sábado, 12 de abril de 2025

“Nove Noites”, de Bernardo Carvalho ( TODAS AS SÉRIES DO ENSINO MÉDIO.)

 Nove Noites, publicado em 2002, é uma das obras mais aclamadas do escritor brasileiro Bernardo Carvalho, consolidando-o como uma voz fundamental da literatura contemporânea. O romance é uma narrativa instigante que mistura ficção e realidade, memória e investigação, para explorar a misteriosa morte do antropólogo americano Buell Quain no Brasil em 1939.

Sinopse

A trama gira em torno da tentativa de um narrador contemporâneo (que se confunde com o próprio autor) de desvendar as circunstâncias da morte de Buell Quain, um jovem antropólogo que se suicidou de forma trágica e inexplicável na frente de dois índios Krahô no interior do Tocantins. A investigação do narrador se desenvolve através de diferentes documentos, relatos e encontros, incluindo as cartas de Manoel Perna, um sertanejo que conviveu com Quain durante as nove noites que precederam sua morte.

1. Hibridismo Genérico

Nove Noites transcende as fronteiras de um único gênero literário. Embora classificado como romance, incorpora elementos de romance policial, com a investigação da morte; de reportagem, com a busca por fatos e documentos; de ensaio, com reflexões sobre a memória, a história e a representação do outro; e até mesmo de autoficção, dada a indistinção entre o narrador e o autor. Essa mistura reflete a complexidade do tema e a dificuldade de se chegar a uma verdade única e objetiva.

2. A Morte Misteriosa de Buell Quain

O ponto de partida da narrativa é um evento real e obscuro: o suicídio de Buell Quain. Bernardo Carvalho não busca solucionar o mistério de forma definitiva, mas explorar as possíveis motivações, o contexto histórico e as diferentes interpretações que cercam esse acontecimento. O suicídio, presenciado por indígenas, levanta questões sobre o choque cultural, a incomunicabilidade e o impacto da presença do branco sobre as populações nativas.

3. A Multiplicidade de Narradores e Perspectivas

O romance apresenta dois narradores principais:

  • Manoel Perna: Através de suas cartas, oferece uma visão íntima e fragmentada dos últimos dias de Quain, permeada por suas impressões e limitações. Sua linguagem é marcada pela oralidade e pela cultura do sertão.

  • O narrador contemporâneo (Bernardo Carvalho?): Conduz a investigação no presente, confrontando versões, analisando documentos e tecendo reflexões sobre a história. Sua busca é marcada pela subjetividade e pela consciência da impossibilidade de um acesso pleno ao passado.

Essa dupla narração cria um efeito de perspectivas múltiplas, em que a “verdade” sobre a morte de Quain se torna escorregadia e dependente do ponto de vista de cada narrador.

4. A Interseção entre Ficção e Realidade

Carvalho utiliza um fato real como ponto de partida para construir uma narrativa ficcional. Incorpora documentos verídicos (como cartas de Quain e fotografias) e personagens reais, mas também cria figuras e situações inventadas. Essa imbricação entre realidade e ficção questiona a natureza da verdade histórica e a capacidade da literatura de representar o passado de forma objetiva. O autor explicita nos agradecimentos que a obra é uma ficção baseada em fatos, experiências e pessoas reais.

5. A Temática da Memória e do Esquecimento

O romance reflete sobre a fragilidade da memória e como o tempo e as diferentes narrativas podem distorcer ou apagar o passado. A figura de Quain, um evento trágico que caiu no esquecimento, é resgatada pela investigação do narrador. A dificuldade de acessar a memória de testemunhas e documentos ressalta a incompletude e a subjetividade inerentes à reconstrução do passado.

5.1. Recepção Crítica e Relevância Literária

Nove Noites foi amplamente elogiado por críticos e leitores, recebendo prêmios como o Prêmio Jabuti de Melhor Romance (2003) e o Prêmio Portugal Telecom (2004). A crítica destacou a habilidade do autor em desfazer as fronteiras entre ficção e realidade, reconhecendo a obra como um marco da literatura pós-moderna brasileira. Bernardo Carvalho consolidou-se como um dos principais nomes da chamada “Geração 90”, ao lado de Milton Hatoum e Adriana Lisboa.

6. A Representação do Indígena

A obra aborda a relação entre o antropólogo branco e as comunidades indígenas, levantando questões sobre o olhar do colonizador, a alteridade e o impacto da cultura ocidental sobre os povos nativos. A figura dos índios Krahô, testemunhas silenciosas da morte de Quain, é envolta em mistério e incomunicabilidade, refletindo a dificuldade de compreensão entre culturas distintas.

7. A Linguagem e a Estrutura Narrativa

A linguagem de Carvalho é precisa e evocativa, alternando entre a formalidade da investigação e a expressividade das cartas de Perna. A estrutura narrativa é fragmentada e não linear, com idas e vindas no tempo e sobreposição de vozes e documentos. Essa forma reflete a natureza labiríntica da busca pela verdade e a complexidade do tema.

8. O Título “Nove Noites”

O título remete ao período de convivência entre Manoel Perna e Buell Quain – um tempo carregado de tensões, silêncio, cumplicidade e mistérios. Essas nove noites se tornam um ponto focal da investigação, cercadas de significados e ausências.

9. Contexto Histórico e Cultural

A década de 1930 foi marcada por transformações no Brasil, incluindo políticas ambíguas em relação aos povos indígenas durante o Estado Novo de Vargas. A antropologia, ainda jovem, trazia olhares curiosos e colonizadores. Quain veio ao Brasil em meio a essas tensões. Nos EUA, o país ainda sentia os efeitos da Grande Depressão. A solidão do antropólogo reflete também uma crise existencial que atingia intelectuais do período. Sua morte, nesse sentido, é tanto individual quanto simbólica de um tempo de rupturas e incompreensões.

10. Inspiração do Autor e Processo Criativo

Bernardo Carvalho conheceu a história de Quain por meio de documentos esparsos e se sentiu impelido a reconstruir os silêncios deixados pelo antropólogo. Em entrevistas, o autor relata que realizou pesquisas, visitou aldeias e se envolveu pessoalmente com a trajetória de Quain. Contudo, sua proposta nunca foi biográfica, mas sim literária: construir uma obra que refletisse sobre os limites da verdade e o desejo – muitas vezes falho – de reconstituir os passos de alguém.

Conclusão

Nove Noites é uma obra-prima da literatura brasileira contemporânea. Desafia as convenções narrativas e mergulha em questões profundas sobre a verdade, a memória, a alteridade e a tênue fronteira entre ficção e realidade. Com estrutura engenhosa e linguagem envolvente, Bernardo Carvalho constrói um romance inquietante e multifacetado que convida o leitor a refletir sobre os limites do conhecimento e a natureza escorregadia da história. Uma leitura instigante, que permanece atual e necessária.

11. Temas como:                                                                                                                                                                                1. Literatura e História: Como Dialogam e se Distanciam

A literatura e a história são dois campos do saber que lidam com a experiência humana no tempo, mas com propósitos distintos. A história busca reconstruir os acontecimentos com base em documentos e evidências, enquanto a literatura cria realidades ficcionais que, muitas vezes, revelam verdades subjetivas, simbólicas ou emocionais.

Porém, ambas compartilham o desejo de dar sentido ao mundo. A literatura frequentemente preenche as lacunas da história, dando voz aos silenciados, recriando atmosferas e afetos do passado. Um bom exemplo disso é Relato de um certo Oriente, de Milton Hatoum, onde a história familiar e pessoal se mistura a traços da imigração árabe no Brasil, sugerindo um diálogo entre memória afetiva e contexto histórico.

Mas há também distanciamentos. A literatura pode se libertar da rigidez dos fatos para explorar o não dito, o imaginado, o impossível. A história, por sua vez, exige método e comprovação. Assim, embora dialoguem, literatura e história operam em registros diferentes da verdade.

2. A Construção da Memória e da Narrativa

A memória é sempre uma reconstrução – seletiva, subjetiva, e muitas vezes fragmentada. A narrativa literária contemporânea tem refletido isso ao adotar estruturas que imitam a forma como a memória realmente funciona: com digressões, repetições, silêncios e cortes.

Em O inferno é minha memória, Luciana Hidalgo cria uma tessitura de lembranças, traumas e lapsos, compondo um mosaico subjetivo da dor e da identidade. Já em Barroco Tropical, Agualusa entrelaça o real e o fantástico, o histórico e o ficcional, numa narrativa polifônica que põe em xeque a linearidade da memória.

Essas obras mostram que a narrativa da memória raramente é coesa – ela é construída aos pedaços, reconfigurada pelo presente, influenciada por desejos, traumas e ideologias.

3. A Ética da Pesquisa Antropológica e Jornalística

Tanto a antropologia quanto o jornalismo enfrentam dilemas éticos na representação do outro. Ao observar, registrar e escrever sobre indivíduos ou comunidades, o pesquisador corre o risco de distorcer, silenciar ou mesmo apropriar-se da voz alheia.

A literatura tem servido como espaço crítico desses processos. Ao ficcionalizar o olhar do pesquisador ou do jornalista, muitas obras contemporâneas revelam as contradições e os limites da “objetividade”. O narrador de Hatoum, por exemplo, não oferece uma verdade única, mas múltiplas versões de uma mesma história – o que aponta para a complexidade do olhar externo sobre o outro.

A ética, nesse caso, passa pela escuta, pela tentativa de compreender sem impor, de narrar sem roubar a fala.

4. A Alteridade: Olhar e Ser Olhado

A alteridade, o encontro com o outro, é um dos temas centrais da literatura contemporânea. Esse “outro” pode ser cultural, social, racial, sexual, ou mesmo o outro dentro de si – aquele que desafia a identidade.

Na obra de Agualusa, o cenário angolano pós-colonial é atravessado por múltiplas alteridades: africanos, europeus, mestiços, cada qual tentando se afirmar numa sociedade em reconstrução. O olhar do outro torna-se espelho e conflito – quem narra, quem observa, quem é observado?

Na literatura, esse tema se revela não apenas no conteúdo, mas na própria estrutura narrativa: diferentes vozes, pontos de vista cruzados, deslocamentos do foco narrativo. Isso problematiza a noção de uma verdade única, dando lugar a um campo de tensões e negociações.

5. Estrutura Pós-Moderna e Fragmentada da Narrativa

A fragmentação narrativa, típica da literatura pós-moderna, reflete um mundo em ruínas, onde certezas foram abaladas e verdades absolutas já não se sustentam. As narrativas deixam de ser lineares para tornarem-se caleidoscópicas, descontínuas, muitas vezes ambíguas.

