Livro:
Claro Enigma(1951) – DRUMMOND( MORREU 1987, DOZE DIAS APÓS A MORTE DE SUA
FILHA)- GERAÇÃO DE 30
A fase gauche (1930-1940): - Eu maior que o mundo - poema, humor, piada.
Período marcado pelo isolamento, individualismo, reflexões metapoéticas e
existenciais, humor e ironia. Principais obras: Alguma poesia (1930) e Brejo
das Almas (1934).
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A fase social (1940-1945): - Eu menor que o mundo - poesia de ação.
Representa as contradições entre o ser e o mundo. Há o abandono do
individualismo e a tomada de postura histórico-engajada. Vale lembrar que
falamos de um período de guerras e conturbação política nacional e mundial:
Segunda Guerra Mundial, Ditadura de Getúlio Vargas, Nazifacismo. Principais
obras: Sentimento do mundo (1940), José (1942) e A rosa do povo (1945).
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A fase
do não (1950-1960) - Eu
igual ao mundo - poesia metafísica (Metafísica
é uma palavra com origem no grego e que significa "o que está para além
da física". É uma doutrina que busca o conhecimento da essência das
coisas).
Período marcado pelo desencanto político.
O poeta se lança numa poesia reflexiva, filosófica e metafísica.
Claro Enigma introduz essa vertente filosófica, pessimista e reflexiva,
abordando morte e vida, infância e velhice, o amor e o tempo. Principais
obras:
Claro
Enigma (1951), Fazendeiro
do ar (1955), Vida passada a limpo (1959) e Lição de coisas (1962).
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A fase
da memória (1970-1980):
compreende o período de lembranças da infância na cidade natal Itabira, além
de reflexões universais sobre o tempo e a memória. Principal obra: a série
Boitempo (1973). Carlos Drummond de Andrade acabou com a estrutura
tradicional da linguagem literária quando inventou uma palavra composta para
dar nome aos seus poemas Memorialísticos:
Boitempo.
Boitempo é uma pequena
poesia de Carlos Drumond de Andrade que fala do tempo na roça delimitado pela
rotina do gado ("... No gado é que dormimos e nele que acordamos... A
lua chega no leite, morno esguicho das tetas e o dia é um pasto azul que o
gado reconquista.").
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Contexto histórico
- DRUMMOND:
No final dos anos 1940 – período de composição dos poemas
de Claro Enigma – vivia-se a Guerra
Fria e a ameaça da bomba atômica.
O mundo mergulhava em uma disputa
ideológica envolvendo capitalismo e
comunismo que, para além das diferenças entre as duas ideologias, revelavam
os meandros dos regimes de força que as sustentavam. Para um poeta como
Drummond, que sempre lutou pela liberdade, a percepção dessa identidade entre
regimes ideologicamente tão distintos conduzia à perplexidade e ao pessimismo. A obra é incapaz de mudar a sociedade desigual. Ele se sente pequeno diante de um mundo tão
errado, muito marcado pela Segunda Guerra Mundial e pela Guerra Fria”.
A obra representa uma fase muito
específica do autor - Drummond tinha uma maturidade poética grande. Até 1950
vimos um Drummond preocupado em falar sobre as desigualdades do mundo. A
partir da publicação do Claro Enigma, percebemos um Drummond mais
introspectivo, uma poesia muito mais de estrutura clássica.
Drummond deixa suas influências
modernistas e adota o formato clássico (sonetos).
O autor já não possui mais aquele
perfil contestador de quem procura uma solução para os problemas. Agora, ele
assume o papel reflexivo, simplesmente apresentando as questões, sem esperança.
Claro
Enigma: introduz essa vertente filosófica,
pessimista, metafísica e reflexiva,
abordando morte e vida, infância e velhice, o amor e o tempo.
Recursos literários e de
linguagem
Formas
clássicas: Uso do soneto; tercetos e versos dísticos(estrofe de dois
versos)
Intertextualidade
com poetas clássicos(CAMÕES, DANTE) e mitos greco-romanos; Influência da
poesia classicista e simbolista. Busca de uma forma mais elaborada.
Recursos
modernistas: Uso do verso livre; Períodos longos e prosaicos; Metapoesia;
metalinguagem; Influência do Surrealismo (universo onírico(SONHOS), imaginativo).
Linguagem rebuscada.
O título´:
O livro é constantemente marcado
pela presença do conflito eu X mundo. As contradições permeiam a obra: o eu
poético ora aparece recluso, fechado em si mesmo, ora se desnuda, aparece com
ares mundanos.
