domingo, 30 de outubro de 2016

“Poemas Negros”( 1947- 39 poemas) - Jorge de Lima (1893- União dos Palmares - Alagoas -1953-RJ)



“Poemas Negros”( 1947- 39 poemas) - Jorge de Lima (1893- União dos Palmares - Alagoas -1953-RJ)                           OBSERVAÇÃO- NÃO TERMINEI DE FALAR DE TODOS OS POEMAS.
Autor: “Príncipe dos poetas de Alagoas”.
Morou no engenho do pai, convivendo numa realidade rural.
1902- mudou-se para Maceió.
Fez medicina em salvador.
Foi deputado estadual.
Em1930 mudou-se para o Rio de Janeiro.
Jorge de lima era branco e vivia no engenho.

“Poemas” se encaixa na  2ª fase do Modernismo no Brasil(1930-1945).- momento de crítica social, regionalista.
Ele tem 3 fases: Parnasiano(1914), nordestina e religiosa(católica).

Principais características:
Misticismo;
Religiosidade;
Metafísica (filosófica, existencial- vai além de nossa compreensão);
Social(camadas sociais mais sofridas);
Sensualidade;
Escravidão do ser humano(opressão, preconceito)
Aspectos culturais: africanismos.
Fala popular: teor modernista, Valorização do linguajar espontâneo-oral; linguagem peculiar; usa o vocabulário dos negros que trabalham como escravos.
Sensualidade feminina
Sonetos: Inspiração cristã
Fala sobre as figuras míticas africanas (Iemanjá) via religião e fará referências a outras obras (por exemplo, francesa);
Cultura africana no Brasil –umbanda e candomblé
Temas sociais, escravidão, direitos humanos, violência, sexualidade, dentes,

“POEMAS NEGROS”: (1947), o tema regional, a linguagem coloquial, o folclore e o elemento negro marcam seus versos.
I - Novos poemas
ESSA NEGRA FULÔ-poema célebre - escrava que chega para trabalhar na casa grande, faz uma pequena referência a Gonçalves.Dias (Canção de Exílio), maus tratos com os escravos. Visão dele em relação a escravidão.
Comidas -
Santa Rita Durão
Minha sombra
Flos Sanctorun
Meus olhos  
Cantigas

II – Poemas escolhidos
Nordeste
Enchente
O filho pródigo
Poema relativo
Mulher proletária- trabalhadora, mistura o social com religião, muitos filhos que trabalharão, Deus irá proteger pelo serviço proletário. O poeta Jorge de Lima critica no poema, o Capitalismo desenfreado que explora trabalhadores e os transforma em máquinas. A reprodução em série das indústrias é exteriorizada pelos operários, que explorados ao máximo, não têm direito a ter uma vida, com dignidade, nem têm seu individualismo respeitado. Assim como os produtos nos quais trabalham, eles são talhados “numa mesma fôrma”, excluídos e incluídos num sistema de lucro dos quais eles não tiram vantagem. O ser humano não é visto como homem, como mulher, pai, mãe, filho, filha, amigo... mas, como peça de uma grande engrenagem que é o próprio sistema capitalista. No contexto de “Mulher proletária”, a mulher é a própria sociedade que fabrica filhos em grande número, máquinas humanas que quando “vingam” se transformam em braços para manter a burguesia. Braços... não cérebros, nem corações, nem seres humanos, nem pessoas. São braços que não tendo o que comercializar, resta apenas o seu trabalho. A mulher é a única “fábrica” que o operário, marido tem. Este trecho mostra a mecanização das relações, já que os filhos são “fabricados” em série, para que um dia cumpram a mesma sina dos pais. Na última estrofe, Jorge de Lima conversa com a “mulher proletária” e fala sobre um futuro ainda esperançoso, já que a superprodução de homens que nascem condenados a ser explorados cresce a cada dia e já é mais numerosa que a Burguesia. Cabe a eles organização, para que unidos possam salvar a si próprios. É uma denuncia a passividade das pessoas diante da dominação. Um dia este proletariado pode vir a se estabelecer com uma vida digna, quando ele entender que têm direitos iguais aos dos que o dominam e exploram, mas, para isto, precisam acordar. “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas, sonho que se sonha junto, é realidade”. No Modernismo abandonou-se a preocupação com a forma, que dominou a geração Parnasiana. Em “Mulher proletária”, percebemos a grande habilidade do poeta Jorge de Lima em fazer jogo de palavra. O substantivo mulher é acompanhado do adjetivo proletária que impõe as marcas do Capitalismo inseridas na sua personalidade. Assim como operário, produção, superprodução, burguesia, burguês, o autor define a mecanização do ser humano, como consequência do Capitalismo exagerado, que têm seus princípios fundamentados no lucro e não na pessoa que produz.
Poema do nadador
Poema à bem-amada