Relato de um certo Oriente exemplifica isso ao apresentar uma narrativa feita de cartas, memórias e silêncios – uma busca por identidade que nunca se fecha. Barroco Tropical multiplica vozes e tempos, e O inferno é minha memória assume a instabilidade da lembrança como estrutura. O leitor torna-se coautor, reconstruindo os sentidos a partir dos fragmentos.

Essa estrutura reflete, também, a condição do sujeito contemporâneo: múltiplo, dividido, em constante reinvenção.

6. Comparações entre as Obras Citadas

ObraTema centralEstruturaRelação com os temas abordados
Relato de um certo Oriente (Milton Hatoum)Memória, identidade, imigraçãoFragmentada, epistolar, múltiplas vozesDiálogo com a história e a memória; alteridade cultural
Barroco Tropical (José Eduardo Agualusa)Angola pós-colonial, política, fantasiaPolifônica, onírica, não linearFragmentação, alteridade, ética do olhar
O inferno é minha memória (Luciana Hidalgo)Trauma, subjetividade, literatura e loucuraPessoal, introspectiva, associativaMemória traumática, narrativa fragmentada, ética e subjetividade

Para refletir: 

1. Em que medida a ficção pode servir como documento histórico?

A ficção pode revelar verdades humanas que os documentos oficiais não captam. Ela não substitui o fato histórico, mas ressignifica os silêncios, os apagamentos e as experiências subjetivas, dando voz a personagens e grupos que muitas vezes foram excluídos da História com "H" maiúsculo.

Obras como Nove Noites e Relato de um certo Oriente transformam lacunas históricas em narrativa, misturando realidade e invenção para mostrar que a verdade histórica também é uma construção — cheia de vieses, escolhas e esquecimentos.

Ficção, assim, não é prova factual, mas é testemunho sensível, e como tal, é um documento simbólico de seu tempo.

2. Como a memória subjetiva interfere na busca por uma “verdade” narrativa?

A memória não é repositório neutro: ela é reconstruída, emocional, seletiva, influenciada por traumas, afetos, esquecimentos e até fantasias. Na literatura, a memória subjetiva desafia a ideia de verdade única e objetiva, apresentando versões plurais e muitas vezes contraditórias de um mesmo fato.

Em O inferno é minha memória, Luciana Hidalgo mostra como a memória fragmentada, marcada pelo sofrimento, molda a narrativa em espiral. Em Relato de um certo Oriente, o passado é reconstruído por diversas vozes familiares, cada uma com sua dor e interpretação.

A verdade, nesse contexto, não é um ponto fixo, mas uma tessitura de lembranças imperfeitas, todas legítimas em sua subjetividade.

3. O que é narrar o outro? Que riscos e responsabilidades isso envolve?

Narrar o outro é um gesto que implica relação de poder, de escuta e de alteridade. O risco está em capturar o outro apenas a partir do nosso olhar — distorcendo, exotizando, colonizando.

Em Nove Noites, o narrador tenta reconstruir a história de Quain, um antropólogo que, por sua vez, observava os indígenas. Há uma cadeia de olhares onde todos tentam compreender o outro — e fracassam em parte, justamente por estarem narrando a partir do seu próprio filtro cultural.

Narrar o outro exige ética, cuidado e, sobretudo, a consciência de que nunca se tem acesso total ao outro. A responsabilidade está em evitar julgamentos simplistas e dar espaço para que o outro também se represente, fale, exista.

4. A fragmentação narrativa empobrece ou enriquece a experiência de leitura?

A fragmentação pode ser um reflexo da experiência contemporânea, marcada por quebras, interrupções, múltiplos pontos de vista e memórias dispersas. Ao invés de empobrecer, muitas vezes ela enriquece — porque desafia o leitor, convida à reconstrução, exige participação ativa.

Obras como Barroco Tropical usam essa fragmentação como estrutura estética e política, articulando diferentes tempos, personagens e linguagens. Em Nove Noites, ela traduz o processo de investigação e a impossibilidade de fechar uma narrativa com começo, meio e fim.

Portanto, quando bem utilizada, a fragmentação reforça o sentido, permitindo que o caos e a complexidade do mundo também habitem a forma do texto.

5. Como essas obras nos ajudam a entender melhor nossa própria identidade e lugar no mundo?

Essas obras nos convidam a encarar nossas origens, deslocamentos, silêncios familiares, pertencimentos culturais e vazios existenciais. Ao acompanhar personagens em busca de si mesmos (ou de um outro que os ajude a entender a si), o leitor se vê também espelhado em dilemas contemporâneos: identidade, pertencimento, exclusão, perda.

Em Relato de um certo Oriente, a narrativa cruza fronteiras geográficas e afetivas — Oriente e Amazônia, tradição e exílio — revelando que nossa identidade é também feita de deslocamentos e ruídos. Já O inferno é minha memória nos mostra como o trauma molda a forma como nos reconhecemos e como olhamos o mundo.

Essas leituras nos abrem para o reconhecimento de que somos múltiplos, contraditórios, inacabados. E ao nos vermos nos outros, entendemos melhor a nós mesmos.

Atividade sugerida:
Propor que os alunos escrevam uma carta como se fossem Manoel Perna ou outro personagem da história (índio, mulher da aldeia, parente de Quain), relatando as nove noites sob uma nova perspectiva. A atividade estimula empatia, escuta e reflexão crítica.

Atividade: “Cartas das Nove Noites” – Reescrevendo o Silêncio

Obra de referência:

  • Estimular a empatia e a alteridade, colocando-se no lugar do outro.

  • Compreender a estrutura narrativa fragmentada e os limites entre ficção e realidade.

  • Refletir sobre os silêncios históricos e subjetivos presentes na obra.

  • Praticar a escrita criativa em 1ª pessoa, com coerência estilística e verossimilhança.

Proposta de escrita:

O aluno deverá escolher um dos seguintes personagens (ou criar outro plausível dentro do universo narrativo) e redigir uma carta fictícia que represente seu ponto de vista sobre as "nove noites" que antecedem o suicídio do antropólogo americano Buell Quain:

  • Manoel Perna (o sertanista que acompanhou Quain)

  • Uma mulher da aldeia indígena Krahô

  • Um parente fictício de Quain (irmão, prima, tio...)

  • Um jovem indígena da aldeia

  • O próprio narrador jornalista (como se fosse uma carta nunca enviada)

  • Um funcionário do SPI (Serviço de Proteção ao Índio)

EXEMPLO:

OrieAripeu do Tocantins, 3 de agosto de 1940

Prezado senhor diretor do SPI,

Escrevo estas linhas ainda sem saber direito se por obrigação ou necessidade. Fazem já algumas semanas desde que o corpo do doutor Buell foi encontrado ali pelas bandas do mato, e a imagem dele, no jeito em que o vimos pela última vez, ainda me acorda de noite, como se chamasse meu nome.

Fui eu quem o acompanhou nos últimos dias, como o senhor bem sabe. O doutor Buell, homem diferente, desses que vem de longe pra viver no coração da mata, era um sujeito calado, mas inquieto por dentro. Trabalhava muito, falava pouco. Com os Krahô, ele já tinha um certo trato, mas não era afeito a dormir muito ou se demorar em festa. Andava com um caderninho pra cima e pra baixo, rabiscando em inglês coisas que nem eu, nem os índios entendíamos.

Durante aquelas nove noites antes do fim dele, algo começou a mudar. Não era coisa do corpo, era coisa da alma. O doutor ficava sentado na rede, olhando pro mato como se visse coisa que a gente não via. Às vezes levantava no meio da noite, andava sozinho perto do rio, voltava suado, olhos arregalados. Não era febre. Era angústia.

Uma vez me disse: “Perna, às vezes acho que estou preso entre dois mundos. E não pertenço a nenhum.”

Na véspera da sua morte, deixou uns papéis comigo. Me pediu que entregasse à Embaixada. Disse que precisava ir embora, mas que não dava mais tempo de voltar pelo caminho dos vivos. Eu não entendi. Fiquei com medo, confesso. Quando saí pra buscar ajuda na vila mais próxima, já pressentia que algo ruim ia acontecer.

Nunca esquecerei as nove noites que passamos juntos naquele mato espesso. Pareciam longas demais, como se cada uma carregasse um pedaço da dor dele. Sinto que falhei. Que não entendi o suficiente. Que a solidão dele era maior que qualquer mapa.

Peço que cuidem dos registros dele com o respeito que merece. E que, se possível, ninguém o julgue com pressa. O mato às vezes cala o que a cidade grita. E talvez só ele soubesse do peso que carregava.

Com respeito e dor,

Manoel Perna

Sertanista, a serviço do SPIntações para a produção textual:

  • A carta deve ter entre 1 e 2 páginas, escrita em primeira pessoa, com data e assinatura fictícias.

  • O tom pode ser íntimo, confessional, narrativo ou reflexivo.

  • Recomenda-se que o aluno tente inserir elementos históricos e culturais verossímeis, ainda que inventados.

  • A carta pode conter dúvidas, emoções, críticas ou sentimentos ambíguos, refletindo a atmosfera da obra.

  • É interessante que o aluno se aproxime do estilo lacunar e incerto de Bernardo Carvalho, deixando espaço para o não dito.


Sugestão de preparação para a escrita:

Antes da produção, conduzir:

  1. Uma leitura de trechos-chave das cartas verdadeiras de Quain.

  2. Um debate sobre o papel da memória, do olhar antropológico e da alteridade.

  3. Uma discussão sobre os efeitos de uma narrativa em primeira pessoa – e seus limites.

  4. Um mapa conceitual com as múltiplas versões sobre os motivos do suicídio.

Possíveis desdobramentos:

  • Roda de leitura com interpretação dramatizada de algumas cartas.

  • Reescrita colaborativa: os alunos podem construir um diário coletivo das nove noites, com uma entrada por noite, escrita por diferentes personagens.

Frases disparadoras para inspirar a escrita:

  • "Naquela terceira noite, ele olhou para o céu como se procurasse uma resposta que nunca veio..."

  • "Nunca entendi por que ele me fazia tantas perguntas e respondia tão poucas..."

  • "Se ao menos alguém soubesse o que aconteceu entre a sexta e a sétima noite..."

  • "Escrevo esta carta muitos anos depois, mas o silêncio dele ainda me persegue..."

EXEMPLO DE CARTA:

 Local: Carolina, Maranhão
Data: 4 de agosto de 1940

Ao Senhor que um dia talvez tente entender o que se passou,

Escrevo porque não consigo mais guardar em mim as perguntas que ficaram, nem as imagens daqueles dias que me vêm como sonho quebrado. Já faz uma semana que o Quain se foi, e ainda parece que vou vê-lo dobrando a trilha com aquele passo estranho — meio apressado, meio cansado do mundo.

