terça-feira, 25 de outubro de 2016

Claro Enigma - DRUMMOND - GERAÇÃO DE 30 -fases de Drummond, contexto histórico, resumo das partes.



Livro: Claro Enigma(1951) – DRUMMOND( MORREU 1987, DOZE DIAS APÓS A MORTE DE SUA FILHA)- GERAÇÃO DE 30
A fase gauche (1930-1940): - Eu maior que o mundo - poema, humor, piada. Período marcado pelo isolamento, individualismo, reflexões metapoéticas e existenciais, humor e ironia. Principais obras: Alguma poesia (1930) e Brejo das Almas (1934).
A fase social (1940-1945): - Eu menor que o mundo - poesia de ação. Representa as contradições entre o ser e o mundo. Há o abandono do individualismo e a tomada de postura histórico-engajada. Vale lembrar que falamos de um período de guerras e conturbação política nacional e mundial: Segunda Guerra Mundial, Ditadura de Getúlio Vargas, Nazifacismo. Principais obras: Sentimento do mundo (1940), José (1942) e A rosa do povo (1945).
A fase do não (1950-1960) - Eu igual ao mundo - poesia metafísica (Metafísica é uma palavra com origem no grego e que significa "o que está para além da física". É uma doutrina que busca o conhecimento da essência das coisas).
Período marcado pelo desencanto político.
O poeta se lança numa poesia reflexiva, filosófica e metafísica. Claro Enigma introduz essa vertente filosófica, pessimista e reflexiva, abordando morte e vida, infância e velhice, o amor e o tempo. Principais obras:
Claro Enigma (1951), Fazendeiro do ar (1955), Vida passada a limpo (1959) e Lição de coisas (1962).

A fase da memória (1970-1980): compreende o período de lembranças da infância na cidade natal Itabira, além de reflexões universais sobre o tempo e a memória. Principal obra: a série Boitempo (1973). Carlos Drummond de Andrade acabou com a estrutura tradicional da linguagem literária quando inventou uma palavra composta para dar nome aos seus poemas Memorialísticos: Boitempo.
Boitempo é uma pequena poesia de Carlos Drumond de Andrade que fala do tempo na roça delimitado pela rotina do gado ("... No gado é que dormimos e nele que acordamos... A lua chega no leite, morno esguicho das tetas e o dia é um pasto azul que o gado reconquista.").

Contexto histórico - DRUMMOND:

No final dos anos 1940 – período de composição dos poemas de Claro Enigma – vivia-se a Guerra Fria e a ameaça da bomba atômica. O mundo mergulhava em uma disputa ideológica envolvendo capitalismo e comunismo que, para além das diferenças entre as duas ideologias, revelavam os meandros dos regimes de força que as sustentavam. Para um poeta como Drummond, que sempre lutou pela liberdade, a percepção dessa identidade entre regimes ideologicamente tão distintos conduzia à perplexidade e ao pessimismo. A obra é incapaz de mudar a sociedade desigual. Ele se sente pequeno diante de um mundo tão errado, muito marcado pela Segunda Guerra Mundial e pela Guerra Fria”.
A obra representa uma fase muito específica do autor  - Drummond  tinha uma maturidade poética grande. Até 1950 vimos um Drummond preocupado em falar sobre as desigualdades do mundo. A partir da publicação do Claro Enigma, percebemos um Drummond mais introspectivo, uma poesia muito mais de estrutura clássica.
Drummond deixa suas influências modernistas e adota o formato clássico (sonetos).
O autor já não possui mais aquele perfil contestador de quem procura uma solução para os problemas. Agora, ele assume o papel reflexivo, simplesmente apresentando as questões, sem esperança.

Claro Enigma: introduz essa vertente filosófica, pessimista, metafísica  e reflexiva, abordando morte e vida, infância e velhice, o amor e o tempo.
Recursos literários e de linguagem
Formas clássicas: Uso do soneto; tercetos e versos dísticos(estrofe de dois versos)
Intertextualidade com poetas clássicos(CAMÕES, DANTE) e mitos greco-romanos; Influência da poesia classicista e simbolista. Busca de uma forma mais elaborada.
Recursos modernistas: Uso do verso livre; Períodos longos e prosaicos; Metapoesia; metalinguagem; Influência do Surrealismo (universo onírico(SONHOS), imaginativo).
Linguagem rebuscada.
O título´: O livro é constantemente marcado pela presença do conflito eu X mundo. As contradições permeiam a obra: o eu poético ora aparece recluso, fechado em si mesmo, ora se desnuda, aparece com ares mundanos.