III –Poemas Negros
Bicho encantado
Banguê
História
Democracia
Retreta do vinte
Quichimbi sereia negra
Zefa lavadeira
Benedito Calunga
Ladeira da Gamboa
Passarinho cantando
Exu comeu tarubá
Ancila negra
O banho das negras
Cachimbo do sertão
Obambá é batizado
Poema de encantação
Rei é Oxalá, rainha é Iemanjá
Foi mudando, mudan
Janaína
Quando ele vem
Xangô
Pra donde que você me leva
Maria Diamba
Olá! Negro

IV – Livro de sonetos
Os seus enfeites
Apenas eu te aceito, não te quero
Sinto-me salivado pelo Verbo
Vereis que o poema cresce independente
Este poema de amor não é lamento
Nas noites enluaradas cabeleiras
Nas noites enluaradas as olheiras
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DIABO BRASILEIRO- sobre a cultura africana (candomblé).
PELO SILÊNCIO –sensual-define uma mulher- fala além de nossa compreensão-silêncio da mulher(partiu-pode ser pela morte).
ESSA INFANTA- é a morte, morte que está presente em nossa vida.
ESSA PAVANA-  morte de uma pessoa, enterrada, homenagens que chega no caixão.
O GRANDE DESASTRE AÉREO DE ONTEM – homenagem a Cândido Portinari- um acontecimento, uma realidade.

OBRA: A INVENÇÃO DE ORFEU -Mistura as características das 3 fases. Poema épico.
Há metáforas.
Epopeia do Brasil –(relaciona-se com Camões, Dante)  10 cantos.
O  próprio poeta nos revela seus propósitos, na introdução do poema: - "Eu pretendi com este  livro, que é um poema só, único, dividido em 10 cantos, fazer a modernização da epopeia. Uma epopeia moderna não teria mais um conteúdo novelesco. Não dependeria mais de  uma história geográfica, nem, dos modelos, clássicos da epopeia. Verifiquei, depois da obra pronta e escrita, que quase inconscientemente, devido à minha entrega completa ao poema, que não só o Tempo como o Espaço estavam ausentes deste meu longo poema e que eu tinha assentado as suas fundações nas tradições gratas a uma epopeia brasileira, principalmente , as tradições remotamente lusas e camonianas."
Combina o catolicismo, o elemento onírico e o surrealismo. É o documento literário da natureza barroca do Brasil.
A obra é uma poderosa imagem deste país afro-europeu que carreia uma antiga cultura para enriquecer suas nascentes bárbaras.
O texto de Invenção de Orfeu é extremamente complexo e erudito. Apresenta diversas técnicas e faturas: poesias metrificadas e rimadas, outras em metro livre e verso branco, sonetos, canções, baladas, poemas épicos, líricos, poesias de carne e de sangue, poesias de infância, episódios surrealistas, esboços de dramas e de farsas. Propõe uma espécie de teodisseia (= odisseia para Deus) centrada na busca, pelo homem, de uma plenitude sensível e espiritual. ressalta a complexidade do estilo vazado num imenso leque de metros, ritmos e estrofações e em formas de difícil elaboração: oitavas clássicas, tercetos, sextinas etc.
Poema épico e subjetivo, longo em dez cantos fragmentários, Invenção de Orfeu une fragmentos de epopeias clássicas, como a Divina comédia, Eneida, Os Lusíadas e a própria Bíblia a elementos sociais nacionais. O autor constrói uma epopeia moderna e brasileira ao criar uma viagem na qual se depara com o Inferno, o Paraíso e algumas musas.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

