carregando uma bacia cheia de louça suja. Andava cm dificuldade, tentando equilibrar a bacia que era demasiado pesada para seus bracinhos finos.
  - Biruta, eh, Biruta! - chamou sem se voltar.
O cachorro saiu de dentro da garagem. Era pequenino e branco, uma orelha em pé e a outra completamente caída.
  - Sente-se aí, Biruta, que vamos ter uma conversinha - disse Alonso pousando a bacia ao lado do tanque. Ajoelhou-se, arregaçou as mangas da camisa e começou a lavar os pratos.
  Biruta sentou-se muito atento, inclinando interrogativamente a cabeça ora para a direita, ora para a esquerda, como se quisesse apreender melhor as palavras do seu dono. A orelha caída ergueu-se um pouco, enquanto a outra empinou, aguda e ereta. Entre elas, formaram-se dois vincos, próprios de uma testa franzida do esforço de meditação.
  - Leduína disse que você entrou no quarto dela - começou o menino num tom brando. - E subiu em cima da cama e focinhou as cobertas e mordeu uma carteirinha de couro que ela deixou lá. A carteira era meio velha e ela não ligou muito. Mas se fosse uma carteira nova, Biruta! Se fosse uma carteira nova! Me diga agora o que é que ia acontecer se ela fosse uma carteira nova!? Leduína te dava uma surra e eu não podia fazer nada, como daquela outra vez que você arrebentou a franja da cortina, lembra? Você se lembra muito bem, sim senhor, não precisa fazer essa cara de inocente!...
  Biruta deitou-se, enfiou o focinho entre as patas e baixou a orelha. Agora, ambas as orelhas estavam no mesmo nível, murchas, as pontas quase tocando o chão. Seu olhar interrogativo parecia perguntar:
"Mas o que foi que eu fiz, Alonso? Não me lembro de nada..."
  - Lembra sim senhor! E não adianta ficar aí com essa cara de doente, que não acredito, ouviu? Ouviu, Biruta?! - repetiu Alonso lavando furiosamente os pratos. Com um gesto irritado, arregaçou as mangas que já escorregavam sobre os pulsos finos. Sacudiu as mãos cheias de espuma. Tinha as mãos de velho .
  - Alonso, anda ligeiro com essa louça! - gritou Leduína, aparecendo por um momento na janela da cozinha. - Já está escurecendo, tenho que sair!
  - Já vou indo - respondeu o menino enquanto removia a água da boca. Voltou-se para o cachorro. E seu rostinho pálido se confrangeu de tristeza. Por que Biruta não se emendava, por quê? Por que razão não se esforçava um pouco para ser melhorzinho? Dona Zulu já andava impaciente. Leduína também. Biruta fez isso, Biruta fez aquilo...
  Lembrou-se do dia em que o cachorro entrou na geladeira e tirou de lá a carne. Leduína ficou desesperada, vinham visitas para o jantar, precisava encher os pastéis, "Alonso, você não viu onde deixei a carne?" Ele estremeceu. Biruta! Disfarçadamente, foi à garagem no fundo do quintal, onde dormia com o cachorro num velho colchão metido num ângulo de parede. Biruta estava lá deitado bem em cima do travesseiro, com a posta de carne entre as patas, comendo tranquilamente. Alonso arrancou-lhe a carne, escondeu-a dentro da camisa e voltou à cozinha. Deteve-se na porta ao ouvir Leduína queixar-se à dona Zulu que a carne desaparecera, aproximava-se a hora do jantar e o açougue já estava fechado, "o que é que eu faço, dona Zulu?"
  Ambas estavam na sala. Podia entrever a patroa a escovar freneticamente os cabelos. Ele então tirou a carne de dentro da camisa, ajeitou o papel já todo roto que a envolvia e entrou com a posta na mão.
  - Está aqui Leduína.
  - Mas falta um pedaço!
  - Esse pedaço eu tirei pra mim. Eu estava com vontade de comer um bife e aproveitei quando você foi na quitanda.
  - Mas por que você escondeu o resto? - perguntou a patroa, aproximando-se
  - Porque fiquei com medo.
Ele ainda tinha bem viva na memória a dor brutal que sentira nas mãos corajosamente abertas para os golpes da escova. Lágrimas saltaram-lhe dos olhos. Os dedos foram ficando roxos, mas ela continuava batendo com aquele mesmo vigor obstinado com que escovara os cabelos, batendo, batendo, como se não pudesse parar mais.
  - Atrevido! Ainda te devolvo pro asilo, seu ladrãzinho!
  Quando ele voltou à garagem, Biruta já estava lá, as duas orelhas caídas, o focinho entre as patas, piscando, piscando os olhinhos ternos. "Biruta, Biruta, apanhei por sua causa, mas não faz mal."
  Biruta então ganiu sentidamente. Lambeu-lhe as lágrimas. Lambeu-lhe as mãos.
