Livro: De conto em conto 9º ano 08 de outubro Obs.: grifos da professora.
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Biruta (1961) Lygia
Fagundes Telles
Alonso foi
para o quintal carregando uma bacia cheia de louça suja. Andava cm
dificuldade, tentando equilibrar a bacia que era demasiado pesada para seus
bracinhos finos.
-
Biruta, eh, Biruta! - chamou sem se voltar.
O cachorro
saiu de dentro da garagem. Era pequenino e branco, uma orelha em pé e a outra
completamente caída.
-
Sente-se aí, Biruta, que vamos ter uma conversinha - disse Alonso pousando a
bacia ao lado do tanque. Ajoelhou-se, arregaçou as mangas da camisa e começou
a lavar os pratos.
Biruta sentou-se muito atento, inclinando interrogativamente a cabeça ora
para a direita, ora para a esquerda, como se quisesse apreender melhor as
palavras do seu dono. A orelha caída ergueu-se um pouco, enquanto a outra
empinou, aguda e ereta. Entre elas, formaram-se dois vincos, próprios de uma
testa franzida do esforço de meditação.
-
Leduína disse que você entrou no
quarto dela - começou o menino num tom brando. - E subiu em cima da cama
e focinhou as cobertas e mordeu uma carteirinha de couro que ela deixou lá. A
carteira era meio velha e ela não
ligou muito. Mas se fosse uma carteira nova, Biruta! Se fosse uma carteira
nova! Me diga agora o que é que ia acontecer se ela fosse uma carteira nova!?
Leduína te dava uma surra e eu não podia fazer nada, como daquela outra vez
que você arrebentou a franja da
cortina, lembra? Você se lembra muito bem, sim senhor, não precisa fazer
essa cara de inocente!...
Biruta deitou-se, enfiou o focinho entre as patas e baixou a orelha. Agora,
ambas as orelhas estavam no mesmo nível, murchas, as pontas quase tocando o
chão. Seu olhar interrogativo parecia perguntar:
"Mas
o que foi que eu fiz, Alonso? Não me lembro de nada..."
-
Lembra sim senhor! E não adianta ficar aí com essa cara de doente, que não
acredito, ouviu? Ouviu, Biruta?! - repetiu Alonso lavando furiosamente os
pratos. Com um gesto irritado, arregaçou as mangas que já escorregavam sobre
os pulsos finos. Sacudiu as mãos cheias de espuma. Tinha as mãos de velho .
-
Alonso, anda ligeiro com essa louça! - gritou Leduína, aparecendo por um
momento na janela da cozinha. - Já está escurecendo, tenho que sair!
-
Já vou indo - respondeu o menino enquanto removia a água da boca. Voltou-se
para o cachorro. E seu rostinho pálido se confrangeu de tristeza. Por que
Biruta não se emendava, por quê? Por que razão não se esforçava um pouco para
ser melhorzinho? Dona Zulu já andava impaciente. Leduína também. Biruta fez
isso, Biruta fez aquilo...
Lembrou-se do dia em que o cachorro
entrou na geladeira e tirou de lá a carne. Leduína ficou desesperada,
vinham visitas para o jantar, precisava encher os pastéis, "Alonso, você
não viu onde deixei a carne?" Ele estremeceu. Biruta! Disfarçadamente,
foi à garagem no fundo do quintal, onde dormia com o cachorro num velho
colchão metido num ângulo de parede. Biruta estava lá deitado bem em cima do
travesseiro, com a posta de carne entre as patas, comendo tranquilamente.
Alonso arrancou-lhe a carne, escondeu-a dentro da camisa e voltou à cozinha.
Deteve-se na porta ao ouvir Leduína queixar-se à dona Zulu que a carne
desaparecera, aproximava-se a hora do jantar e o açougue já estava fechado,
"o que é que eu faço, dona Zulu?"
Ambas estavam na sala. Podia entrever a patroa a escovar freneticamente os
cabelos. Ele então tirou a carne de dentro da camisa, ajeitou o papel já todo
roto que a envolvia e entrou com a posta na mão.
-
Está aqui Leduína.
-
Mas falta um pedaço!
-
Esse pedaço eu tirei pra mim. Eu estava com vontade de comer um bife e
aproveitei quando você foi na quitanda.
