LÍNGUA
PORTUGUESA
Professora: Bernadete |
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Ano/Série |
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Bimestre |
P3 |
“NEGRINHA” de Monteiro Lobato(1920 ) |
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8 º E.F. |
06 / 03 /2020 |
1º |
LITERATURA |
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Formar 3 grupos.
Valor em grupo 5,0
Leia o conto Negrinha Monteiro Lobato
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos
ruços e olhos assustados . Nascera na senzala, de mãe
escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha,
sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não
gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa.
Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e
camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira
de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário,
dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de
grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o
reverendo. Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai!
Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro
da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia.
Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa: — Quem é a peste que está
chorando aí? Quem havia de ser? A pia de
lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da
filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em
caminho beliscões de desespero. — Cale a boca, diabo! No entanto, aquele choro nunca
vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem pés e mãos
e fazem-nos doer... Assim cresceu Negrinha — magra,
atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali
ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a ideia dos
grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato,
a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas
quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando
as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta. — Sentadinha aí, e bico, hein? Negrinha imobilizava-se no
canto, horas e horas. — Braços cruzados, já, diabo! Cruzava os bracinhos a tremer,
sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o relógio batia uma, duas,
três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento
vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as
asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante. Puseram-na depois a fazer
crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim. Que ideia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de
carinho? Pestinha,
diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado,
mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo — não tinha
conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a
bubônica. A epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha
viu-se logo apelidada assim — por sinal que achou linda a palavra.
Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não teria um
gostinho só na vida — nem esse de personalizar a peste... O corpo de Negrinha era tatuado
de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias,
houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos,
cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos
nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em
sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta... A excelente dona Inácia era
mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de
escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o
bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a
branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada
ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse:
“Como é ruim, a sinhá!”... O 13 de Maio tirou-lhe das mãos
o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa
como remédio para os frenesis. Inocente derivativo: — Ai! Como alivia a gente uma
boa roda de cocres bem fincados!... Tinha de contentar-se com isso,
judiaria miúda, os níqueis da crueldade. Cocres: mão fechada com raiva e nós
de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de
despegar a concha (bom! bom! bom! gostoso de dar) e o a duas mãos, o
sacudido. A gama inteira dos beliscões: do miudinho, com a ponta da unha, à
torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda de
tapas, cascudos, pontapés e safanões a uma — divertidíssimo! A vara de
marmelo, flexível, cortante: para “doer fino” nada melhor! Era pouco, mas antes isso do
que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para desobstruir o
fígado e matar as saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo
quente. Não sabem! Ora! Uma criada nova
furtara do prato de Negrinha — coisa de rir — um pedacinho de carne que ela
vinha guardando para o fim. A criança não sofreou a revolta — atirou-lhe um
dos nomes com que a mimoseavam todos os dias. — “Peste?” Espere aí! Você vai
ver quem é peste — e foi contar o caso à patroa. Dona Inácia estava azeda,
necessitadíssima de derivativos. Sua cara iluminou-se. — Eu curo ela! — disse, e
desentalando do trono as banhas foi para a cozinha, qual perua choca, a rufar
as saias. — Traga um ovo. Veio o ovo. Dona Inácia mesmo
pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da
tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a
mísera criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa
de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou: — Venha cá! Negrinha aproximou-se. — Abra a boca! Negrinha abriu aboca, como o
cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água
“pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse,
suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente,
pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo.