  Isso tinha acontecido há duas semanas. E agora Biruta mordera a carteirinha de Leduína. E se fosse a carteira de dona Zulu?
  - Hem, Biruta?! E se fosse a carteira de dona Zulu?
  Já desinteressado, Biruta mascava uma folha seca.
  - Por que você não arrebenta minhas coisas? - prosseguiu o menino elevado a voz. - Você sabe que tem todas as minhas pra morder, não sabe? Pois agora não te dou presente de Natal, está acabado. você vai ver se ganha alguma coisa. Você vai ver!...
  Girou sobre os calcanhares, dando as costas ao cachorro. Resmungou ainda enquanto empilhava a louça na bacia. Em seguida, calou-se, esperando qualquer reação por parte do cachorro. Como a reação tardasse, lançou-lhe um olhar furtivo. Biruta dormia profundamente.
  Alonso então sorriu. Biruta era como uma criança. Por que não entendiam isso? Não fazia nada por mal, queria só brincar... Por que dona Zulu tinha tanta raiva dele? Ele só queria brincar, como as crianças. Por que dona Zulu tinha tanta raiva de crianças?
  Uma expressão desolada amarfanhou o rostinho do menino. "Por que dona Zulu tem que ser assim? O doutor é bom, quer dizer, nunca se importou nem comigo nem com você, é como se a gente não existisse, Leduína tem aquele jeitão dela, mas duas vezes já me protegeu. Só dona Zulu não entende que você é que nem uma criancinha. Ah Biruta, Biruta, cresça logo, pelo amor de Deus! Cresça logo e fique um cachorro sossegado, com bastante pêlo e as duas orelhas de pé! Você vai ficar lindo quando crescer, Biruta, eu sei que vai!"
  - Alonso! - Era a voz de Leduína. - Deixe de falar sozinho e traga logo essa bacia. Já está quase noite, menino.
  Alonso ergueu-se afobadamente. Mas antes de pegar a bacia meteu a mão na água e espargiu-a no focinho do cachorro.
  - Chega de dormir, seu vagabundo!
  Biruta abriu os olhos, bocejou com um ganido e levantou-se, estirando as patas dianteiras, num longo espreguiçamento.
  O menino equilibrou penosamente a bacia na cabeça. Biruta seguiu-o aos pulos, mordendo-lhe os tornozelos, dependurando-se com os dentes na barra do seu avental.
  - Aproveita, seu bandidinho! - riu-se Alonso. - Aproveita que eu estou com a mão ocupada, aproveita!
  Assim que colocou a bacia na mesa, ele inclinou-se para agarrar o cachorro. Mas Biruta esquivou-se, latindo. O menino vergou o corpo sacudido pelo riso.
  - Aí, Leduína que o Biruta judiou de mim!...
  A empregada pôs-se guardar rapidamente a louça. Estendeu-lhe uma caçarola com batatas:
  - Olhaí para o seu jantar. Tem ainda arroz e carne no forno.
  - Mas só eu vou jantar? - surpreendeu-se Alonso ajeitando a caçarola no colo.
  - Hoje é dia de Natal, menino. Eles vão jantar fora, eu também tenho a minha festa. Você vai jantar sozinho.
  Alonso inclinou-se. E espiou apreensivo para debaixo do fogão. Dois olhinhos brilharam no escuro: Biruta estava lá. Alonso suspirou. Era bom quando Biruta resolvia se sentar! Melhor ainda quando dormia. Tinha então a certeza de que não estava acontecendo nada. Atrégua. Voltou-se para Leduína.
  - O que o seu filho vai ganhar?
  - Um cavalinho - disse a mulher. A voz suavizou. - Quando ele acordar amanhã, vai encontrar o cavalinho dentro do sapato dele. Vivia me atormentado que queria um cavalinho, que queria um cavalinho...
  Alonso pegou uma batata cozida, morna ainda. Fechou-a nas mãos arroxeadas.
- Lá no asilo, no Natal, apareciam umas moços com uns saquinhos de balas e roupas. Tinha uma que já me conhecia, me dava sempre dois pacotinhos em lugar de um. A madrinha. Um dia, me deu sapato, um casaquinho de malha e uma camisa.
  - Por que ela não ficou com você?
  - Ela disse uma vez que ia me levar, ela disse. Depois, não sei por que ela não apareceu mais...
  Deixou cair na caçarola a batata já fria. E ficou em silêncio, as mãos abertas em torno a vasilha. Apertou os olhos. Deles, irradiou-se para todo o rosto uma expressão dura. Dois anos seguidos esperou por ela. Pois não prometera levá-lo? Não prometera? Nem lhe sabia o nome, não sabia nada a seu respeito, era apenas " a madrinha". Inutilmente a procupava entre as moças que apareciam no fim do ano com os pacotes de presentes. Inutilmente cantava mais alto do que todos no fim da festa, quando então se reunia aos meninos da capela. Ah, se ela pudesse ouvi-lo!
                            