O fusionismo, característica barroca, se mostra desde o título: a tentativa de união entre claro e escuro, o encontro e o desencontro, a aceitação e a negação. O título nos remete a um eu lírico de sentimentos indecifráveis, obscuros. Um enigma claro é um enigma esvaziado de sentido, morto, um falso enigma, é a negação da semântica como recurso de definição do eu.
Enigma: o incompreensível, de difícil explicação, o mistério- eu lírico de sentimentos indecifráveis, obscuros.
Claro: ausência de mistério, clareza. Ou seja, a negação do enigma. Desse modo, tem-se um eu que procura solucionar os mistérios do mundo, resolvê-los, pois entende assim a função do poeta. No entanto, após a leitura da obra, percebe-se que o enigma permanece sem resolução.
"Les événements m'ennuient"“Os acontecimentos me entediam “- a epígrafe que abre o livro, de autoria do poeta francês Paul Valéry (simbolista), prenuncia a temática que será dominante em Claro Enigma: a melancolia, a postura desencantada de um eu lírico que precisa enfrentar a vida sem falseamentos, sem ilusões.
O sujeito quer escancarar para si e para o mundo tudo o que a vida traz, buscando a essência das coisas. “Os acontecimentos me entediam”: é a resposta do sujeito cansado do aparente, do meramente visível. É a tentativa drummondiana de romper com a poesia engajada. Ao usar a frase, o poeta confessa seu asco perante a história, já que essa é feita de acontecimentos. Porém, pode-se questionar se esse desgosto frente a vida é contra a História ou a própria história do poeta mineiro. Se é um desabafo para penetrar no mais íntimo do seu ser, para se proteger do caos mundano ou para encontrar uma esperança para a vida. O leitor atento tem que perceber, no entanto, que Claro enigma também abriga uma série de poemas que parece desmentir a epígrafe tomada de Valéry. Trata-se, no caso, daquela série reunida numa seção nomeada “Selo de Minas”, que, com os versos de “Morte das casas de Ouro Preto”, “Museu da Inconfidência” ou “Os bens e o sangue”, registraram, a partir de diversos acontecimentos, algo muito específico: a percepção de feitos que, na história de Minas, antes de entediarem, terminaram provocando o espanto diante da frágil identidade entre o presente e o passado.
Esses poemas são divididos em 6 seções: (total de ____poemas)- reflexões sobre estar no mundo
1-Entre Lobo e Cão – com maior número de poemas: 18
Textos que expõe o extremismo e a binariedade; a solidão e a companhia (o autor apresenta o lobo, um animal selvagem e predador. Do outro, ele apresenta o cão, um animal domesticado, amigo do homem  e carinhoso.) É exatamente isso que Drummond faz: mostra os lados extremos ao retratar seus temas. Os substantivos comuns escritos com iniciais maiúsculas ( Lobo e Cão) tornam-se próprios fazendo supor também uma relação com as constelações, inscritas na bandeira nacional, representativas dos estados nacionais.
Característica de Drummond:o pessimismo (ao contar de suas decepções e seu luto).
Partes:
Dissolução: a imagem da noite, a decomposição, a desagregação. Poema de tom crepuscular, no qual o eu lírico aceita passivamente a escuridão, a ação demolidora do tempo. Esse poema insere o leitor na temática filosófica, existencial que permanecerá ao longo da obra.
Remissão: Já no primeiro verso a presença da metalinguagem “Tua memória, pasto de poesia”. Poema em tom de luto, pessimismo. É a memória o único alimento da poesia, essa que aparece às vezes como inútil. O poeta perdoa-se, é a sua remissão o ato de escrever, nada mais.
A ingaia ciência: negação do conhecimento e inutilidade do mesmo. A madureza/conhecimento é um presente assustador, pois tira o sabor da vida, a ingenuidade, a inocência, a surpresa de viver. Poema de tom melancólico, desiludido.
Legado: um dos mais importantes poemas dessa parte. É a reflexão do eu no mundo. Que fatos merecem ser lembrados no porvir? Eis o questionamento desse poema. No poema “Legado”, pode-se perceber com evidência o que se quer dizer com “contribuição para a construção ou o reforço de uma identidade coletiva”, ou a presença de um elemento novo acrescentado ao edifício da chamada “mineiridade”. Nesse poema o poeta faz alusão a outro, o famoso “No meio do caminho” (Alguma poesia, 1930), escândalo da época e que, segundo Drummond, dividiu as pessoas em duas categorias mentais, ficando, nas palavras do Poeta, como um legado seu. No fecho de “Legado”, o Poeta, aludindo no último verso ao polêmico poema publicado 21 anos antes, dá resposta às perguntas iniciais sobre o





que restaria de seu para a posteridade: Que lembrança darei ao país que me deu tudo o que lembro e sei, tudo quanto senti? (...) De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida, restará, pois o resto se esfuma, Uma pedra que havia em meio do caminho.