-
Mas por que você escondeu o resto? - perguntou a patroa, aproximando-se
-
Porque fiquei com medo.
Ele ainda
tinha bem viva na memória a dor brutal
que sentira nas mãos corajosamente abertas para os golpes da escova.
Lágrimas saltaram-lhe dos olhos. Os dedos
foram ficando roxos, mas ela continuava batendo com aquele mesmo vigor
obstinado com que escovara os cabelos, batendo, batendo, como se não pudesse
parar mais.
- Atrevido! Ainda te devolvo pro asilo,
seu ladrãzinho!
Quando ele voltou à garagem, Biruta já estava lá, as duas orelhas caídas, o
focinho entre as patas, piscando, piscando os olhinhos ternos. "Biruta,
Biruta, apanhei por sua causa, mas não faz mal."
Biruta então ganiu sentidamente. Lambeu-lhe as lágrimas. Lambeu-lhe as mãos.
Isso tinha acontecido há duas semanas. E agora Biruta mordera a carteirinha de Leduína. E se fosse a
carteira de dona Zulu?
-
Hem, Biruta?! E se fosse a carteira de dona Zulu?
Já
desinteressado, Biruta mascava uma folha seca.
-
Por que você não arrebenta minhas coisas? - prosseguiu o menino elevado a
voz. - Você sabe que tem todas as minhas pra morder, não sabe? Pois agora não te dou presente de Natal,
está acabado. você vai ver se ganha alguma coisa. Você vai ver!...
Girou sobre os calcanhares, dando as costas ao cachorro. Resmungou ainda
enquanto empilhava a louça na bacia. Em seguida, calou-se, esperando qualquer
reação por parte do cachorro. Como a reação tardasse, lançou-lhe um olhar
furtivo. Biruta dormia profundamente.
Alonso então sorriu. Biruta era como
uma criança. Por que não entendiam isso? Não fazia nada por mal, queria
só brincar... Por que dona Zulu tinha tanta raiva dele? Ele só queria
brincar, como as crianças. Por que
dona Zulu tinha tanta raiva de crianças?
Uma
expressão desolada amarfanhou o rostinho do menino. "Por que dona Zulu
tem que ser assim? O doutor é bom,
quer dizer, nunca se importou nem comigo nem com você, é como se a gente não
existisse, Leduína tem aquele
jeitão dela, mas duas vezes já me protegeu. Só dona Zulu não entende que você
é que nem uma criancinha. Ah Biruta, Biruta, cresça logo, pelo amor de
Deus! Cresça logo e fique um cachorro sossegado, com bastante pêlo e as duas
orelhas de pé! Você vai ficar lindo quando crescer, Biruta, eu sei que
vai!"
-
Alonso! - Era a voz de Leduína. - Deixe de falar sozinho e traga logo essa
bacia. Já está quase noite, menino.
Alonso ergueu-se afobadamente. Mas antes de pegar a bacia meteu a mão na água
e espargiu-a no focinho do cachorro.
- Chega de dormir, seu vagabundo!
Biruta abriu os olhos, bocejou com um ganido e levantou-se, estirando as
patas dianteiras, num longo espreguiçamento.
O
menino equilibrou penosamente a bacia
na cabeça. Biruta seguiu-o aos pulos, mordendo-lhe os tornozelos,
dependurando-se com os dentes na barra do seu avental.
- Aproveita, seu bandidinho! - riu-se
Alonso. - Aproveita que eu estou com a mão ocupada, aproveita!
Assim que colocou a bacia na mesa, ele inclinou-se para agarrar o cachorro.
Mas Biruta esquivou-se, latindo. O menino vergou o corpo sacudido pelo riso.
-
Aí, Leduína que o Biruta judiou de mim!...
A
empregada pôs-se guardar rapidamente a louça. Estendeu-lhe uma caçarola com
batatas:
-
Olhaí para o seu jantar. Tem ainda arroz e carne no forno.
- Mas só eu vou jantar? -
surpreendeu-se Alonso ajeitando a caçarola no colo.
- Hoje é dia de Natal, menino. Eles vão
jantar fora, eu também tenho a minha festa. Você vai jantar sozinho.
