quarta-feira, 9 de abril de 2025

O Primo Basílio" é um romance realista escrito por Eça de Queirós, publicado em 1878 ( século XIX).


Análise Literária: O Primo Basílio, de Eça de Queirós

Um retrato realista da hipocrisia burguesa e da opressão feminina no século XIX.

Apresentação da Obra

O Primo Basílio é um romance realista escrito por Eça de Queirós e publicado em 1878, consolidando-se como uma das obras mais emblemáticas da literatura portuguesa do século XIX. A narrativa gira em torno da personagem Luísa, uma mulher burguesa, casada, que vê sua vida transformada por uma paixão adúltera quando reencontra seu primo Basílio.

Mais do que um drama individual, o romance se constrói como um poderoso instrumento de crítica social, revelando a hipocrisia da moral burguesa, a superficialidade dos valores da época e a posição submissa da mulher na sociedade patriarcal.

Enredo Resumido

Luísa, entediada em seu casamento com o engenheiro Jorge, reencontra o primo Basílio, por quem fora apaixonada na juventude. Esse reencontro desperta sentimentos adormecidos e dá início a um relacionamento extraconjugal, marcado por prazer, culpa e medo.

Basílio é sedutor, aventureiro e egoísta. Quando percebe que o caso ameaça sua liberdade, foge de volta ao Brasil, abandonando Luísa. A protagonista, consumida pela culpa e pela vergonha, adoece e morre, isolada e desamparada.

O romance revela, assim, a fragilidade dos laços matrimoniais burgueses e as trágicas consequências das ilusões românticas em um mundo realista e cruel.

Contexto Literário e Histórico

Realismo e Crítica Social

Eça de Queirós é um dos grandes nomes do Realismo em Portugal. Após uma fase influenciada pelo Romantismo, ele passa a retratar a sociedade com olhar crítico e objetivo, influenciado por autores como Flaubert e Balzac.

No Realismo, o romance se torna um instrumento de denúncia, revelando as mazelas de uma sociedade decadente e moralmente contraditória.

Lisboa como cenário simbólico

Lisboa é retratada com minúcia e ironia. Os espaços – como a casa de Luísa e Jorge ou o quarto alugado para os encontros clandestinos, irônica e cinicamente chamado de “Paraíso” – revelam a decadência da vida burguesa, suas aparências e podres escondidos.

Temas Centrais da Obra

Adultério e Hipocrisia Burguesa

O adultério é o fio condutor da crítica social. Luísa, embora viva sob a aparência de uma esposa ideal, cede às paixões alimentadas por leituras românticas. A sociedade a julga duramente, enquanto Basílio, o sedutor, escapa impune.

A hipocrisia revela-se: a moral burguesa pune a mulher e absolve o homem.

Crítica ao Romantismo

Luísa é uma leitora ávida de romances sentimentais. Sua visão idealizada do amor é destruída pela realidade brutal: o quarto sujo, a chantagem da criada, a indiferença de Basílio.

Assim, Eça desmonta o ideal romântico e mostra as consequências de fantasias que não cabem no mundo real.

Opressão Feminina e Luta de Classes

Além da crítica à burguesia, Eça também evidencia a situação das mulheres. Luísa é condenada por buscar amor fora de um casamento opressor.

Já Juliana, a criada, simboliza a revolta das classes mais baixas: maltratada e desprezada, ela se vinga por meio da chantagem, mas também acaba morrendo sem realizar seus desejos.

Personagens e seus Significados Sociais

  • Luísa: Representa a mulher ociosa e romântica, dominada pela sociedade e pelas próprias ilusões. Sua morte é símbolo da fragilidade moral da burguesia.

  • Basílio: Um dândi cínico e fútil, que busca apenas o prazer. Abandona Luísa com frieza, evidenciando a superficialidade masculina da época.

  • Juliana: A empregada rancorosa é uma das personagens mais complexas da obra. Representa a luta de classes e o ressentimento dos oprimidos.

  • Jorge: O marido passivo e moralista. Seu perdão tardio mostra a mediocridade masculina e social do contexto.

Estilo e Técnica Narrativa

  • Narrador onisciente e irônico: Descreve os fatos com distanciamento e crítica, sem sentimentalismo.

  • Discurso indireto livre: Permite acessar os pensamentos dos personagens, aproximando-nos de seus desejos, dúvidas e contradições.

  • Linguagem objetiva e detalhista: Eça utiliza frases precisas e adjetivos pontuais, contribuindo para a atmosfera realista.

Comparação com Madame Bovary

A influência de Flaubert, especialmente com Madame Bovary, é evidente. Tanto Emma quanto Luísa são mulheres insatisfeitas, que, iludidas por ideais românticos, mergulham no adultério como forma de escape.

Mas há diferenças: Eça acrescenta à crítica burguesa uma dimensão social mais ampla, incluindo a luta de classes (com Juliana) e um retrato mais ácido da vida lisboeta.

Recepção, Adaptações e Atualidade

  • A obra gerou polêmicas na época, mas hoje é reconhecida como marco do Realismo português.

  • Foi adaptada para o cinema (2007) e para a televisão (minissérie de 1988).

  • Continua sendo uma leitura atual, ao abordar relações humanas, opressão de gênero, aparência social e moralidade.

Conclusão

O Primo Basílio é muito mais do que a história de um triângulo amoroso. É um espelho crítico de uma sociedade marcada pela falsidade, repressão e injustiça.

Eça de Queirós, com sua pena afiada e visão profunda da alma humana, nos legou uma obra que continua a provocar reflexões sobre moral, desejo, liberdade e opressão.

É uma leitura essencial para quem deseja compreender não apenas a literatura, mas também os mecanismos sociais e emocionais que ainda hoje nos cercam.

PERGUNTAS E RESPOSTAS:

1.1. Explique de que forma O Primo Basílio representa os ideais do Realismo, mencionando ao menos dois elementos característicos do movimento presentes na obra.

A obra retrata o cotidiano da burguesia lisboeta com olhar crítico, o que é típico do Realismo. Dois elementos marcantes são: (1) a crítica à hipocrisia social, visível nas aparências mantidas pelas personagens apesar de suas ações imorais; (2) a análise psicológica das personagens, como Luísa, que vive um conflito interno entre desejo e dever. Além disso, o adultério é tratado de maneira objetiva, sem idealização.

1.2. Analise a personagem Juliana como símbolo da tensão entre as classes sociais no século XIX. Em sua resposta, destaque como ela subverte a hierarquia entre patroa e empregada.

Juliana representa o ressentimento das classes baixas diante da burguesia. Embora subordinada a Luísa, ela assume o controle da situação ao descobrir a traição da patroa e usá-la para chantageá-la. Essa inversão de papéis subverte a hierarquia tradicional e revela as tensões sociais ocultas sob as aparências de harmonia doméstica.

1.3. A morte de Luísa no final da obra pode ser interpretada como punição moral ou resultado do contexto em que ela vive? Apresente sua opinião com base na narrativa e no papel da mulher na sociedade da época.

A morte de Luísa pode ser vista como resultado da opressão social e da falta de autonomia feminina. Ela vive num contexto que exige da mulher fidelidade e submissão, enquanto tolera os desvios masculinos. Sua morte, portanto, não é apenas uma punição moral, mas a consequência trágica de uma sociedade hipócrita e patriarcal.

1.4. O narrador de O Primo Basílio é conhecido por sua ironia. Cite um exemplo de ironia presente na obra e explique seu efeito no leitor.

Um exemplo de ironia é a forma como o narrador descreve Jorge como um marido exemplar, mas sem perceber as necessidades emocionais da esposa. Essa ironia revela a superficialidade das relações conjugais e o despreparo dos homens em lidar com o afeto feminino, gerando no leitor uma percepção crítica das convenções sociais.

1.5. Compare a crítica social feita por Eça de Queirós em O Primo Basílio com a crítica realizada por Machado de Assis em Dom Casmurro. Quais são os principais pontos de contato e diferenças entre as duas obras?

Ambos os autores criticam a hipocrisia social e a moral burguesa. Eça faz isso de forma direta, expondo a decadência moral da classe média lisboeta. Já Machado adota uma crítica mais sutil e ambígua, com foco na dúvida e na instabilidade psicológica do narrador. Enquanto Eça privilegia o olhar objetivo e descritivo, Machado trabalha a ambiguidade e a ironia subjetiva.

2.1. O movimento literário ao qual pertence O Primo Basílio é o:

a) Romantismo
b) Modernismo
c) Realismo
d) Barroco
 Gabarito: c) Realismo

2.2. O personagem Basílio representa:
a) Um homem comprometido com os valores morais e sociais.
b) A figura do amante irresponsável, símbolo da decadência moral.
c) O marido trabalhador e fiel.
d) Um defensor das mulheres na sociedade.
Gabarito: b) A figura do amante irresponsável, símbolo da decadência moral.

2.3. Juliana, a criada, exerce papel fundamental na narrativa porque:
a) Representa a fidelidade e a lealdade das empregadas domésticas.
b) É a única personagem que respeita a ordem social vigente.
c) Subverte a ordem social ao chantagear Luísa e revelar as tensões entre classes.
d) Age por puro prazer em causar sofrimento.
Gabarito: c) Subverte a ordem social ao chantagear Luísa e revelar as tensões entre classes.