Eu o acompanhei durante aquelas nove noites como quem escolta um estrangeiro que nunca chegou de fato. Ele ouvia mais do que falava. Anotava no caderno dele as coisas que os índios diziam, mas parecia que escutava outras vozes, mais distantes. Às vezes, parava de escrever no meio da frase e ficava olhando pro mato. Eu perguntava se estava tudo certo e ele sorria, mas era um sorriso que escondia tristeza.

Na sexta noite, ele me pediu para não voltar com ele ao povoado no dia seguinte. Disse que queria ficar sozinho. Insisti. Não devia ter insistido tanto. Mas também não devia ter cedido.

A última coisa que ele me disse, Manoel, foi: "Você não vai entender agora." E de fato, não entendi. Ainda não entendo.

Desde então, todo mundo pergunta por que ele fez aquilo. Falam de doença, de angústia, de decepção com o país, com os índios, com a vida. Mas nenhuma dessas palavras parece dar conta do vazio que ele deixou. O homem queria se apagar sem fazer barulho — e, mesmo assim, o barulho que ficou é imenso.

Talvez escrever seja minha tentativa de calar esse barulho. De transformar o que não entendi em alguma coisa que faça sentido para mim. Ou talvez eu só esteja escrevendo para que alguém, em algum tempo, saiba que ele não estava só. E que alguém o olhou, ainda que de fora, tentando alcançar esse mistério que foi sua existência aqui.

Perdoe meu desabafo. Leve esta carta como um testemunho sem certeza. Só me resta isso.

Atenciosamente,
Manoel Perna


Perguntas e respostas: 

1-Analise o papel da morte de Buell Quain como elemento estruturador da narrativa em Nove Noites.

A morte de Buell Quain não é apenas o ponto de partida da investigação do narrador, mas também o centro simbólico da obra. Ela representa o enigma da existência, o confronto com a alteridade e o limite da compreensão. Ao investigar a morte de Quain, o narrador confronta suas próprias inquietações existenciais, familiares e artísticas. A morte do antropólogo torna-se o espelho do narrador, e a impossibilidade de compreendê-la completamente revela os limites da linguagem, da memória e da narrativa. Assim, a morte estrutura o romance como um quebra-cabeça cuja solução talvez seja justamente o silêncio ou a aceitação da dúvida.


 2. Verdadeiro ou Falso

  1. ( ) O narrador se mantém neutro, ocultando suas emoções e história pessoal.

  2. ( ) A obra apresenta elementos de autoficção e mistura de gêneros.

  3. ( ) Buell Quain é um personagem totalmente inventado por Bernardo Carvalho.

  4. ( ) A narrativa se apoia na linearidade cronológica para facilitar a compreensão.

  5. ( ) A morte de Quain é apresentada como um fato objetivo, sem ambiguidades.


  1. F / 2. V / 3. F / 4. F / 5. F

 3. Como Nove Noites problematiza a ideia de verdade na construção de uma narrativa?

Nove Noites desconstrói a ideia de que uma narrativa pode acessar a verdade plena. Através da investigação da morte de Quain, o narrador confronta relatos contraditórios, memórias falhas e documentos imprecisos. Essa fragmentação revela que a verdade é sempre mediada pela linguagem, pela memória e pela intenção de quem narra. A obra propõe que toda narrativa é uma construção, não uma reconstituição objetiva do real. O narrador, ao expor suas dúvidas e frustrações, intensifica essa crítica ao conceito de verdade única, característica da pós-modernidade.

 4. Correspondência

Associe as colunas:

Coluna A
A. Narrador
B. Buell Quain
C. Autoficção
D. Metaficção
E. Fragmentação

Coluna B
( ) Autorreflexão sobre o processo de escrita e a função da narrativa.
( ) Inserção do autor ou narrador na própria narrativa com elementos biográficos.
( ) Estilo não linear, com saltos temporais e múltiplas vozes.
( ) Estrangeiro que busca compreender o outro e acaba envolto em seus próprios conflitos.
( ) Jornalista brasileiro que investiga uma história e acaba revelando suas próprias inquietações.


D – Autorreflexão...
C – Inserção do autor...
E – Estilo não linear...
B – Estrangeiro...
A – Jornalista...

 5. A respeito da obra “Nove Noites”, de Bernardo Carvalho, assinale a alternativa correta:

A) O romance adota uma estrutura clássica, com começo, meio e fim bem definidos.
B) A morte de Buell Quain é narrada por testemunhas confiáveis e confirmada como assassinato.
C) A obra desenvolve uma crítica ao modelo integracionista do governo brasileiro junto às comunidades indígenas.
D) A narrativa é feita por um personagem indígena que viveu com Quain.
E) A obra se destaca por seu forte tom humorístico e despreocupação com o enredo.

 C

Propostas de Redação com Base no Livro Nove Noites.

Proposta 1 – Tema: A busca pela verdade e os limites da memória

Texto motivador:
Em Nove Noites, Bernardo Carvalho expõe as dificuldades em reconstruir um fato passado a partir de relatos fragmentados e subjetivos. O narrador investiga a morte de Buell Quain, mas a verdade se esvai a cada tentativa de reconstituição.

Tese sugerida:
Disserte sobre os limites da memória individual e coletiva na busca por compreender eventos históricos e pessoais.

 EXEMPLO:

A memória como labirinto: entre lembrança, esquecimento e construção da verdade

A busca pela verdade histórica e pessoal frequentemente esbarra nos limites da memória, seja ela individual ou coletiva. Em Nove Noites, Bernardo Carvalho ilustra esse impasse ao mostrar como o narrador, em sua investigação sobre a morte de Buell Quain, encontra relatos fragmentados, imprecisos e, por vezes, contraditórios. Cada testemunho – seja a carta de Manoel Perna, seja as narrativas indígenas ou os documentos oficiais – revela não uma verdade absoluta, mas uma versão parcial, moldada por interesses, emoções e lapsos de lembrança.

Em primeiro lugar, a memória individual se mostra falha e seletiva. Ao relatar as últimas noites de convivência com Quain, Manoel Perna incorpora suas próprias angústias e limitações linguísticas, destacando como o esquecimento de detalhes pode alterar radicalmente a reconstrução de um evento. Essa subjetividade intrínseca à lembrança pessoal impede que o narrador alcance uma reconstituição fidedigna dos fatos, pois cada narrador carrega consigo seus medos, suas lacunas e seus silêncios.

Em segundo lugar, a memória coletiva – entendida como o conjunto de narrativas compartilhadas por uma comunidade – também é permeável a omissões e reinterpretações. A versão oficial do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) minimiza aspectos desconfortáveis do contato entre Quain e os Krahô, buscando preservar uma imagem de “sucesso” da política indigenista da época. Esse silêncio institucional revela como grupos sociais podem manipular lembranças para legitimar discursos hegemônicos, relegando ao esquecimento vozes dissidentes e aspectos conflitantes.

Por fim, tanto na esfera individual quanto na coletiva, a memória atua como um labirinto no qual a verdade se oculta atrás de corredores de silêncio, vieses e reconstruções. Nove Noites demonstra que, ao tentar penetrar nesse labirinto, o investigador – e, por extensão, o historiador ou o próprio indivíduo que revisita suas lembranças – deve reconhecer que a verdade não é um ponto fixo, mas uma tessitura de narrativas. A literatura, nesse contexto, não oferece respostas definitivas, mas convida à reflexão sobre o valor e as limitações da memória como ferramenta de compreensão do passado.

Assim, a memória, em suas dimensões pessoal e coletiva, não garante acesso direto à verdade, mas sim ao diálogo constante entre lembrança e esquecimento, exigindo do leitor (e do investigador) humildade para aceitar a multiplicidade de perspectivas e a impossibilidade de um relato único e absoluto.

 2 – Tema: A representação do outro nas relações culturais

Texto motivador:
O antropólogo Buell Quain conviveu com povos indígenas brasileiros antes de sua morte. Em Nove Noites, o contato entre culturas distintas gera silêncio, estranhamento e incompreensão.

Tese sugerida:
Redija um texto dissertativo-argumentativo sobre os desafios da alteridade e da representação do “outro” em contextos multiculturais.

 título: Olhares cruzados: alteridade e os desafios da compreensão entre culturas

A convivência entre o antropólogo Buell Quain e os povos indígenas Krahô, narrada em Nove Noites, revela o impasse fundamental da alteridade: o encontro com o “outro” nem sempre se traduz em compreensão. Apesar do esforço de Quain em registrar costumes, rituais e relatos, sua percepção permanece atravessada por pressupostos culturais ocidentais que limitam sua capacidade de apreender o sentido profundo das práticas indígenas. Nesse contexto, a representação do “outro” em ambientes multiculturais impõe o desafio de reconhecer tanto as barreiras linguísticas quanto os filtros interpretativos que moldam qualquer relato.

Em primeiro lugar, a diferença de códigos simbólicos e linguísticos cria um hiato intransponível. As narrativas de Quain sobre rituais e mitos Krahô, por exemplo, são mediadas por traduções e interpretações que descolam o significado original, transformando histórias vividas em textos estrangeirizados. Essa mediação, necessária à escrita, carrega o risco de distorcer ou empobrecer a voz indígena, reduzindo-a a um objeto de estudo, em vez de sujeito de sua própria história.

Além disso, o olhar ocidental tende a hierarquizar culturas, valorizando modelos de conhecimento científico e subestimando saberes tradicionais. Quain, ainda que bem-intencionado, incorpora a lógica positivista da antropologia de sua época, que via nos índios um “objeto exótico” a ser decifrado. Esse viés etnocêntrico não apenas obscurece dimensões essenciais da alteridade, mas também reforça uma relação de poder que privilegia a narrativa do investigador em detrimento da narrativa dos indígenas.

Por fim, a incomunicabilidade emerge como metáfora da alteridade: o silêncio dos Krahô diante do suicídio de Quain e a ausência de relatos diretos revelam a impossibilidade de uma representação plena. A literatura, ao expor essa falha, convida-nos a admitir que o “outro” jamais se esgota em nossos discursos. O verdadeiro respeito à diferença, portanto, exige humildade epistemológica — o reconhecimento de que compreender o outro é um processo inacabado, marcado pela escuta ativa e pelo respeito aos modos de ser que escapam à nossa compreensão.

Em suma, Nove Noites demonstra que a representação do “outro” em contextos multiculturais enfrenta obstáculos de linguagem, poder e visão de mundo. Superá-los demanda mais do que o esforço de registrar costumes alheios: requer uma postura ética de abertura ao enigma do outro, aceitando que o encontro cultural seja, antes de tudo, um exercício de humildade e diálogo contínuo.