Alonso inclinou-se. E espiou apreensivo para debaixo do fogão. Dois olhinhos
brilharam no escuro: Biruta estava lá. Alonso suspirou. Era bom quando Biruta
resolvia se sentar! Melhor ainda quando dormia. Tinha então a certeza de que
não estava acontecendo nada. Atrégua. Voltou-se para Leduína.
- O que o seu filho vai ganhar?
-
Um cavalinho - disse a mulher. A voz suavizou. - Quando ele acordar amanhã,
vai encontrar o cavalinho dentro do sapato dele. Vivia me atormentado que
queria um cavalinho, que queria um cavalinho...
Alonso pegou uma batata cozida, morna ainda. Fechou-a nas mãos arroxeadas.
- Lá no asilo, no Natal, apareciam umas
moços com uns saquinhos de balas e roupas. Tinha uma que já me conhecia,
me dava sempre dois pacotinhos em lugar de um. A madrinha. Um dia, me deu sapato, um casaquinho de malha e uma
camisa.
-
Por que ela não ficou com você?
- Ela disse uma vez que ia me levar, ela
disse. Depois, não sei por que ela não apareceu mais...
Deixou cair na caçarola a batata já fria. E ficou em silêncio, as mãos
abertas em torno a vasilha. Apertou os olhos. Deles, irradiou-se para todo o
rosto uma expressão dura. Dois anos
seguidos esperou por ela. Pois não prometera levá-lo? Não prometera? Nem
lhe sabia o nome, não sabia nada a seu respeito, era apenas " a
madrinha". Inutilmente a procupava
entre as moças que apareciam no fim do ano com os pacotes de presentes.
Inutilmente cantava mais alto do que todos no fim da festa, quando então se
reunia aos meninos da capela. Ah, se ela pudesse ouvi-lo!
"... O bom jesus é quem nos traz
A mensagem de amor e alegria"...
- Também é
muita responsabilidade tirar crianças
para criar! - disse Leduína desamarrando o avental. - Já chega os que a
gente tem...
Alonso baixou o olhar. E de repente
sua fisionomia iluminou-se. Puxou o cachorro pelo rabo. Riu-se:
-Eh, Biruta! Está com fome, Biruta? Seu
vagabundo! Vagabundo!... Sabe, Leduína, Biruta também vai ganhar um presente
que está escondido lá debaixo do meu travesseiro. Com aquele dinheirinho
que você me deu, lembra? Comprei uma bolinha
de borracha, uma beleza de bola! Agora dele não vai precisar mais morder
suas coisas, tem a bolinha só pra isso. Ele não vai mais mexer em nada, sabe,
Leduína?
-
Hoje cedo ele não esteve no quarto da dona Zulu?
O
menino empalideceu.
-
Só se foi na hora em que fui lavar o
automóvel... Por que Leduína? Por quê? Que foi que aconteceu?
Ela
hesitou. E encolheu os ombros.
-
Nada. Perguntei à toa.
A
porta abriu-se bruscamente e a patroa apareceu. Alonso encolheu-se um pouco.
Sondou a fisionomia da mulher. Mas ela
estava sorridente. O menino sorriu também.
- Ainda
não foi pra sua festa, Leduína? - perguntou a moça num tom afável. Abotoava
os punhos do vestido de renda. - Pensei que você já estivesse saído... - E
antes que a empregada respondesse, ela voltou-se para Alonso: - Então?
Preparando seu jantarzinho?
O
menino baixou a cabeça. Quando ela lhe
falava assim mansamente, ele não sabia o que dizer.
- O
Biruta está limpo, não está? - Prosseguiu a mulher, inclinando-se para fazer
uma carícia na cabeça do cachorro. Biruta baixou as orelhas, ganiu dolorido e
escondeu-se debaixo do fogão.
Alonso tentou encobrir-lhe a fuga:
-
Biruta, Biruta! Cachorro mais bobo, deu agora de se esconder... - Voltou-se
para a patroa. E sorriu desculpando-se: - Até de mim ele se esconde.
A
mulher passou mão no ombro do menino:
-
Vou a uma festa onde tem um menino assim do seu tamanho. Ele adora cachorros. Então me lembrei de levar o Biruta
emprestado só por esta noite. O pequeno está doente, vai ficar radiante, o
pobrezinho. Você empresta seu Biruta só por hoje, não empresta? O
automóvel já está na porta. Ponha ele lá que já estamos de saída.