2.4. Um tema central na obra O Primo Basílio é:
a) A luta pela independência de Portugal
b) A vida no campo e a simplicidade da natureza
c) O adultério e a hipocrisia da sociedade burguesa
d) A busca espiritual do homem moderno
 Gabarito: c) O adultério e a hipocrisia da sociedade burguesa

.5. O desfecho da obra sugere que:
a) A justiça foi plenamente realizada.
b) Luísa é perdoada por amor verdadeiro.
c) As aparências voltam a ser preservadas, mesmo após o escândalo.
d) Basílio se arrepende e muda de vida.
Gabarito: c) As aparências voltam a ser preservadas, mesmo após o escândalo.

3. Propostas de Redação 

Tema 1:
"As máscaras sociais na literatura realista: uma reflexão sobre a hipocrisia burguesa."
Com base na leitura de O Primo Basílio, desenvolva um texto dissertativo-argumentativo sobre como a sociedade do século XIX escondia suas falhas morais sob uma aparência de respeitabilidade. Relacione, se possível, com a realidade atual.

Sugestão de abordagem: abordar como a aparência social era mais importante que a verdade, o papel da mulher como figura decorativa e submissa, e fazer um paralelo com o uso das redes sociais hoje.

Tema 2:
"A mulher no século XIX: entre o desejo e o dever."
Partindo da personagem Luísa, analise a condição da mulher na sociedade retratada por Eça de Queirós. Como os limites impostos pela sociedade influenciam suas escolhas e destino?

Sugestão de abordagem: discutir a repressão dos desejos femininos, o casamento como prisão social, e comparar com os avanços (ou permanências) no papel da mulher hoje.

Tema 1: "As máscaras sociais na literatura realista: uma reflexão sobre a hipocrisia burguesa."

No romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós, a sociedade lisboeta do século XIX é apresentada sob uma lente crítica e realista, revelando os bastidores de uma classe burguesa que se esconde atrás de uma aparência de moralidade e respeito. A obra desmonta essas máscaras sociais ao expor as contradições, os adultérios, as chantagens e a decadência moral camufladas sob os bons modos e a etiqueta social.

A protagonista, Luísa, vive um casamento que, à primeira vista, representa estabilidade e respeito. No entanto, seu envolvimento com Basílio, movido por idealizações românticas e carência emocional, revela um vazio existencial comum a muitas mulheres da época. A sociedade, que exige da mulher a submissão e a pureza, mostra-se implacável ao puni-la moralmente por desejar algo além do dever conjugal. Ao mesmo tempo, essa mesma sociedade tolera e silencia os deslizes masculinos, como os de Basílio, que parte ileso da história.

Essa crítica à hipocrisia continua atual. Hoje, as redes sociais funcionam como novos salões burgueses, onde a aparência vale mais do que a essência. Perfis perfeitos escondem relações vazias, padrões de beleza inalcançáveis e uma busca incessante por validação. Como no século XIX, seguimos escondendo falhas morais e emocionais sob filtros e sorrisos artificiais.

Portanto, O Primo Basílio permanece uma obra relevante por sua denúncia atemporal: seja em salões elegantes ou nas telas dos smartphones, a sociedade insiste em vestir máscaras. Cabe ao leitor refletir sobre a autenticidade de suas próprias relações e valores, rompendo com padrões que privilegiam o parecer em detrimento do ser.

Tema 2: "A mulher no século XIX: entre o desejo e o dever."

A literatura realista do século XIX cumpriu um papel essencial ao dar visibilidade às tensões entre o desejo e o dever impostos às mulheres. Em O Primo Basílio, Eça de Queirós expõe, por meio da personagem Luísa, os limites estreitos em que a mulher burguesa estava confinada: esposa devotada, mãe exemplar, dona de casa recatada — idealizações que ignoravam sua subjetividade e seus anseios.

Luísa é uma jovem sonhadora que, ao se ver sozinha durante a ausência do marido, se deixa envolver pelas promessas de amor do primo Basílio. No entanto, seu desejo por uma vida mais intensa entra em conflito direto com o papel social que lhe é reservado. A sociedade que a idolatra como esposa perfeita é a mesma que a condena quando ela transgride essa imagem. Sua queda não é apenas pessoal, mas fruto de uma estrutura social que tolhe a autonomia feminina.

Embora o contexto tenha mudado significativamente, traços dessa opressão ainda persistem. A mulher do século XXI conquistou direitos, mas ainda enfrenta julgamentos quando tenta conciliar vida afetiva, profissional e sexual com liberdade. Em muitas culturas, o casamento ainda é visto como um destino obrigatório, e a mulher que ousa seguir seus desejos pode ser alvo de críticas semelhantes às que recaíram sobre Luísa.

Assim, O Primo Basílio continua atual ao mostrar como os limites sociais impostos às mulheres condicionam suas escolhas e, muitas vezes, determinam seus destinos. A leitura crítica da obra convida à reflexão sobre os avanços já conquistados e os que ainda são necessários para que desejo e dever não sejam mais forças opostas na vida de uma mulher.


  1. O romance O Primo Basílio é um exemplo de qual escola literária? a) Romantismo
    b) Naturalismo
    c) Modernismo
    d) Realismo

  2. Juliana, a criada de Luísa, representa: a) O papel maternal das mulheres na sociedade
    b) A crítica ao amor romântico
    c) A revolta das classes baixas contra a exploração burguesa
    d) A idealização da mulher virtuosa

  3. O enredo do romance gira em torno: a) Da construção de uma ferrovia
    b) Da paixão entre Luísa e Jorge
    c) Do adultério entre Luísa e seu primo Basílio
    d) Da vingança de Jorge contra Juliana


II. Verdadeiro ou Falso

( ) Jorge perdoa Luísa e vive com ela após descobrir o adultério.
( ) O romance retrata apenas a classe alta portuguesa, sem foco nos criados.
( ) Juliana morre após ser demitida por Jorge.
( ) A narrativa se utiliza de discurso indireto livre e ironia.
( ) Luísa morre por suicídio, envenenando-se como Emma Bovary.

Gabarito:
F – F – V – V – F

Associe os personagens às características:

A. Luísa
B. Basílio
C. Juliana
D. Jorge

( ) Símbolo da mulher romântica e ociosa
( ) Marido conformista e moralista
( ) Criada ressentida e chantagista
( ) Homem sedutor, sem escrúpulos

Gabarito:
A – D – C – B


1.1) Leia a passagem:

“Luísa, com os olhos secos, mas o rosto desfeito pela dor, olhava os objetos do quarto como se fossem coisas de outro mundo: tudo lhe parecia estranho, alheio, morto.”

a) O que essa descrição revela sobre o estado psicológico da personagem Luísa?
b) Como o uso da descrição dos objetos ao redor contribui para a atmosfera emocional da cena?

RESPOSTA:
a) Revela um estado de profunda alienação emocional e sofrimento interior. Luísa encontra-se desconectada da realidade ao seu redor, indicando angústia, solidão e arrependimento.
b) A descrição dos objetos como “estranhos, alheios, mortos” projeta o vazio interior da personagem no espaço ao seu redor. A ambientação traduz metaforicamente seu estado de espírito, técnica comum no Realismo para intensificar o drama psicológico.

2.1) Eça utiliza o discurso indireto livre em vários momentos. Explique como esse recurso contribui para o aprofundamento psicológico da personagem Luísa.

O discurso indireto livre permite que os pensamentos e sentimentos da personagem sejam incorporados à narrativa, misturando a voz do narrador à voz interior da personagem. Isso aproxima o leitor da intimidade de Luísa e aprofunda sua complexidade psicológica, recurso típico do Realismo.

2.2) Explique como a ironia é usada como recurso de crítica social no romance.

A ironia está presente na forma como Eça expõe os hábitos da burguesia lisboeta, retratando-os como fúteis, hipócritas e vazios. Um exemplo é o modo como Basílio conquista Luísa com frases feitas e poses românticas, sendo desmascarado ao final como frívolo e covarde — ironizando o ideal romântico masculino. A ironia revela, assim, a decadência moral das aparências sociais.

3.1) “Juliana simboliza uma crítica social contundente.” Explique.

Juliana, enquanto criada, representa as classes subalternas exploradas pela burguesia. Sua inveja, ressentimento e desejo de vingança revelam os efeitos da opressão social. Sua chantagem a Luísa é também uma forma de subverter a hierarquia social. Assim, ela encarna o conflito de classes e a crítica à estrutura desigual da sociedade.

3.2) Como Jorge falha em compreender emocionalmente Luísa?

Jorge vê Luísa como uma esposa perfeita, mas ignora suas necessidades afetivas, emocionais e intelectuais. Essa negligência emocional contribui para o tédio e a carência de Luísa, facilitando sua entrega ao primo. Essa situação evidencia os papéis tradicionais e opressivos de gênero no casamento burguês do século XIX.

4.1) Compare O Primo Basílio com Madame Bovary.

Ambas as protagonistas, Luísa e Emma, idealizam o amor romântico, alimentadas por leituras fictícias e sonhos irreais. No entanto, ao se depararem com a realidade, vivem frustrações e ruína. Essa intertextualidade reforça a crítica realista à influência dos ideais românticos sobre mulheres que, sem espaço de autonomia, veem na fantasia uma fuga do cotidiano opressor.

4.2) Aponte um elemento naturalista na obra.