3 – Tema: Ficção e realidade – quando a literatura reinventa a história

Texto motivador:
Em Nove Noites, o autor usa fatos reais para construir uma narrativa ficcional. A fronteira entre o que aconteceu e o que é recriado é constantemente tensionada.

Tese sugerida:
Disserte sobre o papel da literatura na reinterpretação da história e os riscos e potências dessa prática.

título:Entre o real e o inventado: a literatura como forma de repensar a história

A literatura tem o poder de habitar o espaço entre os fatos documentados e as lacunas deixadas pelo silêncio do passado, transformando memórias esparsas em narrativas que nos ajudam a compreender não apenas o que aconteceu, mas também o que foi esquecido ou ocultado. Em Nove Noites, Bernardo Carvalho parte de um episódio real — o suicídio do antropólogo Buell Quain em 1939 — e, a partir daí, reconstrói uma teia ficcional que tensiona constantemente a fronteira entre o que de fato ocorreu e o que foi reinventado pela imaginação do autor. Essa prática literária revela tanto o potencial emancipatório da ficção, capaz de dar voz a ausências históricas, quanto seus riscos, quando a invenção corre o perigo de se passar por verdade incontestável.

Em primeiro lugar, a ficção permite preencher vazios documentais. Quando os registros oficiais ou as memórias orais se mostram insuficientes, o escritor pode imaginar diálogos, emoções e perspectivas que não chegaram até nós. No caso de Nove Noites, as cartas de Manoel Perna e as poucas anotações de Quain dão forma a um esqueleto de informações; a literatura, então, infunde carne e alma à narrativa, oferecendo ao leitor um mergulho mais profundo nas motivações e nos conflitos dos personagens. Esse procedimento não diminui o valor do rigor histórico, mas o complementa, ajudando-nos a sentir o peso da solidão, da alteridade e do silêncio indígena que cercaram Quain em seus últimos dias.

Por outro lado, há riscos inerentes à mistura de real e inventado. Quando a ficção se apresenta com forte verniz de autenticidade, corre-se o risco de confundir leitores menos atentos, que podem tomar interpretações literárias por fatos incontestáveis. Em Nove Noites, Carvalho adverte nos agradecimentos que sua obra é uma “ficção baseada em fatos”, mas nem sempre o leitor faz essa distinção. Se o autor não for claro sobre o que é documento e o que é criação, a narrativa pode reforçar mitos, perpetuar estereótipos ou obscurecer a complexidade dos eventos históricos originais.

Apesar disso, os benefícios dessa prática são inúmeros. A ficção histórica pode amplificar vozes marginalizadas, trazer à tona questões éticas não registradas nos arquivos oficiais e estimular uma postura crítica do leitor, que passa a questionar a própria noção de “verdade” histórica. Ao tensionar o real e o inventado, o autor convida-nos a refletir sobre a construção dos relatos — sejam eles jornalísticos, acadêmicos ou literários — e a reconhecer que todo texto é, em certa medida, uma interpretação.

Em suma, quando a literatura reinventa a história, ela se torna um instrumento de questionamento: ao preencher lacunas, ela nos faz mais conscientes das ausências; ao misturar fato e ficção, ela nos impele a buscar fontes, comparar versões e não aceitar passivamente qualquer narrativa. Nove Noites exemplifica esse processo ao mesmo tempo em que nos alerta para os perigos da invenção sem critério. Assim, a ficção histórica se revela como um convite permanente à reflexão, reconfigurando nosso entendimento do passado e apontando para a necessidade de uma leitura sempre atenta, ética e criativa.

Atividades Comparativas com Outras Obras da FUVEST

Comparação com "Vidas Secas" – Graciliano Ramos

Temas em comum:

  • Sertão como espaço narrativo

  • Silêncio, incomunicabilidade

  • Sofrimento humano e desamparo

Atividade sugerida:

Compare a forma como Nove Noites e Vidas Secas apresentam o sertão e os sujeitos que ali vivem. Qual a função do silêncio em cada obra?

Comparação entre Nove Noites e Vidas Secas
Tema: Representação do sertão e o papel do silêncio

Tanto Nove Noites quanto Vidas Secas exploram o sertão brasileiro como um espaço de tensão, isolamento e resistência, mas cada obra o faz por uma perspectiva e intenção narrativa distinta.

Em Vidas Secas, o sertão é árido, opressor, um ambiente que molda os sujeitos e seus silêncios. Os personagens, como Fabiano, Sinhá Vitória e os filhos, são figuras marcadas pela falta: de comida, de educação, de palavras. O silêncio aqui é símbolo de opressão social, de miséria e de uma comunicação tolhida pela estrutura injusta em que vivem. Fabiano, por exemplo, sente mas não sabe nomear, pensa mas não pode expressar com clareza. A linguagem lhe falta, e seu silêncio denuncia essa violência.

Já em Nove Noites, o sertão é cenário e metáfora para o enigma e o afastamento. É um espaço de fronteira entre culturas – a dos indígenas Krahô, a dos sertanistas e a do antropólogo americano Buell Quain. O silêncio na obra de Bernardo Carvalho tem outra função: é carregado de mistério, de não-dito, de impossibilidade de acesso completo ao outro. O suicídio de Quain se torna o centro de uma investigação marcada por lacunas, cartas não enviadas, diários truncados. Aqui, o silêncio aponta para aquilo que escapa à compreensão racional e que nem a linguagem antropológica consegue capturar plenamente.

Portanto, enquanto em Vidas Secas o silêncio é imposto pelas condições materiais e sociais, revelando o apagamento do sujeito sertanejo, em Nove Noites o silêncio está ligado à complexidade da subjetividade, à incomunicabilidade e ao choque entre mundos (ocidental/indígena, racional/emocional). Em ambos os casos, o silêncio é eloquente — mas fala de modos diferentes sobre a condição humana diante do sertão e da vida.


 Atividade Comparativa: Nove Noites × Vidas Secas

Objetivo:
Desenvolver a capacidade de análise comparativa, identificando como diferentes obras tratam um mesmo espaço (o sertão) e um mesmo recurso narrativo (o silêncio) para construir significados distintos.

IDEIAS:

1. Contextualização

  • Sertão em Vidas Secas (1938)
    Graciliano Ramos retrata a vida de uma família de retirantes que sofre com a seca e a miséria. O sertão é lugar de desamparo, mas também de resistência silenciosa.

  • Sertão em Nove Noites (2002)
    Bernardo Carvalho situa a narrativa no Tocantins dos anos 1930, onde Buell Quain convive com os índios Krahô. O sertão aqui é território de alteridade radical, silêncio e incomunicabilidade.

2. Temas em comum

TemaVidas SecasNove Noites
Sertão como espaçoEspaço físico inóspito, força bruta da natureza.Espaço cultural limítrofe, choque entre ocidente e indígenas.
Silêncio & Incomunic.Silêncio como estratégia de sobrevivência e fuga.Silêncio como barreira cultural e mistério existencial.
Sofrimento e DesamparoFome, sede, falta de recursos básicos.Angústia existencial, isolamento do “estrangeiro” em outra cultura.

3. Enunciado da Atividade

Compare a forma como Nove Noites e Vidas Secas apresentam o sertão e os sujeitos que ali vivem. Qual a função do silêncio em cada obra?

Orientações para resposta:

  1. Introdução breve (1 parágrafo): apresente as duas obras, autores e o foco da comparação.

  2. Desenvolvimento (2–3 parágrafos):

    • Sertão e personagens: descreva como cada autor constrói o ambiente e apresenta seus protagonistas.

    • Silêncio: explique a que tipo de silêncio cada obra recorre (silêncio de resistência, de incomunicabilidade, de mistério) e como ele reforça temas centrais.

  3. Conclusão (1 parágrafo): sintetize semelhanças e diferenças e reflita sobre o papel do sertão e do silêncio na literatura brasileira.

4. Pontos para observar na correção

  • Clareza e coesão: ideias bem organizadas e conectadas.

  • Domínio dos textos: uso de exemplos (citações ou paráfrases) de ambas as obras.

  • Profundidade analítica: vai além da descrição, interpretando efeitos e intenções narrativas.

  • Originalidade: evita afirmações genéricas e demonstra reflexão própria.

5. Esboço de resposta (modelo)

  1. Introdução:
    “Em Vidas Secas, Graciliano Ramos pinta o sertão como um lugar de escassez extrema, onde o silêncio dos retirantes ecoa a dor da seca. Já em Nove Noites, Bernardo Carvalho apresenta o Tocantins sertanejo como território de alteridade, cujo silêncio indica a barreira cultural entre o antropólogo e os índios Krahô.”

  2. Desenvolvimento:

    • Ambiente e sujeitos:
      Vidas Secas descreve o sertão árido e seus habitantes (Fabiano, Sinhá Vitória, o menino e a cadela Baleia) lutando contra a fome; o silêncio deles, muitas vezes, é resposta à violência da paisagem e à opressão social.
      Em Nove Noites, o narrador estrangeiro e Manoel Perna vivem o sertão como um espaço limítrofe — não só geográfico, mas também cultural — onde o silêncio dos Krahô revela incomunicabilidade e resistência ao olhar ocidental.

    • Função do silêncio:

      • Vidas Secas: silêncio como proteção e insurreição silenciosa — ao não falar, o retirante resiste à exploração e à crueldade.

      • Nove Noites: silêncio como mistério e barreira interpretativa — impede o narrador de compreender plenamente o outro, reforçando o tema da alteridade e da construção fragmentada da verdade.

  3. Conclusão:
    “Embora ambos os romances usem o sertão e o silêncio para reforçar a dureza da experiência humana, em Vidas Secas esse silêncio é arma de sobrevivência e denúncia social; em Nove Noites, é espelho das limitações do discurso ocidental e convite à humildade interpretativa.”

 

Comparação com "Campo Geral" – Guimarães Rosa

Temas em comum:

  • Infância e descoberta do mundo

  • Interioridade e construção da subjetividade

  • Linguagem regional e oralidade

Atividade sugerida:

Analise como a linguagem é utilizada em Campo Geral e Nove Noites para aproximar o leitor da experiência de personagens periféricos ou marginais.

IDEIAS:

Atividade Comparativa: Campo Geral × Nove Noites

Objetivo:
Desenvolver a habilidade de análise literária, observando como diferentes autores utilizam recursos de linguagem para aproximar o leitor da vivência de personagens periféricos ou marginais.

1. Contextualização

  • Campo Geral (1946), de Guimarães Rosa
    Pequeno conto que retrata a infância de Riobaldo e os habitantes do sertão mineiro, ressaltando a oralidade regional e o olhar atento ao mundo cotidiano.