O
rosto do menino resplandeceu num sorriso. Mas então era isso?!... Dona Zulu
pedido o Biruta emprestado, precisando do Biruta!... Abriu a boca para
dizer-lhe que sim, que o Biruta estava limpinho, e que ficaria contente de emprestá-lo para o menino doente, estava
muito contente com isso... Mas sem dar-lhe tempo de responder, a mulher saiu
apressadamente da cozinha.
-
Viu, Biruta? Você vai numa festa ! - exclamou Alonso, beijando repetidas vezes
o focinho do cachorro. - Você vai numa
festa, seu sem-vergonha! Numa festa com crianças, com doces, com tudo!
Mas pelo amor de Deus, tenha juízo, nada de desordens! Se você se comportar,
amanhã cedinho te dou uma coisa. Vou
te esperar acordado, hem? Tem um presente no seu sapato ... - acrescentou
num sussurro, com a boca encostada na orelha do cachorro. Apertou-lhe a pata.
- Te espero acordado, Biru ... Mas não demore muito!
O
patrão já estava na direção do carro. Alonso aproximou-se.
- O
Biruta, doutor...
O
homem voltou-se ligeiramente. Baixou os olhos.
-
Está bem, está bem. Pode deixá-lo ai atrás.
Alonso ainda beijou furtivamente o focinho do cachorro. Em seguida, fêz·lhe
uma última carícia, colocou-o no assento do automóvel e afastou-se correndo.
- Biruta vai adorar a festa! - exclamou
assim que entrou na cozinha. - E lá tem doces, tem crianças, ele não quer
outra coisa! - Fez uma pausa. Sentou-se. - Hoje tem festa em toda parte, não,
Leduina?
A
mulher já se preparava para sair.
- Decerto.
Alonso pôs-se a mastigar pensativamente.
-
Foi hoje que Nossa Senhora fugiu no
burrinho?
-
Não, menino. Foi hoje que Jesus nasceu.
Depois então é que aquele rei manda prender os três.
Alonso concentrou-se, apreensivo:
-
Sabe, Leduina, se algum rei malvado quisesse matar o Biruta, eu me escondia
com ele no meio do mato e ficava morando lá a vida inteira, só nós dois!... -
Riu-se metendo uma batata na boca. E de repente ficou sério, ouvindo o ruído
do carro que já saia. - Dona Zulu estava linda, não?
-
Estava.
- E
tão boazinha também. Você não achou que hoje ela estava boazinha?
-
Estava, estava muito boazinha, sim... - concordou a empregada. E riu-se.
-
Por que você está rindo?
-
Nada - respondeu ela pegando a sacola. Dirigiu-se à porta. Mas antes, parecia
querer dizer qualquer coisa de desagradável
e por isso hesitava, contraindo a boca.
Alonso observou-a. E julgou adivinhar o que a preocupava.
-
Sabe, Leduína, você não precisa dizer para Dona Zulu que ele mordeu sua
carteirinha, eu já falei com ele, já surrei ele, ele não vai fazer mais isso
nunca mais, eu prometo que não.
A
mulher voltou-se para o menino. Pela primeira vez encarou-o. E após vacilar
ainda um instante, decidiu-se:
- Olha aqui, se eles gostam de enganar os
outros, eu não gosto, entendeu? Ela mentiu para você, Biruta não vai mais
voltar.
-
Não vai o quê? - perguntou Alonso pondo a caçarola em cima da mesa. Engoliu
com dificuldade o pedaço de batata que ainda tinha na boca e levantou-se. -
Não vai o quê, Leduína?
-
Não vai mais voltar. Hoje cedo ele foi no quarto dela e rasgou um pé de meia
que estava no chão. Ela ficou daquele jeito. Mas não te disse nada e agora de
tardinha, enquanto você lavava a louça, escutei
toda a conversa dela com o doutor: que não queria mais esse vira-lata, que
ele tinha que ir embora hoje mesmo, e mais isso, e mais aquilo... O doutor
pediu para ela esperar, que amanhã dava um jeito, você ia sentir muito, hoje
era Natal... Não adiantou. Vão soltar o cachorro bem longe daqui e depois
seguem para a festa. Amanhã ela vinha dizer que o cachorro fugiu da casa do
tal menino. Mas eu não gosto dessa história de enganar os outros, não gosto.
