segunda-feira, 12 de maio de 2025

"Bacurau" (2019) - Direção: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

 "Bacurau" (2019) - Direção: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles


    Contexto: Um thriller brasileiro que mistura ficção científica com drama social, onde uma pequena cidade do sertão nordestino luta contra forças externas, oferecendo uma crítica ao colonialismo e à desigualdade social.

    Por que assistir?: A Fuvest pode cobrar a análise da crítica social do filme e suas metáforas sobre resistência e identidade cultural no Brasil contemporâneo.

    A Fuvest pode cobrar uma análise crítica do filme Bacurau (2019), especialmente considerando seu forte teor simbólico e político. O longa é uma obra rica em metáforas sobre resistência popular, identidade cultural e as tensões sociais e políticas do Brasil contemporâneo. Veja alguns pontos centrais que podem ser explorados em uma prova ou redação:


    1. Crítica Social e Política

    Bacurau apresenta uma crítica contundente ao abandono do interior do Brasil pelo poder público e à violência estrutural. A cidade fictícia é esquecida no mapa, o que representa o apagamento simbólico das comunidades marginalizadas. Isso pode ser lido como uma metáfora para o descaso histórico com o Nordeste brasileiro e outras regiões periféricas.


    2. Resistência Popular

    A resistência dos moradores contra os invasores estrangeiros é uma metáfora da luta popular contra o colonialismo, o imperialismo e o autoritarismo. O filme inverte a lógica típica do “norte salvador” e dá protagonismo a uma comunidade que se organiza coletivamente para se proteger — ecoando movimentos sociais reais que resistem à violência, ao racismo e à desigualdade.


    3. Identidade Cultural

    O filme valoriza os traços culturais do sertão nordestino, tanto na trilha sonora quanto nos modos de vida e saberes populares. Essa valorização da cultura local se contrapõe à tentativa de apagamento por parte dos "invasores" — o que pode ser visto como um comentário sobre a importância da preservação da diversidade cultural frente à globalização predatória.


    4. Alegoria Distópica do Brasil

    Bacurau pode ser interpretado como uma distopia realista. Apesar do tom fantástico e surreal, sua ambientação remete diretamente a problemas concretos: desigualdade social, violência armada, corrupção política, exclusão territorial. A violência extrema funciona como hiperbolização crítica da violência cotidiana.


    Como isso pode aparecer na FUVEST?

    • Redação: O filme pode ser usado como repertório sociocultural para temas como “resistência cultural”, “comunidade e individualismo”, ou “a exclusão social no Brasil contemporâneo”.

    • Questões interdisciplinares: Em história, sociologia ou geografia, pode haver relações com o coronelismo, neocolonialismo ou urbanização desigual.

    • Comparações literárias: Bacurau pode dialogar com obras como Vidas Secas (Graciliano Ramos) ou Capitães da Areia (Jorge Amado), que também tratam de marginalização e resistência.

    Tema: A resistência das identidades culturais frente à exclusão social


    Introdução

    No Brasil contemporâneo, a exclusão social não se limita ao campo econômico, mas alcança também a esfera simbólica, afetando a valorização das culturas populares e periféricas. Em um contexto de apagamento histórico e desigualdade estrutural, a resistência das identidades culturais surge como forma de afirmação, pertencimento e sobrevivência. O filme Bacurau (2019), dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, exemplifica de forma alegórica essa realidade, ao retratar uma comunidade que, diante da ameaça de extermínio, recorre à força de sua cultura e memória coletiva para resistir. Tal narrativa evidencia a relevância da cultura como instrumento político e social de enfrentamento às estruturas de exclusão.


    Desenvolvimento 1: A exclusão social como apagamento simbólico

    A exclusão social no Brasil assume múltiplas formas, incluindo a marginalização cultural de comunidades tradicionais e periféricas. No filme Bacurau, esse apagamento é literal: o vilarejo deixa de constar no mapa, tornando-se invisível para o Estado e o mundo. Essa metáfora escancara a negligência histórica com certas regiões e populações, especialmente no interior nordestino e nas periferias urbanas. De forma semelhante, muitos grupos sociais no país enfrentam a invisibilidade institucional, com acesso precário a direitos básicos e com suas tradições frequentemente estigmatizadas ou esquecidas. A invisibilidade, nesse sentido, torna-se uma forma perversa de exclusão que reforça a desigualdade e fragiliza a identidade dos povos.


    Desenvolvimento 2: A cultura como ferramenta de resistência

    Diante desse cenário de apagamento e violência simbólica, as manifestações culturais emergem como forma de resistência e organização coletiva. No enredo de Bacurau, os moradores se reúnem para defender seu território, guiados por seus próprios valores, saberes e tradições. A cultura não é apenas elemento de identidade, mas também de mobilização política. Isso se reflete na realidade brasileira quando comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, por exemplo, utilizam suas práticas culturais para reivindicar seus direitos e resistir a projetos que ameaçam sua existência. Assim, o fortalecimento das identidades culturais representa uma resposta ativa à exclusão, promovendo pertencimento e empoderamento social.


    Conclusão

    Diante da persistente exclusão social que afeta grupos marginalizados no Brasil, a resistência cultural se consolida como estratégia de enfrentamento e reconstrução da dignidade coletiva. O filme Bacurau ilustra essa dinâmica ao transformar uma comunidade invisibilizada em símbolo de resistência e autonomia. Para que tal realidade se amplie, é fundamental que o poder público invista em políticas de valorização da cultura popular, reconhecendo-a como instrumento legítimo de transformação social e cidadania. Afinal, resistir, nesse contexto, é também existir.



    1. RESUMO

    Em um futuro próximo, os moradores de Bacurau, um vilarejo do sertão nordestino, descobrem que sua comunidade desapareceu dos mapas. Aos poucos, percebem que estão sendo alvo de uma caçada promovida por estrangeiros, com o apoio de políticos locais. Diante da ameaça, os moradores se unem e organizam uma resistência armada, utilizando seus saberes locais e sua memória coletiva para enfrentar os invasores.

  1. O Tempo e o Espaço: Futuro próximo, sertão nordestino (vilarejo de Bacurau).
  2. O Mistério Inicial: O desaparecimento dos mapas como gatilho da estranheza e do isolamento.
  3. O Conflito Central: A descoberta da caçada humana promovida por estrangeiros.
  4. A Complicação Política: O apoio de políticos locais à opressão.
  5. A Reação da Comunidade: A união e a organização da resistência armada.
  6. As Ferramentas da Resistência: O uso dos saberes locais e da memória coletiva.
  7. a motivação dos estrangeiros - caçar por esporte/prazer - 
  8.  o resultado final da resistência - a vitória da comunidade

  9. 2. ELEMENTOS DA NARRATIVA

    • Tempo: Futuro próximo.

    • Espaço: Sertão nordestino, na fictícia cidade de Bacurau.

    • Personagens principais: Teresa, Domingas, Lunga, Plínio, moradores da cidade, caçadores estrangeiros.

    • Narrador: Narrativa fílmica (visual e indireta).

    • Enredo: Extermínio planejado → Descoberta → Organização → Resistência → Vitória.

    1. Tempo: Futuro próximo, mas com ressonâncias históricas.

      • O filme se situa "daqui a alguns anos", como anunciado no início, caracterizando um futuro próximo que possui um tom distópico, mas que é assustadoramente reconhecível e enraizado em problemas contemporâneos e históricos do Brasil. A tecnologia avançada dos agressores contrasta com aspectos atemporais ou até arcaicos da vida em Bacurau, criando uma sensação de temporalidade complexa, onde o passado (lutas ancestrais, cangaço) ecoa no presente e molda o futuro.
    2. Espaço: Sertão nordestino (Oeste de Pernambuco), na fictícia e simbólica cidade de Bacurau.

      • o sertão não é apenas um pano de fundo, mas um personagem em si: árido, isolado, vasto e pleno de significados culturais. Bacurau, embora fictícia, representa inúmeras comunidades reais esquecidas pelo poder central. É um espaço de carência (água, recursos), mas também de forte coesão comunitária, resistência cultural e conhecimento ancestral do território, que se torna crucial para a sobrevivência. O isolamento geográfico tanto a torna vulnerável quanto fortalece seus laços internos e sua autonomia.
    3. Personagens principais: Um coletivo resiliente e antagonistas desumanizados.