O fusionismo, característica barroca, se mostra desde o título: a
tentativa de união entre claro e escuro, o encontro e o desencontro, a
aceitação e a negação. O título nos remete a um eu lírico de sentimentos
indecifráveis, obscuros. Um enigma claro é um enigma esvaziado de sentido, morto,
um falso enigma, é a negação da semântica como recurso de definição do eu.
Enigma: o incompreensível, de difícil explicação, o
mistério- eu lírico de sentimentos indecifráveis, obscuros.
Claro: ausência de mistério, clareza. Ou seja, a negação
do enigma. Desse modo, tem-se um eu que procura solucionar os mistérios do
mundo, resolvê-los, pois entende assim a função do poeta. No entanto, após a
leitura da obra, percebe-se que o enigma permanece sem resolução.
"Les événements m'ennuient"“Os
acontecimentos me entediam “- a epígrafe que abre o livro, de
autoria do poeta francês Paul Valéry (simbolista), prenuncia a temática que será
dominante em Claro Enigma: a melancolia, a postura desencantada de
um eu lírico que precisa enfrentar a vida sem falseamentos, sem ilusões.
O sujeito quer escancarar para si
e para o mundo tudo o que a vida traz, buscando a essência das coisas. “Os
acontecimentos me entediam”: é a resposta do sujeito cansado do aparente, do
meramente visível. É a tentativa
drummondiana de romper com a poesia engajada. Ao usar a frase, o poeta
confessa seu asco perante a história, já que essa é feita de acontecimentos.
Porém, pode-se questionar se esse desgosto frente a vida é contra a História ou
a própria história do poeta mineiro. Se é um desabafo para penetrar no mais
íntimo do seu ser, para se proteger do caos mundano ou para encontrar uma
esperança para a vida. O leitor atento tem que perceber, no entanto, que Claro
enigma também abriga uma série de poemas que parece desmentir a epígrafe tomada
de Valéry. Trata-se, no caso, daquela série reunida numa seção nomeada “Selo de Minas”, que, com os versos de
“Morte das casas de Ouro Preto”, “Museu da Inconfidência” ou “Os bens e o
sangue”, registraram, a partir de diversos acontecimentos, algo muito
específico: a percepção de feitos que, na história de Minas, antes de
entediarem, terminaram provocando o espanto diante da frágil identidade entre o
presente e o passado.
Esses poemas são divididos em 6
seções: (total de ____poemas)- reflexões sobre estar no mundo
1-Entre
Lobo e Cão – com
maior número de poemas: 18
Textos que expõe o extremismo e
a binariedade; a solidão e a companhia
(o autor apresenta o lobo, um
animal selvagem e predador. Do outro, ele apresenta o cão, um animal
domesticado, amigo do homem e carinhoso.)
É exatamente isso que Drummond faz: mostra
os lados extremos ao retratar seus temas. Os substantivos comuns escritos
com iniciais maiúsculas ( Lobo e Cão) tornam-se próprios fazendo supor também
uma relação com as constelações, inscritas na bandeira nacional,
representativas dos estados nacionais.
Característica
de Drummond:o pessimismo (ao contar de suas decepções e seu luto).
Partes:
Dissolução: a imagem da noite, a decomposição, a
desagregação. Poema de tom crepuscular, no qual o eu lírico aceita
passivamente a escuridão, a ação demolidora do tempo. Esse poema insere o
leitor na temática filosófica, existencial que permanecerá ao longo da obra.
Remissão: Já no primeiro verso a presença da metalinguagem
“Tua memória, pasto de poesia”. Poema em tom de luto, pessimismo. É a memória
o único alimento da poesia, essa que aparece às vezes como inútil. O poeta
perdoa-se, é a sua remissão o ato de escrever, nada mais.
A
ingaia ciência:
negação do conhecimento e inutilidade do mesmo. A madureza/conhecimento é um
presente assustador, pois tira o sabor da vida, a ingenuidade, a inocência, a
surpresa de viver. Poema de tom melancólico, desiludido.
Legado:
um dos mais importantes poemas dessa parte. É a reflexão do eu no mundo. Que fatos merecem ser lembrados no
porvir? Eis o questionamento desse poema. No poema “Legado”, pode-se perceber com evidência o que se quer dizer com
“contribuição para a construção ou o reforço de uma identidade coletiva”, ou
a presença de um elemento novo acrescentado ao edifício da chamada
“mineiridade”. Nesse poema o poeta faz alusão a outro, o famoso “No meio do
caminho” (Alguma poesia, 1930), escândalo da época e que, segundo Drummond,
dividiu as pessoas em duas categorias mentais, ficando, nas palavras do
Poeta, como um legado seu. No fecho de “Legado”, o Poeta, aludindo no último
verso ao polêmico poema publicado 21 anos antes, dá resposta às perguntas
iniciais sobre o
que restaria de seu para a
posteridade: Que lembrança darei ao país que me deu tudo o que lembro e sei,
tudo quanto senti? (...) De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida,
restará, pois o resto se esfuma, Uma
pedra que havia em meio do caminho.