Depois: — Diga nomes feios aos mais
velhos outra vez, ouviu, peste? E a virtuosa dama voltou
contente da vida para o trono, a fim de receber o vigário que chegava. — Ah, monsenhor! Não se pode
ser boa nesta vida... Estou criando aquela pobre órfã, filha da Cesária — mas
que trabalheira me dá! — A caridade é a mais bela das
virtudes cristas, minha senhora —murmurou o padre. — Sim, mas cansa... — Quem dá aos pobres empresta a
Deus. A boa senhora suspirou
resignadamente. — Inda é o que vale... Certo dezembro vieram passar as
férias com Santa Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas, lindas meninas
louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas. Do seu canto na sala do trono, Negrinha
viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu — alegres, pulando e rindo
com a vivacidade de cachorrinhos novos. Negrinha olhou imediatamente para a
senhora, certa de vê-la armada para desferir contra os anjos invasores o raio
dum castigo tremendo. Mas abriu a boca: a sinhá
ria-se também... Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado — e
findo o seu inferno — e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha
levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos. Mas a dura lição da
desigualdade humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos,
o som cruel de todos os dias: “Já para o seu lugar, pestinha! Não se
enxerga”? Com lágrimas dolorosas, menos
de dor física que de angústia moral —sofrimento novo que se vinha acrescer
aos já conhecidos — a triste criança encorujou-se no cantinho de sempre. — Quem é, titia? — perguntou
uma das meninas, curiosa. — Quem há de ser? — disse a
tia, num suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando
essas pobres de Deus... Uma órfã. Mas brinquem, filhinhas, a casa é grande,
brinquem por aí afora. — Brinquem! Brincar! Como seria
bom brincar! — refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha,
que até ali só brincara em imaginação com o cuco. Chegaram as malas e logo: — Meus brinquedos! — reclamaram
as duas meninas. Uma criada abriu-as e tirou os
brinquedos. Que maravilha! Um cavalo de
pau!... Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão
galante. Um cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos
amarelos... que falava “mamã”... que dormia... Era de êxtase o olhar de
Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo.
Mas compreendeu que era uma criança artificial. — É feita?... — perguntou,
extasiada. E dominada pelo enlevo, num
momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a arrumação das
meninas, Negrinha esqueceu o beliscão, o ovo quente, tudo, e aproximou-se da
criatura de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem ânimo de
pegá-la. As meninas admiraram-se
daquilo. — Nunca viu boneca? — Boneca? — repetiu Negrinha. —
Chama-se Boneca? Riram-se as fidalgas de tanta
ingenuidade. — Como é boba! — disseram. — E
você como se chama? — Negrinha. As meninas novamente
torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava, disseram,
apresentando-lhe a boneca: — Pegue! Negrinha olhou para os lados,
ressabiada, como coração aos pinotes. Que ventura, santo Deus! Seria
possível? Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor
menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços de olhos para a porta. Fora de si,
literalmente... era como se penetrara no céu e os anjos a rodeassem, e um
filhinho de anjo lhe tivesse vindo adormecer ao colo. Tamanho foi o seu
enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. Dona Inácia entreparou,
feroz, e esteve uns instantes assim, apreciando a cena. Mas era tal a alegria das
hóspedes ante a surpresa extática de Negrinha, e tão grande a força
irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela
primeira vez na vida foi mulher. Apiedou-se. Ao percebê-la na sala Negrinha
havia tremido, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do ovo quente e
hipóteses de castigos ainda piores. E incoercíveis lágrimas de pavor
assomaram-lhe aos olhos. Falhou tudo isso, porém. O que
sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo — estas palavras, as primeiras
que ela ouviu, doces, na vida: — Vão todas brincar no jardim,
e vá você também, mas veja lá, hein? Negrinha ergueu os olhos para a
patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu mais a fera antiga.
Compreendeu vagamente e sorriu. Se alguma vez a gratidão sorriu
na vida, foi naquela surrada carinha... Varia a pele, a condição, mas a
alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E para ambos é a
boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da
mulher: o momento da boneca — preparatório —, e o momento dos filhos —
definitivo. Depois disso, está extinta a mulher. Negrinha, coisa humana,
percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão! Surpresa
maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como
fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de
ser coisa — e doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não
era coisa! Se sentia! Se vibrava! Assim foi — e essa consciência
a matou. Terminadas as férias, partiram
as meninas levando consigo a boneca, e a casa voltou ao ramerrão habitual. Só
não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada. Dona Inácia, pensativa, já a
não atazanava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração,
amenizava-lhe a vida. Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita. Mal
comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora
nostálgicos, cismarentos. Aquele dezembro de férias,
luminosa rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a. Brincara ao sol, no jardim.
Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão
quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos
da imaginação. Desabrochara-se de alma. Morreu na esteirinha rota,
abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém
morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de
olhos azuis. E de anjos... E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa
farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça —
abraçada, rodopiada. Veio a tontura; uma névoa
envolveu tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num disco. Ressoaram
vozes apagadas, longe, e pela última vez o cuco lhe apareceu de boca aberta. Mas, imóvel, sem rufar as asas. Foi-se apagando. O vermelho da
goela desmaiou... E tudo se esvaiu em trevas. Depois, vala comum. A terra
papou com indiferença aquela carnezinha de terceira — uma miséria, trinta
quilos mal pesados... E de Negrinha ficaram no mundo
apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas. — “Lembras-te daquela bobinha
da titia, que nunca vira boneca?” Outra de saudade, no nó dos
dedos de dona Inácia. — “Como
era boa para um cocre!...” * Perceber o tratamento dado ao negro na
época em que se desenvolve a narrativa. *Negrinha
é uma narrativa que está intimamente ligada às mudanças sociais, culturais,
históricas e antropológicas do homem, e aponta para a modernidade das
manifestações literárias.(Pré-modernismo
no Brasil). *Livro editado em1920, o autor
apresenta, de forma crítica e mordaz, o tratamento cruel a que é submetida a
pequena, maltratada até a morte. |
OBSERVAÇÕES : 1-olhos assustados= medo 2- a patroa não gostava de crianças. Paradoxo)
Uma virtuosa senhora 3- Reverendo desconhecia ou fingia desconhecer 4- 1º ao 5º parágrafos teremos as figuras de
linguagem eufemismo, anacoluto e ironia No
texto, a resistência de Dona Inácia em aceitar a libertação dos escravos é
comprovada na passagem “Nunca se
afizera ao regime novo – essa indecência de negro igual”. Destaca-se a
ironia de Monteiro Lobato, em relação não só aos atos cruéis da renitente
escravocrata Dona
Inácia, como também aos que viam nela “uma
virtuosa senhora”. Presença de bullying é uma violência contra a
criança praticada pela própria criança e adultos. Padrão de beleza das bonecas. “Varia a pele até a matou: um momento em que há uma epifania. |
Valor 5,0 (individual)
1-Você gostou dessa história? Por quê? (5,0)
REFLITA E RESPONDA PENSANDO NAS PERGUNTAS:
O que a leitura acrescentou em sua vida?
O que modificou em seu modo de pensar?
Qual foi a mensagem deixada para você? .
(Observação: para justificar se gostou ou não da leitura de algum livro ou texto é necessário sempre pensar nas perguntas acima.)
Resposta para a questão 1:
Eu gostei da história porque ela faz a gente refletir sobre temas muito importantes, como racismo, preconceito social e a violência contra as crianças. A leitura me fez perceber como certas injustiças sociais ainda são muito presentes, mesmo depois da abolição da escravatura. A história de Negrinha me tocou profundamente, pois ela representa muitas pessoas que, mesmo com a abolição formal da escravidão, continuam sendo tratadas de forma desumana e marginalizada.
O que essa leitura acrescentou na minha vida foi uma reflexão profunda sobre as desigualdades que existem na sociedade, e como essas desigualdades afetam principalmente crianças e pessoas negras. Ela me fez perceber que, muitas vezes, as leis não são suficientes para mudar a mentalidade e os costumes das pessoas, e que as diferenças sociais ainda persistem de maneiras cruéis.