A influência do meio sobre o comportamento dos personagens — como o tédio da vida doméstica de Luísa ou a frustração social de Juliana — é uma característica naturalista. Além disso, a hereditariedade e os impulsos sexuais também aparecem como determinantes das ações, especialmente no caso de Basílio.

5.1) Como o tema do adultério é tratado de forma diferente em relação ao Romantismo?

No Romantismo, o adultério podia ser visto como expressão de amor verdadeiro ou fatalidade trágica. Em O Primo Basílio, ele é retratado de modo frio, sem glamour, como um ato de fraqueza e vaidade. A traição leva ao sofrimento e não redime a protagonista, criticando a idealização do amor e a hipocrisia social.

5.2) Como a repressão das convenções sociais limita a liberdade feminina?

Luísa vive em um mundo em que a mulher deve ser casta, submissa e doméstica. Qualquer desvio — como o adultério — é severamente punido. Ao buscar liberdade, ela é esmagada pelo peso moral da sociedade, evidenciando a repressão da autonomia feminina e os valores patriarcais do século XIX.

6.1) Que mudanças seriam necessárias em uma adaptação para os dias atuais?

Poderia haver a inclusão da internet como meio de comunicação entre Luísa e Basílio, o retrato das redes sociais como espaço das aparências, e a exploração da desigualdade social contemporânea (como empregadas sob jornadas abusivas). A crítica ao moralismo e à romantização das relações poderia ser atualizada para discutir machismo, gaslighting e o papel da mulher na sociedade.

Que mudanças seriam necessárias em uma adaptação contemporânea de O Primo Basílio?

Para que O Primo Basílio dialogasse de forma mais direta com o público do século XXI, seria necessário atualizar os contextos sociais, os meios de comunicação e as formas de opressão que afetam as relações humanas, especialmente as relações de gênero e de classe. A essência crítica da obra — que denuncia a hipocrisia da sociedade burguesa, o moralismo conservador e a desigualdade social — permanece profundamente atual, mas se expressa hoje por outras vias.

Uma possível mudança seria substituir o meio de comunicação epistolar (as cartas trocadas entre Luísa e Basílio) pelo uso de mensagens em aplicativos, redes sociais ou e-mails, evidenciando como o romantismo idealizado se adapta às dinâmicas digitais. Esse tipo de atualização poderia explorar também o papel das redes sociais como vitrines de vidas idealizadas, reforçando a crítica às aparências que, em Eça, já se faz presente na superficialidade das relações.

Além disso, seria pertinente destacar o fenômeno do gaslighting (manipulação psicológica para levar a mulher a duvidar de sua própria sanidade) como atualização do comportamento de Basílio, que, ao invés de assumir responsabilidades, joga a culpa sobre Luísa, utilizando do charme e da sedução para exercer controle emocional. Esse recurso contemporâneo seria uma ferramenta narrativa poderosa para denunciar relações abusivas mascaradas de romance, atualizando a crítica ao ideal romântico ilusório.

A personagem Juliana, que no romance original simboliza o ressentimento das classes subalternas, poderia ser retratada como uma trabalhadora precarizada, vítima de jornadas exaustivas, sem direitos trabalhistas, talvez uma diarista ou cuidadora, o que permitiria uma crítica mais atual à naturalização da exploração do trabalho doméstico e às desigualdades persistentes entre patroas e empregadas. A chantagem que ela realiza poderia ganhar novos contornos — como o uso de fotos, prints de conversas, ou vídeos comprometedores — mostrando o uso da tecnologia tanto como ferramenta de opressão quanto de revanche.

Outra mudança relevante seria o reposicionamento da figura masculina de Jorge, o marido de Luísa. Sua passividade e ausência afetiva poderiam ser exploradas como reflexo da masculinidade tradicional, que reprime as emoções e mantém o casamento baseado na conveniência social e na aparência, e não no afeto genuíno. Isso aprofundaria a discussão sobre o papel do homem contemporâneo nas relações conjugais e sua responsabilidade emocional.

Por fim, a figura de Luísa, em uma versão atualizada, não precisaria necessariamente morrer ou ser punida como na narrativa original. Uma adaptação sensível e crítica poderia oferecer a ela caminhos de reconstrução, acolhimento e empoderamento, permitindo uma visão menos moralista e mais humana da falibilidade, principalmente quando se trata da mulher que rompe com padrões impostos.

Tema: A mulher entre a idealização e a opressão: reflexos sociais no ontem e no hoje.

Ao longo da história, a mulher foi idealizada como símbolo de pureza e submissão, o que gerou modelos de comportamento rígidos e repressivos. Essa opressão ainda persiste na contemporaneidade sob novas formas, como a violência simbólica e o controle social das condutas femininas. A literatura realista, como O Primo Basílio, denuncia essas construções sociais, ajudando-nos a refletir sobre os avanços e desafios da mulher moderna.

Introdução

Desde os primórdios das sociedades patriarcais, a figura feminina foi envolta em idealizações que a distanciavam da realidade concreta e humana. Mulheres foram elevadas ao pedestal da pureza, da docilidade e da obediência, ao mesmo tempo em que lhes era negada a autonomia. Essa construção simbólica, longe de ser inofensiva, gerou padrões repressivos que, apesar dos avanços femininos, ainda ecoam na contemporaneidade sob formas sofisticadas de controle. Obras como O Primo Basílio, de Eça de Queirós, funcionam como espelhos dessas engrenagens sociais, permitindo uma análise crítica dos papéis impostos às mulheres — ontem e hoje.

Desenvolvimento 1: A mulher idealizada e o papel da literatura realista na denúncia dessa construção

No século XIX, especialmente em contextos burgueses como o retratado por Eça de Queirós, a mulher era vista como um “anjo do lar”, cuja função era manter a harmonia do espaço doméstico, cuidar do marido e dos filhos, e preservar a moral familiar. Essa imagem idealizada escondia uma realidade de apagamento, silenciamento e reclusão. A personagem Luísa, de O Primo Basílio, ilustra com precisão esse modelo: educada para obedecer e sonhar com um amor romântico, vê-se presa a um casamento monótono e, ao reencontrar o primo Basílio, projeta nele suas fantasias de realização amorosa. No entanto, longe de encontrar liberdade, Luísa é condenada socialmente por sua traição, enquanto Basílio sai impune. A obra evidencia, portanto, a hipocrisia de uma sociedade que romantiza a mulher e a pune por qualquer desvio de conduta.

Desenvolvimento 2: A opressão contemporânea e a persistência de padrões simbólicos

Embora o século XXI tenha testemunhado conquistas importantes no campo dos direitos das mulheres, muitas formas de opressão ainda persistem — agora sob novos disfarces. A vigilância do corpo e da conduta femininas se realiza pelas redes sociais, pelos julgamentos morais constantes e pela objetificação em diversas mídias. O chamado gaslighting, por exemplo, é uma estratégia emocional usada para desqualificar a percepção das mulheres, levando-as a duvidar de si mesmas, prática muito próxima da manipulação que Basílio exerce sobre Luísa. A violência simbólica, conceito cunhado por Pierre Bourdieu, atua nesse contexto como uma opressão invisível, que leva muitas mulheres a se moldarem a expectativas sociais internalizadas. Assim, percebe-se que, apesar das mudanças superficiais, os mecanismos de controle seguem operando com força, reafirmando a tese de que a idealização continua sendo uma forma de opressão.

Conclusão

A análise do papel da mulher na sociedade — tanto na literatura quanto na vida real — revela um percurso de muitas lutas, avanços e permanências. A idealização feminina, outrora exaltada como virtude, revela-se uma forma velada de dominação, que limita, silencia e pune. Ao lançar luz sobre essas questões, a literatura realista cumpre um papel social importante, incentivando reflexões sobre os estereótipos que ainda pesam sobre as mulheres. É urgente que a sociedade contemporânea promova não apenas a igualdade de direitos, mas também a desconstrução dos modelos simbólicos que sustentam a opressão. A mulher do presente precisa ser compreendida em sua complexidade — livre, imperfeita, potente — e não mais como um ideal a ser venerado ou domesticado.

Feminicídio: a face extrema da opressão de gênero( APÓS PESQUISA REALIZADA POR MEIO DE VÁRIOS TEXTOS) 

Embora muitos acreditem que a sociedade contemporânea tenha superado as formas mais violentas de dominação masculina, o feminicídio escancara uma realidade brutal: mulheres ainda morrem, diariamente, por serem mulheres. O termo, reconhecido oficialmente no Brasil, refere-se ao assassinato de mulheres motivado por violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação de gênero. Ou seja, trata-se de uma forma extrema de violência que é, muitas vezes, o desfecho de um ciclo de agressões físicas, psicológicas e simbólicas.

O feminicídio representa o ápice da hierarquia patriarcal, na qual o corpo e a vida da mulher são vistos como propriedade do homem. Quando essa “posse” é questionada — seja por um pedido de separação, por um comportamento considerado “fora dos padrões” ou por um suposto desafio ao controle masculino — o agressor muitas vezes reage com ódio, como se precisasse “punir” a mulher por sua autonomia. Essa lógica remonta ao século XIX, quando a infidelidade feminina era punida com desprezo, ruína social e até castigos físicos, como vemos em O Primo Basílio. A diferença é que, hoje, apesar dos avanços legais, ainda convivemos com resquícios dessa mentalidade.