                                "... O bom jesus é quem nos traz
                                A mensagem de amor e alegria"...
- Também é muita responsabilidade tirar crianças para criar! - disse Leduína desamarrando o avental. - Já chega os que a gente tem...
  Alonso baixou o olhar. E de repente sua fisionomia iluminou-se. Puxou o cachorro pelo rabo. Riu-se:
  -Eh, Biruta! Está com fome, Biruta? Seu vagabundo! Vagabundo!... Sabe, Leduína, Biruta também vai ganhar um presente que está escondido lá debaixo do meu travesseiro. Com aquele dinheirinho que você me deu, lembra? Comprei uma bolinha de borracha, uma beleza de bola! Agora dele não vai precisar mais morder suas coisas, tem a bolinha só pra isso. Ele não vai mais mexer em nada, sabe, Leduína?
  - Hoje cedo ele não esteve no quarto da dona Zulu?
  O menino empalideceu.
  - Só se foi na hora em que fui lavar o automóvel... Por que Leduína? Por quê? Que foi que aconteceu?
  Ela hesitou. E encolheu os ombros.
  - Nada. Perguntei à toa.
  A porta abriu-se bruscamente e a patroa apareceu. Alonso encolheu-se um pouco. Sondou a fisionomia da mulher. Mas ela estava sorridente. O menino sorriu também.
- Ainda não foi pra sua festa, Leduína? - perguntou a moça num tom afável. Abotoava os punhos do vestido de renda. - Pensei que você já estivesse saído... - E antes que a empregada respondesse, ela voltou-se para Alonso: - Então? Preparando seu jantarzinho?
  O menino baixou a cabeça. Quando ela lhe falava assim mansamente, ele não sabia o que dizer.
  - O Biruta está limpo, não está? - Prosseguiu a mulher, inclinando-se para fazer uma carícia na cabeça do cachorro. Biruta baixou as orelhas, ganiu dolorido e escondeu-se debaixo do fogão.
  Alonso tentou encobrir-lhe a fuga:
  - Biruta, Biruta! Cachorro mais bobo, deu agora de se esconder... - Voltou-se para a patroa. E sorriu desculpando-se: - Até de mim ele se esconde.
  A mulher passou mão no ombro do menino:
  - Vou a uma festa onde tem um menino assim do seu tamanho. Ele adora cachorros. Então me lembrei de levar o Biruta emprestado só por esta noite. O pequeno está doente, vai ficar radiante, o pobrezinho. Você empresta seu Biruta só por hoje, não empresta? O automóvel já está na porta. Ponha ele lá que já estamos de saída.
  O rosto do menino resplandeceu num sorriso. Mas então era isso?!... Dona Zulu pedido o Biruta emprestado, precisando do Biruta!... Abriu a boca para dizer-lhe que sim, que o Biruta estava limpinho, e que ficaria contente de emprestá-lo para o menino doente, estava muito contente com isso... Mas sem dar-lhe tempo de responder, a mulher saiu apressadamente da cozinha.
  - Viu, Biruta? Você vai numa festa ! - exclamou Alonso, beijando repetidas vezes o focinho do cachorro. - Você vai numa festa, seu sem-vergonha! Numa festa com crianças, com doces, com tudo! Mas pelo amor de Deus, tenha juízo, nada de desordens! Se você se comportar, amanhã cedinho te dou uma coisa. Vou te esperar acordado, hem? Tem um presente no seu sapato ... - acrescentou num sussurro, com a boca encostada na orelha do cachorro. Apertou-lhe a pata. - Te espero acordado, Biru ... Mas não demore muito!
  O patrão já estava na direção do carro. Alonso aproximou-se.
  - O Biruta, doutor...
  O homem voltou-se ligeiramente. Baixou os olhos.
  - Está bem, está bem. Pode deixá-lo ai atrás.
  Alonso ainda beijou furtivamente o focinho do cachorro. Em seguida, fêz·lhe uma última carícia, colocou-o no assento do automóvel e afastou-se correndo.