Confissão: Desde os primeiros versos desse poema, o eu lírico confessa sua ação fria diante do outro. O único afeto que deixou escapar de si foi destinado a um “aquele pássaro – vinha azul e doido –/ que se esfacelou na asa do avião”. O intenso pessimismo é marcado pela recorrência de palavras negativas: não, nem, sem.
Perguntas em forma de cavalo marinho: poema metalinguístico, o poeta questiona a forma, a métrica e o conteúdo do homem, seguindo-se a possibilidade de estarmos contidos em algo ou até mesmo se estamos de fato vivos.
Os animais do presépio: poema com forte tom bucólico, mas sem o elemento árcade do pastoralismo.
Sonetilho do falso Fernando Pessoa: Temática da duplicidade. Presença de dois “eus”: um que vive no presente da escrita e outro que, “morto”, vive nas recordações da infância em Itabira.
Um boi vê os homens: prosa poética: o olhar manso do boi gera a compaixão e a perplexidade diante do mundo do homem. O poeta segue assim a linha pessimista frente ao existencialismo humano. Memória: poema de conscientização da necessidade de amar tudo aquilo que se perde ou se vai no atrito do tempo. Somente as recordações ficarão e terão morada certa em nós.
A tela contemplada: Poema metalinguístico. O poeta associa o poema às artes plásticas. Como num poema parnasiano, repleto de descritivismo. Ser: poema com forte presença biográfica, já que fala de um filho que seria homem no tempo presente, não houvesse a morte o tragado. Drummond teve um filho, Carlos Flávio, que morreu logo após nascer.
Contemplação do branco: poema dividido em três partes. Um eu angustiado por não viver para contemplar a flor que brota num chão, talvez humanizado, no qual todos pisam.
Sonho de um sonho: atmosfera onírica, um sonho dentro do outro (construção em abismo). Os sonhos, no entanto, se apresentam falsos, desiludidos, o pessimismo próprio do mundo.
Cantiga de enganar: poema longo, de negação, de um mundo onde o poeta não se encontra. Poema de desabafo do eu oprimido para um interlocutor chamado de “meu bem”. A saída para a frustração é construir um mundo de palavras, de utopia. O “Mundo”, grafado com letra maiúscula no final do poema, representa o lugar ideal, produto do engano da “cantiga de enganar”.
Oficina irritada: poema metalinguístico. O poema como produto do trabalho, como pregavam os parnasianos. O último verso traz a nomeação do livro “claro enigma”.
Opaco: o leitor é colocado dentro da noite, mas o poeta não pode contemplá-la, já que o “edifício barra-me a vista”. A paisagem é urbana, com seus edifícios e motores.
Aspiração: poema que encerra a primeira parte. Escrita de recusas, desencantado. Intertextualidade com o poeta tcheco Rilke, de vertente existencialista.
2-Notícias Amorosas – com 7 poemas
São poemas que falam do amor inalcançável. Drummond constrói uma imagem romântica do amor, mas destaca que ele não poderá ser vivido. Ideia de sofrimento e dificuldade em cima desse sentimento.
Parte dedicada à temática amorosa. Contudo, o amor descrito é o do desencontro, reflexões sobre o amor que é sinônimo do eu ˖ tu. Amores de contemplação e de sofrimento.
Amar: amor como condição humana, da qual não se pode correr, mesmo em face daquilo que parece não seduzir “e amar o inóspito, o áspero/um vaso sem flor, um chão de ferro”.
Entre o ser e as coisas: no cenário poético, o eu se divide entre a contemplação do mar e do amor. Logo, o amor que encanta também faz sofrer, restando a melancolia do fim do dia (mais uma cena de crepúsculo).
Tarde de maio: poema prosaico: na presença de uma chuva que traz vida, o eu poético dialoga com a tarde de maio sobre o fracasso de um encontro amoroso. O amor como sinônimo de dor, de desgosto. Fraga e sombra: a noite aparece aqui como matéria para a arte. O amor, entre sombras e despenhadeiros, belo e paradoxal, é dor e beleza, que o mundo não entende.
Canção para álbum de moça: poema única estrofe. O eu lírico divide sei bom dia a uma moça distante e espera uma resposta dela. No entanto, a moça permanece indiferente. O amor tímido está envolto em um estado de escuridão, prenunciado pela imagem da noite.
Rapto: poema que demonstra “outra forma de amor”; amor homoerótico. Representa o mergulho da águia sobre sua presa. O poema pode se referir ao mito grego do rapto de Ganimedes pela águia de Zeus, desejoso de possuir o rapaz.