É melhor que você fique sabendo desde já, o Biruta não vai voltar.
Alonso fixou na mulher o olhar inexpressivo. Abriu a boca.
A voz era
um sopro quase inaudível:
-
Não? ..
Ela
perturbou-se.
-
Que gente também! - explodiu. Bateu desajeitadamente no ombro do menino. -
Não se importe, não, filho. Vai, vai jantar...
Ele deixou cair os braços ao longo do
corpo. E arrastando os pés, num andar de velho, foi saindo para o
quintal. Dirigiu-se à garagem. A porta de ferro estava erguida. A luz do
luar, uma luz branca e fria, chegava até a borda do colchão desmantelado.
Alonso cravou os olhos brilhantes e secos
num pedaço de osso roído, meio encoberto sob um rasgão do lençol. Ajoelhouse.
E estendeu a mão tateante. Tirou debaixo do travesseiro uma bola de borracha.
-
Biruta - chamou baixinho. - Biruta... - repetiu. E desta vez só os lábios se
moveram e não saiu som algum.
Muito tempo ele ficou ali ajoelhado, imóvel, segurando a bola.
Depois apertou-a fortemente contra o peito, como
se quisesse enterrá-la no coração.
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1-Leia:
A infância
vem sendo representada nas obras literárias sob diferentes perspectivas desde que
a criança começou a ser vista como parte de um grupo específico na sociedade burguesa.
O conceito de infância é cultural, por isso sujeito a novas compreensões decorrentes
das constantes transformações que ocorrem na sociedade. Diante dessa
prerrogativa, as representações da infância no conto de Lygia
Fagundes Telles, “Biruta”. Tem caráter analítico e apoia-se em pesquisa bibliográfica.
Foca a figura de Alonso, personagem central, observando-o em sua condição de
criança e com base no modo como os adultos o tratam. Somente no século XVIII, a
criança é colocada no centro das
considerações e isso se dando no
contexto da família burguesa europeia. Inicia-se aí a valorização da infância
enquanto faixa etária e estrato social. Na Idade Média e início da Idade
Moderna, a infância era negada às crianças, que se formavam no convívio direto
com os adultos e sendo tratada como adulto em miniatura, mas destituída de
direito e de representatividade social; traços do que ficou conhecido como
modelo pré-moderno de infância. Na sociedade burguesa, acriança, vista como ser
frágil, inocente, passa a depender do adulto, que lhe reconhece
como ser social com direitos
básicos tais como a segurança e o afeto da família e educação escolar. Nas
famílias economicamente menos privilegiadas, nem sempre a criança chegou a
usufruir de tais direitos.
O conto “Biruta” retrata a infância pobre e sem afeto humano de
Alonso, acolhido por uma senhora apenas para lhe servir nas atividades
domésticas mais humildes. Em sua vida de trabalho e privações, o menino conta
apenas com o afeto de um cachorro, Biruta, cujas travessuras irritam a dona da casa
que sempre castiga Alonso, inclusive, chegando a afastá-lo, em definitivo, do animal
de estimação. O contexto de vida do menino, o modo como ele é tratado pela senhora
e pela empregada dela, mostra-nos o
perfil da infância negada, quando, tão logo pudesse, a criança era incorporada
ao mundo do trabalho. Alonso não possui família, não estuda, não tem lazer
algum, não interage com outras criança, não tem com quem dialogar e de quem receber
afeto, acha-se, pois, totalmente à merce da mesquinhês de um adulto e desasistido
pela sociedade. E isso se agrava com o perfil que o narrador faz de Alonso: é
uma criança frágil, sempre dócil, obediente, amoroso, carinhosos e um tanto
ingênua, o que facilita e agrava o processo de domínio do adulto e o descaso
social no qual a criança vive. Essa realidade nos é mostrada pela literatura, que também é um veículo de
denúncia ao representar, por meio da ficção, essa realidade.
O que o grupo pensa a respeito das informações acima?
2- Resuma o conto.(INDIVIDUAL)
3- Complete:
O conto “BIRUTA” é narrado na ________pessoa;
o narrador coloca-se fora da narrativa, mas descarta a pretensa objetividade de
mero observador: cola-se à personagem, aproximando-se mais dela através do
discurso indireto livre. Com isso, o leitor é levado a participar mais
intensamente do drama do menino, pois nada é antecipado, de modo que sentimos
junto com Alonso o impacto final da perda do melhor amigo.