        • Protagonistas: Mais do que indivíduos isolados, o protagonismo é da comunidade de Bacurau como um todo. Figuras como Teresa (o elo com o mundo exterior que retorna às raízes), Domingas (a médica franca, figura de autoridade moral e detentora de saberes tradicionais), Lunga (o líder fora-da-lei, personificação da resistência armada e da herança do cangaço) e Plínio (o professor, guardião da história e da cultura local) são catalisadores e representantes dessa coletividade. Os moradores anônimos também são cruciais, demonstrando a força da união.
        • Antagonistas: Os caçadores estrangeiros funcionam como um bloco, caracterizados pela riqueza, sadismo, arrogância e uma visão desumanizadora dos habitantes de Bacurau. Michael emerge como seu líder tático. O prefeito Tony Jr. é um antagonista local fundamental, representando a corrupção e a traição.
    4. Narrador: Narrativa fílmica observacional e sensorial, com perspectiva predominantemente alinhada à comunidade.

      • A história é contada através de uma linguagem cinematográfica que privilegia a imagem e o som, sem um narrador verbal onisciente. A câmera frequentemente adota um ponto de vista que nos aproxima da perspectiva dos habitantes de Bacurau, permitindo que o espectador descubra os perigos e as estratégias junto com eles. Há um uso eficaz do não dito, da sugestão e da construção atmosférica, gerando suspense e imersão. Embora não seja estritamente um narrador em primeira pessoa, sentimos a história "de dentro" da comunidade.
    5. Enredo: Da normalidade tensa à resistência vitoriosa contra uma ameaça de extermínio.


        • Situação Inicial/Apresentação: A chegada de Teresa a Bacurau para o funeral de sua avó, Carmelita. O cotidiano da cidade já revela tensões: a falta d'água controlada pelo prefeito, o isolamento, o sumiço da cidade dos mapas online.
        • Incidente Incitador/Complicação: Os primeiros sinais de ameaça (drones, mortes misteriosas na fazenda vizinha, a chegada dos "sulistas").
        • Desenvolvimento/Conflito Crescente: A comunidade percebe que está sendo caçada. A descoberta dos equipamentos dos invasores e a natureza do plano de extermínio.
        • Clímax/Organização e Resistência: A decisão de lutar. O retorno de Lunga. A comunidade se une, utilizando seus conhecimentos, o museu como arsenal simbólico e real, e táticas de guerrilha para enfrentar os caçadores. Sequências de confronto direto.
        • Desfecho/Vitória e Restauração (com cicatrizes): A derrota e execução dos invasores e do prefeito traidor. A comunidade reafirma sua soberania e seu direito de existir, mas a experiência da violência extrema deixa marcas indeléveis. Bacurau sobrevive, mais forte em sua união e identidade.

    Ao detalhar esses elementos, percebemos como cada componente da narrativa é cuidadosamente construído para servir à alegoria política e à crítica social que o filme propõe.


    3. CONFLITO

    Conflito principal: comunidade tradicional x forças externas opressoras.
    Conflito simbólico: identidade cultural x apagamento; periferia x centro; Brasil profundo x imperialismo.

    Sua distinção entre o conflito principal e os conflitos simbólicos em "Bacurau" é muito precisa e fundamental para entender as camadas de significado do filme. Ambos os níveis se entrelaçam e se reforçam mutuamente.

    Vamos desenvolver cada um deles:

    1. Conflito Principal: Comunidade Tradicional x Forças Externas Opressoras

    • Comunidade Tradicional (Bacurau): Esta é a espinha dorsal da narrativa. Bacurau não é apenas um local, mas um organismo vivo, uma comunidade com laços sociais fortes, uma história compartilhada (guardada no museu e na memória dos mais velhos), rituais próprios (o funeral, o uso do psicotrópico) e um profundo senso de pertencimento. Apesar de suas carências e do isolamento, demonstram uma incrível capacidade de organização, vigilância e, finalmente, resistência. São herdeiros de uma longa tradição de luta pela sobrevivência no sertão.

    • Forças Externas Opressoras: Estas forças são multifacetadas:

      • Os Caçadores Estrangeiros: Representam o ápice da opressão. São ricos, tecnologicamente equipados, e vêm de um "centro" de poder global. Veem os habitantes de Bacurau como subumanos, meros alvos em um jogo sádico, desprovidos de qualquer direito à vida. Sua motivação é o prazer perverso e a afirmação de um poder absoluto.
      • Colaboradores Locais: O prefeito Tony Jr. é o principal exemplo, personificando a corrupção política que se alia a interesses externos para explorar e trair sua própria gente. Os "sulistas" que aparecem no início também funcionam como uma vanguarda dessa força opressora, testando as águas. Este conflito principal é o motor da trama, gerando suspense, violência e a luta desesperada e engenhosa pela sobrevivência da comunidade.

    2. Conflitos Simbólicos:

    Estes conflitos conferem profundidade e ressonância política e social ao embate principal:

    • Identidade Cultural x Apagamento:

      • Identidade Cultural: O museu, as músicas, os nomes dos personagens, as tradições orais, a relação com a terra e até mesmo a figura mítica de Lunga são manifestações da rica e singular identidade cultural de Bacurau. É essa identidade que lhes dá coesão e força.
      • Apagamento: O filme inicia com Bacurau "sumindo do mapa" digital, uma metáfora clara da tentativa de apagar sua existência, sua história e sua relevância. Os invasores buscam o apagamento físico e cultural, tratando os moradores como se não tivessem identidade ou valor. A luta de Bacurau é, portanto, uma luta pelo direito de existir e de ter sua cultura reconhecida e preservada.
    • Periferia x Centro:

      • Periferia: Bacurau é a personificação da periferia – geográfica, social, econômica e política. É o lugar esquecido, desassistido pelo Estado (o "centro" do poder nacional), onde a vida é mais dura e as pessoas precisam contar consigo mesmas.
      • Centro: O "centro" é representado tanto pelo poder político nacional ausente ou corrupto, quanto pelo poder global dos caçadores estrangeiros. "Bacurau" subverte essa dinâmica ao mostrar a periferia não como passiva ou impotente, mas como um local de resistência astuta e potente, capaz de desafiar e derrotar as forças do centro.
    • Brasil Profundo x Imperialismo:

      • Brasil Profundo: O filme mergulha nas raízes de um Brasil muitas vezes invisibilizado, o sertão com suas histórias de cangaço, misticismo, resiliência e lutas populares. É um Brasil que resiste a ser homogeneizado ou destruído.
      • Imperialismo: Os caçadores estrangeiros encarnam uma forma contemporânea de imperialismo, onde o "outro" é coisificado e seu território visto como um espaço exótico para exploração e violência. A tecnologia (drones, armas avançadas, comunicação) é uma ferramenta desse novo colonialismo, mas que se mostra falível diante da astúcia e do conhecimento local.

    A genialidade de "Bacurau" reside em como o conflito principal, a luta física pela sobrevivência, está imbuído desses conflitos simbólicos. Cada ação, cada personagem, cada elemento do cenário contribui para essa complexa teia de significados, tornando o filme uma poderosa alegoria sobre resistência, identidade e a luta contra a opressão em suas mais diversas formas. A vitória da comunidade não é apenas física; é uma vitória simbólica da cultura sobre o apagamento, da periferia sobre o centro e do "Brasil profundo" sobre as garras do imperialismo.


    4. ANÁLISE

    Bacurau é uma alegoria política sobre o Brasil contemporâneo, mostrando como as populações marginalizadas resistem ao abandono e à violência. Combinando gêneros como faroeste, ficção científica e realismo social, o filme constrói uma crítica direta à desigualdade, à corrupção e ao colonialismo moderno.

    1. "Bacurau é uma alegoria política sobre o Brasil contemporâneo..."

    • Exatamente. O filme transcende uma narrativa literal para funcionar como um espelho amplificado e distorcido de tensões, medos e realidades do Brasil. Ele dialoga com um sentimento de época marcado por instabilidade, discursos de ódio, desvalorização da cultura e dos direitos humanos, e o recrudescimento de violências históricas. A sensação de um país à deriva, onde certas populações são consideradas descartáveis, é palpável.
  10. "...mostrando como as populações marginalizadas resistem ao abandono e à violência."

    • Este é o coração pulsante do filme. A resistência em Bacurau não é apenas uma reação impulsiva, mas um ato de sobrevivência organizado, inteligente e profundamente enraizado na identidade e na história da comunidade. O "abandono" estatal é a condição que os força à autossuficiência, e a "violência" (tanto a simbólica quanto a física) é o catalisador que une a comunidade em uma defesa visceral de suas vidas e de seu território. A forma como utilizam seus conhecimentos locais, sua cultura e sua memória coletiva (simbolizada pelo museu) é fundamental nessa resistência.
  11. "Combinando gêneros como faroeste, ficção científica e realismo social..."