MAYOMBE(1980) - Pepetela (1941-Benguela) ( HISTÓRIA POLÍTICA DE ANGOLA, LITERATURA AFRICANA: GUERRILHA; EXÍLIO)




MAYOMBE(1980) - Pepetela (1941-Benguela)

( HISTÓRIA POLÍTICA DE ANGOLA, LITERATURA AFRICANA: GUERRILHA; EXÍLIO)
Autor:
Pepetela é o pseudônimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos.
Sociólogo angolano, leu muitos pensadores da esquerda e influenciado por um padre esquerdista chamado Noronha, que lhe informou sobre a revolução e outros eventos contemporâneos.
O autor angolano é de ascendência portuguesa, porém tornou-se militante do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em 1963 e lutou no movimento para a libertação da sua terra natal do poderio colonialista dos portugueses. 
Ganhador do Prêmio Camões com o Livro Mayombe.
A sua obra é   sobre a história contemporânea (política) de Angola, e os problemas que a sociedade angolana enfrenta. 

'Mayombe' foi escrito durante a participação de Pepetela na guerra de libertação de Angola, e retrata o cotidiano dos guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em luta contra as tropas portuguesas. O romance se propõe a abordar não somente as ações, mas os sentimentos e reflexões daquele grupo, as contradições e conflitos que permeavam sua organização e as relações estabelecidas entre pessoas que buscavam construir uma nova Angola livre da colonização. "  É um  romance político, sendo o livro é dividido em 5 capítulos e 1 epílogo. 
Contexto Histórico da Obra:
Guerra de Independência de Angola ou Luta Armada de Libertação Nacional foi um conflito armado entre as forças independentistas de Angola (UPA/FNLA, MPLA e UNITA) e as Forças Armadas de Portugal, que até então dominavam a colônia angolana. A guerra teve início em 4 de Fevereiro de 1961, durou mais de 13 anos e terminou com um cessar-fogo em Junho (com a UNITA) e Outubro (com a FNLA e o MPLA) de 1974. A independência de Angola foi estabelecida a 15 de Janeiro de 1975, com a assinatura do Acordo do Alvor entre os quatro intervenientes no conflito.
Pepetela, que foi militante na guerra, publicou vários romances durante o período de luta, destes romances Mayombe é o mais conhecido. O romance retrata a vida guerrilheira do autor nos anos 70, e explora os pensamentos e as dúvidas dos personagens, além de ilustrar as ações dos guerrilheiros. Pepetela transporta sua experiência  para a literatura,  algo realmente vivido por ele
Breve resumo|:
O Mayombe diz respeito a um exílio comunitário (exílio como autoflagelação) e, ao mesmo tempo, Singular, onde cada um vive o seu e também vive a do outro, tendo uma permuta de experiências moradas e uma aquisição de conduta e caráter para a formação de tais indivíduos. Mayombe gira em torno do personagem Sem Medo, o comandante da Guerrilha, e é nele que se foca o real exílio geográfico e principalmente o sentimental. Sendo algo que pode derrubar a vida de uma pessoa, ele, Sem Medo, trabalha para contornar essa dificuldade. Mostra os combatentes, seus pensamentos e ações na luta.