  • Nove Noites (2002), de Bernardo Carvalho
    Romance que mistura ficção e documento ao investigar a morte de Buell Quain junto aos índios Krahô, explorando a fragmentação da linguagem e a alteridade cultural.

2. Temas em comum

  • Infância e descoberta do mundo

  • Interioridade e construção da subjetividade

  • Linguagem regional e oralidade

3. Recursos de linguagem comparados

RecursoCampo GeralNove Noites
Oralidade regionalVocabulário sertanejo (“xerém”, “mocotó”), expressões coloquiais e ritmo cadenciado do fala do narrador-criança.Transcrição de fala de Manoel Perna em cartas, com traços do português sertanejo; uso de coloquialismos para dar verossimilhança.
Sintaxe e ritmoFrases curtas e coordenadas que imitam a fala infantil, repetição para enfatizar descoberta.Frases longas e digressivas no narrador contemporâneo, mas intercaladas com períodos curtos e irregulares nas cartas, gerando tensão.
Vocabulário técnico vs. popularPredomínio de termos do cotidiano rural, sem interferência acadêmica.Contraste entre jargão antropológico do narrador e a oralidade simples de Perna, revelando o hiato cultural.
Recursos de narraçãoNarrador em primeira pessoa que rememora sensações e impressões da infância.Narrador misto: diário de campo, cartas e reflexões, multiplicando vozes e aproximando o leitor de diferentes universos.

4. Enunciado da Atividade

Analise como a linguagem é utilizada em Campo Geral e em Nove Noites para aproximar o leitor da experiência de personagens periféricos ou marginais.

5. Orientações para a resposta

  1. Introdução breve (1 parágrafo): apresente as obras, autores e o aspecto de linguagem a ser comparado.

  2. Desenvolvimento (2–3 parágrafos):

    • Em Campo Geral: explique como a oralidade e o vocabulário regional evocam a perspectiva infantil e o ambiente sertanejo.

    • Em Nove Noites: descreva o contraste entre o discurso acadêmico do narrador e a oralidade de Manoel Perna, e como isso constrói empatia com vozes tradicionalmente silenciadas.

    • Comparação direta: destaque semelhanças e diferenças na forma de mobilizar a linguagem para dar voz ao “periférico”.

  3. Conclusão (1 parágrafo): sintetize o papel desses recursos linguísticos na construção de subjetividades e no engajamento do leitor.

6. Pontos para observar na correção

  • Precisão conceitual: uso correto de termos como “oralidade”, “coloquialismo”, “narrador em primeira pessoa”.

  • Exemplos textuais: citação ou paráfrase de trechos de ambas as obras.

  • Análise crítica: não apenas descrever, mas interpretar o efeito da linguagem na recepção do leitor.

  • Coesão e coerência: estrutura clara, com transições entre parágrafos e ideias bem conectadas.

7. Esboço de resposta (modelo)

  1. Introdução:
    “Em Campo Geral, Guimarães Rosa utiliza a oralidade sertaneja para recriar o universo infantil de Riobaldo, enquanto em Nove Noites, Bernardo Carvalho intercala o jargão antropológico com a fala simples de Manoel Perna, aproximando o leitor da experiência dos marginalizados.”

  2. Desenvolvimento:

    • Campo Geral:
      O narrador-criança recorre a termos do cotidiano rural (“calunga”, “arruda”) e a repetições que reproduzem o ritmo da fala, criando empatia com sua descoberta do mundo.

    • Nove Noites:
      As cartas de Perna trazem expressões como “tá brabo” e “deixa quieto”, aproximando o leitor de sua condição sertaneja; em contraste, o narrador usa “etnografia” e “subalternidade”, evidenciando o distanciamento cultural.

    • Comparação:
      Enquanto Rosa privilegia a simplicidade para dar veracidade ao olhar infantil, Carvalho mescla vozes para mostrar o hiato entre o discurso dominante e as vozes subalternas.

  3. Conclusão:
    “Ambos os autores demonstram que a linguagem — seja por meio de oralidade pura ou de vozes fragmentadas — é fundamental para representar e dar visibilidade a personagens periféricos, engajando o leitor em universos antes pouco explorados pela literatura.”

Comparação com "Angústia" – Graciliano Ramos

Temas em comum:

  • Crise existencial

  • Voz narrativa fragmentada

  • Sofrimento subjetivo

Atividade sugerida:

Discuta a construção da angústia dos personagens centrais em ambas as obras. Como o narrador contribui para essa sensação?

IDEIAS: 

Atividade Comparativa: Angústia × Nove Noites

Objetivo:
Refletir sobre as estratégias narrativas que criam a sensação de angústia existencial em duas obras distintas, identificando como o narrador contribui para a construção do sofrimento subjetivo.

1. Contextualização

  • Angústia (1936), de Graciliano Ramos
    Romance em primeira pessoa, centrado em Luís da Silva, um funcionário público atormentado por ciúmes, obsessões e medo do outro. A prosa é seca, concisa, e o narrador expõe seu turbilhão interior em fragmentos de monólogo.

  • Nove Noites (2002), de Bernardo Carvalho
    Romance híbrido em que o narrador-investigador mescla diário de campo, cartas e reflexões ensaísticas ao buscar explicações para o suicídio de Buell Quain. A fragmentação e a alternância de vozes criam um clima de incerteza e inquietação.

2. Temas em comum

  • Crise existencial

  • Voz narrativa fragmentada

  • Sofrimento subjetivo

3. Enunciado da Atividade

Discuta a construção da angústia dos personagens centrais em Angústia e Nove Noites. Como o narrador contribui para essa sensação?

4. Orientações para a resposta

  1. Introdução (1 parágrafo)

    • Apresente brevemente cada obra e destaque o foco na angústia existencial.

  2. Desenvolvimento (2–3 parágrafos)

    • Em Angústia:

      • Explique como o narrador‑protagonista em primeira pessoa revela suas obsessões e medos por meio de frases curtas, repetições e imagens claustrofóbicas.

      • Cite trechos que evidenciem o monólogo interior e a sensação de aprisionamento (por exemplo, a descrição do quarto e do “outro” como ameaça).

    • Em Nove Noites:

      • Analise como a fragmentação do texto (saltos entre cartas, reflexões e trechos de diário) cria um clima de suspense e dúvida.

      • Mostre como o narrador contemporâneo, ao expor suas próprias inquietações ao investigar o suicídio de Quain, reforça o sentimento de vazio e incompletude.

    • Comparação:

      • Aponte semelhanças (uso da fragmentação, ênfase no interior) e diferenças (monólogo fechado vs. múltiplas vozes) na construção da angústia.

  3. Conclusão (1 parágrafo)

    • Sintetize como o recurso narrativo — seja a voz única de Luís da Silva ou as vozes híbridas de Nove Noites — funciona como motor da angústia, imergindo o leitor no sofrimento subjetivo.

5. Pontos para Observação na Correção

  • Domínio dos textos: uso de exemplos (citações ou paráfrases) precisas de ambas as obras.

  • Profundidade analítica: além de descrever, interpretar o efeito das escolhas narrativas sobre o leitor.

  • Clareza e coesão: estrutura lógica, com transições claras entre ideias.

  • Originalidade: evitar respostas genéricas, trazendo reflexões pessoais sobre a experiência de leitura.

6. Esboço de Resposta 

  1. Introdução:
    “Tanto em Angústia, de Graciliano Ramos, quanto em Nove Noites, de Bernardo Carvalho, o narrador é o principal veículo de uma angústia profunda. Em Ramos, a voz de Luís da Silva revela obsessões claustrofóbicas; em Carvalho, a fragmentação de cartas e reflexões cria um clima de incerteza existencial.”

  2. Desenvolvimento:

    • Angústia: “O narrador descreve seu quarto como ‘um cubículo de pensamentos escuros’, repetindo palavras como ‘medo’ e ‘insegurança’, o que intensifica a sensação de aprisionamento.”

    • Nove Noites: “As interrupções entre cartas de Manoel Perna e as reflexões do narrador contemporâneo produzem uma cadência instável, espelhando o vazio deixado pela morte de Quain e a própria inquietude do investigador.”

    • Comparação: “Enquanto Ramos concentra o leitor na mente de um único sujeito, Carvalho expande a angústia para várias vozes, mas mantém o efeito fragmentário que impede qualquer conforto narrativo.”

  3. Conclusão:
    “Em ambas as obras, a angústia não está nos acontecimentos externos, mas na forma como o narrador articula suas impressões e emoções. A escolha de uma voz monológica ou de vozes múltiplas serve ao mesmo propósito: envolver o leitor no labirinto subjetivo dos personagens.”


 

Trabalhar em Sala de Aula ( FORMAR  5 GRUPOS E SORTEAR OS TEMAS ABAIXO) 

1. Laboratório de narrativas fragmentadas

  • Peça aos alunos que reescrevam um acontecimento marcante de suas vidas por meio de três vozes diferentes (a própria, a de um observador, e a de um desconhecido).

  • Depois, debatam como a verdade se modifica dependendo da perspectiva.

    Laboratório de Narrativas Fragmentadas

    Objetivo Geral:
    Desenvolver nos alunos a percepção de que toda narrativa é construída a partir de um ponto de vista, e que a “verdade” de um evento muda conforme quem o conta.

    1. Preparação (10 min)

    1. Explique o conceito de narrativa fragmentada e ponto de vista narrativo.

    2. Leia um breve trecho de Nove Noites ou outro texto que mostre mudanças de perspectiva (pode ser um parágrafo reescrito em três vozes).

    2. Escolha do Evento (5 min)

    • Cada aluno pensa em um acontecimento marcante de sua vida (pode ser uma viagem, um conflito, uma conquista, um susto).

    3. Escrita em Três Vozes (30 min)

    VozInstruções
    PrópriaReescreva o episódio como você o viveu: inclua sensações, pensamentos íntimos, emoções e detalhes.
    ObservadorImagine um amigo ou parente que viu o acontecimento de fora: descreva apenas o que ele percebeu.
    DesconhecidoCrie um narrador neutro ou fictício que não estava presente: relate o evento usando fatos e suposições.
    • Formato sugerido:

      • Máx. 1 página para cada voz

      • Incentive o uso de primeira pessoa na “própria” e terceira pessoa nas outras duas.

    4. Leitura e Debate (30 min)

    1. Forme grupos de 3–4 alunos.

    2. Cada aluno lê suas três versões para o grupo.

    3. Discussão guiada:

      • Quais detalhes aparecem em uma voz e somem em outra?

      • Onde as emoções mudam de intensidade?

      • Que suposições o “desconhecido” fez e por quê?

      • Como o narrador “observador” preenche lacunas que você, o protagonista, nem notou?