    • Perfeito. Essa fusão de gêneros (poderíamos acrescentar o terror gore e a distopia) é uma das grandes forças do filme. O faroeste se manifesta na paisagem árida, no isolamento da comunidade, no confronto entre "mocinhos" e "bandidos", e na ideia de uma justiça feita pelas próprias mãos. A ficção científica surge com os drones, os dispositivos de comunicação dos invasores e a própria premissa de um futuro próximo onde tais caçadas humanas podem ocorrer. O realismo social está na representação da vida comunitária, nas carências, na dinâmica social e na crítica política. Essa mistura não é gratuita: ela cria um universo único que potencializa a alegoria, tornando a crítica ainda mais contundente e a narrativa imprevisível e original.
  12. "...o filme constrói uma crítica direta à desigualdade, à corrupção e ao colonialismo moderno."

    • Sem dúvida. A desigualdade é flagrante: social, econômica, regional e, implicitamente, racial. A comunidade de Bacurau é carente, enquanto os invasores (e o próprio prefeito em sua esfera) ostentam recursos e poder. A corrupção é personificada no prefeito Tony Jr., que trai sua comunidade em benefício próprio e se alia aos opressores. O colonialismo moderno (ou neocolonialismo) é representado pelos estrangeiros que veem Bacurau como um território exótico e seus habitantes como subumanos, objetos descartáveis para seu entretenimento sádico, uma clara metáfora para as formas contemporâneas de exploração e dominação do Norte global sobre o Sul global, ou de elites sobre populações marginalizadas.

  13. 5. FIGURAS DE LINGUAGEM (presentes visualmente e nos diálogos)

    • Metáfora: Bacurau fora do mapa representa o apagamento simbólico de comunidades invisibilizadas.

    • Ironia: Os estrangeiros esperam matar com facilidade, mas são derrotados.

    • Hipérbole: A violência extrema realça o absurdo da situação.

    • Antítese: rural x urbano; colonizado x colonizador.

    • Personificação: O caminhão-pipa quase vira personagem; representa a sede e o abandono.

    6. ASSUNTO

    Resistência cultural, exclusão social, identidade nacional, imperialismo moderno, memória coletiva, violência política.

    1. Resistência Cultural (e Popular):

      • Desenvolvimento: Em "Bacurau", a cultura não é um adorno, mas a própria essência da resistência. As tradições, a música, os rituais (como o uso do psicotrópico), o museu local e até mesmo as relações interpessoais e o conhecimento do território são mobilizados como ferramentas ativas contra a ameaça externa. A resistência é popular porque emana da coletividade, unindo diferentes gerações e perfis em prol da sobrevivência. É a cultura viva que se recusa a ser subjugada.
    2. Exclusão Social (Sistêmica e Deliberada):

      • Desenvolvimento: Este é o pano de fundo que torna Bacurau vulnerável, mas também singular. A cidade "some do mapa", simbolizando o apagamento e a negligência estatal para com vastas parcelas da população. Essa exclusão não é acidental, mas um projeto que facilita a exploração e a violência. É a condição que impulsiona a necessidade de auto-organização e de uma justiça própria.
    3. Identidade Nacional (em Crise e Reconstrução a Partir da Margem):

      • Desenvolvimento: "Bacurau" questiona as noções hegemônicas de identidade nacional ao apresentar uma visão a partir da periferia do sistema. A "identidade" de Bacurau é forjada na diferença, na história local de lutas (o cangaço, por exemplo, evocado pela figura de Lunga e pelo museu) e na negação de um projeto nacional que os exclui. O filme sugere que a verdadeira identidade pode residir na resiliência dessas comunidades "esquecidas", que constroem seu próprio "país Bacurau".
    4. Imperialismo Moderno (ou Neocolonialismo Tecnológico e Predatório):

      • Desenvolvimento: A ameaça em "Bacurau" não é o colonialismo clássico, mas uma versão contemporânea, onde estrangeiros (majoritariamente do Norte Global) utilizam tecnologia avançada e seu poder econômico para um "turismo de extermínio". Eles veem o local e seus habitantes como um playground exótico e descartável para seus fetiches violentos, uma metáfora para as formas atuais de exploração e dominação, sejam elas econômicas, culturais ou militares.
    5. Memória Coletiva (Como Alicerce da Resistência):

      • Desenvolvimento: O museu de Bacurau é o coração simbólico dessa ideia. A memória dos antepassados, das lutas anteriores, dos que tombaram, é o que nutre o espírito de resistência da comunidade. As armas antigas que voltam a ser usadas, as histórias contadas, tudo isso compõe um legado que informa o presente e dá força para enfrentar o futuro. Sem essa memória, a identidade se esvai e a capacidade de resistir diminui.
    6. Violência Política (A Espiral da Opressão e da Libertação):

      • Desenvolvimento: O filme expõe a violência política em suas múltiplas faces: a violência da negligência estatal e da corrupção local (Tony Jr.), a violência sádica e imperialista dos invasores, e, dialeticamente, a violência da resistência comunitária como única forma de autodefesa e de exercer uma justiça possível diante do colapso das instituições formais. A violência em "Bacurau" não é gratuita; é uma consequência brutal e inevitável das relações de poder desiguais e da luta pela sobrevivência.

    Ao articular esses temas dessa maneira, o "assunto" de "Bacurau" se torna uma análise profunda de como comunidades marginalizadas, armadas com sua cultura, memória e senso de identidade, podem confrontar e subverter dinâmicas de opressão que são ao mesmo tempo locais e globais, históricas e dolorosamente atuais.


    7. MENSAGEM

    A união e a valorização da cultura popular são armas contra a opressão e o apagamento histórico. A periferia também pensa, resiste e vence.

    Enfatizando Memória e Ação:

    • "Bacurau ensina que, contra a opressão que visa o apagamento histórico e cultural, a união comunitária e a memória ancestral são armas poderosas. A periferia não é apenas vítima: ela observa, pensa estrategicamente e revida para garantir sua existência."

    Integrando Abandono e Autodeterminação:

    "Diante do abandono e da tentativa de apagamento, 'Bacurau' mostra como a valorização da cultura local e a união fortalecem a resistência. A mensagem é clara: a periferia pensa, luta com suas próprias armas (culturais e literais) e pode forjar seu próprio destino, mesmo nas circunstâncias mais brutais."

    Mais Foco na Subversão:

    "A força de 'Bacurau' está em mostrar que a união e a cultura popular subvertem a lógica da opressão e do apagamento. Onde esperam encontrar vítimas passivas, a periferia revela sua inteligência coletiva, resiste ferozmente e prova que pode sim vencer."

    Mantendo a base e expandindo levemente:

    "A união e a valorização da cultura popular são armas fundamentais contra a opressão e a tentativa de apagamento histórico, como 'Bacurau' demonstra visceralmente. O filme afirma que a periferia, com sua história e sua gente, também pensa, organiza-se, resiste e, desafiando todas as probabilidades, vence."

    8. TEMAS

    • Resistência popular

    • Colonialismo e neocolonialismo

    • Apagamento cultural

    • Violência simbólica e real

    • Organização comunitária

    • Justiça pelas próprias mãos

    • Relação poder/política

    1. Resistência Popular: Este é talvez o tema mais central do filme. A comunidade de Bacurau, inicialmente vista como vulnerável e isolada, demonstra uma capacidade extraordinária de se unir e lutar contra uma ameaça externa altamente tecnológica e sádica. Essa resistência não é apenas física (armada), mas também cultural e psicológica. Eles utilizam seu conhecimento do território, sua história (simbolizada pelo museu e pelas armas antigas), seus laços comunitários e até mesmo rituais (o uso do psicotrópico) para se fortalecerem e enfrentarem os invasores. A resistência é mostrada como uma necessidade de sobrevivência diante do abandono e da agressão.

    2. Colonialismo e Neocolonialismo: O filme faz uma alegoria contundente sobre as dinâmicas coloniais e suas formas contemporâneas (neocolonialismo). Os invasores estrangeiros (majoritariamente brancos, anglófonos, de países desenvolvidos) chegam a Bacurau com um senso de superioridade e o direito de explorar e exterminar a população local por esporte, tratando-os como "outros" exóticos e descartáveis. Isso espelha a lógica histórica da exploração colonial, onde territórios e povos são vistos como recursos a serem consumidos. A cumplicidade do prefeito Tony Jr. com os estrangeiros também remete a elites locais que colaboram com interesses externos em detrimento de seu próprio povo.

    3. Apagamento Cultural: O ato de Bacurau ser literalmente apagado dos mapas digitais no início do filme é uma metáfora poderosa para o apagamento cultural e a invisibilização de comunidades marginalizadas. Os invasores não têm interesse na cultura ou na humanidade dos habitantes de Bacurau; seu objetivo é a aniquilação. Em contraste, a comunidade valoriza ativamente sua história e cultura, como evidenciado pelo museu local, que se torna um bastião de sua identidade e um arsenal para sua resistência. A luta de Bacurau é também uma luta para não ser esquecida, para afirmar sua existência.