Confissão: Desde os primeiros versos desse poema, o eu
lírico confessa sua ação fria diante do outro. O único afeto que deixou
escapar de si foi destinado a um “aquele pássaro – vinha azul e doido –/ que
se esfacelou na asa do avião”. O intenso pessimismo é marcado pela
recorrência de palavras negativas: não, nem, sem.
Perguntas
em forma de cavalo marinho: poema
metalinguístico, o poeta questiona a forma, a métrica e o conteúdo do homem,
seguindo-se a possibilidade de estarmos contidos em algo ou até mesmo se
estamos de fato vivos.
Os
animais do presépio: poema
com forte tom bucólico, mas sem o elemento árcade do pastoralismo.
Sonetilho
do falso Fernando Pessoa:
Temática da duplicidade. Presença de dois “eus”: um que vive no presente da
escrita e outro que, “morto”, vive nas recordações da infância em Itabira.
Um boi
vê os homens: prosa poética: o olhar manso do boi
gera a compaixão e a perplexidade diante do mundo do homem. O poeta segue
assim a linha pessimista frente ao existencialismo humano. Memória: poema de conscientização da
necessidade de amar tudo aquilo que se perde ou se vai no atrito do tempo.
Somente as recordações ficarão e terão morada certa em nós.
A tela
contemplada: Poema
metalinguístico. O poeta associa o poema às artes plásticas. Como num poema
parnasiano, repleto de descritivismo. Ser: poema com forte presença
biográfica, já que fala de um filho que seria homem no tempo presente, não
houvesse a morte o tragado. Drummond teve um filho, Carlos Flávio, que morreu
logo após nascer.
Contemplação
do branco: poema dividido em três
partes. Um eu angustiado por não viver para contemplar a flor que brota num
chão, talvez humanizado, no qual todos pisam.
Sonho
de um sonho:
atmosfera onírica, um sonho dentro do outro (construção em abismo). Os
sonhos, no entanto, se apresentam falsos, desiludidos, o pessimismo próprio
do mundo.
Cantiga
de enganar: poema
longo, de negação, de um mundo onde o poeta não se encontra. Poema de
desabafo do eu oprimido para um interlocutor chamado de “meu bem”. A saída
para a frustração é construir um mundo de palavras, de utopia. O “Mundo”,
grafado com letra maiúscula no final do poema, representa o lugar ideal,
produto do engano da “cantiga de enganar”.
Oficina
irritada: poema metalinguístico. O
poema como produto do trabalho, como pregavam os parnasianos. O último verso
traz a nomeação do livro “claro enigma”.
Opaco: o leitor é colocado dentro da noite, mas o
poeta não pode contemplá-la, já que o “edifício barra-me a vista”. A paisagem
é urbana, com seus edifícios e motores.
Aspiração: poema que encerra a primeira parte. Escrita de
recusas, desencantado. Intertextualidade com o poeta tcheco Rilke, de
vertente existencialista.
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2-Notícias Amorosas – com 7 poemas
São poemas
que falam do amor inalcançável. Drummond constrói uma imagem romântica do
amor, mas destaca que ele não poderá ser vivido. Ideia de sofrimento e
dificuldade em cima desse sentimento.
Parte dedicada à temática
amorosa. Contudo, o amor descrito é o do desencontro, reflexões sobre o amor
que é sinônimo do eu ˖ tu. Amores de contemplação e de sofrimento.
Amar: amor como condição humana, da qual não se pode
correr, mesmo em face daquilo que parece não seduzir “e amar o inóspito, o
áspero/um vaso sem flor, um chão de ferro”.
Entre o
ser e as coisas: no
cenário poético, o eu se divide entre a contemplação do mar e do amor. Logo,
o amor que encanta também faz sofrer, restando a melancolia do fim do dia
(mais uma cena de crepúsculo).
Tarde
de maio: poema prosaico: na presença de uma chuva que traz vida, o eu
poético dialoga com a tarde de maio sobre o fracasso de um encontro amoroso.