Dados de organismos internacionais e institutos nacionais apontam que o Brasil está entre os países com os maiores índices de feminicídio no mundo. E não se trata apenas de números: são vidas interrompidas, famílias destruídas, futuros apagados por uma cultura de violência e machismo. A literatura, o jornalismo e a educação têm papel fundamental na desconstrução dessa cultura. É preciso ensinar desde cedo que amor não é posse, que respeito não se impõe pelo medo, e que a liberdade feminina não deve ser vista como ameaça, mas como conquista de toda a sociedade.

PESQUISAS REALIZADAS:

Tema: Feminicídio: reflexo da cultura de violência e desigualdade de gênero no Brasil

Texto I – Conceito jurídico

Feminicídio é o homicídio praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. A Lei nº 13.104/2015 alterou o Código Penal para incluir o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, prevendo também o aumento da pena se o crime for praticado na presença de descendentes ou ascendentes da vítima.

— Portal do Senado Federal. Adaptado.


Texto II – Dados alarmantes

O Brasil registrou 1.437 casos de feminicídio em 2022, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Isso representa uma média de 1 mulher assassinada a cada 6 horas. Em muitos casos, os agressores eram companheiros ou ex-companheiros da vítima, e os crimes ocorreram em contextos de violência doméstica.

— Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023.


Texto III – Aspecto cultural e estrutural

O feminicídio não é um ato isolado de barbárie, mas o fim trágico de uma cultura machista que naturaliza o controle sobre o corpo e a vida da mulher. A ideia de posse, de que o homem tem o direito de punir a mulher que o "desafia", é uma herança de estruturas sociais patriarcais ainda muito presentes.

— Trecho adaptado de Djamila Ribeiro, Pequeno Manual Antirracista, 2019.


Proposta de redação:

Com base na leitura dos textos motivadores e nos seus conhecimentos sobre o assunto, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, com o tema:

Feminicídio no Brasil: causas, consequências e caminhos para o enfrentamento da violência de gênero :

 REFLITA:  O feminicídio reflete uma cultura de dominação masculina enraizada na sociedade brasileira e exige ações efetivas em educação, justiça e políticas públicas para que a vida da mulher seja protegida e valorizada.


Título: Silêncio mortal: a urgência de combater o feminicídio no Brasil

No romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós, a personagem Juliana, doméstica, sofre opressão e manipulação até atingir um estado de ruína física e moral. Embora ambientada no século XIX, a obra espelha realidades ainda presentes: a naturalização da violência contra a mulher e o poder masculino sobre corpos femininos. No Brasil contemporâneo, o feminicídio é um triste reflexo dessa estrutura patriarcal que, embora aparentemente enfraquecida, continua vitimando milhares de mulheres anualmente. Esse problema exige uma análise profunda de suas causas, suas consequências sociais e as medidas urgentes para seu enfrentamento.

Em primeiro lugar, é necessário compreender que o feminicídio está enraizado em uma cultura machista que legitima o controle do homem sobre a mulher. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2022), uma mulher é assassinada a cada seis horas no país, em sua maioria por companheiros ou ex-companheiros. O que deveria ser espaço de afeto – o lar – transforma-se em ambiente de medo e morte. Muitas dessas vítimas já haviam sofrido agressões anteriores, invisibilizadas ou ignoradas pelas instituições.

Além disso, a forma como a mídia e a sociedade tratam esses crimes contribui para sua banalização. A utilização do termo “crime passional” para justificar o assassinato de mulheres reforça a ideia de que o feminicídio é fruto de amor ou impulso, não de uma lógica de dominação. Tal discurso desresponsabiliza o agressor e silencia o sofrimento das vítimas. Essa romantização precisa ser combatida com informação, educação e justiça.

Para mudar esse cenário, é fundamental investir em políticas públicas de proteção à mulher, como a ampliação das casas de acolhimento e o fortalecimento da rede de apoio. Além disso, é essencial implementar campanhas de conscientização nas escolas e meios de comunicação, ensinando desde cedo o respeito às diferenças e a equidade de gênero. O sistema judiciário também deve ser mais ágil e sensível, garantindo medidas protetivas eficazes e punições rigorosas aos agressores.

Portanto, o feminicídio não pode ser encarado como estatística ou tragédia isolada. Ele é o resultado de uma estrutura que ainda permite a objetificação e o controle do corpo feminino. Tal como a literatura realista nos advertia no passado, a sociedade contemporânea precisa romper o silêncio e enfrentar essa violência com coragem, sensibilidade e ação.Ao longo da história, a mulher foi, frequentemente, relegada a papéis de submissão e silêncio dentro das estruturas sociais patriarcais. No Brasil contemporâneo, essa herança cultural ainda se manifesta de forma trágica através do feminicídio, crime que ceifa vidas femininas por razões de gênero. A persistência desse tipo de violência decorre de uma combinação entre desigualdade estrutural, falhas no sistema de proteção e uma cultura que ainda naturaliza o controle sobre o corpo e as escolhas da mulher.

          

Proposta 2 – Tema: A banalização da violência contra a mulher e seus efeitos sociais

Texto I – Mídia e normalização

Casos de agressão contra mulheres muitas vezes são tratados pela mídia como “crimes passionais”, o que suaviza a gravidade da violência. Essa linguagem reforça o estereótipo de que o homem age por amor ou impulso, em vez de por machismo e desejo de controle.

— Observatório da Imprensa. Adaptado.

Texto II – Violência invisível

Antes do feminicídio, a mulher sofre em silêncio. Violência verbal, controle excessivo, chantagens emocionais e ameaças constantes são formas de agressão psicológica que muitas vezes não são reconhecidas como violência, mas antecedem os casos fatais.

— Instituto Maria da Penha, 2023.

Texto III – Educação e transformação

A educação é uma das ferramentas mais eficazes na prevenção da violência de gênero. Trabalhar o respeito às diferenças e a equidade de direitos desde a infância contribui para a construção de uma sociedade mais justa e segura para todas as pessoas.

— ONU Mulheres, 2022.

Proposta de redação:

Com base nos textos apresentados e em seus conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema:

Violência contra a mulher: como combater a banalização e prevenir o feminicídio?:

REFLITA: A banalização da violência contra a mulher contribui para a perpetuação do feminicídio e exige mudanças na forma como a sociedade, os meios de comunicação e as instituições tratam o problema.

Violência contra a mulher: como combater a banalização e prevenir o feminicídio?

Título: Da invisibilidade ao grito: o papel da educação no combate ao feminicídio

Em pleno século XXI, ainda é necessário lembrar que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, como afirmava Simone de Beauvoir. Essa frase denuncia o processo social que condiciona o feminino à submissão e à violência simbólica. No Brasil, a banalização da violência contra a mulher precede, muitas vezes, o feminicídio – etapa extrema de uma escalada de agressões que começam no psicológico e se consolidam no físico. Enfrentar esse ciclo exige a desnaturalização da cultura da violência e a valorização de políticas educacionais e comunicacionais mais sensíveis ao problema.

Em muitos casos, o feminicídio é o ponto final de um histórico de agressões ignoradas. As violências emocionais, ameaças veladas e controle sobre as escolhas da mulher são, frequentemente, desconsideradas pela vítima, pela família e pelas autoridades. O Instituto Maria da Penha alerta para o fato de que a violência doméstica possui cinco dimensões – física, moral, sexual, patrimonial e psicológica – e que o silêncio, aliado à falta de acolhimento, reforça a perpetuação do abuso.

Além disso, a forma como a mídia noticia esses casos pode contribuir para a naturalização da violência. Expressões como “crime passional” ou “briga de casal” diminuem a gravidade da situação e reforçam estereótipos sobre o papel feminino na relação. Essa linguagem, por vezes romantizada, precisa ser revista com urgência, uma vez que o discurso midiático tem forte impacto na formação de valores sociais.

Para reverter esse cenário, a educação deve ser um pilar de transformação. É preciso incluir nas escolas conteúdos que abordem os direitos humanos, a equidade de gênero e o combate ao machismo estrutural. As campanhas públicas, por sua vez, devem utilizar linguagem acessível, alcançar as periferias e trabalhar com lideranças comunitárias. O atendimento psicológico gratuito e contínuo às vítimas também é indispensável, bem como a responsabilização rigorosa dos agressores.

Em síntese, a luta contra o feminicídio começa antes do crime, com a desconstrução de uma cultura de posse e desrespeito ao feminino. Transformar a maneira como se educa, se comunica e se protege a mulher é urgente para garantir não apenas sua sobrevivência, mas sua dignidade.


NOME, NÚMERO, 3º E.F.    DATA DE ENTREGA                                                   valor: 10,0

ESCOLHA UMA DAS PROPOSTAS ABAIXO E ELABORE SUA DISSERTAÇÃO:

Proposta 1 — Tema: Violência obstétrica: o corpo feminino sob controle institucional

Coletânea de Textos Motivadores

Texto 1 –

"A violência obstétrica é caracterizada por práticas abusivas, desumanas e negligentes durante o parto, o pré-natal e o pós-parto, muitas vezes cometidas por profissionais de saúde. Inclui desde xingamentos e humilhações até intervenções desnecessárias e dolorosas sem consentimento."
(Fonte: Ministério da Saúde, 2022)

Texto 2 –

“Quando uma mulher grita de dor e ouve ‘na hora de fazer não gritou’, ela não só sofre violência física, mas tem sua dignidade violada por uma cultura que deslegitima sua dor.”
(Débora Diniz, antropóloga e ativista feminista)

Texto 3 –

Possível abordagem:

Discutir como o corpo feminino, mesmo em momentos íntimos como o parto, ainda é submetido a práticas autoritárias e violentas. É possível relacionar com o machismo estrutural e a falta de políticas públicas humanizadas para parturientes.