    5. Reflexão Coletiva (15 min)

    • Perguntas para toda a turma:

      1. Em qual versão vocês acreditam mais? Por quê?

      2. A “verdade” do evento é uma só?

      3. Como esse exercício ajuda a entender a fragmentação narrativa em Nove Noites?

    • Registro no caderno ou mural: cada grupo escreve 2–3 conclusões sobre o efeito do ponto de vista na construção da história.

    6. Avaliação

    • Critérios:

      • Fidelidade ao evento: cada voz preserva a essência do acontecimento.

      • Coerência de ponto de vista: vocabulário, tempo verbal e nível de detalhe adequados a cada narrador.

      • Criatividade e profundidade: uso de recursos expressivos (descrições sensoriais, ritmo, escolhas léxicas).


2. Exibição de trecho do documentário Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho)

Objetivo Geral
Estimular a reflexão sobre as fronteiras entre documentário e ficção, comparando estratégias de reconstrução do real no cinema e na literatura.

Materiais & Tempo

  • Projetor e tela (ou TV)

  • Trecho selecionado de 5–7 minutos do doc (reconstrução de depoimentos)

  • Cópias de 1–2 trechos de Nove Noites que exemplifiquem reenactment ou autoficção

  • Tempo total: 45 min

Etapas

  1. Contextualização (5 min)

    • Apresente brevemente o filme e seu diretor (Coutinho), destacando o uso de “reconstrução dramática” e entrevistas reais.

  2. Exibição (7 min)

    • Mostre o trecho escolhido (por ex., reenactment de depoimentos de camponeses).

  3. Leitura comparada (8 min)

    • Distribua o(s) trecho(s) de Nove Noites onde o narrador insere documentos e memórias (p.ex., cartas de Perna).

    • Peça leitura silenciosa.

  4. Discussão guiada (20 min)

    • Quais técnicas o documentarista usa para “dramatizar” a memória?

    • Como Bernardo Carvalho mistura voz autoral e vozes “reais”?

    • Em que momento a linha entre fato e ficção se torna tênue, em cada mídia?

  5. Síntese no quadro (5 min)

    • Liste semelhanças e diferenças apontadas pela turma.

Avaliação

  • Participação na discussão

  • Capacidade de identificar técnicas de reencenação e autoficção

  • Qualidade das anotações/síntese

Dica
Escolha um trecho do documentário que mostre claramente depoimentos reconstruídos (reencenação), para que o contraste com a autoficção literária fique evidente.

3. Roda de Conversa: “O que é verdade?”

Objetivo Geral
Promover o debate sobre a noção de verdade em narrativas históricas e literárias, usando Nove Noites como ponto de partida.

Materiais & Tempo

  • 3–4 trechos contraditórios de Nove Noites (cartas de Perna × reflexão do narrador)

  • Quadro branco ou cartolina

  • Tempo total: 30 min

Etapas

  1. Apresentação (5 min)

    • Explique o propósito: discutir se há uma “verdade” possível em narrativas múltiplas.

  2. Leitura em voz alta (5 min)

    • Selecione dois trechos que apresentem versões diferentes do mesmo evento.

  3. Debate em plenária (15 min)

    • Perguntas-guia:

      1. Há uma verdade que subjaz a ambas as versões?

      2. Qual trecho parece “mais confiável”? Por quê?

      3. Qual o papel da linguagem e do ponto de vista na construção dessa “verdade”?

    • Anote no quadro os principais argumentos.

  4. Fechamento (5 min)

    • Sintetize: verdade como construção narrativa e convite à postura crítica do leitor.

Avaliação

  • Qualidade dos argumentos apresentados

  • Envolvimento no debate

  • Capacidade de relacionar texto e conceito de verdade

Dica
Estimule a turma a usar termos como “ponto de vista”, “vieses”, “contradição” e “mediação” para enriquecer o debate.

4. Oficina de Cartas Ficcionais

Objetivo Geral
Desenvolver empatia e criatividade, aprofundando a compreensão de personagens de Nove Noites por meio da escrita em primeira pessoa.

Materiais & Tempo

  • Fichas com perfis de personagens (Manoel Perna, índio Krahô, oficial do SPI, familiar de Quain)

  • Papel e canetas coloridas

  • Tempo total: 45 min

Etapas

  1. Apresentação dos perfis (5 min)

    • Distribua fichas resumindo biografia e motivações de cada personagem.

  2. Planejamento (5 min)

    • Cada aluno escolhe um perfil e define o destinatário da carta (ex.: Perna a Quain, oficial ao SPI, etc.).

  3. Escrita (20 min)

    • Produza uma carta de 20–25 linhas que relate as “nove noites” a partir daquele olhar.

    • Oriente: use tom, vocabulário e referências de cada personagem.

  4. Leitura em duplas (10 min)

    • Troque as cartas entre duplas para leitura e feedback rápido.

    • Pontos de atenção: coerência de voz, fidelidade ao perfil, criatividade.

  5. Compartilhamento (5 min)

    • Voluntários leem trechos em plenária.

Avaliação

  • Adequação ao perfil e à voz do personagem

  • Criatividade e profundidade na abordagem dos eventos

  • Clareza e correção linguística

Dica
Estimule o uso de regionalismos e expressões típicas (p.ex., “tá brabo”, termos do SPI) para reforçar a verossimilhança.

5. Mapa Conceitual Interativo

Objetivo Geral
Organizar visualmente os conceitos centrais de Nove Noites e suas relações, fortalecendo a compreensão global da obra.

Materiais & Tempo

  • Cartolinas ou quadro digital interativo

  • Post‑its de cores diferentes

  • Canetas e fios para conectar ideias

  • Tempo total: 30 min

Etapas

  1. Definição dos nós centrais (5 min)

    • No centro do cartaz/quadro, escreva “Nove Noites”.

    • Ao redor, peça aos alunos que sugiram 6–8 conceitos (ex.: memória, alteridade, sertão, autoficção, Buell Quain, Manoel Perna, morte, linguagem).

  2. Distribuição dos Post‑its (5 min)

    • Cada conceito em um post‑it de cor distinta.

  3. Conexões em pequenos grupos (10 min)

    • Grupos de 3–4 alunos unem conceitos relacionados com fios e anotam, em post‑its menores, exemplos ou citações que justifiquem cada ligação.

  4. Apresentação e discussão (10 min)

    • Cada grupo explica 2–3 conexões para a turma.

    • Professora complementa e ajusta o mapa coletivo.

Avaliação

  • Coerência das conexões estabelecidas

  • Uso de exemplos textuais para fundamentar as relações

  • Clareza e organização visual do mapa

Dica
Use post‑its de cores diferentes para conceitos (amarelo), exemplos (verde) e citações (azul), facilitando a leitura do mapa.


Exemplos para cada grupo, se sentirem dificuldades: 

1. Laboratório de Narrativas Fragmentadas

Evento escolhido: Primeiro dia de aula em uma escola nova.

  • Voz Própria
    “Entrei na sala sentindo o coração disparar. Vi carteiras alinhadas, a lousa verde brilhando e um silêncio pesado. Minhas mãos tremiam quando estendi o braço para cumprimentar a colega ao lado, e a voz falhou: ‘Oi…’”

  • Voz do Observador
    “Ela chegou atrasada, vestindo um casaco azul e com uma mochila vermelha. Ficou parada na porta por alguns segundos, olhando ao redor. Quando entrou, apertou a mão de um aluno e sentou-se na primeira carteira.”

  • Voz do Desconhecido
    “Uma jovem novata, provavelmente transferida de outra cidade, adentrou a sala. Não trocou mais do que um aceno. Parecia concentrada e ligeiramente tensa, mas não mostrou medo evidente.”


2. Exibição de trecho do documentário “Cabra Marcado para Morrer” × Nove Noites

  • Trecho do doc (reconstrução dramática):

    “Coutinho: ‘Você lembra daquela noite em que saímos para a roça e…?’
    Camponesa (reencenada): ‘Foi quando o pau quebrou, doutor. Eu vi todo mundo correndo, sem saber pra onde.’”

  • Trecho de Nove Noites (carta de Manoel Perna):

    “Perna escreveu: ‘Na terceira noite, Buell ficou calado olhando o fogo. Eu perguntei se estava com medo, ele disse que o silêncio falava mais alto que nossas palavras.’”

Discussão:

  • Ambos “dramatizam” memórias: o doc reconstrói depoimento visualmente; Carvalho insere a carta como reencenação literária.

  • Em que medida cada um sinaliza o que é reencenação (créditos, notas de autor)?


3. Roda de Conversa: “O que é verdade?”

  • Trecho A (carta de Perna):

    “Ele sorriu ao pôr do sol e disse que tudo ficaria bem.”

  • Trecho B (reflexão do narrador):

    “Não encontrei nenhum sinal de otimismo em Buell; ao contrário, seus olhos denunciavam angústia profunda.”

Pontos de Debate:

  1. Qual versão soa mais “confiável”?

  2. Perna poderia ter idealizado Quain?

  3. O narrador contemporâneo tem acesso direto aos sentimentos de Quain?


4. Oficina de Cartas Ficcionais

Exemplo de carta de Manoel Perna a Buell Quain

“Meu caro Buell,
Essas nove noites me ensinaram mais do que qualquer livro. Vejo que o sertão fala em silêncio, e você o escuta com o coração. Ontem, ao entardecer, senti medo — mas vi em seus olhos uma coragem que eu desconhecia. Escrevo para agradecer pela amizade e pelas histórias que guardarei para sempre.
Com estima,
Perna”

Exemplo de carta de índio Krahô a seu pajé (imaginada)

“Pajé,
O homem branco chamado Buell veio ao nosso tronco sagrado e observou o fogo. Ele calava-se muito, como se ouvisse vozes que não vêm de nós. Quando ele chorou sozinho, senti que algo o afastava do mundo dos vivos. Peço sua orientação para que o espírito dele encontre paz.
Em silêncio,
Xavante Krahô”


5. Mapa Conceitual Interativo

Nós centrais (cores):

  • Nove Noites (amarelo)

  • Buell Quain (verde)

  • Manoel Perna (verde)

  • Sertão (laranja)

  • Memória (azul)

  • Alteridade (azul)

  • Autoficção (roxo)

  • Cartas (roxo)

Conexões (fios e post‑its):

  • Nove Noites → (é romance de) → Buell Quain

  • Sertão → (cenário de) → Cartas

  • Cartas → (veiculam) → Memória

  • Memória ↔ Alteridade (post‑it: “lembranças atravessadas pelo encontro com o outro”)

  • Autoficção → (marca) → Nove Noites (post‑it: “narrador se confunde com autor”)

 DICAS PARA AJUDAR OS 5 GRUPOS: 

1. Laboratório de Narrativas Fragmentadas

Evento: Uma surpresa de aniversário

VozModelo de frase
Própria“Quando entrei na sala, vi balões e gritei: ‘Uau!’”
Observador“Ela entrou e, ao ver os balões, sorriu e aplaudiu.”
Desconhecido“Uma pessoa entrou, parecia feliz ao ver a decoração.”