Campo de flores: poema do amor maduro. O amor descrito “talhado em penumbra”, luz e escuridão se fundem diante desse amor maduro, repleto de esperanças, tal como a imagem das flores.


3-O Menino e os Homens – com 4 poemas
Será nessa seção que entram os poemas feitos com nostalgia e saudade. Ele retrata amigos e familiares.
Porém, com sua típica visão pessimista, ele questiona como é que as pessoas podem aproveitar sua vida, já que o fim de todos será a morte.


Aqui, o que permeia a escrita Drummondiana são os poemas memorialísticos: é a lembrança de entes falecidos, amigos e irmãos. Permanece o tom pessimista, negativo.
A um varão que acaba de nascer: o poema traz a imagem de um menino que nasce e de um amigo que morre. A vida e a morte, duas faces antagônicas da vida. Aquele que vem ao mundo é Pedro, a quem o eu lírico chama de irmão.
O chamado: poema dedicado à Manuel Bandeira. Referências à Pasárgada, por exemplo, marcam esse apontamento. O eu poético, observador, vê o poeta caminhar. Há um rápido diálogo entre os dois, quando o eu lírico questiona para aonde vai o poeta e Bandeira responde: “Ao meu destino”.
Quintana’s bar: poema prosaico, no qual o eu lírico encontra Mário Quintana num bar. Há uma teia de aranha sendo desenhada, a qual pode remeter ao próprio trabalho literário, profissão dos dois autores. Há referência intertextual através da citação de autores famoso.
Aniversário: aniversário de morte e não de nascimento. É a lembrança da morte de Mário de Andrade, poeta com quem Drummond trocou cartas durante bom tempo.

4- Selo de Minas – com 4 poemas
A seção com 4 poemas é autobiográfica. Drummond conta sobre sua terra natal Minas Gerais e apresenta sua família ao leitor.
Parte autobiográfica. Traça o percurso pelos caminhos mineiros, especialmente a Minas do período colonial. Duas temáticas predominantes: Minas e família Drummond.
Evocação Mariana: o poema é uma memoração de um rito religioso, com a descrição da cidade mineira Mariana.
Estampa de Vila Rica: poema dividido em cinco partes, numeradas por algarismos romanos.
Parte I: Carmo: representa o desejo de preservar os elementos da Igreja Nossa Senhora do Carmo.
Parte II: São Francisco: o poeta se deslumbra frente a beleza das obras de Aleijadinho e Mestre Athayde, representantes da arte barroca da época.
Parte III: Mercês de cima: contraste entre o profano e o sagrado, o sensual e o espiritual, isso na imagem da prostituta posta em frente a igreja.
Parte IV: Hotel Toffolo: necessidade de saciar a fome interior, referência à antropofagia.
Parte V: tentativa de reconstruir, por meio da memória, o passado da cidade de Ouro Preto, palco de cenas tão importantes para a história nacional. Morte nas casas de Ouro Preto: lamento sobre a destruição que o tempo e os fenômenos naturais operam sobre as casas (monumentos e valores) de Ouro Preto. A chuva aqui traz a ruína, a demolição das casas é uma metáfora da própria história. Há uma referência à poética de Claudio Manoel da Costa no verso: “Sobre a ponte, sobre a pedra/sobre a cambraia de Nize” (Nize, musa inspiradora do poeta árcade).
Canto negro: mostra o tempo de infância, tempo escravocrata, em que fora amamentado pelas negras. O eu lírico se encontra com vários “pretos” que marcaram sua trajetória.
Os bens e o sangue: dividido em oito partes, o poema mistura narração e poesia, para falar da decadência financeira da família. Poema explicitamente autobiográfico, pois relata uma patilha de bens realmente ocorrida em 1847. O título remete à riqueza e dor. Tem-se um sujeito preso à um passado familiar maldito, o que ecoará em toda a sua vida de poeta esquerdo, gauche.
5-Lábios Cerrados – com 6 poemas
O vestibulando vai encontrar poemas sobre pessoas que já morreram, mas que ficarão sempre vivas e atuais na lembrança do autor.