Personagem Sem medo-líder guerrilheiro que comanda o seu pequeno contingente em meio a dificuldades, como o racismo, o tribalismo, o oportunismo, as ideologias que circulam neste meio. Exílio para Sem medo : é uma situação de fuga do passado algo sentimental deixado para trás. A fuga é uma ilusão criada por ele, pois  está preso ao exílio. Grande parte de sua vida é ocupada em compensar a perda desorientadora, criando um novo mundo para governar.
Focos narrativos- vários
Há um narrador onisciente,mas este se intercala com as vozes de cada personagem que narra em primeira pessoa os fatos que estão ocorrendo, seus pontos de vista sobre as motivações da guerra e seus conflitos interiores. Ouvimos as vozes e perspectivas de todos os que estão a fazer o movimento, e as opiniões são por vezes divergentes o que reflete a heterogeneidade que compõe o povo de Angola. 
Espaço-  Floresta do Mayombe, onde os guerrilheiros tem uma base militar e planejam os ataques aos colonos portugueses. A descrição da mata que representa um personagem com vida e importância na obra. Exemplo:
"As árvores enormes, das quais pendiam cipós grossos como cabos, dançavam em sombras com os movimentos das chamas. Só o fumo podia libertar-se do Mayombe e subir, por entre as folhas e as lianas dispersando-se rapidamente do alto, como água precipitada por cascata estreita que se espalha num lago."
Enredo- cronologia de fatos e emtemdemos o movimento guerrilheiro, suas regras, seus pontos frágeis e qual o ideal que buscam seus combatentes.
Personagens-identificados por seus codinomes de combate,  que trazem uma característica marcante de cada um.
Ex.:Teoria – um homem estudado que atua como professor para os homens do movimento.
Comandante, o líder chamado de Sem Medo.
Todos trazem consigo o ideal da revolução comunista, lutam para reformular a terra em que estão, para que ela seja um país livre do domínio estrangeiro e o povo possa comandar suas próprias riquezas. Porém percebe-se o quão difícil é juntar e homogeneizar o movimento. 
Cada personagem se apresenta na abertura dos capítulos, conta sua história e mostra qual a sua ideologia, o motivo pelo qual luta no movimento guerrilheiro. Os personagens são como entidades sociológicas.
1-"Eu, o narrador, sou Teoria
Nasci na Gabela, na terra do café. Da terra recebi a cor escura do café, vinda da mãe misturada ao branco defunto do meu pai, comerciante português. Trago em mim o inconciliável e este é o meu motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu represento o talvez. Talvez é não para quem quer ouvir sim e significa sim para quem espera ouvir não. A culpa será minha se os homens exigem a pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me em sim ou em não? Ou são os homens que devem aceitar o talvez? Face a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raros são os outros, o Mundo é geralmente maniqueísta."
Mestiço vive  em um mundo que não aceita as diferenças, as misturas raciais, e Teoria luta para mostrar que tem valor, que não quer ser definido pela cor de sua pele pela sua aparência incerta. Esse motivo, esse seu motor como diz, é diferentes dos motivos dos outros personagens, que um a um vão nos contando suas razões. 
"Teoria sentia que o Comandante também tinha um segredo. Como cada um dos outros. E era esse segredo de cada um que os fazia combater, frequentemente por razões longínquas das afirmadas. Porquê Sem Medo abandonara o curso de Economia, em 1964, para entrar na guerrilha? Porquê o Comissário abandonara Caxisto, o pai velho e pobre camponês arruinado pelo roubo das terras de café?"
“Não somos [referindo-se aos membros do MPLA]bandidos. Somos soldados que estamos a lutar para que as árvores que vocês abatem sirvam o povo e não o estrangeiro. Estamos a lutar para que o petróleo de Cabinda sirva para enriquecer o povo e não os americanos. Mas como nós lutamos contra os colonialistas, e como os colonialistas sabem que, com a nossa vitória, eles perderão as riquezas que roubam ao povo, então eles dizem que somos bandidos, para que o povo tenha medo de nós e nos denuncie ao exército”.
Acontecimentos-
um ataque a um caminhão português, como foi feito o planejamento e ação dos guerrilheiros. Algo bem cinematográfico, no sentido de que é fácil de imaginar como os fatos estão ocorrendo, as batalhas, os reféns que durante o período preso com os guerrilheiros são bem tratados e ensinados sobre os ideais da luta.