O amor como sinônimo de dor, de desgosto. Fraga e sombra: a noite aparece aqui como matéria para a arte. O
amor, entre sombras e despenhadeiros, belo e paradoxal, é dor e beleza, que o
mundo não entende.
Canção
para álbum de moça: poema
única estrofe. O eu lírico divide sei bom dia a uma moça distante e espera
uma resposta dela. No entanto, a moça permanece indiferente. O amor tímido
está envolto em um estado de escuridão, prenunciado pela imagem da noite.
Rapto: poema que demonstra “outra forma de amor”; amor
homoerótico. Representa o mergulho da águia sobre sua presa. O poema pode se
referir ao mito grego do rapto de Ganimedes pela águia de Zeus, desejoso de
possuir o rapaz.
Campo
de flores: poema
do amor maduro. O amor descrito “talhado em penumbra”, luz e escuridão se
fundem diante desse amor maduro, repleto de esperanças, tal como a imagem das
flores.
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3-O Menino e os Homens – com 4 poemas
Será nessa seção que entram os
poemas feitos com nostalgia e saudade. Ele retrata amigos e familiares.
Porém, com sua típica visão
pessimista, ele questiona como é que as pessoas podem aproveitar sua vida, já
que o fim de todos será a morte.
Aqui, o que permeia a escrita
Drummondiana são os poemas memorialísticos: é a lembrança de entes falecidos,
amigos e irmãos. Permanece o tom pessimista, negativo.
A um varão
que acaba de nascer: o
poema traz a imagem de um menino que nasce e de um amigo que morre. A vida e
a morte, duas faces antagônicas da vida. Aquele que vem ao mundo é Pedro, a
quem o eu lírico chama de irmão.
O
chamado: poema dedicado à Manuel Bandeira.
Referências à Pasárgada, por exemplo, marcam esse apontamento. O eu poético,
observador, vê o poeta caminhar. Há um rápido diálogo entre os dois, quando o
eu lírico questiona para aonde vai o poeta e Bandeira responde: “Ao meu
destino”.
Quintana’s
bar: poema prosaico, no qual o eu
lírico encontra Mário Quintana num bar. Há uma teia de aranha sendo
desenhada, a qual pode remeter ao próprio trabalho literário, profissão dos
dois autores. Há referência intertextual através da citação de autores
famoso.
Aniversário: aniversário de morte e não de nascimento. É a
lembrança da morte de Mário de Andrade, poeta com quem Drummond trocou cartas
durante bom tempo.
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4- Selo
de Minas – com 4 poemas
A seção com 4 poemas é
autobiográfica. Drummond conta sobre sua terra natal Minas Gerais e apresenta
sua família ao leitor.
Parte autobiográfica. Traça o
percurso pelos caminhos mineiros, especialmente a Minas do período colonial.
Duas temáticas predominantes: Minas e família Drummond.
Evocação
Mariana: o poema é uma memoração de um
rito religioso, com a descrição da cidade mineira Mariana.
Estampa
de Vila Rica: poema dividido em cinco partes,
numeradas por algarismos romanos.
Parte I: Carmo: representa o
desejo de preservar os elementos da Igreja Nossa Senhora do Carmo.
Parte II: São Francisco: o
poeta se deslumbra frente a beleza das obras de Aleijadinho e Mestre Athayde,
representantes da arte barroca da época.
Parte III: Mercês de cima:
contraste entre o profano e o sagrado, o sensual e o espiritual, isso na
imagem da prostituta posta em frente a igreja.
Parte IV: Hotel Toffolo:
necessidade de saciar a fome interior, referência à antropofagia.
Parte V: tentativa de
reconstruir, por meio da memória, o passado da cidade de Ouro Preto, palco de
cenas tão importantes para a história nacional. Morte nas casas de Ouro
Preto: lamento sobre a destruição que o tempo e os fenômenos naturais operam
sobre as casas (monumentos e valores) de Ouro Preto. A chuva aqui traz a
ruína, a demolição das casas é uma metáfora da própria história. Há uma
referência à poética de Claudio Manoel da Costa no verso: “Sobre a ponte,
sobre a pedra/sobre a cambraia de Nize” (Nize, musa inspiradora do poeta
árcade).
Canto
negro: mostra o tempo de infância,
tempo escravocrata, em que fora amamentado pelas negras. O eu lírico se
encontra com vários “pretos” que marcaram sua trajetória.
Os bens
e o sangue:
dividido em oito partes, o poema mistura narração e poesia, para falar da
decadência financeira da família. Poema explicitamente autobiográfico, pois
relata uma patilha de bens realmente ocorrida em 1847. O título remete à
riqueza e dor. Tem-se um sujeito preso à um passado familiar maldito, o que
ecoará em toda a sua vida de poeta esquerdo, gauche.