Em “BIRUTA”, os fatos em sua maioria são
narrados no tempo (verbal)__________________________, isto é no momento em que
ocorrem. Mas, em alguns momentos, são narrados em retrospectiva: Alonso
recorda-se de que biruta roubara a carne da geladeira semanas atrás e também
relembra sua vida no asilo.
O
espaço desempenha papel importante, por mostrar claramente a marginalização e a
solidão de Alonso. Adotado para ser empregado não
remunerado( trabalho escravo), ele não compartilha do espaço-casa, vivendo na _______
(no fundo do quintal)onde dorme com o
cão “num velho colchão metido num ângulo da parede em lençóis rasgados.” As
ações acontecem dentro da casa do casal.
4- No conto lido não se menciona a época
histórica em que ocorrem os fatos, mas pode-se deduzir, por pistas como a
presença do automóvel, que se passa em época recente. O passado (as artes
de Biruta e o tempo do asilo) é rememorado através de um flash-back (LEMBRANÇAS)que
interrompe a linearidade da narrativa.
Cite
um exemplo referente a época:
5-Personagens
revelados através de suas ações:
Descrição dos personagens
1) ___________é um menino franzino e
maltratado, submisso, leal e corajoso, solitário e carente. “ foi para o
quintal carregando uma bacia cheia de louça suja. Andava cm dificuldade,
tentando equilibrar a bacia que era demasiado pesada para seus bracinhos
finos.”
2) ____________é pequenino e branco, tem uma
orelha em pé e a outra caída. “O cachorro saiu de dentro da garagem. Era
pequenino e branco, uma orelha em pé e a outra completamente caída.” Tinha
olhinhos ternos e
mexi a em tudo , como uma criança travessa.
3) __________, a empregada, apesar de não
revelar carinho pelo menino, defende-o algumas
vezes.
“... tem aquele jeitão dela, mas duas vezes
já me protegeu.”
4) ___________ é impaciente, violenta e
cruel. “Por que dona...tinha tanta raiva dele? Ele só queria brincar, como as
crianças.”
5) O _______, marido de Zulu, pouco citado no
enredo, mas é indiferente ao destino do garoto. Não se manifestava frente às
atitudes cruéis da esposa. Era omisso.
“O ... é bom, quer dizer, nunca se importou
nem comigo nem com você, é como se a
gente não existisse.”
6- Alonso,
um órfão que é retirado do asilo por um casal que não o trata como filho, mas sim como um auxiliar dos serviços
domésticos, sofre, por meio do abandono, o processo de coisificação,
vivenciando, também, sentimentos de tristeza, solidão, luto e impotência
mediante os acontecimentos. Por outro lado, seu cachorro Biruta assume traços
humanos por ser o único vínculo de afeto que o menino experimenta ao longo do
conto. O que você pensa sobre a situação
mencionada acima? (INDIVIDUAL-)
7- A história acontece em um curto espaço de tempo,
entre o final da tarde e a noite do dia 24 de dezembro. Grife
no texto.
8- Você leu um conto muito comovente. O que você
sentiu durante a leitura? Escreva
algumas linhas dando sua opinião a respeito desse conto, expondo em que medida
ele o emocionou. (INDIVIDUAL)
9- Por
que a escolha desse dia para desfazer-se de Biruta torna cruel a atitude de
Zulu?
10-Compare
Dona Zulu e Leduína. Que diferença há entre elas, quanto ao modo de tratar o
menino?
11-O
assunto do conto é a solidão e a luta de Alonso pela sobrevivência e para
proteger o seu querido cão, companheiro
e único amigo. O que o grupo
acrescentaria?
12- Pesquisar o significado dos nomes das
personagens. Na sua opinião, existe
relação dos nomes com o conto?
13-Verossimilhança é a ocorrência ou lógica
interna da história. Os fatos narrados,
mesmo inventados, devem decorrer uns
dos outros de forma que o leitor aceite que possam ter ocorrido; o leitor precisa ser convencido de que os fatos narrados são possíveis na história.
