João Cabral de Melo Neto (1920
Recife – 1999-) -3º E.M. -GERAÇÃO DE 1945.
Academia
Brasileira de Letras; Poeta engenheiro-
preocupação quase geométrica com a
forma.
Passou
a infância em engenhos de açúcar em São Lourenço da Mata e Moreno
Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever: Jogam-se os grãos na água do alguidar E as palavras na da folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo; pois catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. Ora, nesse catar feijão entra um, risco o de que entre os grão pesados entre um grão imastigável, de quebrar dente. Certo não, quando ao catar palavras: a pedra dá à frase seu grão mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual, açula a atenção, isca-a com risco. João Cabral de Melo Neto |
Podemos
perceber que ele utiliza um simples ato do cotidiano, que é o de catar
feijão, e compara-o com a prática da escrita, ou seja, assim como os grãos
devem ser minuciosamente escolhidos, as palavras devem ser muito bem
articuladas para que haja clareza, no que se refere ao exercício da
linguagem. A afirmativa torna-se verídica ao analisarmos os seguintes versos: “Joga-se os grãos na água do alguidar E as palavras na folha de papel E depois, joga-se fora o que boiar.”
Dando
prioridade à análise da poesia
percebemos que o artista parece não dialogar com um leitor comum, mas
com os outros poetas. Podemos chamar isto de “Métrica do Intelecto”, no qual o “fazer poético” tem o
seu sublime destaque.
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Características:
Sua obra apresenta duas linhas-mestras:
1-a metapoética (=Poema em que o autor
fala sobre o próprio poema, a poesia e/ou seu processo de criação) A linha metapoética abrange os poemas de investigação do próprio fazer
poético. POEMA-
TECENDO A MANHÃ.
2- a participante(. = revela nítidos traços relacionados a questões sociais, tendo como “pano de fundo” o cenário nordestino. Contudo, tal habilidade é tamanha que o nobre poeta transforma essas questões (tais como a fome, miséria, a aridez do sertão) em elementos essencialmente poéticos, capturando-se em toda a sua essência, assim como fez em Morte e Vida Severina)
É o poeta da
pesquisa formal, da exatidão, da linguagem enxuta.
MORTE E VIDA SEVERINA( participante é aquela que tem como
tema o Nordeste, com todos os problemas voltados para a questão social, tais
como a miséria, a indigência, a fome, entre outros.)
Poesia
de rigor formal;
Todo seu trabalho
está marcado pela preocupação formal;
temas nacionais;
Sua linguagem se
entrega à sintaxe precisa, salpicada da vivência nordestina.
rigor técnico e o
ritmo impecável de seus versos,
Sua poética é
autoexplicativa e sua principal temática é a reflexão do fazer poético em que a
linguagem aparece reduzida ao essencial. Morte
e Vida Severina, "auto de Natal pernambucano", é, segundo
Alfredo Bosi, "o seu poema longo mais equilibrado entre rigor formal e
temática participante".
-poesia introspectiva, baseada na reflexão;
antissentimentalismo (rejeita
emoções, ruptura com o lirismo)
PRINCIPAIS
OBRAS
Poesia
1º livro- Pedra do Sono (1942)- presença do surrealismo.(irrealidade, sonho e sono.) Na
literatura dita surrealista, as
palavras deveriam ser escritas conforme viessem ao pensamento
sem seguir nenhuma estrutura coerente.
2º LIVRO-O Engenheiro (1945)-traz as
bases de sua nova concepção de poesia;
Psicologia da Composição, Fábula de Angion e
Antiode (1947); O Cão sem Plumas (1945); O
Rio (1954); Duas Águas, Morte
e Vida Severina, Paisagens
com Figuras e Uma Faca só
Lâmina (1956); Quaderna
(1960); Dois Parlamentos (1961);
Terceira Feira (1961); A Educação pela Pedra (1966); Poesias Completas (1940-1965),
(1968); Museu de Tudo (1976); Escola das Facas (1981); Serial e Antes e A Educação Pela Pedra e Depois
(1997).
Prosa
Considerações sobre o Poeta Dormindo (1950); Joan Miró (1950).
POEMA – “Morte e Vida Severina”, um auto de Natal de temática regionalista
escrito entre 1954 e 1955, é a obra-prima do poeta pernambucano João Cabral de
Melo Neto (1920 - 1999). O poeta, que nasceu no Recife, transformou em poesia
visceral a condição do retirante nordestino, sua morte social e miséria.
A obra é,
acima de tudo, uma ode ao pessimismo, aos dramas humanos e à indiscutível
capacidade de adaptação dos retirantes nordestinos. O poema choca pelo realismo
demonstrado na universalidade da condição miserável do retirante, desbancando a
identidade pessoal.
Resumo
Personagens
Severino é o narrador e personagem
principal, um retirante nordestino que foge para o litoral em busca de melhores
condições de vida.
Seu José, mestre carpina, é o
personagem que salva a vida de Severino, impedindo este de tomar sua própria
vida.