Drummond fala sobre a ausência de pessoas importantes e apresenta o tempo como uma possível solução para seu sofrimento.
Parte que trata da memória da família Drummond. Cerrar os lábios é sinônimo de silêncio, mudez. É o silêncio da memória, especialmente nas lembranças do pai. Há também uma reflexão sobre o tempo e a aceitação da morte.
Convívio: poema prosaico. Discorre sobre a memória: aqueles que se foram, mas que sobrevivem nas lembranças. A presença/ausência dos mortos.
Permanência: também em tom prosaico, segue o mesmo tema do anterior: os mortos que sobrevivem na lembrança dos vivos.
Perguntas: o eu lírico pergunta a seu fantasma q razão de estar um preso ao outro. O presente preso ao passado.
Carta: o poeta deseja escrever uma carta, em tom confessional, dizendo que ama, que deseja rever o destinatário... Mas o tempo passa e o eu lírico ainda espera resposta.
Encontro: o sujeito lírico se encontra com o pai já morto, o ente que se perdeu na vida, mas que foi resgatado no sonho pela imaginação.
A mesa: poema longo, de uma única estrofe. Assim como Encontro, é uma homenagem ao pai morto. O poeta planeja uma festa para o pai, em que todos os parentes de uma mesa, comemorariam os noventa anos do velho pai. Vê-se a descrição da família patriarcal mineira, onde a mãe é emudecida. O poema termina com o fim da cena imaginária: o vazio da alma, presente só a lembrança.
6- Máquina do Mundo – com 2 poemas
A última seção da coletânea discute o futuro do homem dentre de uma sociedade estabelecida. O poeta apresenta uma série de soluções, mas logo as desconsidera.
A seção ganha o nome de seu texto eleito como o melhor poema brasileiro do século XX, pelo jornal Folha de S. Paulo.
Parte final da obra, fala sobre o homem e seu estar no mundo. As interrogações de toda a obra estão aqui presentes, sendo oferecidas as soluções, as quais o poeta recusa: afinal, são os questionamentos que movem a vida.
A máquina do mundo: Um dos maiores poemas de Carlos Drummond de Andrade é “A Máquina do Mundo”. A ideia de que o mundo era uma máquina esteve em voga desde a Antiguidade até a Renascença. No poema de Drummond, a máquina do mundo abre-se para o poeta em determinado momento, oferecendo-lhe uma “total explicação da vida”. Quando isso ocorre, ele, que por longo tempo havia buscado exatamente essa explicação, enigmaticamente a desdenha. Por quê? O poeta não só não acredita mais na possibilidade de tal explicação como não mais a deseja. Se, na Idade Média, a máquina do mundo ainda parecia capaz de se abrir, é porque era tida como finita e fechada. Camões, na Renascença, no canto X, ainda a descreve como um rotundo globo cercado por Deus. Se o poeta desdenha “colher a coisa oferta/que se abria gratuita” a seu engenho, é que a razão já lhe mostrou que a aceitação de uma “total explicação do mundo” não pode ser senão o mergulho em mais uma ilusão, que inevitavelmente lhe custará mais uma desilusão. É, pois, com ironia que chama de “gratuita” a “coisa oferta”, no momento mesmo em que explica havê-la desdenhado, “incurioso e lasso”. Segundo ele, um dom tão dúbio e tardio –não apenas em relação à idade individual do poeta, mas, principalmente, em relação à época moderna do mundo- já não lhe era “apetecível, antes despiciendo”. Sem abrir mão da sua liberdade e ironia, avaliando o que perdeu ao abandonar o mundo fechado, o poeta segue o seu caminho “de mãos pensas” ou, como se lê no poema “Legado”, “a vagar taciturno entre o talvez e o se”. Relógio do rosário: esse poema se liga diretamente ao anterior. O relógio da igreja remete ao tempo e o olho do poeta, a consciência. É o choro do mundo misturado ao seu próprio choro. São as dores de existir e de amar em suas diversas vertentes: o social, a memória, a morte, a condição humana.
Aqui, o poeta recusa as respostas propostas, levando consigo as respostas ausentes.








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