2. Exibição de trecho do documentário × Nove Noites

Doc (reencenação):

“Camponês reencena: ‘Eu corri pra casa e travei a porta.’”

Nove Noites (carta):

“Perna escreveu: ‘Corri pra minha palhoça e tranquei tudo.’”

Tarefa rápida:

  • Marque o que é idêntico (ação de correr e trancar)

  • Marque o que muda (palavras, tom, meio audiovisual x literário)

3. Roda de Conversa: “O que é verdade?”

Trecho A:

“Ele disse que tudo estava bem.”

Trecho B:

“Seus olhos mostravam medo, não paz.”

Pergunta-guia:

  • Quem está dizendo a verdade?

  • Por que uma versão difere da outra?

4. Oficina de Cartas Ficcionais

Perfil: Manoel Perna → escreve a Buell Quain
Modelo curtíssimo:

“Caro Buell,
Estas nove noites mudaram minha vida. Obrigado pela amizade.
Abraço, Perna”

5. Mapa Conceitual Interativo

Nós principais:

  • Nove Noites

  • Buell Quain

  • Sertão

  • Silêncio

Conexões simples:

  • Nove Noites → conta a história de → Buell Quain

  • Sertão → é cenário de → Nove Noites

  • Silêncio → marca o → Sertão

QUESTÕES: 

1. “Em Nove Noites, o que parece ser uma busca por respostas se torna um mergulho nas impossibilidades da verdade.”
Desenvolva uma reflexão sobre a fragilidade da memória como instrumento de reconstrução dos fatos.

Sugestão de abordagem: Citar trechos do romance em que o narrador duvida das informações que recebe ou percebe contradições.

2. Discuta o papel do silêncio como linguagem no romance. De que forma o não dito comunica tanto quanto (ou mais que) as palavras?

Dica: Os silêncios de Manoel Perna, dos indígenas e até do narrador podem ser explorados como linguagem simbólica.

3. A alteridade (o contato com o outro) em “Nove Noites” é marcada por mal-entendidos, fascínio e medo.
Explique como a figura de Buell Quain representa os desafios do encontro entre culturas diferentes.

4. Como a fragmentação narrativa contribui para a construção do suspense e da tensão existencial em “Nove Noites”?
Analise a função da estrutura não linear da obra.

➡ *Pode-se abordar a alternância entre tempos, vozes narrativas e a quebra de expectativas como elementos de angústia.

5. Compare a solidão do narrador com a solidão de Buell Quain. Em que medida ambas representam crises identitárias?

Dica: O narrador vive em busca de sentido, assim como Quain, mas ambos se perdem no processo.

6. Compare a forma como “Nove Noites” e “Vidas Secas” representam o sertão e os sujeitos que ali vivem. Qual é a função do silêncio em cada obra?

Dica: Em Vidas Secas, o silêncio está relacionado à falta de palavras e à opressão; em Nove Noites, ele é quebra e ruído na comunicação intercultural.

7. Em Campo Geral e Nove Noites, temos narradores que buscam compreender realidades maiores do que conseguem alcançar.
Analise como a linguagem regional ou fragmentada se relaciona com o processo de amadurecimento e percepção do mundo.

8. Tanto em “Angústia” quanto em “Nove Noites”, o narrador parece não conseguir escapar de si mesmo. Analise como a narrativa interna contribui para a construção do sofrimento psíquico nas duas obras.

9. Se você pudesse entrevistar Buell Quain, o que perguntaria a ele? Justifique suas perguntas com base na leitura do romance.

Essa proposta pode render uma redação em forma de entrevista fictícia.

10. Imagine que Manoel Perna escreve um diário durante as nove noites com Quain. O que você imagina que ele escreveria? Escolha um momento e reescreva a partir da perspectiva dele.

11. Você acha que o narrador conseguiu, ao final do romance, conhecer Quain? E a si mesmo?
Disserte sobre os limites do conhecimento do outro e de si.

QUESTÃO 1

Tema: Silêncio e incomunicabilidade
Enunciado:
Discuta o papel do silêncio como linguagem no romance “Nove Noites”. De que forma o não dito comunica tanto quanto — ou até mais que — as palavras? Relacione com o silêncio presente em “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.

Resposta modelo:
Em Nove Noites, o silêncio atua como uma linguagem própria, carregada de tensão, mistério e dor. O narrador se depara com lacunas nos relatos sobre Buell Quain, e essas ausências dizem tanto quanto as informações disponíveis. O silêncio de Manoel Perna diante da tragédia, o silêncio dos indígenas, e até mesmo o silêncio do próprio narrador diante de suas dores familiares e existenciais revelam a dificuldade de tradução plena entre experiências humanas.
Em Vidas Secas, o silêncio é consequência da opressão social e da pobreza extrema. A família de retirantes quase não fala porque não possui as palavras para nomear seus sentimentos e desejos. A falta de comunicação verbal é compensada por gestos e pela interiorização do sofrimento.
Assim, ambas as obras utilizam o silêncio como instrumento de crítica — seja à incomunicabilidade entre culturas (Carvalho), seja à miséria que rouba até a linguagem (Graciliano).

Comentário para correção:

  • Excelente compreensão dos dois romances.

  • Fez uso comparativo entre as obras com profundidade.

  • Articulou bem o silêncio como recurso simbólico.

  • ⚠️ Poderia citar trechos para exemplificar, mas ainda assim, a análise é rica.

Rubrica simplificada (nota de 0 a 10):

  • Clareza e coesão textual: 2

  • Compreensão da obra e tema: 3

  • Relação com outra obra literária: 2

  • Argumentação crítica: 2

  • Criatividade na abordagem: 1
    Total: 10

Tema: Fragmentação narrativa e identidade

Enunciado:
Como a fragmentação narrativa contribui para a construção do suspense e da tensão existencial em “Nove Noites”? Analise a função da estrutura não linear da obra.

Resposta modelo:
A estrutura fragmentada de Nove Noites contribui diretamente para a experiência de leitura. A alternância entre tempos e vozes narrativas impede que o leitor tenha uma visão contínua dos fatos, criando uma sensação de quebra, de ruído na memória — o que espelha a própria condição do narrador, que tenta reconstruir a história de Buell Quain a partir de pedaços soltos.
Essa forma de narrar também dialoga com o tema da impossibilidade de alcançar uma verdade absoluta. O suspense é mantido porque, a cada capítulo, novas versões ou interpretações surgem, desestabilizando o que parecia certo. A fragmentação, portanto, não é apenas estilística, mas existencial: mostra que tanto a identidade de Quain quanto a do narrador estão em permanente crise.

Comentário para correção:

  • Ótima compreensão da estrutura do romance.

  • Conexão clara entre forma e conteúdo.

  • ⚠️ Poderia citar uma passagem para ilustrar a fragmentação.

  • Linguagem adequada e reflexão crítica presente.

Rubrica simplificada (nota de 0 a 10):

  • Clareza e coesão textual: 2

  • Interpretação da estrutura narrativa: 3

  • Análise do efeito da forma na experiência do leitor: 2

  • Argumentação crítica: 2

  • Originalidade/linguagem: 1
    Total: 10


Tema: Reescrita da História pela Literatura
Enunciado:
Disserte sobre o papel da literatura na reinterpretação da história e os riscos e potências dessa prática, a partir de “Nove Noites” e outros exemplos que considere pertinentes.Resposta modelo:

A literatura tem a potência de resgatar episódios históricos marginalizados, oferecendo novas leituras do passado. Em Nove Noites, Bernardo Carvalho reimagina a história de Buell Quain — um antropólogo real que cometeu suicídio no Brasil — misturando fatos e ficção. Essa liberdade permite ao autor explorar não apenas o evento, mas suas reverberações emocionais e culturais.
Por outro lado, essa reescrita envolve riscos: ao misturar o real com o inventado, o romance pode ser confundido com um relato histórico, levando à distorção de fatos. No entanto, a própria obra expõe esse risco ao manter as fronteiras entre ficção e realidade em constante tensão.
Outros exemplos como O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, também ilustram como a literatura pode ser um instrumento de construção de memória coletiva. Portanto, a literatura reinterpreta a história, mas também revela que toda história é, em parte, construção subjetiva.

Comentário para correção:

  • Análise crítica equilibrada: reconhece potências e riscos.

  • Boa articulação com outro exemplo literário.

  • ⚠️ Poderia aprofundar mais sobre a manipulação do narrador em “Nove Noites”.

  • Texto claro, fluente e reflexivo.

Rubrica simplificada (nota de 0 a 10):

  • Clareza e coesão textual: 2

  • Interpretação do papel da literatura: 3

  • Articulação com exemplos (literários ou históricos): 2

  • Argumentação crítica: 2

  • Criatividade e linguagem: 1
    Total: 10

ATIVIDADE 1 – ESCRITA DE UMA CARTA FICCIONAL

Gênero: Epistolar (carta)
Situação-problema: Imagine que você é Manoel Perna e decide escrever uma carta para Buell Quain, alguns dias depois de sua partida da aldeia. Sua carta tenta expressar tudo o que não foi dito durante a convivência.

Instruções:

  • A carta deve ter linguagem compatível com o contexto (regional, afetiva, silenciosa).

  • Deve sugerir sentimentos (culpa, saudade, incompreensão, respeito).

  • Pode incluir referências ao suicídio, mas sempre com delicadeza e ambiguidade.

Resposta modelo (trecho):
Senhor Quain,
O senhor foi embora como quem fecha uma porta no meio da ventania. Não deu tempo de entender. Ficou o silêncio na aldeia e no meu peito também. Os meninos perguntam por aquele “homem dos papéis”, e eu não sei o que dizer. Talvez nunca soube.
Espero que o senhor tenha encontrado o que procurava. Aqui, o mato continua o mesmo, e os cantos dos velhos também. Mas eu ando mais quieto, mais parado. O senhor deixou um rastro que ninguém entende direito. Mas deixo aqui minha reza de amigo, daquelas que não se fala, só se pensa olhando o céu.
Manoel Perna

Rubrica (nota até 10):

  • Adequação ao personagem e ao contexto: 3

  • Linguagem expressiva e coerente com o gênero: 3

  • Criatividade e sensibilidade: 2

  • Clareza e correção gramatical: 2

ATIVIDADE 2 – MAPA CONCEITUAL INTERPRETATIVO

Gênero: Visual (esquema conceitual)
Proposta: Dê aos alunos o seguinte esquema central:

“Nove Noites” no centro, com os seguintes ramificações para completar com frases e citações:

  • Narrador

  • Manoel Perna

  • Buell Quain

  • Verdade e Memória

  • Fragmentação narrativa

  • Brasil e Estados Unidos

  • Vida e Morte

Exemplo preenchido (resumo de 3 conexões):

  • Narrador: "Procura uma verdade que talvez nem ele mesmo queira encontrar."