-prisão de um combatente que trai o movimento no momento que rouba dinheiro de um dos reféns e como é seu julgamento; há a questão do avanço dos combatentes para um novo combate com portugueses;
-a traição de Ondina com um dos chefes do movimento que ficava na cidade e a desmoralização que se segue desse líder, o qual tem que sair do posto de governo e segue-se uma sequencia de alterações nos postos do comando. 
A fala individual de cada personagem- os conflitos do Tribalismo que as vezes fala mais alto do que o ideal de lutar pela libertação da Angola. Isso é nem criticado pelo Comandante Sem Medo, que por vezes fala que eles não devem se enxergar como Kigongo ou Umbundo, mas como um povo Angolano que luta pela sua paz e união. Outro personagem expressa esse ideal anti-tribalista de uma bela maneira: Trecho sobre Tribalismo na Angola
Descrição: Trecho sobre Tribalismo na Angola
O papel feminino nesse contexto de guerra, como a mulher repensa sua realidade e assume postos diferenciados, a mulher que é retratada é livre, desmistifica a imagem idealizada comumente associada ao feminino. Ondina e Leli são as duas mulheres que demonstram essa quebra de tabus no livro, elas afrontam o homem ao mostrar seus desejos e agir em função de seus ideiais e convicções. A seguir vou reproduzir um trecho de uma análise (retirada do site http://revista.benfazeja.com.br/):
" Em Mayombe, a mulher transita pelo mundo da política, da guerra e do golpe, enfim, o mundo masculino por excelência. Ondina, por conseguinte, tem plena consciência de que também deve fazer parte do embrionário processo revolucionário histórico, social e estético por que passa Angola. Essa adesão, porém, mostra-se mais complexa do que inicialmente poderia sugerir-se. Para essa mulher, aderir a um movimento revolucionário significa uma transformação que não se dará apenas na esfera superficial da sua existência como indivíduo: implicará em questões mais profundas e arraigadas no conjunto da sociedade; significa repensar e contestar o papel social reservado à mulher até então. Por tocar temas tabus nunca antes sequer discutidos pela sociedade, essa mudança manifestar-se-á de maneira mais radical e subversiva e, por isso, não encontrará respaldo no mundo masculino de seus iguais. "
Personagens = heróis do Movimento Guerrilheiro nos são apresentados como pessoas comuns, eles tem falhas, são pessoas como as outras, mas que fazem a luta seguir mesmo assim. Essa postura anti-idealizadora dos personagens foi motivo de polêmica pela crítica local, mas que o autor rebateu dizendo que essa era a intenção mesmo, mostrar as pessoas que compunham aquele combate.
Educação como arma política foi algo que me atraiu bastante na leitura, em alguns momentos certos guerrilheiros criticam os intelectuais que teoricamente não saberiam o que a guerra significaria de verdade, o que o sofrimento seria de verdade. Porém podemos ver no livro o quanto os líderes do movimento, seguindo um pouco um ideal revolucionário comunista, dizem que os guerrilheiros devem receber educação porque é através que não serão dominados, que conseguirão ser alguém na sociedade quando a guerra acabar. A seguir o trecho mostra uma fala do Comandante Sem Medo:
" As pessoas devem estudar, pois é a única maneira de poderem pensar sobre tudo com a sua cabeça e não com a cabeça dos outros. O homem tem de saber muito, sempre mais e mais, para poder conquistar a sua liberdade, para saber julgar. Se não percebes as palavras que eu pronuncio, como podes saber se estou a falar bem ou não? Terás de perguntar a outro. Dependes sempre de outro, não és livre. Por isso, toda a gente deve estudar. Mas aqui o camarada Mundo Novo é um ingénuo, pois que acredita que há quem estuda só para o bem do povo. É essa cegueira, esse idealismo, que faz cometer os maiores erros. Nada é desinteressado."
Um dos trechos mais poéticos do livro, quando fala-se do Mar :“A imensidão do mar que nada pode modificar ensinou-me a paciência. O mar une, o mar estreita, o mar liga. Nós também temos o nosso mar interior, que não é o Kuanza, nem o Loje, nem o Kunene. O nosso mar, feito de gotas-diamante, suores e lágrimas esmagados, o nosso mar é o brilho da arma bem oleada que faísca no meio da verdura do Mayombe, lançando fulgurações de diamante ao sol da Lunda”.