Proposta 2 — Tema: A cultura do estupro e seus impactos sociais

Coletânea de Textos Motivadores

Texto 1 –

“A cultura do estupro é um conjunto de crenças que culpabilizam a vítima e minimizam a responsabilidade do agressor. É sustentada por piadas, estereótipos e negligência institucional.”
(ONU Mulheres)

Texto 2 –

“Uma sociedade que ensina meninas a se protegerem, mas não ensina meninos a não violentarem, falha na raiz do problema.”
(Chimamanda Ngozi Adichie)

Texto 3 –
Trecho da música “Maria da Vila Matilde” (Elza Soares):

“Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim / Eu vou logo avisando, eu sou da Lei Maria da Penha, sim!”

Possível abordagem:

Analisar como a cultura do estupro está presente em discursos, piadas, julgamento da roupa da vítima, e até na ineficiência policial. Pode relacionar à educação de gênero, à culpabilização feminina e à necessidade de romper padrões culturais nocivos.

Proposta 3 — Tema: Violência de gênero contra pessoas LGBTQIA+: o preconceito além do binarismo

Coletânea de Textos Motivadores

Texto 1 –

“Pessoas trans e travestis são as mais afetadas pela violência de gênero. No Brasil, uma pessoa trans é assassinada a cada dois dias.”
(Dossiê da ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais, 2023)

Texto 2 –

“A transfobia é uma extensão do machismo. O que está em jogo é o que se espera dos corpos e comportamentos baseados no gênero.”
(Judith Butler, filósofa)

Texto 3 –
Gráfico:

Porcentagem de mulheres trans que abandonaram o ensino médio por bullying e violência: 72%
(Fonte: IBGE e ANTRA, 2022)

Possível abordagem:

Explorar como o gênero não se resume a feminino e masculino. Pessoas LGBTQIA+, principalmente trans e não-binárias, sofrem formas intensificadas de violência por não seguirem padrões de gênero esperados socialmente. A redação pode abordar invisibilização, políticas públicas e necessidade de educação inclusiva.

Proposta 4 — Tema: Violência política de gênero: o desafio das mulheres em espaços de poder

Coletânea de Textos Motivadores

Texto 1 –

“Mulheres são constantemente interrompidas, ridicularizadas e atacadas por exercerem cargos políticos. A violência política de gênero mina a democracia e afasta lideranças femininas.”
(Relatório da ONU Mulheres, 2021)

Texto 2 –

“Eu sou constantemente atacada por ser mulher e ocupar um cargo que por séculos foi exclusivo de homens.”
(Trecho de discurso da deputada Talíria Petrone)

Texto 3 –
Gráfico: Apenas 17% das cadeiras da Câmara dos Deputados são ocupadas por mulheres (2023).

(Fonte: TSE – Tribunal Superior Eleitoral)

Possível abordagem:

Debater como o machismo se expressa nos espaços de poder, por meio da ridicularização, fake news sexistas, ameaças e difamações. Pode propor formas de proteção institucional e estímulo à maior representatividade feminina.


Proposta 5 — Tema: O machismo no ambiente escolar e seus reflexos na formação social

Coletânea de Textos Motivadores

Texto 1 –

“Meninas são constantemente silenciadas nas aulas de exatas, sexualizadas por colegas e têm suas roupas questionadas. A escola, que deveria ser espaço de empoderamento, às vezes reproduz a desigualdade.”
(Revista Nova Escola, 2023)

Texto 2 –

“Educar para a igualdade de gênero é tão fundamental quanto ensinar matemática.”
(Documento Base da BNCC – Base Nacional Comum Curricular)

Texto 3 –
Ilustração de duas placas em uma escola:

• “Meninas: saias até o joelho.”
• “Meninos: cuidado com a violência.”
(Crítica visual à diferença de abordagem)

Possível abordagem:

Discutir como o machismo se manifesta nas interações escolares, nas normas disciplinares e no currículo oculto. Abordar o papel da escola na desconstrução de estereótipos e na formação de sujeitos conscientes quanto à igualdade de gênero.

Produções de textos: 

 Tema: Violência obstétrica: o corpo feminino sob controle institucional

Título: A dor que não se ouve: o silenciamento das mulheres nos partos brasileiros

Ao longo da história, o corpo feminino tem sido alvo de controle e normatizações por parte de instituições sociais. No contexto da maternidade, esse controle se manifesta de forma cruel através da violência obstétrica, uma prática ainda presente em diversas unidades de saúde brasileiras. Tal violência, caracterizada por agressões verbais, físicas ou negligências durante o parto, reflete o machismo estrutural e a urgência de um novo paradigma humanizado e respeitoso com as mulheres.

Segundo dados do Datafolha, uma em cada quatro mulheres relata ter sofrido algum tipo de abuso durante o parto. Essa estatística alarmante evidencia uma cultura institucional que silencia a dor feminina e trata a parturiente como objeto de intervenção médica, não como sujeito de direitos. Frases como "na hora de fazer não gritou" ilustram o desprezo pela dor da mulher e perpetuam uma violência simbólica naturalizada.

A violência obstétrica é também fruto da hierarquização entre saberes: o conhecimento científico sobrepõe-se à escuta da mulher, negando-lhe autonomia sobre seu próprio corpo. Nesse sentido, as práticas hospitalares muitas vezes desconsideram o consentimento informado, o direito ao acompanhante e à escolha sobre procedimentos.

Portanto, é urgente que o Estado promova políticas públicas de formação para profissionais da saúde, focadas em um parto humanizado e na escuta ativa da mulher. Além disso, é preciso fortalecer canais de denúncia e ampliar campanhas de conscientização sobre o que configura violência obstétrica. Somente assim será possível romper com o ciclo histórico de silenciamento e devolver às mulheres a dignidade de parir com respeito.

Tema: Violência política de gênero: o desafio das mulheres em espaços de poder

Título: A política que fere: o sexismo como obstáculo à democracia plena

Apesar dos avanços conquistados por mulheres ao longo do século XX, o espaço político ainda é um dos últimos bastiões da desigualdade de gênero. A violência política de gênero se manifesta através de ameaças, ataques morais e tentativas de silenciamento dirigidas a mulheres que ocupam cargos públicos, revelando um problema estrutural que compromete a democracia.

O relatório da ONU Mulheres alerta que a presença feminina nos parlamentos, ainda tímida no Brasil, é frequentemente acompanhada de violências simbólicas e diretas. A deputada Talíria Petrone, por exemplo, relatou receber ameaças constantes por ser mulher e negra em um cargo de destaque. Esses episódios não são casos isolados, mas sintomas de uma cultura que associa poder ao masculino.

Essa realidade não apenas fere os direitos individuais das mulheres, mas enfraquece o próprio sistema democrático, pois impede a diversidade de ideias e representações. A sub-representação feminina no Congresso Nacional é reflexo e consequência dessa cultura hostil, que afasta muitas mulheres da vida pública.

Para enfrentar esse cenário, é necessário fortalecer legislações que coíbam a violência política de gênero, como a Lei 14.192/21, e promover campanhas educativas que combatam o machismo. Além disso, partidos devem garantir estruturas de apoio às candidatas e fomentar a participação feminina em condições igualitárias. Afinal, uma democracia só é plena quando todas as vozes têm espaço para se manifestar.

 O feminicídio no Brasil: raízes culturais e caminhos para a superação

O feminicídio — assassinato de mulheres em razão de seu gênero — constitui uma das formas mais brutais de violência contra a mulher. Apesar da promulgação da Lei do Feminicídio, em 2015, os índices desse crime continuam elevados no Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher é vítima de feminicídio a cada sete horas no país. Esse dado revela uma grave questão cultural e estrutural que naturaliza o controle sobre o corpo e a vida feminina.

A sociedade brasileira, marcada por valores patriarcais, reforça a ideia de posse masculina sobre as mulheres, o que favorece relações abusivas e atos violentos. Soma-se a isso a insuficiência de políticas públicas efetivas, a morosidade judicial e a negligência com denúncias anteriores ao assassinato. A impunidade reforça a ideia de que esse crime pode ser cometido sem consequências severas.

Diante disso, é fundamental que o Ministério da Educação implemente projetos pedagógicos que promovam o respeito e a equidade de gênero desde o ensino fundamental. Ademais, o Poder Judiciário deve acelerar o julgamento de denúncias de violência doméstica e assegurar medidas protetivas com eficácia. A mídia, por sua vez, pode contribuir ao divulgar campanhas de conscientização que desconstruam o machismo. Assim, será possível combater o feminicídio de maneira preventiva e garantir mais segurança e dignidade às mulheres brasileiras.

 Cultura do estupro e a culpabilização da vítima

No Brasil, a cultura do estupro persiste como uma das mais perversas formas de violência simbólica e física contra a mulher. Trata-se de um conjunto de comportamentos e discursos que normalizam a violência sexual, culpabilizam as vítimas e relativizam a gravidade dos crimes. Casos de estupro coletivo e julgamentos que questionam a conduta da vítima são recorrentes, revelando a misoginia estrutural do país.