Como
você avalia a verossimilhança no conto Biruta? (GRUPO)
14- A celebração
do Natal é uma manifestação da crença cristã. Toda denominação religiosa que
acredita em Jesus
Cristo como filho de Deus, que viveu um período
como homem mortal, com os sentimentos e necessidades humanas, acredita também
que nesse dia é a maior festa da
família, repleta de emoções que alimentam a alma. As famílias desejam a união, transmitem amor em pequenos gestos e
compartilham emoções com entes queridos.
A intertextualidade se revela por meio da
citação explícita da grande festa cristã, o Natal.
O trecho do conto apresenta uma cena que nos sensibiliza
, até mesmo os corações mais duros. Uma criança sozinha em uma noite tão
significativa para a família provoca reflexões que inquietam as mentes. O
contexto revela uma estrutura familiar
que retirou uma criança do asilo, porém o menino não recebeu o tratamento
esperado, que seria um ambiente de amor
e proteção dos pais adotivos. A família em questão tratava o órfão como um
auxiliar nas atividades domésticas.
Laços de afeto não existiam naquelas relações, por isso sensibiliza os
leitores e provoca
questões. Como uma família pode deixar uma criança sozinha na noite de Natal?
Alonso, revela-se repleto de melancolia e
impotência mediante a cena. Aceita as
condições sem contestações, apenas aceita. Talvez esta aparente aceitação
venha da falta de conhecimento que ele
revela quando confunde parte do legado
histórico religioso. Realmente ele
desconhece a grandeza da celebração.
Qual é
a opinião do grupo em relação as afirmações acima?
15- Em, “Atrevido! Ainda te devolvo pro asilo, seu ladrãozinho!”, o termo
asilo neste enunciado traz o significado de Orfanato , onde crianças permanecem
sob os cuidados de uma instituição
e, por mais estruturadas que sejam, não substituem a necessidade do indivíduo de
viver em um lar, cercado de condições que desenvolvam aspectos necessários e
que contribuam para formar pessoas
seguras, afetuosas e participativas em sociedade. A intertextualidade da
palavra asilo mostra o conhecimento de mundo e manifesta o seu significado por
meio da memória discursiva.
Nesse
momento, o narrador constrói o texto e representa-o com a construção da memória
do menino órfão, que sofria agressões
físicas e psicológicas naquela família.
Grife
a passagem citada no conto.
16- Qual é o momento de maior tensão no conto?
17-O que revela no final a repetição do vocábulo ”Biruta” ?
18- Reflita: Por que
Alonso demonstra alienação em relação à existência e ao conhecimento do
mundo?
19- Durante uma conversa com Leduína, Alonso comenta sobre a madrinha que
tivera no asilo. Comente esta passagem.
20- Alonso pode ser considerado um menino feliz? Justifique sua resposta
com base nas passagens do texto.
21-No conto,
Alonso fora enganado por duas vezes. Faça um comentário sobre cada uma destas
passagens.
22-Explique a importância de Biruta na vida de Alonso.
23-O desfecho do conto enfatiza a solidão pela qual a personagem fora
submetida durante toda a vida. Comente esta afirmação.
24- Por que a autora decidiu utilizar o Natal para selar os destinos das
personagens principais?
25-O que achou do conto? Justifique
sua resposta. (individual)
NOME
_________________________NÚMERO______ 9º ANO
2- Resuma o conto.(INDIVIDUAL)
6- Alonso,
um órfão que é retirado do asilo por um casal que não o trata como filho, mas sim como um auxiliar dos serviços
domésticos, sofre, por meio do abandono, o processo de coisificação,
vivenciando, também, sentimentos de tristeza, solidão, luto e impotência
mediante os acontecimentos. Por outro lado, seu cachorro Biruta assume traços
humanos por ser o único vínculo de afeto que o menino experimenta ao longo do
conto. O que você pensa sobre a situação
mencionada acima? (INDIVIDUAL-)
8- Você leu um conto
muito comovente. O que você sentiu durante a leitura? Escreva algumas linhas dando sua opinião a
respeito desse conto, expondo em que medida ele o emocionou. (INDIVIDUAL)
25-O que achou do conto?
Justifique sua resposta. (individual)
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RESPONDA:
Você
gostou dessa história? Por quê?
O que a
leitura acrescentou(aprendeu) em sua vida?
O que
modificou em seu modo de pensar?
Qual foi
a mensagem deixada para você?
________,
PORQUE____________________________________________________________________
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