    4. Violência Simbólica e Real: "Bacurau" explora ambas as formas de violência.

      • Violência Simbólica: O apagamento do mapa, o corte do abastecimento de água pelo prefeito, o discurso desdenhoso dos invasores, a forma como tratam os habitantes como meros alvos num jogo. Tudo isso constitui uma violência que desumaniza e nega a dignidade da comunidade antes mesmo do primeiro tiro.
      • Violência Real: É explícita e brutal. Desde os assassinatos iniciais, o uso de drones, as execuções sumárias pelos invasores, até a resposta igualmente violenta e visceral da comunidade. O filme não romantiza a violência, mas a apresenta como uma consequência quase inevitável da opressão extrema e da luta pela sobrevivência.
    5. Organização Comunitária: A força de Bacurau reside em sua coesão e organização. Apesar das individualidades e tensões internas (como a figura de Lunga, inicialmente um fora-da-lei), a comunidade funciona como um organismo. Há uma rede de comunicação eficiente, respeito pelos mais velhos e pelas figuras de autoridade locais (como Domingas, a médica, ou Plínio, o professor), e uma capacidade de tomar decisões coletivas e agir em uníssono quando a ameaça se concretiza. Essa organização é orgânica e surge da necessidade mútua e da história compartilhada, contrastando com a desorganização e individualismo dos invasores no clímax.

    6. Justiça pelas Próprias Mãos: Diante do completo abandono pelo Estado (que nem sequer reconhece sua existência no mapa) e da traição do poder político local (o prefeito), a comunidade de Bacurau não tem a quem recorrer senão a si mesma. A justiça que aplicam aos invasores e ao prefeito é uma forma de justiça primitiva, olho por olho, mas no contexto do filme, é apresentada como a única alternativa viável para sua sobrevivência e para restaurar uma espécie de ordem após a violação sofrida. É a lei do sertão, onde o Estado não chega ou é corrupto.

    7. Relação Poder/Política: O filme disseca as relações de poder em várias esferas:

      • Poder Político Local: Representado por Tony Jr., um político corrupto, demagogo e subserviente a interesses externos, que usa seu poder para oprimir e explorar sua própria comunidade (ex: controle da água, desvio de mantimentos).
      • Poder Econômico e Tecnológico: Os invasores estrangeiros detêm esse poder, usando tecnologia avançada e recursos financeiros para seu "esporte" macabro, sentindo-se impunes.
      • Poder do Estado (Ausente): A ausência do Estado é uma forma de poder que condena Bacurau ao esquecimento e à vulnerabilidade, mas também paradoxalmente permite que a comunidade crie suas próprias regras e formas de resistência.
      • Poder Popular/Comunitário: A comunidade, ao se unir e resistir, constrói seu próprio poder, capaz de subjugar os opressores. Lunga, por exemplo, detém um poder informal baseado no medo e no respeito, que é mobilizado em prol da comunidade. A política em "Bacurau" é mostrada em sua forma mais crua: a luta pela vida, pelo território e pela dignidade, onde as estruturas formais falharam ou se tornaram predadoras.

    9. CONSEQUÊNCIAS

    • Desconfiança no poder público

    • Fortalecimento da identidade cultural

    • Ressignificação da violência como autodefesa

    • Debate sobre desigualdade social e racial

    "Bacurau" é um filme que, ao terminar, não apenas encerra uma narrativa, mas também semeia uma série de reflexões e potenciais "consequências" no espectador e no debate público. Vamos analisar cada ponto que você levantou:

    1. Desconfiança no poder público:

      • O filme cultiva e amplifica essa desconfiança de maneira visceral. Em Bacurau, o poder público é, na melhor das hipóteses, ausente e negligente (simbolizado pelo apagamento da cidade dos mapas e pela falta de qualquer amparo estatal). Na pior das hipóteses, é corrupto e cúmplice das forças opressoras, como personificado pelo prefeito Tony Jr., que ativamente colabora com os invasores e explora sua própria comunidade (controlando o acesso à água, desviando remédios e alimentos).
      • Consequência: Para os personagens, a desconfiança já é um estado naturalizado; eles aprenderam a não esperar nada do Estado. Para o espectador, o filme pode reforçar ou despertar um ceticismo agudo em relação às instituições políticas e à capacidade (ou vontade) do Estado de proteger seus cidadãos, especialmente os mais marginalizados. Ele questiona a quem o poder público realmente serve.
    2. Fortalecimento da identidade cultural:

      • A agressão externa e o abandono estatal têm o efeito paradoxal de fortalecer ainda mais a identidade cultural da comunidade de Bacurau. Para resistir, eles se voltam para dentro, para suas raízes, sua história (o museu é central), seus rituais (o uso do psicotrópico), sua música, suas figuras locais emblemáticas (Lunga, Domingas) e seu conhecimento ancestral e do território. A cultura deixa de ser apenas um modo de vida e se torna uma arma e um escudo.
      • Consequência: No filme, essa identidade cultural é a espinha dorsal da sua resiliência e vitória. Para o público, o filme pode inspirar uma valorização das culturas locais, da memória coletiva e da importância de se conhecer e preservar as próprias raízes como forma de resistência contra a homogeneização ou o apagamento imposto por forças externas ou hegemônicas.
    3. Ressignificação da violência como autodefesa:

      • "Bacurau" não foge da representação crua da violência, mas a contextualiza de forma muito específica. A violência praticada pelos habitantes de Bacurau não é gratuita nem a primeira opção; ela surge como uma resposta desesperada e calculada a uma agressão externa brutal, sádica e não provocada. Diante da aniquilação iminente e da ausência total de alternativas de proteção, a violência se torna a única linguagem compreendida pelos agressores e o único meio de autodefesa e sobrevivência.
      • Consequência: O filme desafia o espectador a refletir sobre a legitimidade da violência em contextos extremos. Ele não a glorifica, mas a humaniza como uma trágica necessidade quando todas as outras vias foram fechadas. Questiona-se o que é justiça quando o sistema legal falha ou não existe, e a autodefesa se torna a única forma de garantir a existência. Personagens como Pacote, que relutam em voltar à violência, mostram o peso dessa escolha.
    4. Debate sobre desigualdade social e racial:

      • Desigualdade Social: O filme expõe o abismo social entre a comunidade pobre e isolada de Bacurau, carente de recursos básicos, e os invasores estrangeiros (e mesmo os "sulistas" brasileiros que os precedem), que possuem dinheiro, tecnologia e veem os habitantes como subumanos descartáveis para seu entretenimento. A figura do prefeito que controla o acesso a bens essenciais também sublinha essa dinâmica de poder baseada na desigualdade.
      • Desigualdade Racial: Embora não seja um tema verbalizado explicitamente o tempo todo, a composição racial dos grupos é visualmente eloquente. Bacurau é uma comunidade majoritariamente negra e parda, enquanto os agressores são predominantemente brancos. Essa dinâmica racial espelha as estruturas de poder e opressão históricas e contemporâneas no Brasil e no mundo, onde corpos não-brancos são frequentemente mais vulneráveis à violência e à desumanização.
      • Consequência: "Bacurau" força o espectador a confrontar essas desigualdades. Ao criar uma alegoria onde essas dinâmicas são levadas ao extremo, o filme incita um debate sobre as raízes e as manifestações da injustiça social e racial, e como elas tornam certas populações alvos preferenciais da exploração e da violência sistêmica.

    Em suma, "Bacurau" utiliza sua narrativa distópica e seus elementos de gênero para funcionar como um potente catalisador de discussões sobre questões urgentes e profundamente enraizadas na sociedade brasileira (e com paralelos globais).


    10. CONTEXTO HISTÓRICO, LITERÁRIO E SOCIAL

    • Histórico/social: Lançado em 2019, o filme dialoga com a crise política do Brasil pós-impeachment, a ascensão de discursos autoritários e o aumento da violência no campo.

    • Literário: Pode ser comparado ao regionalismo modernista (Graciliano Ramos, Jorge Amado) e ao teatro político de Brecht (distanciamento crítico e alegoria).

    O filme, embora original e contemporâneo, dialoga profundamente com essas tradições artísticas e políticas. Vamos desenvolver essas ideias:

    1. Relação com o Regionalismo Modernista (Graciliano Ramos, Jorge Amado)

    O regionalismo modernista brasileiro, especialmente o da Geração de 30, caracterizou-se por uma forte denúncia social, retratando as mazelas do sertão nordestino, a seca, a miséria, a opressão dos coronéis e a luta pela sobrevivência de populações marginalizadas.