  - Biruta vai adorar a festa! - exclamou assim que entrou na cozinha. - E lá tem doces, tem crianças, ele não quer outra coisa! - Fez uma pausa. Sentou-se. - Hoje tem festa em toda parte, não, Leduina?
  A mulher já se preparava para sair.
- Decerto.
  Alonso pôs-se a mastigar pensativamente.
  - Foi hoje que Nossa Senhora fugiu no burrinho?
  - Não, menino. Foi hoje que Jesus nasceu. Depois então é que aquele rei manda prender os três.
  Alonso concentrou-se, apreensivo:
  - Sabe, Leduina, se algum rei malvado quisesse matar o Biruta, eu me escondia com ele no meio do mato e ficava morando lá a vida inteira, só nós dois!... - Riu-se metendo uma batata na boca. E de repente ficou sério, ouvindo o ruído do carro que já saia. - Dona Zulu estava linda, não?
  - Estava.
  - E tão boazinha também. Você não achou que hoje ela estava boazinha?
  - Estava, estava muito boazinha, sim... - concordou a empregada. E riu-se.
  - Por que você está rindo?
  - Nada - respondeu ela pegando a sacola. Dirigiu-se à porta. Mas antes, parecia querer dizer qualquer coisa de desagradável e por isso hesitava, contraindo a boca.
  Alonso observou-a. E julgou adivinhar o que a preocupava.
  - Sabe, Leduína, você não precisa dizer para Dona Zulu que ele mordeu sua carteirinha, eu já falei com ele, já surrei ele, ele não vai fazer mais isso nunca mais, eu prometo que não.
  A mulher voltou-se para o menino. Pela primeira vez encarou-o. E após vacilar ainda um instante, decidiu-se:
  - Olha aqui, se eles gostam de enganar os outros, eu não gosto, entendeu? Ela mentiu para você, Biruta não vai mais voltar.
  - Não vai o quê? - perguntou Alonso pondo a caçarola em cima da mesa. Engoliu com dificuldade o pedaço de batata que ainda tinha na boca e levantou-se. - Não vai o quê, Leduína?
  - Não vai mais voltar. Hoje cedo ele foi no quarto dela e rasgou um pé de meia que estava no chão. Ela ficou daquele jeito. Mas não te disse nada e agora de tardinha, enquanto você lavava a louça, escutei toda a conversa dela com o doutor: que não queria mais esse vira-lata, que ele tinha que ir embora hoje mesmo, e mais isso, e mais aquilo... O doutor pediu para ela esperar, que amanhã dava um jeito, você ia sentir muito, hoje era Natal... Não adiantou. Vão soltar o cachorro bem longe daqui e depois seguem para a festa. Amanhã ela vinha dizer que o cachorro fugiu da casa do tal menino. Mas eu não gosto dessa história de enganar os outros, não gosto. É melhor que você fique sabendo desde já, o Biruta não vai voltar.
  Alonso fixou na mulher o olhar inexpressivo. Abriu a boca.
A voz era um sopro quase inaudível:
  - Não? ..
  Ela perturbou-se.
  - Que gente também! - explodiu. Bateu desajeitadamente no ombro do menino. - Não se importe, não, filho. Vai, vai jantar...
  Ele deixou cair os braços ao longo do corpo. E arrastando os pés, num andar de velho, foi saindo para o quintal. Dirigiu­-se à garagem. A porta de ferro estava erguida. A luz do luar, uma luz branca e fria, chegava até a borda do colchão desmantelado.
  Alonso cravou os olhos brilhantes e secos num pedaço de osso roído, meio encoberto sob um rasgão do lençol. Ajoelhou­se. E estendeu a mão tateante. Tirou debaixo do travesseiro uma bola de borracha.
  - Biruta - chamou baixinho. - Biruta... - repetiu. E desta vez só os lábios se moveram e não saiu som algum.
  Muito tempo ele ficou ali ajoelhado, imóvel, segurando a bola.
Depois apertou-a fortemente contra o peito, como se quisesse enterrá-la no coração.