Esse fenômeno é alimentado pela objetificação do corpo feminino, pela ausência de educação sexual nas escolas e pela atuação ineficiente do sistema judiciário. Muitas mulheres se sentem culpadas ou desacreditadas ao denunciar um estupro, o que favorece a impunidade. A responsabilização das vítimas, baseada em aspectos como vestimenta ou horário, evidencia a necessidade de uma mudança cultural profunda.

Nesse sentido, cabe ao Ministério da Educação implementar nas escolas uma educação sexual crítica que aborde o consentimento e o respeito à autonomia corporal. O Ministério da Justiça, por sua vez, deve capacitar delegacias e profissionais da saúde para acolher vítimas de forma empática. A mídia deve colaborar com campanhas que desconstruam o machismo. Dessa forma, será possível romper com a cultura do estupro e assegurar os direitos das mulheres.

Violência contra pessoas LGBTQIA+ no Brasil

A violência contra a população LGBTQIA+ é um problema urgente no Brasil, país que lidera os índices globais de assassinatos de pessoas trans, conforme dados da ANTRA. Esse cenário evidencia a intolerância estrutural ainda presente na sociedade, impulsionada por discursos de ódio, preconceito religioso e ausência de políticas inclusivas. Tais violências se manifestam não apenas fisicamente, mas também de forma simbólica, social e institucional.

A escola, a família e o mercado de trabalho são espaços onde essa população enfrenta exclusão e discriminação. Muitos LGBTQIA+ não têm acesso à educação de qualidade, à saúde integral e à segurança. A ausência de representatividade e de políticas públicas que assegurem seus direitos contribui para a marginalização e vulnerabilidade desses indivíduos.

Portanto, é necessário que o Ministério dos Direitos Humanos desenvolva políticas de proteção e inserção para essa população, com enfoque especial na educação, saúde e segurança. As escolas devem trabalhar com projetos que promovam a diversidade e o respeito, e as campanhas midiáticas precisam valorizar a pluralidade. Essas ações integradas são essenciais para garantir os direitos e a dignidade de todos os cidadãos.

 O machismo no ambiente escolar e seus impactos na formação juvenil

O ambiente escolar, além de espaço de formação acadêmica, é também um lugar de socialização e construção de valores. No entanto, práticas machistas ainda presentes nas escolas brasileiras — como piadas sexistas, diferenciação de comportamentos e a culpabilização de alunas em casos de assédio — reforçam a desigualdade de gênero e impactam negativamente o desenvolvimento de meninas e meninos.

Essa reprodução do machismo na escola perpetua estereótipos e legitima comportamentos violentos fora do ambiente educacional. Ao não problematizar tais atitudes, a instituição escolar contribui para a manutenção da cultura patriarcal, que limita o potencial das mulheres e reforça a ideia de superioridade masculina.

 Nesse contexto, é imprescindível que o Ministério da Educação promova formações continuadas para os profissionais da educação sobre equidade de gênero e acolhimento das vítimas. Além disso, as escolas devem desenvolver projetos interdisciplinares que discutam os direitos das mulheres e a desconstrução de estereótipos. Com essas ações, será possível transformar a escola em um espaço verdadeiramente emancipador.



PROVA 1: 

1. Contexto Histórico e Literário

  • Realismo em Portugal: a obra é um marco do Realismo português, publicada em 1878. Enfatiza a crítica social e a análise psicológica, contrapondo-se ao idealismo romântico.

  • Sociedade lisboeta burguesa do século XIX: crítica aos costumes da elite urbana e da vida doméstica.

Explique como O Primo Basílio representa a transição do Romantismo para o Realismo na literatura portuguesa.

O Primo Basílio marca uma ruptura com os ideais do Romantismo e inaugura, em Portugal, o movimento realista, trazendo uma nova forma de olhar para a sociedade e para os indivíduos. Enquanto o Romantismo valorizava o sentimentalismo, os heróis idealizados e os amores impossíveis, Eça de Queirós rompe com esses elementos ao retratar personagens comuns, com falhas, vícios e motivações egoístas. Luísa, por exemplo, é influenciada pelos valores românticos, mas sua história mostra o fracasso desses ideais quando confrontados com a realidade. A linguagem de Eça é objetiva, irônica e descritiva, priorizando a análise social e psicológica. A ambientação urbana, os conflitos morais, a crítica à hipocrisia da burguesia e a ausência de finais felizes típicos do romantismo são características do Realismo presentes na obra. Assim, O Primo Basílio não apenas critica os valores românticos, como também afirma uma nova estética literária voltada para a observação crítica da realidade.

2. Análise de Personagens

  • Luísa: símbolo da mulher sonhadora, influenciada por romances românticos, e despreparada para lidar com a realidade.

  • Basílio: representa a futilidade da aristocracia decadente.

  • Julião: crítico e observador, tem papel quase metalinguístico.

  • Juliana: personificação do ressentimento social e da opressão de classe.

Compare o comportamento de Luísa e Juliana, destacando como elas representam diferentes classes sociais e o que isso revela sobre a crítica de Eça de Queirós.

 Em O Primo Basílio, Luísa e Juliana representam duas faces opostas da sociedade lisboeta do século XIX: a burguesia ociosa e a classe trabalhadora submissa e ressentida. Luísa, pertencente à classe média alta, leva uma vida confortável, mas vazia, moldada por ideais românticos e por uma educação limitada à domesticidade. Ela é ingênua, fútil e alienada, vivendo para o lar e para os devaneios amorosos. Juliana, por outro lado, é a criada amarga e explorada, que conhece a dureza da vida e carrega o rancor de quem serve sem reconhecimento.

Quando Juliana descobre o adultério de Luísa, inverte-se a relação de poder: a criada chantageia a patroa, revelando a fragilidade da moral burguesa. Essa inversão é usada por Eça de Queirós para denunciar a hipocrisia das aparências sociais e mostrar como ambas são vítimas de uma estrutura social desigual: Luísa, por ser alienada e educada para a submissão; Juliana, por viver à margem, sem oportunidades de ascensão legítima. A crítica do autor recai tanto sobre a farsa burguesa quanto sobre a injustiça das relações de classe.

3. Crítica Social e Hipocrisia Burguesa

  • A obra mostra o adultério, a ociosidade da mulher burguesa, a falsa moralidade e o jogo de aparências.

  • Crítica à educação feminina da época: Luísa é frágil e manipulável por não ter sido preparada para a vida real.

De que maneira a obra de Eça de Queirós critica os valores da burguesia lisboeta do século XIX?                                                                                                                                                                    Em O Primo Basílio, Eça de Queirós realiza uma crítica contundente à burguesia lisboeta do século XIX, retratando-a como uma classe hipócrita, superficial e moralmente falida. Através de personagens como Luísa, Jorge, Basílio e Conselheiro Acácio, o autor expõe os vícios e as contradições de uma sociedade que valoriza as aparências, o status social e o casamento por conveniência, mas negligencia os verdadeiros valores humanos, como a honestidade, a empatia e o autoconhecimento.

A futilidade de Luísa, que vive presa a sonhos românticos, simboliza a alienação das mulheres da elite, enquanto Basílio representa o oportunismo e o egoísmo masculino. O Conselheiro Acácio, com seus discursos vazios e pomposos, encarna o moralismo burocrático e ineficiente da classe dominante. Ao mesmo tempo, o autor denuncia a precariedade da classe trabalhadora por meio de Juliana, que, mesmo oprimida, usa da chantagem como única forma de ascensão e revanche social.

A linguagem irônica, a análise psicológica das personagens e a descrição precisa dos ambientes domésticos e urbanos reforçam essa crítica. Assim, Eça não apenas expõe as fraquezas individuais, mas mostra como elas são moldadas por uma sociedade desigual, conservadora e decadente.

4. Intertextualidade e influência de Flaubert

  • Semelhança com Madame Bovary de Gustave Flaubert(LEMBRE-SE DO FILME!): ambas as protagonistas vivem um adultério motivado por sonhos românticos.

  • A diferença está no olhar mais satírico e social de Eça.

Relacione O Primo Basílio com Madame Bovary, apontando semelhanças e diferenças na abordagem do adultério e da crítica social.

O Primo Basílio, de Eça de Queirós, e Madame Bovary, de Gustave Flaubert, são obras fundamentais do Realismo e compartilham diversos elementos temáticos, especialmente na forma como retratam o adultério e realizam uma crítica profunda à sociedade de seu tempo.

Ambas as protagonistas — Luísa e Emma Bovary — são mulheres da burguesia que, insatisfeitas com a monotonia da vida conjugal, se envolvem em casos extraconjugais. Influenciadas por leituras românticas, idealizam o amor e buscam no adultério uma fuga de suas realidades entediantes. Essa busca por um amor idealizado as conduz à frustração, à ruína moral e, no caso de Emma, à morte.

No entanto, há diferenças marcantes: enquanto Flaubert foca mais na dimensão psicológica e trágica de Emma, mostrando seu progressivo mergulho em dívidas e desespero, Eça adota uma abordagem mais irônica e crítica, destacando o papel social da mulher e as estruturas de poder na sociedade portuguesa do século XIX. Emma tem uma personalidade mais ativa, sonhadora e impulsiva; Luísa é mais ingênua, passiva e moldada pela educação limitada à domesticidade.