    • Semelhanças com "Bacurau":

      • Ambientação e Temática Social: Assim como Graciliano Ramos em "Vidas Secas" expõe a dureza da vida no sertão e a invisibilidade de seus habitantes, e Jorge Amado em obras como "Capitães da Areia" ou "Terras do Sem Fim" (este último sobre a luta pela terra na zona cacaueira) dá voz aos excluídos, "Bacurau" se passa no sertão e foca numa comunidade esquecida pelo poder público e ameaçada por forças externas. A pobreza, a escassez (a água como bem precioso) e a luta pela sobrevivência são temas centrais.
      • Crítica à Estrutura de Poder: O coronelismo denunciado pelos modernistas encontra um eco na figura do prefeito Tony Jr. em "Bacurau", que representa o poder local corrupto e subserviente a interesses maiores, explorando a própria comunidade.
      • Resistência e Identidade Local: Embora a forma de resistência em "Bacurau" seja mais explícita e violenta, a valorização da cultura local e a resiliência do povo sertanejo já estavam presentes nos modernistas. Figuras como Lunga em "Bacurau" podem evocar, de forma estilizada, o arquétipo do cangaceiro, uma figura de resistência e transgressão presente no imaginário regionalista.
      • Linguagem e Realismo (com ressalvas): Embora "Bacurau" incorpore elementos fantásticos, há um forte componente de realismo na representação da vida comunitária, nas interações sociais e na crueza das situações, o que o aproxima do tom de denúncia social do modernismo.
    • Diferenças e Atualizações:

      • Gênero e Estética: "Bacurau" transcende o realismo social estrito ao incorporar elementos de faroeste, ficção científica, terror (gore) e distopia. Essa hibridez de gêneros é uma característica contemporânea que o diferencia dos modernistas.
      • Natureza da Ameaça: A ameaça em "Bacurau" é globalizada e tecnologicamente avançada (os caçadores estrangeiros), uma atualização das forças opressoras tradicionais (latifundiários, jagunços, a seca).
      • Empoderamento e Agência: Se em "Vidas Secas" predomina a resignação e a fuga, em "Bacurau" a comunidade se organiza ativamente para uma resistência armada e vitoriosa. Há um empoderamento explícito dos marginalizados que é mais pronunciado e fantástico do que o normalmente encontrado no regionalismo clássico.

    2. Relação com o Teatro Político de Brecht (Distanciamento Crítico e Alegoria)

    O teatro épico de Bertolt Brecht buscava, através do "efeito de distanciamento" (Verfremdungseffekt), fazer com que o espectador não se perdesse na ilusão cênica, mas refletisse criticamente sobre as questões sociais e políticas apresentadas. A alegoria era uma ferramenta fundamental para isso.

    • Semelhanças com "Bacurau":

      • Alegoria: "Bacurau" é profundamente alegórico.
        • A cidade de Bacurau pode representar o Brasil profundo, o Nordeste, ou qualquer comunidade marginalizada do Sul Global.
        • Os caçadores estrangeiros simbolizam o imperialismo, o neocolonialismo, o capitalismo predatório, a elite global indiferente ou sádica.
        • O prefeito Tony Jr. é a alegoria das elites locais corruptas que colaboram com a exploração.
        • O apagamento do mapa e o corte da água são alegorias do abandono estatal e da guerra por recursos.
        • O museu e as armas antigas representam a memória histórica como ferramenta de resistência. Essa natureza alegórica convida o espectador a interpretar os eventos do filme em um contexto social e político mais amplo.
      • Distanciamento Crítico: Embora "Bacurau" também envolva o espectador emocionalmente (gerando tensão, torcida pela comunidade), há elementos que podem promover um distanciamento crítico:
        • Hibridismo de Gêneros: A mistura de gêneros, por vezes chocante ou inesperada (como a violência gráfica que beira o cartunesco em certos momentos, ou a aparição de drones que parecem OVNIs), pode quebrar a imersão realista e fazer o espectador refletir sobre a natureza da representação e o que ela significa.
        • Personagens Tipificados: Alguns personagens, especialmente os antagonistas (os caçadores, o prefeito), são construídos de forma um tanto caricatural ou arquetípica, servindo mais como representantes de ideias ou forças sociais do que como indivíduos psicologicamente complexos, o que é comum na alegoria e no teatro brechtiano.
        • Finalidade Política Clara: Assim como o teatro de Brecht, "Bacurau" tem uma intenção política clara: denunciar a opressão, celebrar a resistência e provocar a reflexão sobre as estruturas de poder. O absurdo da premissa (caçar humanos por esporte) força uma crítica à desumanização.
        • Quebra de Expectativas: O filme constantemente quebra expectativas sobre como os personagens reagirão ou como a trama se desenvolverá, evitando clichês fáceis e forçando o espectador a se reajustar e pensar.
    • Nuances:

      • Imersão Cinematográfica: Sendo um filme, "Bacurau" utiliza recursos da linguagem cinematográfica (trilha sonora, fotografia, edição) que também visam criar uma experiência imersiva, o que difere das técnicas teatrais de Brecht, cujo objetivo era romper mais explicitamente a "quarta parede".
      • Catarse e Emoção: O filme permite uma forte catarse emocional com a vitória da comunidade, algo que Brecht tentava mitigar em favor de uma reflexão mais fria.

    Conclusão:

    "Bacurau" demonstra ser uma obra que, ao mesmo tempo que se insere em um contexto cinematográfico global contemporâneo, bebe de fontes importantes da tradição crítica brasileira (como o regionalismo modernista) e do pensamento artístico-político internacional (como o teatro brechtiano). Ele atualiza a denúncia social do regionalismo com uma nova roupagem estética e uma agência mais explícita dos oprimidos, e utiliza a alegoria e elementos de distanciamento de forma potente para incitar a reflexão crítica, tal como Brecht propunha para o teatro. Essa combinação de influências contribui para sua originalidade e impacto.

    11. OPINIÃO PESSOAL

    O filme é impactante e inovador ao tratar questões profundas do Brasil com linguagem cinematográfica ousada e simbólica. Sua mensagem política é clara sem ser panfletária, e a construção do suspense sustenta o envolvimento do espectador.

    12. PERGUNTAS E RESPOSTAS

    1. Resposta única:
    Qual é o principal tema do filme?
    → A resistência das comunidades marginalizadas frente à opressão e apagamento.

    2. Afirmação incompleta:
    Bacurau é uma crítica ao Brasil porque...
    → denuncia o abandono estatal e o colonialismo moderno.

    3. Resposta múltipla:
    Quais elementos reforçam a identidade cultural no filme?
    → Música regional, uso de ervas, o museu local, e a união da comunidade.

    4. Foco negativo:
    O que não está presente no filme?
    → Idealização romântica da vida no campo.

    5. Questão assertiva e justifique:
    O filme propõe que a violência é legítima em certos contextos?
    → Sim, como forma de autodefesa contra a opressão violenta.

    6. Questão de lacuna:
    O vilarejo de Bacurau desaparece do ____, o que simboliza o apagamento das identidades marginalizadas.
    → mapa

    7. Interpretação:
    Qual o papel do museu da cidade na narrativa?
    → É símbolo da memória coletiva e da valorização da identidade histórica.

    8. Associação:
    Associe Bacurau a outra obra com crítica social:
    → “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos: ambas denunciam o abandono do sertão.

    9. Ordenação:
    Ordene os eventos principais:

    1. Morte da matriarca

    2. Descoberta do apagamento

    3. Invasão estrangeira

    4. Organização da resistência

    5. Vitória da comunidade

    10. Alternativas (tipo Fuvest):
    Assinale a alternativa correta sobre o filme Bacurau:
    A) Propõe um elogio à tecnologia estrangeira
    B) Representa a comunidade como passiva
    C) Reforça o papel da cultura na resistência social
    D) Apaga as identidades locais
    → Resposta correta: C

    13. RELAÇÃO COM OUTRAS OBRAS DA FUVEST

    • Vidas Secas (Graciliano Ramos) – Sertão, pobreza, invisibilidade social, luta pela sobrevivência.

    • Capitães da Areia (Jorge Amado) – Resistência juvenil, exclusão urbana.

    • Iracema (José de Alencar) – Questões de identidade nacional e colonialismo (em contraste).

    • Claro Enigma (Carlos Drummond de Andrade) – Releitura crítica da realidade e do sujeito.

    • Quincas Borba (Machado de Assis) – Crítica ao pensamento dominante e ao uso do outro como meio.