Resumo
Na abertura da peça, o retirante
Severino se apresenta à plateia e se dispõe a narrar sua trajetória. Sai do
sertão nordestino em direção ao litoral, em busca da vida que escasseava em sua
terra. Ao longo do caminho, mantém uma série de encontros com tipos
nordestinos. Logo de saída encontra os irmãos das almas, lavradores
encarregados de conduzir a um cemitério distante o corpo de um colega,
assassinado a mando de latifundiários. Aos poucos, assiste à seca do rio
Capiberibe, que Severino segue em sua viagem ao litoral. Passa por um lugarejo
e ouve uma cantoria vinda de uma casa. Trata-se do canto de excelências, isto
é, fúnebre, em honra a outro Severino morto.
Com a morte definitiva do rio,
Severino pensa em desistir de sua viagem, mas acaba por optar pelo
prosseguimento. Assim, planeja instalar-se naquele mesmo lugar. Conversando com
uma moradora, percebe que nenhuma das atividades que poderia desempenhar –
agricultura e pecuária – encontraria espaço ali, mas apenas aquelas ligadas à
morte, como rezadeira e coveiro.
Severino continua sua jornada e
passa pela Zona da Mata, região de relativa prosperidade no interior do sertão.
Encanta-se com a natureza verdejante do lugar, mas percebe ainda a presença da
morte ao testemunhar o funeral de um lavrador que se realiza no cemitério
local. Abandona o pensamento inicial de encerrar ali a busca que mantinha pela
vida e continua sua viagem.
Por fim, chega ao Recife, onde
resolve descansar ao pé de um muro. Trata-se de um cemitério, e Severino escuta
então o diálogo entre dois coveiros. Os trabalhadores conversam sobre o
trabalho que lhes dão os retirantes que saem de suas casas sertanejas para
morrer ali, fazendo-o ademais no seco e não no rio – o que lhes daria menos
serviço e mais sossego. Diante desse novo encontro com a morte, Severino
resolve entregar-se a ela e se matar, atirando-se em um dos rios que cortam a
cidade.
Ao se aproximar do rio, inicia um
diálogo com José, mestre carpina (carpinteiro), morador ribeirinho.
Pergunta-lhe se aquele ponto do rio era propício ao suicídio. O mestre responde
positivamente, mas tenta convencer o retirante a não se atirar. Severino pede
então que lhe dê uma única razão para não fazê-lo.
A resposta do mestre é
interrompida pelo anúncio do nascimento de seu filho. José o celebra com
vizinhos e conhecidos, recebe os presentes pobres que lhe trazem, ouve as
previsões pessimistas de duas ciganas a respeito do futuro da criança e, por
fim, recordando-se da pergunta de Severino, dispõe-se a respondê-la. Afirma
então que ele, José, não tem a resposta para a questão de saber se a vida vale
ou não a pena, mas que o nascimento de seu filho funciona como resposta,
representando a reafirmação da vida diante da morte.
Análise
João Cabral classificou sua peça
de auto de natal pernambucano, levando em conta tanto a forma popular
dos versos curtos, comuns nos autos medievais, quanto a circunstância de
tratar de um nascimento (natal) e de ambientar-se no sertão pernambucano.
O título promove uma proposital inversão entre vida e morte,
colocando esta em primeiro lugar. Essa troca da ordem natural indica os
encontros com a morte e a vitória da vida, no final.
Lembrete
Morte e Vida Severina é uma peça de teatro em versos. O autor
resgata uma forma popular – os versos curtos – para tratar de um assunto que
atingia particularmente o povo nordestino: a seca.
Além disso, o nome próprio Severina
é usado como adjetivo no título, sugerindo uma ampliação de sentido que é
confirmada logo nas primeiras palavras do retirante, que, ao tentar se
apresentar, evidencia que sua situação particular é, na verdade, uma metonímia
do que ocorre com outros sertanejos, igualmente vítimas da seca.
Em seu caminho em direção ao
litoral, Severino alterna diálogos e monólogos. Os primeiros representam os
encontros sucessivos com figuras simbólicas da morte – irmãos de almas,
carpideiras, rezadeiras, funeral –, inseridas no fundo social da peça, que é a disputa
pela terra. Já os monólogos mostram as reflexões do retirante, que tenta
redefinir seus rumos depois de cada diálogo.
Os pontos culminantes da
trajetória fatalista do retirante são a morte do rio cujo percurso ele
acompanha até o litoral – representação de um meio que se rende à morte como o
morador instalado nele – e o paradoxo do contato com ofícios que demonstram
vitalidade justamente porque associados à morte – rezadeira, coveiro,
farmacêutico etc.
A chegada à cidade é a desilusão
final do retirante. O diálogo travado entre os coveiros funciona como sua
sentença de rendição à morte, ato máximo de seu desespero. Por outro lado, o
nascimento de uma criança instala a contradição entre a opção de saltar fora da
vida, desistindo dela e a alternativa de agarrar-se à existência e resistir à
morte opressora. Nesse sentido, a simbologia da criança – para além de figurar
o nascimento de Cristo, em sua condição de filho de carpinteiro – abarca a
ideia da purificação, da limpeza de toda a podridão associada à morte.
A peça não resolve a contradição,
já que sua última fala é a do carpina propondo a vida a Severino, sem que se
saiba a opção feita por este. No entanto, o título da peça, que propõe o
encontro final com a vida, parece sugerir a vitória da resistência e da
insistência na esperança.
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