Outra diferença importante está no desfecho: Emma morre por envenenamento, em uma tragédia íntima; já Luísa morre de febre, consequência do sofrimento e da chantagem vivida, mas sem o mesmo peso dramático. Ambas, porém, são vítimas da opressão social e da moral burguesa, o que revela a crítica de seus autores à hipocrisia e à repressão de suas épocas.

Assim, as duas obras denunciam como a sociedade do século XIX restringia a liberdade feminina, condenando as mulheres ao papel de esposas submissas, ao mesmo tempo em que perpetuava valores patriarcais e superficiais.

 

5. Linguagem e Estilo

  • Narrador onisciente, muitas vezes irônico e crítico.

  • Descrição minuciosa, foco na análise psicológica dos personagens.

  • Presença do discurso indireto livre.

Comente o papel do narrador em O Primo Basílio, destacando sua função crítica diante dos acontecimentos narrados.

O narrador em O Primo Basílio exerce um papel fundamental na construção da crítica social que Eça de Queirós pretende realizar. Trata-se de um narrador onisciente, ou seja, aquele que conhece o íntimo de todas as personagens, seus pensamentos, sentimentos e intenções. Isso permite uma análise profunda das contradições humanas e uma exposição minuciosa dos comportamentos sociais da burguesia lisboeta do século XIX.

Mais do que apenas relatar os acontecimentos, o narrador assume uma postura irônica e moralizante, especialmente ao comentar os costumes da época, os discursos vazios, as aparências sociais e a hipocrisia dos personagens. Essa ironia é uma ferramenta eficaz de crítica: ao invés de condenar abertamente os atos das personagens, o narrador os expõe de forma sutil, frequentemente utilizando a ironia para revelar o ridículo por trás de comportamentos tidos como respeitáveis ou normais.

Por exemplo, a maneira como o narrador descreve o Conselheiro Acácio ou a própria Luísa reforça a intenção de desmascarar a superficialidade e o moralismo burguês. Além disso, ao mostrar a mesquinhez de personagens como Juliana e a frieza de Basílio, o narrador questiona os valores da sociedade da época, sem idealizar nenhum dos grupos sociais.

Assim, o narrador em O Primo Basílio não é neutro: ele orienta a leitura, guia o julgamento do leitor e atua como porta-voz da crítica realista, denunciando os vícios sociais por meio de uma linguagem refinada, irônica e perspicaz.

6) Múltipla Escolha

(FUVEST) Em O Primo Basílio, a personagem Juliana representa:
a) a serva fiel à patroa
b) a típica heroína romântica
c) a classe operária revolucionária
d) o ressentimento das classes subalternas
e) a mulher ingênua e amorosa

7) Verdadeiro ou Falso

( V ) A obra critica o romantismo ao mostrar como ele aliena Luísa da realidade.

Verdadeiro. Luísa é influenciada por leituras românticas e sonha com um amor idealizado, o que a torna vulnerável e despreparada para lidar com as consequências reais do adultério. Eça critica diretamente essa alienação promovida pelos ideais românticos.

( F ) Basílio é um amante apaixonado e nobre que realmente se importa com Luísa.

Falso. Basílio é um sedutor superficial, que vê Luísa como uma conquista passageira. Ele não demonstra verdadeiro afeto ou preocupação com ela; ao contrário, abandona a situação quando ela se agrava.

( V ) A linguagem de Eça é objetiva e descritiva, com foco psicológico.

Verdadeiro. Característica típica do Realismo. Eça de Queirós utiliza uma linguagem precisa, com descrições minuciosas e análise psicológica dos personagens, além de recorrer à ironia para criticar a sociedade.

 8) A personagem Luísa é construída por Eça de Queirós como:

a) um símbolo da liberdade feminina na sociedade lisboeta do século XIX.
b) uma mulher forte que rompe com os padrões sociais de sua época.
c) uma heroína que luta contra a hipocrisia da sociedade.
d) uma mulher alienada pela leitura de romances e despreparada para a realidade.
e) uma esposa fiel e dedicada, mas vítima de um marido ausente.


9) Juliana, a criada, representa:
a) a classe burguesa em ascensão.
b) a mulher doce e compreensiva com sua patroa.
c) o ressentimento das classes oprimidas, em busca de ascensão social.
d) a religiosa fervorosa e resignada.
e) o ideal feminino do século XIX.


10) Em relação ao estilo de Eça de Queirós, é correto afirmar que:
a) seu estilo valoriza a subjetividade romântica e os sentimentos exacerbados.
b) ele faz uso da ironia e da objetividade para criticar a sociedade.
c) o foco da narrativa é no amor idealizado e nos finais felizes.
d) os personagens são idealizados e pouco contraditórios.
e) a linguagem é excessivamente poética e simbólica.


11) Assinale a alternativa que não representa uma crítica presente em O Primo Basílio:
a) À hipocrisia moral da burguesia lisboeta.
b) À alienação das mulheres pela leitura romântica.
c) Ao movimento operário e às revoltas camponesas.
d) À falta de preparo educacional da mulher burguesa.
e) À ociosidade dos ricos e à exploração dos pobres.


12) Questões de Verdadeiro ou Falso

( ) A obra faz parte do Romantismo português e enaltece a paixão adúltera como um gesto de amor libertador.
( ) Basílio retorna de Paris com o intuito de reconquistar Luísa por amor verdadeiro.
( ) A linguagem de Eça de Queirós é objetiva, crítica e com forte presença de ironia.
( ) A personagem Luísa é uma crítica à educação sentimental e romântica recebida pelas mulheres da época.
( ) Juliana, embora criada, representa a verdadeira heroína da obra, com virtudes morais superiores às de Luísa.

  • F (É Realismo, não Romantismo, e o adultério é criticado.)

  • F (Basílio é egoísta e sedutor, sem intenções verdadeiras.)

  • V

  • V

  • F (Juliana é movida pelo rancor e vingança; não é idealizada.)


RECUPERAÇÃO DA P1:  

1-Questão Dissertativa (10 a 15 linhas)

 O romance O Primo Basílio apresenta uma crítica contundente à sociedade lisboeta do século XIX, expondo a hipocrisia, a ociosidade e a alienação da mulher burguesa. Com base na leitura da obra, analise o papel da personagem Luísa e explique de que forma ela representa os limites impostos às mulheres de sua classe e tempo.

Resposta: A personagem Luísa, em O Primo Basílio, simboliza a mulher burguesa do século XIX, educada para a domesticidade, a obediência e o casamento. Vivendo num ambiente confortável, mas monótono, ela preenche seu vazio existencial com leituras românticas e sonhos idealizados de amor, o que a torna vulnerável à sedução do primo Basílio. Sua alienação e falta de autonomia revelam os limites sociais impostos às mulheres da época: sem acesso pleno à educação, à liberdade ou ao trabalho, elas eram confinadas ao lar e ao papel de esposa submissa. A tragédia de Luísa, que termina vítima de chantagem, vergonha e doença, é uma metáfora do destino reservado àquelas que ousavam romper com as convenções. Por meio dela, Eça de Queirós critica a hipocrisia social e o modelo patriarcal que reprime e infantiliza as mulheres, negando-lhes o direito à realização pessoal e intelectual.

A personagem Luísa representa a mulher burguesa do século XIX, criada para ser esposa e dona de casa, sem acesso a uma educação crítica. Ela se deixa levar por ideais românticos de amor, influenciada pela literatura que consome. Sua incapacidade de lidar com a realidade revela os limites impostos às mulheres, que viviam sob tutela masculina e sem liberdade para decisões autônomas. Eça de Queirós, ao construir essa personagem, denuncia a alienação promovida por uma sociedade hipócrita, que valoriza as aparências e a repressão feminina.

2-  Compare O Primo Basílio com o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Ambas as protagonistas vivem experiências semelhantes em relação ao adultério. Quais são as semelhanças e diferenças entre Luísa e Emma Bovary? Comente também sobre o tom adotado por Eça e Flaubert na construção de suas críticas sociais.

Tanto O Primo Basílio, de Eça de Queirós, quanto Madame Bovary, de Gustave Flaubert, apresentam protagonistas femininas que vivem casos extraconjugais em busca de um amor idealizado, influenciadas pelas leituras românticas que moldaram suas expectativas sobre a vida e o casamento. Luísa e Emma são mulheres burguesas, entediadas com a rotina doméstica e casadas com homens corretos, mas afetivamente distantes. Ambas tentam preencher o vazio existencial com o adultério, mas suas histórias resultam em sofrimento e morte, revelando a repressão moral e social às mulheres que transgridem o papel que lhes foi imposto.

Entretanto, existem diferenças marcantes. Emma é mais impulsiva, ativa e consciente de sua insatisfação; Luísa, por sua vez, é passiva, ingênua e infantilizada. Emma age com mais intensidade e ambição, enquanto Luísa se deixa conduzir pela sedução e termina vitimada por sua fragilidade emocional e pela chantagem. Quanto ao tom, Flaubert adota uma crítica sutil, com distanciamento e um estilo mais impassível, enquanto Eça de Queirós é mais direto, irônico e mordaz em sua crítica à hipocrisia da sociedade lisboeta, especialmente quanto à posição da mulher e à falsa moral da burguesia. Assim, ambos autores denunciam as limitações sociais impostas às mulheres, mas por caminhos narrativos e tons distintos.