    1. Vidas Secas (Graciliano Ramos) – Sertão, pobreza, invisibilidade social, luta pela sobrevivência.

      •  A conexão é fortíssima. Ambos retratam a aspereza do sertão, a pobreza extrema, a luta diária pela sobrevivência e a invisibilidade social dos seus habitantes perante o resto do país ou forças opressoras. Bacurau "sumir do mapa" é uma metáfora poderosa dessa invisibilidade, enquanto a família de Fabiano vive uma marginalização brutal. A diferença marcante está na resposta: em "Vidas Secas", a resignação e a fuga são predominantes; em "Bacurau", a comunidade se organiza para uma resistência armada e estratégica.
    2. Capitães da Areia (Jorge Amado) – Resistência juvenil, exclusão urbana.

      • Correto, com nuances. A ideia de resistência de um grupo marginalizado é o ponto central de conexão. Assim como os Capitães da Areia formam uma comunidade com suas próprias leis e formas de sobrevivência à margem da sociedade formal em um contexto urbano, a comunidade de Bacurau também se organiza e resiste à sua maneira em seu isolamento rural. Embora "Bacurau" não foque especificamente na "resistência juvenil" como em Jorge Amado, o espírito de corpo, a criação de laços de solidariedade e a luta contra a exclusão e a opressão são paralelos válidos. A diferença de cenário (urbano vs. rural) enriquece a comparação, mostrando diferentes manifestações da exclusão.
    3. Iracema (José de Alencar) – Questões de identidade nacional e colonialismo (em contraste).

      • Corretíssimo, e o "em contraste" é fundamental. "Iracema" é um mito fundador, uma visão romântica da união entre o colonizador europeu e a indígena, que daria origem ao povo brasileiro. "Bacurau" pode ser lido como uma anti-Iracema ou uma desconstrução desse mito. No filme, o "estrangeiro" não vem para se miscigenar de forma idealizada, mas para explorar, predar e exterminar, numa clara alegoria a novas formas de colonialismo. A identidade nacional em "Bacurau" é forjada na resistência à aniquilação cultural e física, e não na submissão ou idealização do encontro.
    4. Claro Enigma (Carlos Drummond de Andrade) – Releitura crítica da realidade e do sujeito.

      •  "Claro Enigma" marca uma fase de Drummond de maior ceticismo, reflexão filosófica e um olhar desencantado sobre o mundo e o indivíduo ("eu gauche", o sujeito deslocado). "Bacurau" também propõe uma releitura crítica da realidade brasileira, expondo suas fraturas sociais e a violência subjacente. Os personagens de Bacurau, ao serem confrontados com o absurdo e a brutalidade, são forçados a uma reavaliação de si mesmos e de seu papel no mundo, passando de vítimas potenciais a agentes de sua própria história, o que implica uma redefinição do "sujeito" diante da opressão.
    5. Quincas Borba (Machado de Assis) – Crítica ao pensamento dominante e ao uso do outro como meio.

      •  A filosofia do Humanitismo de Quincas Borba ("Ao vencedor, as batatas!") mascara uma visão de mundo onde os mais fracos são explorados pelos mais fortes, servindo de meio para os fins alheios. Em "Bacurau", os invasores estrangeiros, com sua mentalidade de "safári humano", e o prefeito Tony Jr. personificam essa coisificação do outro, tratando os habitantes de Bacurau como descartáveis, objetos de prazer sádico ou meros votos. O filme é uma crítica feroz a essa lógica predatória, que pode ser vista como uma forma de "pensamento dominante" entre os opressores.

    14. GOSTOU? POR QUÊ?

    Sim. O filme é instigante, mistura gêneros de forma criativa, tem um roteiro potente e simbólico, e faz uma crítica direta ao Brasil atual sem ser óbvio. A forma como a comunidade se fortalece a partir da cultura local é inspiradora.

  14. Instigante e mistura de gêneros criativa: A forma como "Bacurau" transita entre o faroeste, a ficção científica distópica, o terror "gore" e o drama social é magistral. Essa mistura não é gratuita; ela serve para intensificar a estranheza da situação e a resiliência da comunidade, tornando a narrativa imprevisível e original.
  15. Roteiro potente e simbólico: Cada elemento em "Bacurau" parece ter um significado mais profundo. Desde o nome da cidade (uma ave de hábitos noturnos, caçadora e resistente), o museu como guardião da memória, a água como elemento de poder e disputa, até os caixões sendo entregues antes das mortes. São camadas que enriquecem a experiência e convidam à interpretação.
  16. Crítica direta ao Brasil atual sem ser óbvio: Exatamente! O filme consegue ser visceralmente brasileiro e universal ao mesmo tempo. Ele aborda questões como o colonialismo (interno e externo), a política de extermínio velada, o descaso do Estado com regiões periféricas, a xenofobia, a banalização da violência e a desigualdade social. Faz isso através de uma alegoria poderosa, sem precisar de discursos panfletários, permitindo que o espectador conecte os pontos com a realidade. O período de seu lançamento, como discutimos, intensificou ainda mais essa conexão.
  17. A comunidade se fortalece a partir da cultura local: Este é um dos aspectos mais bonitos e fortes do filme. A união dos moradores de Bacurau, o respeito aos mais velhos, a valorização de sua história (presente no museu), o uso de elementos da sua cultura (como o psicotrópico local) e o conhecimento do seu território são as armas mais poderosas contra os invasores. É uma mensagem inspiradora sobre identidade, memória coletiva e resistência comunitária.
  18. 15. PARTE MAIS INTERESSANTE 

    A reviravolta em que os moradores deixam de ser vítimas e passam a agir estrategicamente para derrotar os invasores. O uso do museu e da história da comunidade como arma é brilhante.

           Inicialmente, somos apresentados a uma comunidade que parece vulnerável, isolada e à mercê de forças externas. A tensão cresce à medida que os sinais de perigo se acumulam, e o espectador pode temer pelo pior.

    No entanto, o filme subverte essa expectativa de forma brilhante. Os moradores de Bacurau não são cordeiros esperando o abate. Eles possuem uma história de resistência, uma coesão social forte e um profundo conhecimento do seu território e de si mesmos.

    E o "uso do museu e da história da comunidade como arma" é a materialização dessa força. O museu, que poderia ser visto como um mero repositório de objetos antigos e esquecidos, revela-se o arsenal simbólico e literal da comunidade. Ele guarda não apenas artefatos, mas a memória das lutas passadas, o espírito de resistência dos seus antepassados e, crucialmente, as ferramentas para a luta presente. A cena em que as armas antigas são redescobertas e postas em uso é emblemática.

    Essa transição demonstra que:

    1. A união faz a força: Isolados, seriam presas fáceis. Unidos e coordenados, tornam-se uma força formidável.
    2. Conhecimento é poder: O conhecimento do terreno, das táticas de guerrilha (possivelmente herdadas de gerações anteriores, como Lunga sugere) e a própria compreensão da mentalidade dos invasores dão a eles uma vantagem estratégica.
    3. A história e a cultura são fontes de resiliência: Ao se conectarem com sua história de luta, eles encontram a inspiração e os meios para resistir no presente. Não é apenas sobre armas, mas sobre uma identidade coletiva forjada na adversidade.
    Essa reviravolta transforma "Bacurau" de um possível filme de "horror de invasão" em uma poderosa declaração sobre autodeterminação, resistência e a capacidade de comunidades marginalizadas de virar o jogo contra seus opressores.                

    16. BIOGRAFIA (dos diretores)

    Kleber Mendonça Filho é pernambucano, crítico de cinema e cineasta. Dirigiu também O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016), ambos com forte teor social.
    Juliano Dornelles é diretor de arte e também pernambucano. Trabalha com Mendonça desde o início da carreira. Bacurau é sua estreia como codiretor. 

    17. MOMENTO HISTÓRICO NO BRASIL 

    O filme foi lançado em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro, num momento de acirramento das tensões políticas, cortes em políticas culturais, avanço da violência no campo e aumento da retórica autoritária. O clima político influencia diretamente o tom do filme.

    Em "Bacurau", o momento político vivido pelos personagens é de extremo abandono, invisibilidade e ameaça, funcionando como uma alegoria potente e crítica sobre realidades sociais e políticas do Brasil (e, de certa forma, globais).