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1-Leia:
A infância vem sendo representada nas obras literárias sob diferentes perspectivas desde que a criança começou a ser vista como parte de um grupo específico na sociedade burguesa. O conceito de infância é cultural, por isso sujeito a novas compreensões decorrentes das constantes transformações que ocorrem na sociedade. Diante dessa
prerrogativa,  as representações da infância no conto de Lygia Fagundes Telles, “Biruta”. Tem caráter analítico e apoia-se em pesquisa bibliográfica. Foca a figura de Alonso, personagem central, observando-o em sua condição de criança e com base no modo como os adultos o tratam. Somente no século XVIII, a criança é colocada no centro das
considerações e isso se dando no contexto da família burguesa europeia. Inicia-se aí a valorização da infância enquanto faixa etária e estrato social. Na Idade Média e início da Idade Moderna, a infância era negada às crianças, que se formavam no convívio direto com os adultos e sendo tratada como adulto em miniatura, mas destituída de direito e de representatividade social; traços do que ficou conhecido como modelo pré-moderno de infância. Na sociedade burguesa, acriança, vista como ser frágil, inocente, passa a depender do adulto, que lhe reconhece
como ser social com direitos básicos tais como a segurança e o afeto da família e educação escolar. Nas famílias economicamente menos privilegiadas, nem sempre a criança chegou a usufruir de tais direitos.
         O conto “Biruta” retrata a infância pobre e sem afeto humano de Alonso, acolhido por uma senhora apenas para lhe servir nas atividades domésticas mais humildes. Em sua vida de trabalho e privações, o menino conta apenas com o afeto de um cachorro, Biruta, cujas travessuras irritam a dona da casa que sempre castiga Alonso, inclusive, chegando a afastá-lo, em definitivo, do animal de estimação. O contexto de vida do menino, o modo como ele é tratado pela senhora e pela empregada dela, mostra-nos  o perfil da infância negada, quando, tão logo pudesse, a criança era incorporada ao mundo do trabalho. Alonso não possui família, não estuda, não tem lazer algum, não interage com outras criança, não tem com quem dialogar e de quem receber afeto, acha-se, pois, totalmente à merce da mesquinhês de um adulto e desasistido pela sociedade. E isso se agrava com o perfil que o narrador faz de Alonso: é uma criança frágil, sempre dócil, obediente, amoroso, carinhosos e um tanto ingênua, o que facilita e agrava o processo de domínio do adulto e o descaso social no qual a criança vive. Essa realidade nos é mostrada pela  literatura, que também é um veículo de denúncia ao representar, por meio da ficção, essa realidade.