Tanto O Primo Basílio quanto Madame Bovary abordam o adultério feminino como consequência de um ideal romântico inalcançável. Emma Bovary busca preencher o vazio de sua existência com paixões intensas, enquanto Luísa, mais passiva, se deixa seduzir por Basílio. Flaubert adota um tom mais trágico e psicológico, com ênfase na angústia existencial de Emma, ao passo que Eça usa a ironia e o distanciamento para criticar a sociedade portuguesa. Ambos, no entanto, apontam para a frustração da mulher diante da vida doméstica e da falta de autonomia.

 3- A partir de O Primo Basílio, analise a visão de Eça de Queirós sobre o papel da mulher na sociedade do século XIX.

 Em O Primo Basílio, Eça de Queirós apresenta uma crítica contundente à condição feminina na sociedade burguesa do século XIX. Por meio da personagem Luísa, o autor revela como a mulher era educada para o casamento, sem preparo intelectual ou emocional para lidar com as frustrações da vida adulta. Luísa é alienada pela leitura de romances idealizados, o que a faz sonhar com um amor impossível e a torna vulnerável à sedução de Basílio. Essa alienação é uma crítica direta à formação sentimental das mulheres, que eram moldadas para a passividade, para o confinamento doméstico e para a obediência ao marido. Eça não idealiza suas personagens femininas, mas utiliza suas falhas e limitações para expor os efeitos de uma sociedade patriarcal que restringe a liberdade e a autonomia da mulher. Assim, a obra revela não apenas a fragilidade individual de Luísa, mas também a opressão estrutural imposta às mulheres de sua época.


4- Leia sobre os temas: 

1. Adultério

O adultério é o eixo central do enredo, mas não é tratado de forma romântica. Ao contrário, é usado como ferramenta crítica. Luísa trai o marido em busca de emoção, mas sua aventura amorosa revela sua imaturidade e resulta em sofrimento. A traição não é punida por moral religiosa, mas por consequências sociais e psicológicas.

2. Moralidade e Hipocrisia

A sociedade lisboeta da época aparece marcada por uma moralidade falsa. O discurso social prega virtudes que não são vividas. Basílio, por exemplo, é bem aceito socialmente apesar de sua conduta leviana, enquanto Luísa, ao transgredir seu papel, é severamente punida. Eça ironiza essa moral seletiva.

3. Classe Social e Ascensão

As diferenças de classe são fortemente evidenciadas. Juliana, empregada doméstica, é humilhada por Luísa e, ao descobrir sua traição, usa essa informação para inverter a relação de poder, tentando ascender socialmente. A obra mostra que a ascensão, para os mais pobres, pode vir pela dominação e não pela dignidade ou mérito.

4. Opressão Feminina e Dominação Masculina

Luísa vive sob os códigos da moral burguesa, que reserva à mulher apenas o espaço do lar. Sua educação a impede de pensar criticamente. Enquanto isso, os homens exercem poder sobre as mulheres, seja com condescendência (Jorge), sedução (Basílio) ou violência simbólica (Juliana). A obra denuncia a desigualdade de gênero.

5. Servidão e Submissão

Juliana representa a servidão física e social; Luísa, a submissão emocional e simbólica. Ambas estão presas a sistemas opressores: uma à pobreza e à falta de reconhecimento, a outra à fragilidade emocional e à expectativa social.

6. Corrupção Moral

Todos os personagens — com exceção de Jorge e Sebastião — revelam alguma forma de corrupção. Desde a falsa devoção do Conselheiro Acácio até o comportamento egoísta de Basílio, Eça constrói uma galeria de tipos que desmascaram a sociedade “respeitável” de sua época.

Após a leitura dos temas acima, você concorda com as análises críticas abaixo? explique.

Eça de Queirós, expoente do Realismo em Portugal, compôs em O Primo Basílio uma crítica contundente à sociedade lisboeta do século XIX, explorando de maneira sofisticada temas como adultério, moralidade, classe social e opressão feminina. Longe de exaltar o amor romântico, o autor revela suas consequências dentro de uma estrutura social hipócrita e desigual.

O adultério cometido por Luísa com Basílio não é glamourizado. Ao contrário do que ocorria nas narrativas românticas, a traição amorosa aqui é tratada como sintoma de imaturidade, fuga da realidade e insatisfação com o vazio burguês. O castigo sofrido por Luísa — não por sua culpa, mas pela dureza da sociedade — revela a fragilidade da moralidade da época: rígida com as mulheres, permissiva com os homens.

A sociedade é marcada por um duplo padrão de julgamento. Enquanto Luísa é condenada e humilhada, Basílio — o verdadeiro manipulador — sai ileso e até valorizado por seus pares. Conselheiro Acácio representa a moral burocrática e superficial, enquanto Dona Felicidade vive uma devoção católica que beira o ridículo. Tudo isso revela a hipocrisia como elemento estrutural da vida burguesa.

A desigualdade de classes é outro tema central. A personagem Juliana, criada de Luísa, é amarga, ressentida e sonha com um lugar de respeito. Quando descobre o caso da patroa, usa-o como instrumento de chantagem — não apenas por vingança, mas como uma tentativa distorcida de ascensão social. A obra mostra que, em uma sociedade sem mobilidade justa, os mais pobres tentam subir pela manipulação ou pela violência simbólica.

Luísa representa a mulher educada para a submissão e para os sonhos pueris de amor romântico. Sua falta de senso crítico e autonomia intelectual a tornam presa fácil para um sedutor como Basílio. Já Juliana, embora não se submeta emocionalmente, vive sob a servidão física e moral. Ambas são vítimas de uma estrutura patriarcal: uma pela idealização, outra pela exclusão. Os homens — Jorge, Basílio, Sebastião — movimentam-se com mais liberdade, revelando o domínio masculino nas esferas da razão, da liberdade e da decisão.

Eça constrói um universo onde a corrupção moral não está nos grandes crimes, mas nas pequenas ações cotidianas: na chantagem, na omissão, na mentira, no fingimento social. É a moral que se degrada silenciosamente, presente no modo como as relações familiares, sociais e íntimas se sustentam em aparências.

Assinale a alternativa correta: 

(     x  ) Sim, concordo plenamente com as análises críticas apresentadas. 

(       ) Concordo parcialmente com as análises críticas apresentadas


JUSTIFICATIVAS: 

1. Adultério e Crítica Social

A análise está correta ao afirmar que o adultério não é romantizado, como se via no Romantismo. Aqui, o adultério de Luísa é símbolo de sua alienação e do vazio existencial burguês. Eça mostra que a traição amorosa não é motivada por uma paixão profunda, mas por uma busca inconsciente por escapar da monotonia — e isso a leva à desilusão. O sofrimento de Luísa não é resultado direto do pecado, mas das amarras sociais e da desigualdade de gênero.

2. Moralidade e Hipocrisia

A crítica à moralidade seletiva é uma das colunas da obra. A sociedade lisboeta pune severamente a mulher que quebra o papel esperado (Luísa), mas fecha os olhos para os desvios masculinos (Basílio). Personagens como o Conselheiro Acácio são caricaturas da moral vazia e pedante. Eça denuncia com ironia essa estrutura hipócrita, revelando o abismo entre o discurso e a prática social.

3. Classe Social e Ascensão

A análise destaca com precisão o contraste entre Luísa (burguesia) e Juliana (classe trabalhadora). Juliana, mesmo limitada por sua origem, encontra uma forma de exercer poder — ainda que por vias escusas — usando o segredo da patroa. É um retrato fiel de uma sociedade sem justiça social, onde o “subalterno” só ascende através da chantagem, da esperteza ou da violência simbólica.

4. Opressão Feminina e Dominação Masculina

Um dos maiores méritos da crítica é evidenciar a diferença entre os tipos de opressão sofridos por Luísa e Juliana. Enquanto Luísa é produto da educação repressora e da idealização romântica, Juliana sofre com a dureza do cotidiano e a exclusão social. Ambas são vítimas, mas em campos diferentes da estrutura patriarcal. A dominação masculina se revela nas falas e atitudes dos homens: Jorge (mesmo sendo “bondoso”) representa o conformismo patriarcal; Basílio, a manipulação erótica; e Sebastião, a moral conservadora.

5. Servidão e Submissão

Muito bem colocado: Luísa é emocionalmente submissa, Juliana é socialmente servil. Essa oposição enriquece a crítica de Eça, pois mostra como a dominação se infiltra em todas as esferas — não apenas pela classe, mas também pelo gênero e pelas expectativas culturais impostas.

6. Corrupção Moral

A análise é precisa ao apontar que Eça não retrata vilões clássicos, mas sim personagens comuns que revelam, em suas pequenas ações, a corrupção da sociedade. Mentiras, dissimulações, falsas aparências e omissões são constantes no romance. A crítica é feita no detalhe cotidiano — um dos traços mais sofisticados da escrita realista.

Conclusão:

As análises demonstram uma leitura madura e sensível da obra, revelando:

  • A sofisticação narrativa de Eça de Queirós.

  • Sua crítica feroz à estrutura social portuguesa do século XIX.

  • Seu papel como renovador da literatura portuguesa, ao romper com o Romantismo e abraçar o Realismo com profundidade psicológica e crítica social.

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