    Podemos descrever esse momento político da seguinte forma:

    1. Abandono Estatal e Marginalização: A própria cidade de Bacurau some dos mapas digitais e GPS, simbolizando um apagamento e um descaso completo por parte das autoridades governamentais. A comunidade é deixada à própria sorte, sem acesso a recursos básicos (a disputa pela água, controlada pelo prefeito corrupto, é um exemplo central) e sem reconhecimento oficial. Isso reflete a situação de muitas comunidades rurais e periféricas no Brasil, que se sentem esquecidas pelo poder público.
    2. Corrupção Política Local: A figura do prefeito Tony Jr. representa a política local corrupta e clientelista, que se alia a forças externas (neste caso, os estrangeiros) em detrimento do bem-estar de sua própria população, visando apenas ganhos pessoais e poder. Ele é a face visível de um sistema político que oprime e explora os mais vulneráveis.
    3. Ameaça Externa e Desumanização: A chegada dos caçadores estrangeiros, que pagam para matar os moradores de Bacurau por esporte, representa uma força externa predatória e desumanizadora. Isso pode ser lido como uma metáfora para diversas formas de exploração: o imperialismo, o turismo predatório, a visão de elites (nacionais ou internacionais) que enxergam populações marginalizadas como inferiores ou descartáveis. Os moradores são literalmente caçados como animais.
    4. Resistência e Auto-organização: Diante desse cenário de abandono e ameaça, o momento político para os personagens é também um de resistência coletiva e auto-organização. A comunidade se une, recorrendo à sua própria história (simbolizada pelo museu), às suas tradições, ao conhecimento local (incluindo o uso de psicotrópicos) e à violência como forma de autodefesa e sobrevivência. Eles precisam criar suas próprias leis e formas de justiça quando o Estado falha completamente em protegê-los.
    5. Crítica ao Poder e à Tecnologia: O uso de tecnologia pelos antagonistas (drones, comunicação avançada, armas sofisticadas) contrasta com os métodos mais "analógicos" e comunitários de Bacurau, levantando questões sobre vigilância, controle e a desumanização proporcionada pela tecnologia usada para oprimir.

    Em suma, o momento político vivido pelos personagens de Bacurau é um de cerco e esquecimento, onde a única saída encontrada é a união comunitária radical e a resistência feroz contra as forças opressoras, sejam elas a negligência do Estado, a corrupção local ou a violência externa predatória. O filme usa essa situação distópica para comentar sobre feridas históricas e tensões políticas contemporâneas no Brasil.

    Sim, a sua análise está essencialmente correta. Vamos detalhar os pontos:

    1. Contexto de Lançamento: "Bacurau" foi de fato lançado em 2019, estreando no Brasil em agosto, já durante o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro. 
    2. Clima Político: O período era, como você descreveu, marcado por:
      • Acirramento das tensões políticas: Uma polarização intensa vinda desde as eleições de 2018.
      • Políticas Culturais: Houve mudanças significativas e cortes no setor cultural, com a extinção do Ministério da Cultura (transformado em secretaria) e discursos críticos a certas manifestações artísticas, gerando apreensão no meio.
      • Violência no Campo e Retórica: Discussões sobre flexibilização de posse/porte de armas, questões agrárias e ambientais, e uma retórica vista por muitos como autoritária ou de confronto eram presentes.
    3. Influência no Tom do Filme: É aqui que a conexão se estabelece, embora com uma nuance importante:
      • Ressonância Amplificada: Embora a ideia e o desenvolvimento de "Bacurau" tenham começado antes da eleição de Bolsonaro, o filme chegou aos cinemas num momento em que seus temas (resistência contra opressão, crítica ao abandono estatal, violência contra comunidades marginalizadas, crítica a um poder autoritário e estrangeiro/predatório) encontraram uma ressonância imensa com o clima político vigente.
      • Leitura Contextual: O público e a crítica inevitavelmente interpretaram o filme à luz dos acontecimentos contemporâneos. A sensação de um Brasil sob ataque (interno e externo), a valorização da resistência coletiva e a crítica a figuras de poder autoritárias e negligentes pareciam espelhar, para muitos, as ansiedades e os debates daquele momento específico.
      • Intenção dos Diretores: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles frequentemente comentaram que o filme reflete problemas históricos e estruturais do Brasil, que transcendem um único governo. No entanto, a urgência e a forma como esses problemas se manifestavam no contexto de 2019 certamente dialogaram diretamente com a obra.

    Embora "Bacurau" aborde questões brasileiras profundas e de longa data, o clima político específico de 2019 influenciou diretamente o tom da sua recepção e intensificou a percepção da urgência e da pertinência de suas críticas. O filme funcionou como um espelho potente (e distópico) das tensões e ansiedades vividas no país naquele período.

    Questões sobre o filme "Bacurau"

    1. Questão de resposta única Qual é o nome do prefeito de Bacurau, conhecido por sua aliança com os invasores estrangeiros? a) Plínio b) Pacote c) Michael d) Tony Jr. Resposta: d) Tony Jr.

    2. Questão de afirmação incompleta A decisão da comunidade de Bacurau de consumir o misterioso comprimido psicotrópico antes do confronto final representa... a) ... um ato de desespero e rendição. b) ... uma tentativa de fuga da realidade opressora. c) ... um ritual de fortalecimento cultural e preparação para a luta. d) ... uma exigência imposta pelos invasores. Resposta: c) ... um ritual de fortalecimento cultural e preparação para a luta.

    3. Questão de resposta múltipla Analise as seguintes afirmações sobre a personagem Lunga: I. É uma figura temida e respeitada, vivendo como fora-da-lei antes de retornar para defender Bacurau. II. Demonstra conhecimento em táticas de guerrilha e lidera ativamente a resistência armada. III. Desaprova o uso de violência, buscando uma solução pacífica para o conflito.

    Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas I e II. c) Apenas II e III. d) I, II e III. Resposta: b) Apenas I e II.

    4. Questão de foco negativo Qual dos seguintes elementos NÃO é uma característica proeminente da comunidade de Bacurau como retratada no filme? a) Forte senso de coletividade e solidariedade. b) Valorização da memória e da história local, simbolizada pelo museu. c) Completa dependência de instituições governamentais externas para sua proteção. d) Capacidade de auto-organização e resistência frente a ameaças. Resposta: c) Completa dependência de instituições governamentais externas para sua proteção.

    5. Questão assertiva e justifique Assertiva: O museu de Bacurau desempenha um papel crucial na resistência da comunidade. Justificativa: a) Correto, pois o museu serve apenas como um ponto turístico para atrair visitantes e recursos para a cidade. b) Correto, pois é no museu que a comunidade guarda não apenas sua memória histórica, mas também artefatos e armas que se tornam instrumentos de luta e símbolo de sua resiliência ancestral. c) Incorreto, pois o museu é um espaço abandonado e sem relevância para os acontecimentos do filme. d) Incorreto, pois a resistência da comunidade se baseia unicamente na liderança de Lunga, sem relação com o museu. Resposta: b) Correto, pois é no museu que a comunidade guarda não apenas sua memória histórica, mas também artefatos e armas que se tornam instrumentos de luta e símbolo de sua resiliência ancestral.

    6. Questão de lacuna Em "Bacurau", a cidade é progressivamente isolada, começando com seu desaparecimento dos mapas digitais e culminando com o corte de estradas e o ataque dos _______________, que veem os habitantes como presas em um _______________ sádico. a) políticos locais / jogo de poder b) mercenários estrangeiros / safári humano c) animais selvagens / ciclo natural d) traficantes / conflito territorial Resposta: b) mercenários estrangeiros / safári humano

    7. Questão de interpretação A cena inicial do filme, com o caminhão-pipa derramando água e os caixões espalhados pela estrada, pode ser interpretada como: a) Um prenúncio da prosperidade e da paz que chegarão à cidade. b) Uma metáfora da escassez, da morte iminente e da negligência enfrentada pela comunidade. c) Um evento aleatório sem grande significado simbólico para a trama. d) A celebração de um festival local tradicional de Bacurau. Resposta: b) Uma metáfora da escassez, da morte iminente e da negligência enfrentada pela comunidade.

    8. Questão de associação Associe os personagens de "Bacurau" às suas características ou papéis principais: Coluna 1:

    1. Teresa
    2. Domingas
    3. Pacote (Acácio)
    4. Michael

    Coluna 2: ( ) Líder dos invasores estrangeiros. ( ) Jovem que retorna à Bacurau para o enterro da avó e se envolve na resistência. ( ) Ex-matador que tenta levar uma vida pacata, mas é forçado a lutar. ( ) Médica da comunidade, conhecida por sua franqueza e problemas com álcool.

    A sequência correta é: a) 4, 1, 3, 2 b) 1, 4, 2, 3 c) 4, 2, 1, 3 d) 3, 1, 4, 2 Resposta: a) 4, 1, 3, 2

    9. Questão de ordenação ou seriação Ordene cronologicamente os seguintes eventos da trama de "Bacurau": ( ) O ataque dos drones voadores em formato de disco. ( ) A chegada de Teresa a Bacurau para o funeral de Carmelita. ( ) O cerco final e a derrota dos invasores pela comunidade. ( ) O desaparecimento de Bacurau dos mapas digitais. ( ) A morte do casal de "sulistas" na fazenda.