  • Buell Quain: “Homem dividido entre culturas, que se perde em si mesmo.”

  • Verdade e Memória: “Não há uma verdade, só fragmentos de versões contadas com dor.”

Avaliação (comentários possíveis):

  • Quem identificou tensões entre personagens e temas mostra leitura analítica.

  • Quem trouxe citações ou paráfrases demonstra apropriação literária.

  • O uso de expressões próprias é valorizado.

ATIVIDADE 3 – ENTREVISTA IMAGINÁRIA COM BUELL QUAIN

Gênero: Entrevista fictícia
Instrução: Os alunos devem formular cinco perguntas e responder como se fossem Buell Quain, refletindo o tom do romance e seus dilemas.

Exemplo:
Pergunta: Por que o senhor decidiu viver entre os indígenas?
Resposta (ficcional): Porque entre eles, a linguagem não me feriu tanto. Eu estava cansado das palavras que se explicam demais e ainda assim não dizem nada.

Rubrica (0–10):

  • Fidelidade ao tom do personagem: 3

  • Criatividade nas perguntas: 2

  • Respostas com profundidade simbólica: 3

  • Clareza e originalidade: 2

ATIVIDADE 4 – DIÁRIO DO NARRADOR (texto confessional)

Proposta: Escreva uma página do diário íntimo do narrador após descobrir a carta final de Quain.

Dicas:

  • Use linguagem introspectiva.

  • Trabalhe o sentimento de identificação entre o narrador e Quain.

  • Mostre as dúvidas: "Será que eu faria o mesmo?"

Resposta modelo (trecho):
Hoje, li a última carta. Estava amassada, quase ilegível. Era como se ele falasse comigo através do tempo, como se soubesse que eu viria. Fico pensando se era isso que me ligava a ele. A ausência de explicação. O medo da palavra final. E, talvez, uma ferida que nunca fecha.

ATIVIDADE 5 – QUESTÃO INTERPRETATIVA (FUVEST) COM GABARITO

Enunciado:
No romance Nove Noites, o narrador busca reconstruir uma história a partir de fragmentos. Qual é a relação entre essa busca e o próprio processo da escrita literária contemporânea?

Resposta modelo:
A busca do narrador por reconstruir a história de Buell Quain espelha o próprio fazer literário contemporâneo, que frequentemente rejeita narrativas lineares e totalizantes. O romance mostra que escrever é montar um quebra-cabeça com peças faltando — e às vezes criar novas peças para dar sentido ao vazio. Assim, a narrativa literária torna-se um espaço onde a verdade não é absoluta, mas uma construção subjetiva, afetiva e inacabada.

1. “Nove Noites” propõe uma reflexão sobre os limites entre verdade e invenção. Como isso se articula com o papel do narrador e da literatura contemporânea?

Resposta modelo:
O romance desmonta a ideia de uma verdade única. O narrador tenta reconstruir a história de Buell Quain, mas se depara com lacunas, contradições e silêncios. Assim, cria uma narrativa fragmentada que mistura pesquisa jornalística, ficção e memórias pessoais. A obra aponta que a literatura contemporânea é um espaço de incertezas, onde a busca pela verdade passa pela subjetividade e pela imaginação.

2. Em que medida o suicídio de Buell Quain se torna um símbolo maior na narrativa?

Resposta modelo:
O suicídio funciona como um enigma central que mobiliza o narrador, mas também simboliza o fracasso da comunicação entre culturas, indivíduos e até mesmo entre passado e presente. Ele representa o colapso do ideal científico (a antropologia) e o esgotamento da linguagem, temas recorrentes na literatura contemporânea.


  1. (V) O narrador mistura sua própria história com a investigação sobre Buell Quain, revelando um envolvimento emocional com o tema.
    👉 Comentário: A autoficção é um recurso fundamental do romance, revelando a fragilidade entre o sujeito que narra e aquele que vive.

  2. (F) O romance segue uma ordem linear e cronológica dos fatos, da infância do narrador ao suicídio de Quain.
    👉 Comentário: A narrativa é não linear, marcada por saltos temporais e fragmentação.

  3. (V) A dúvida sobre o que motivou o suicídio de Quain nunca é plenamente esclarecida.
    👉 Comentário: Isso reforça o caráter aberto e reflexivo da obra.

  4. (F) O narrador reconstrói a história de Quain exclusivamente por meio de documentos oficiais.
    👉 Comentário: Além dos documentos, ele utiliza cartas, entrevistas e imaginação, misturando ficção e realidade.


1. Assinale a alternativa que melhor expressa um dos temas centrais de Nove Noites:

a) A ascensão política de antropólogos no século XX.
b) A tentativa de apagar traços coloniais da história do Brasil.
c) A impossibilidade de reconstruir integralmente a verdade de um acontecimento.
d) O embate entre o positivismo e o romantismo na literatura brasileira.

2. Qual das passagens abaixo mais representa a angústia existencial do narrador?

a) “Ele escrevia com segurança, como quem domina o mundo.”
b) “Passei a vida buscando um elo com alguém que nunca conheci.”
b) “Passei a vida buscando um elo com alguém que nunca conheci.”
👉 Comentário: A frase explicita o vazio identitário e o desejo de pertencimento.

Relacione os elementos da coluna A aos elementos da coluna B:

Coluna AColuna B
(1) Narrador(A) Ficção e realidade se entrelaçam
(2) Fragmentação narrativa(B) Busca de sentido pessoal através do outro
(3) Buell Quain(C) Morte como linguagem final
(4) Epistolografia (cartas)(D) Estrutura não linear e polifônica

Gabarito:
1 → B
2 → D
3 → C
4 → A

1. Após a leitura de Nove Noites, você acredita que a memória pode ser confiável? Justifique com base no texto.

Resposta modelo:
A memória é apresentada como algo fluido, frágil e subjetivo. Os personagens que relatam o passado o fazem com insegurança, dúvidas ou omissões. O próprio narrador reconhece que reconstrói os fatos com base em suposições. Isso mostra que a memória é menos um repositório de fatos e mais um processo de recriação e sentido.

2. Como o livro aborda a relação entre Brasil e Estados Unidos por meio da figura de Buell Quain?

Resposta modelo:
Buell Quain representa o olhar estrangeiro sobre o Brasil profundo. Ao mesmo tempo em que tenta entender os indígenas, também se perde nesse processo. O livro sugere que há uma tensão entre a visão idealizada do “outro” e a experiência real, marcada por choques culturais, isolamento e incompreensão. Quain parece também escapar de algo em seu país, criando uma espécie de “exílio interior”.

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Tema: Verdade, memória e narrativa: a busca por sentido em tempos de incerteza

Proposta:
A partir da leitura de Nove Noites, escreva uma redação dissertativa-argumentativa em que você reflita sobre como as histórias que contamos sobre o passado moldam nossa identidade pessoal e coletiva. Utilize argumentos que dialoguem com a obra de Bernardo Carvalho, com outras leituras literárias, ou com sua vivência.

Critérios avaliativos:

  • Clareza e coesão (até 200 palavras)

  • Relação com o tema do livro

  • Uso de exemplos simbólicos

  • Originalidade do ponto de vista

Tema:

"Verdade, memória e narrativa: a busca por sentido em tempos de incerteza"

 Situação Geradora (Contextualização para os alunos):

No romance Nove Noites, de Bernardo Carvalho, o narrador tenta reconstruir a história de um antropólogo americano que cometeu suicídio no interior do Brasil. Ele se depara com lacunas, silêncios e múltiplas versões do mesmo fato. A narrativa mostra como a memória é subjetiva, como a verdade pode ser inalcançável e como contar histórias pode ser um modo de resistir ao esquecimento e dar sentido à vida.

Vivemos hoje tempos marcados pela desinformação, pela perda de referências sólidas e pela disputa constante sobre o que é verdade. Em meio a tudo isso, nossas memórias, relatos pessoais e narrativas literárias tornam-se ferramentas fundamentais para construir identidade, compreender o mundo e encontrar sentido.

Tarefa:

Escreva um texto dissertativo-argumentativo em linguagem formal da norma-padrão, com cerca de 20 a 30 linhas, desenvolvendo o tema: “Verdade, memória e narrativa: a busca por sentido em tempos de incerteza”.

Você pode utilizar reflexões sobre o livro Nove Noites, outros textos literários, filmes, notícias ou experiências pessoais para fundamentar seus argumentos.

Dicas de Desenvolvimento:

  • Reflita sobre o papel da memória pessoal e coletiva na construção da verdade.

  • Aborde como diferentes narrativas (jornalísticas, históricas, literárias) influenciam o modo como entendemos o mundo.

  • Discuta como a fragmentação da verdade, comum na era digital, afeta nossas relações e decisões.

  • Traga exemplos de obras (como Nove Noites ou Grande Sertão: Veredas), documentários (Cabra Marcado para Morrer), ou fatos históricos que mostram a complexidade da busca pela verdade.

Critérios de Avaliação (Rubrica)

CritérioDescriçãoPontuação
Compreensão do temaAborda o tema com profundidade, refletindo sobre verdade, memória e narrativa0–20
ArgumentaçãoArgumenta com coerência, trazendo exemplos e dados para sustentar as ideias0–20
Estrutura do textoApresenta introdução, desenvolvimento e conclusão bem organizados0–20
Coesão e coerência textualUsa conectivos e mantém fluidez entre as ideias0–20
Domínio da norma-padrãoOrtografia, pontuação, concordância, regência, vocabulário adequado0–20
Total0–100

 Modelo de Introdução (para inspiração dos alunos):

Vivemos em uma era de incertezas, na qual verdades absolutas são cada vez mais questionadas. Em meio a esse cenário, a memória individual e coletiva torna-se instrumento não apenas de reconstrução, mas também de resistência e busca por sentido. O romance Nove Noites, de Bernardo Carvalho, ao lidar com o mistério do suicídio de um antropólogo americano, escancara as limitações da narrativa e da memória como fontes de verdade. A partir dessa perspectiva, é possível refletir sobre o papel que as histórias cumprem em nossa tentativa de compreender o mundo e a nós mesmos.


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