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5-Lábios
Cerrados – com 6 poemas
O
vestibulando vai encontrar poemas sobre pessoas que já morreram, mas que
ficarão sempre vivas e atuais na lembrança do autor.
Drummond
fala sobre a ausência de pessoas importantes e apresenta o tempo como uma
possível solução para seu sofrimento.
Parte que trata da memória da
família Drummond. Cerrar os lábios é sinônimo de silêncio, mudez. É o
silêncio da memória, especialmente nas lembranças do pai. Há também uma
reflexão sobre o tempo e a aceitação da morte.
Convívio: poema prosaico. Discorre sobre a memória:
aqueles que se foram, mas que sobrevivem nas lembranças. A presença/ausência
dos mortos.
Permanência:
também em tom prosaico, segue o
mesmo tema do anterior: os mortos que sobrevivem na lembrança dos vivos.
Perguntas: o eu lírico pergunta a seu fantasma q razão de
estar um preso ao outro. O presente preso ao passado.
Carta: o poeta deseja escrever uma carta, em tom
confessional, dizendo que ama, que deseja rever o destinatário... Mas o tempo
passa e o eu lírico ainda espera resposta.
Encontro: o sujeito lírico se encontra com o pai já morto,
o ente que se perdeu na vida, mas que foi resgatado no sonho pela imaginação.
A mesa: poema longo, de uma única estrofe. Assim como
Encontro, é uma homenagem ao pai morto. O poeta planeja uma festa para o pai,
em que todos os parentes de uma mesa, comemorariam os noventa anos do velho
pai. Vê-se a descrição da família patriarcal mineira, onde a mãe é emudecida.
O poema termina com o fim da cena imaginária: o vazio da alma, presente só a
lembrança.
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6- Máquina do Mundo – com 2 poemas
A última seção da coletânea discute o futuro do homem dentre de uma sociedade estabelecida. O poeta apresenta uma série de soluções, mas logo as desconsidera.
A seção ganha o nome de seu
texto eleito como o melhor poema brasileiro do século XX, pelo jornal Folha
de S. Paulo.
Parte final da obra, fala sobre
o homem e seu estar no mundo. As interrogações de toda a obra estão aqui
presentes, sendo oferecidas as soluções, as quais o poeta recusa: afinal, são
os questionamentos que movem a vida.
A máquina
do mundo: Um dos maiores poemas de
Carlos Drummond de Andrade é “A Máquina do Mundo”. A ideia de que o mundo era
uma máquina esteve em voga desde a Antiguidade até a Renascença. No poema de
Drummond, a máquina do mundo abre-se para o poeta em determinado momento,
oferecendo-lhe uma “total explicação da vida”. Quando isso ocorre, ele, que
por longo tempo havia buscado exatamente essa explicação, enigmaticamente a
desdenha. Por quê? O poeta não só não acredita mais na possibilidade de tal
explicação como não mais a deseja. Se, na Idade Média, a máquina do mundo
ainda parecia capaz de se abrir, é porque era tida como finita e fechada.
Camões, na Renascença, no canto X,
ainda a descreve como um rotundo globo cercado por Deus. Se o poeta desdenha “colher
a coisa oferta/que se abria gratuita” a seu engenho, é que a razão já lhe
mostrou que a aceitação de uma “total explicação do mundo” não pode ser senão
o mergulho em mais uma ilusão, que inevitavelmente lhe custará mais uma
desilusão. É, pois, com ironia que chama de “gratuita” a “coisa oferta”, no
momento mesmo em que explica havê-la desdenhado, “incurioso e lasso”. Segundo
ele, um dom tão dúbio e tardio –não apenas em relação à idade individual do
poeta, mas, principalmente, em relação à época moderna do mundo- já não lhe
era “apetecível, antes despiciendo”. Sem abrir mão da sua liberdade e ironia,
avaliando o que perdeu ao abandonar o mundo fechado, o poeta segue o seu
caminho “de mãos pensas” ou, como se lê no poema “Legado”, “a vagar taciturno
entre o talvez e o se”. Relógio do
rosário: esse poema se liga diretamente ao anterior. O relógio da igreja
remete ao tempo e o olho do poeta, a consciência. É o choro do mundo
misturado ao seu próprio choro. São as dores de existir e de amar em suas
diversas vertentes: o social, a memória, a morte, a condição humana.
Aqui, o poeta recusa as
respostas propostas, levando consigo as respostas ausentes.
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muito bomm
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