    A sequência correta é: a) 2, 4, 1, 5, 3 b) 4, 2, 5, 1, 3 c) 2, 1, 4, 5, 3 d) 1, 2, 4, 3, 5 Resposta: a) 2, 4, 1, 5, 3 (Considerando que o desaparecimento do mapa é percebido após a chegada de Teresa e antes dos primeiros ataques diretos)

    10. Questão de alternativas (Padrão) Qual a principal motivação do grupo de estrangeiros para atacar Bacurau? a) Disputa por recursos naturais valiosos escondidos na região. b) Vingança por um conflito anterior com membros da comunidade. c) Prazer sádico em caçar seres humanos por esporte e entretenimento. d) Cumprir uma missão militar secreta de um governo estrangeiro. Resposta: c) Prazer sádico em caçar seres humanos por esporte e entretenimento.

    BLOCO 2: Questões com Relação a Obras da Fuvest

    11. Questão de resposta única (Relação com Obras da Fuvest) Considerando a representação do sertão e a luta pela sobrevivência, qual obra da lista da Fuvest apresenta um contraste mais direto com "Bacurau" no que tange à forma de reação da comunidade à adversidade (resignação vs. resistência armada)? a) Iracema b) Quincas Borba c) Vidas Secas d) Claro Enigma Resposta: c) Vidas Secas

    12. Questão de afirmação incompleta (Relação com Obras da Fuvest) A crítica à desumanização e ao "uso do outro como meio", presente na filosofia do Humanitismo em "Quincas Borba" de Machado de Assis, ecoa em "Bacurau" quando... a) ... a comunidade se une para proteger seus membros mais vulneráveis. b) ... os invasores estrangeiros tratam os habitantes de Bacurau como alvos descartáveis em seu jogo sádico. c) ... Teresa decide retornar à sua cidade natal para o funeral da avó. d) ... o professor Plínio utiliza o museu para ensinar a história local às crianças. Resposta: b) ... os invasores estrangeiros tratam os habitantes de Bacurau como alvos descartáveis em seu jogo sádico.

    13. Questão de resposta múltipla (Relação com Obras da Fuvest) Analise as possíveis relações temáticas entre "Bacurau" e obras da Fuvest: I. A marginalização e a formação de uma "sociedade à parte" com suas próprias regras em "Bacurau" dialogam com a comunidade formada pelos "Capitães da Areia" de Jorge Amado. II. A representação idealizada da identidade nacional e do "bom selvagem" em "Iracema" de José de Alencar é subvertida em "Bacurau" pela brutalidade do encontro com o "estrangeiro" e a resistência nativa. III. A crítica social e a denúncia das desigualdades, presentes em "Vidas Secas" de Graciliano Ramos, são completamente ausentes em "Bacurau", que foca apenas na ação e no suspense.

    Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas I e II. c) Apenas II e III. d) I, II e III. Resposta: b) Apenas I e II.

    14. Questão de foco negativo (Relação com Obras da Fuvest) Todas as seguintes obras da Fuvest podem ser relacionadas a "Bacurau" por abordarem, de alguma forma, a crítica social ou a condição de grupos marginalizados, EXCETO: a) Vidas Secas (Graciliano Ramos) b) Capitães da Areia (Jorge Amado) c) Quincas Borba (Machado de Assis) d) Iracema (José de Alencar), quando analisada sob a ótica da idealização que contrasta com a realidade da exploração. Nota: Esta questão é mais sutil. Enquanto "Iracema" pode ser usada para contraste, sua abordagem principal não é a denúncia da marginalização nos moldes das outras. Se a intenção for puramente a "abordagem crítica da marginalização", Iracema seria a exceção. Se o contraste for o foco da relação, todas se conectam. Para "foco negativo" no sentido de menor semelhança direta de abordagem da marginalização: Resposta: d) Iracema (José de Alencar) - pois, embora permita um contraste sobre colonialismo, sua abordagem da "condição de grupos marginalizados" é menos direta e crítica que as demais em termos de denúncia social explícita.

    15. Questão assertiva e justifique (Relação com Obras da Fuvest) Assertiva: "Bacurau" pode ser visto como uma "releitura crítica da realidade" brasileira, dialogando tematicamente com a postura reflexiva e por vezes desencantada de Carlos Drummond de Andrade em "Claro Enigma". Justificativa: a) Correto, pois ambas as obras apresentam uma visão otimista e idealizada do Brasil, ignorando seus problemas sociais. b) Correto, pois tanto o filme quanto a obra poética propõem um olhar agudo sobre as contradições, as tensões sociais e a condição humana no contexto brasileiro, ainda que por meio de linguagens artísticas distintas. c) Incorreto, pois "Bacurau" é um filme de pura ficção escapista, sem qualquer intenção de crítica à realidade. d) Incorreto, pois "Claro Enigma" trata exclusivamente de temas metafísicos abstratos, sem conexão com a realidade social. Resposta: b) Correto, pois tanto o filme quanto a obra poética propõem um olhar agudo sobre as contradições, as tensões sociais e a condição humana no contexto brasileiro, ainda que por meio de linguagens artísticas distintas.

    16. Questão de lacuna (Relação com Obras da Fuvest) A invisibilidade social e o abandono estatal que levam Bacurau a sumir dos mapas podem ser comparados à marginalização da família de Fabiano em _______________, embora a resposta dos personagens de "Bacurau" seja a _______________, contrastando com a busca por um lugar melhor em Graciliano Ramos. a) Quincas Borba / submissão b) Vidas Secas / resistência organizada c) Iracema / assimilação cultural d) Capitães da Areia / criminalidade Resposta: b) Vidas Secas / resistência organizada

    17. Questão de interpretação (Relação com Obras da Fuvest) Como a representação da comunidade e da identidade em "Bacurau" desafia ou subverte a visão de identidade nacional proposta por obras canônicas como "Iracema" de José de Alencar? a) Reforçando a ideia de uma nação pacífica e acolhedora com os estrangeiros. b) Mostrando a identidade nacional como algo construído pela assimilação passiva da cultura dominante imposta pelo colonizador. c) Apresentando uma identidade forjada na resistência, na valorização da cultura local e na luta contra a opressão externa, em vez de uma fusão idealizada. d) Ignorando completamente a questão da identidade nacional, focando apenas em um conflito localizado. Resposta: c) Apresentando uma identidade forjada na resistência, na valorização da cultura local e na luta contra a opressão externa, em vez de uma fusão idealizada.

    18. Questão de associação (Relação com Obras da Fuvest) Associe os temas de "Bacurau" com as obras da Fuvest que os exploram de forma proeminente: Coluna 1 (Temas em Bacurau):

    1. Luta pela sobrevivência no sertão e invisibilidade social.
    2. Formação de comunidade à margem e resistência coletiva.
    3. Crítica à exploração do outro e a uma "lei do mais forte".
    4. Desconstrução de mitos fundadores e crítica ao neocolonialismo.

    Coluna 2 (Obras da Fuvest): ( ) Quincas Borba ( ) Iracema (em contraste ou como ponto de partida para crítica) ( ) Vidas Secas ( ) Capitães da Areia

    A sequência correta é: a) 3, 4, 1, 2 b) 1, 2, 3, 4 c) 3, 2, 1, 4 d) 1, 4, 3, 2 Resposta: a) 3, 4, 1, 2

    19. Questão de ordenação ou seriação (Relação com Obras da Fuvest) Considerando o protagonismo da ação coletiva e da resistência armada, ordene as seguintes obras (incluindo "Bacurau") da MENOS explícita para a MAIS explícita nesse quesito específico: ( ) Vidas Secas (Graciliano Ramos) ( ) Bacurau (Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles) ( ) Capitães da Areia (Jorge Amado) - considerando a resistência do grupo, ainda que não sempre "armada" no sentido militar.

    A sequência correta é: a) Vidas Secas, Capitães da Areia, Bacurau b) Capitães da Areia, Vidas Secas, Bacurau c) Bacurau, Capitães da Areia, Vidas Secas d) Vidas Secas, Bacurau, Capitães da Areia Resposta: a) Vidas Secas, Capitães da Areia, Bacurau

    20. Questão de alternativas (Padrão) (Relação com Obras da Fuvest) A forma como a comunidade de Bacurau se organiza com suas próprias regras, justiça e sistema de defesa, à margem do Estado, encontra um paralelo mais direto na estrutura e dinâmica de qual grupo retratado em obras da Fuvest? a) A família de Fabiano em "Vidas Secas". b) Os frequentadores do cortiço de João Romão em "O Cortiço" (embora não listado antes, é uma obra comum na Fuvest e serve de exemplo). c) O bando dos "Capitães da Areia" em Salvador. d) Os personagens da elite carioca em "Quincas Borba". Resposta: c) O bando dos "Capitães da Areia" em Salvador.

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