O que o grupo pensa a respeito das informações acima?

2- Resuma o conto.(INDIVIDUAL)

3- Complete:
O conto “BIRUTA” é narrado na ________pessoa; o narrador coloca-se fora da narrativa, mas descarta a pretensa objetividade de mero observador: cola-se à personagem, aproximando-se mais dela através do discurso indireto livre. Com isso, o leitor é levado a participar mais intensamente do drama do menino, pois nada é antecipado, de modo que sentimos junto com Alonso o impacto final da perda do melhor amigo.

Em “BIRUTA”, os fatos em sua maioria são narrados no tempo (verbal)__________________________, isto é no momento em que ocorrem. Mas, em alguns momentos, são narrados em retrospectiva: Alonso recorda-se de que biruta roubara a carne da geladeira semanas atrás e também relembra sua vida no asilo.

O espaço desempenha papel importante, por mostrar claramente a marginalização e a solidão de Alonso. Adotado para ser empregado não remunerado( trabalho escravo), ele não compartilha do espaço-casa, vivendo na _______ (no fundo do quintal)onde dorme com o cão “num velho colchão metido num ângulo da parede em lençóis rasgados.” As ações acontecem dentro da casa do casal.


4- No conto lido não se menciona a época histórica em que ocorrem os fatos, mas pode-se deduzir, por pistas como a presença do automóvel, que se passa em época recente. O passado (as artes de Biruta e o tempo do asilo) é rememorado através de um flash-back (LEMBRANÇAS)que interrompe a linearidade da narrativa.
Cite um exemplo referente a época:

5-Personagens revelados através de suas ações:
Descrição dos personagens
1) ___________é um menino franzino e maltratado, submisso, leal e corajoso, solitário e carente. “ foi para o quintal carregando uma bacia cheia de louça suja. Andava cm dificuldade, tentando equilibrar a bacia que era demasiado pesada para seus bracinhos finos.”
2) ____________é pequenino e branco, tem uma orelha em pé e a outra caída. “O cachorro saiu de dentro da garagem. Era pequenino e branco, uma orelha em pé e a outra completamente caída.” Tinha olhinhos ternos e
mexi a em tudo , como uma criança travessa.
3) __________, a empregada, apesar de não revelar carinho pelo menino, defende-o  algumas vezes.
“... tem aquele jeitão dela, mas duas vezes já me protegeu.”
4) ___________ é impaciente, violenta e cruel. “Por que dona...tinha tanta raiva dele? Ele só queria brincar, como as crianças.”
5) O _______, marido de Zulu, pouco citado no enredo, mas é indiferente ao destino do garoto. Não se manifestava frente às atitudes cruéis da esposa. Era omisso.
“O ... é bom, quer dizer, nunca se importou nem comigo nem com  você, é como se a gente não existisse.”

6- Alonso, um órfão que é retirado do asilo por um casal que não o trata como filho, mas sim como um auxiliar dos serviços domésticos, sofre, por meio do abandono, o processo de coisificação, vivenciando, também, sentimentos de tristeza, solidão, luto e impotência mediante os acontecimentos. Por outro lado, seu cachorro Biruta assume traços humanos por ser o único vínculo de afeto que o menino experimenta ao longo do conto. O que você pensa sobre a situação mencionada acima? (INDIVIDUAL-)

7- A história acontece em um curto espaço de tempo, entre o final da tarde e a noite do dia 24 de dezembro.  Grife no texto.

8- Você leu um conto muito comovente. O que você sentiu durante a leitura?  Escreva algumas linhas dando sua opinião a respeito desse conto, expondo em que medida ele o emocionou. (INDIVIDUAL)
9- Por que a escolha desse dia para desfazer-se de Biruta torna cruel a atitude de Zulu?

10-Compare Dona Zulu e Leduína. Que diferença há entre elas, quanto ao modo de tratar o menino?

11-O assunto do conto é a solidão e a luta de Alonso pela sobrevivência e para proteger  o seu querido cão, companheiro e único amigo. O que o grupo  acrescentaria?

12- Pesquisar o significado dos nomes das personagens.  Na sua opinião, existe relação dos nomes com o conto?
13-Verossimilhança é a ocorrência ou lógica interna da história. Os fatos narrados, mesmo inventados, devem decorrer uns dos outros de forma que o leitor aceite que possam ter ocorrido; o leitor precisa ser convencido de que os fatos narrados  são possíveis na  história.
Como você avalia a  verossimilhança  no conto Biruta?  (GRUPO)

14-  A celebração do Natal é uma manifestação da crença cristã. Toda denominação religiosa que acredita em Jesus
Cristo como filho de Deus, que viveu um período como homem mortal, com os sentimentos e necessidades humanas, acredita também que nesse dia é a maior festa da família, repleta de emoções que alimentam a alma. As famílias desejam a união, transmitem amor em pequenos gestos e compartilham emoções com entes queridos.
A intertextualidade se revela por meio da citação explícita da grande festa cristã, o Natal.
O trecho do conto apresenta uma cena que nos sensibiliza , até mesmo os corações mais duros. Uma criança sozinha em uma noite tão significativa para a família provoca reflexões que inquietam as mentes. O contexto revela uma estrutura familiar que retirou uma criança do asilo, porém o menino não recebeu o tratamento esperado, que seria um ambiente de amor e proteção dos pais adotivos. A família em questão tratava o órfão como um auxiliar nas atividades domésticas. Laços de afeto não existiam naquelas relações, por isso sensibiliza os leitores e provoca
questões. Como uma família pode deixar uma criança sozinha na noite de Natal?
 Alonso, revela-se repleto de melancolia e impotência mediante a cena. Aceita as condições sem contestações, apenas aceita. Talvez esta aparente aceitação venha da falta de conhecimento que ele  revela quando confunde parte do legado histórico religioso. Realmente ele desconhece a grandeza da celebração.
Qual é a opinião do grupo em relação as afirmações acima?  

15- Em, “Atrevido! Ainda te devolvo pro asilo, seu ladrãozinho!”, o termo asilo neste enunciado traz o significado de Orfanato , onde crianças permanecem sob os cuidados de uma instituição e, por mais estruturadas que sejam, não substituem a necessidade do indivíduo de viver em um lar, cercado de condições que desenvolvam aspectos necessários e que contribuam para formar pessoas seguras, afetuosas e participativas em sociedade. A intertextualidade da palavra asilo mostra o conhecimento de mundo e manifesta o seu significado por meio da memória discursiva.
 Nesse momento, o narrador constrói o texto e representa-o com a construção da memória do menino órfão, que sofria agressões físicas e psicológicas naquela família.
Grife a passagem citada no conto.
16- Qual é  o momento de maior tensão no conto?
17-O que revela  no final a  repetição do vocábulo ”Biruta” ?
18- Reflita: Por que Alonso demonstra alienação em relação à existência e ao conhecimento do mundo?
19- Durante uma conversa com Leduína, Alonso comenta sobre a madrinha que tivera no asilo. Comente esta passagem.
20- Alonso pode ser considerado um menino feliz? Justifique sua resposta com base nas passagens do texto.
21-No conto, Alonso fora enganado por duas vezes. Faça um comentário sobre cada uma destas passagens.
22-Explique a importância de Biruta na vida de Alonso.
23-O desfecho do conto enfatiza a solidão pela qual a personagem fora submetida durante toda a vida. Comente esta afirmação.
24- Por que a autora decidiu utilizar o Natal para selar os destinos das personagens principais?
25-O que achou do conto? Justifique sua resposta. (individual)
NOME _________________________NÚMERO______ 9º ANO

2- Resuma o conto.(INDIVIDUAL)
6- Alonso, um órfão que é retirado do asilo por um casal que não o trata como filho, mas sim como um auxiliar dos serviços domésticos, sofre, por meio do abandono, o processo de coisificação, vivenciando, também, sentimentos de tristeza, solidão, luto e impotência mediante os acontecimentos. Por outro lado, seu cachorro Biruta assume traços humanos por ser o único vínculo de afeto que o menino experimenta ao longo do conto. O que você pensa sobre a situação mencionada acima? (INDIVIDUAL-)
8- Você leu um conto muito comovente. O que você sentiu durante a leitura?  Escreva algumas linhas dando sua opinião a respeito desse conto, expondo em que medida ele o emocionou. (INDIVIDUAL)
25-O que achou do conto? Justifique sua resposta. (individual)























RESPONDA:
Você gostou dessa história? Por quê?
O que a leitura acrescentou(aprendeu) em sua vida?
O que modificou em seu modo de pensar?
Qual foi a mensagem deixada para você?


________, PORQUE____________________________________________________________________
























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