O que modificou no meu modo de pensar foi a ideia de que a realidade social de uma pessoa pode ser muito difícil e até desesperadora, como é o caso de Negrinha. Isso me fez pensar em como as violências psicológicas e físicas podem marcar uma pessoa para o resto de sua vida, e como isso afeta a forma como ela vê o mundo e a si mesma.
A mensagem que a história deixou para mim foi a importância de tratar as pessoas com dignidade, independentemente de sua cor, classe social ou origem. Ela me ensinou que o afeto e o cuidado são essenciais para o crescimento e a felicidade de uma criança, e que todos devem ter a oportunidade de viver uma vida sem violência e sem preconceito.
I- Pesquisar:
a)Contexto histórico no Brasil.( Final do século XIX início do século XX)
b)Biografia de Monteiro Lobato
c)Características do
PRÉ-MODERNISMO e MODERNISMO (somente as que estão relacionadas ao texto lido)
D)O QUE É EPIFANIA?
e) Pesquise as figuras de
linguagem: eufemismo, anacoluto, ironia, paradoxo
a) Contexto histórico no Brasil (Final do século XIX e início do século XX)
O final do século XIX e o início do século XX foram períodos de grandes transformações no Brasil, marcados por transições políticas, sociais e culturais. A República foi proclamada em 1889, após a queda do Império de Dom Pedro II, e o país passou a se estruturar como uma república, com a elite oligárquica do café dominando a política. Durante esse período, o Brasil experimentou mudanças significativas, como a abolição da escravidão em 1888, que gerou uma série de novos desafios sociais e econômicos. O país se viu envolto em um processo de urbanização e industrialização, principalmente nas grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro. A primeira década do século XX foi marcada pela Revolta da Chibata (1910), pela Revolução de 1930 e pela crise econômica de 1929, que influenciaram profundamente a política e a sociedade brasileira.
b) Biografia de Monteiro Lobato
Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor, editor e intelectual brasileiro, conhecido principalmente por suas obras infantis, especialmente a série do "Sítio do Picapau Amarelo". Nascido em Taubaté, São Paulo, Lobato formou-se em Direito, mas sua paixão pela literatura e pela cultura brasileira o levou a se dedicar ao jornalismo e à escrita. Em suas obras, Lobato abordou questões sociais, políticas e culturais do Brasil, além de defender a educação e o desenvolvimento do país. Suas produções mais conhecidas incluem "A Menina do Narizinho Arrebitado", "Reinações de Narizinho" e "Emília no País da Gramática". Além de sua carreira literária, Lobato foi um grande defensor da indústria nacional e da modernização do Brasil. Seu pensamento, no entanto, foi criticado por sua postura elitista e algumas de suas ideias racistas, o que gerou polêmica sobre o autor.
c) Características do PRÉ-MODERNISMO e MODERNISMO (relacionadas ao texto lido)
Pré-Modernismo: O Pré-Modernismo, que se desenvolveu entre 1902 e 1922, foi um movimento de transição entre o Realismo/Naturalismo e o Modernismo. As características dessa fase incluem:
- Crítica social: forte crítica às desigualdades e injustiças sociais, com foco nas questões econômicas e políticas.
- Regionalismo: os escritores buscavam representar a realidade brasileira, com ênfase no interior do país e nas suas dificuldades.
- Linguagem mais coloquial e simples, para atingir um público mais amplo.
- Autores principais: Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato.
Modernismo: O Modernismo, que iniciou em 1922, caracterizou-se pela busca de uma identidade nacional, liberdade formal e experimentalismo estético. Algumas características dessa fase incluem:
- Nacionalismo: busca pela valorização da cultura e história do Brasil.
- Ruptura com as formas clássicas: busca por uma linguagem mais inovadora e criativa.
- Estilo livre: ausência de regras rígidas, tanto na forma quanto no conteúdo.
- Autores principais: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira.
d) O que é Epifania?
Epifania é uma manifestação ou revelação súbita de algo profundo, muitas vezes ligada a uma experiência espiritual ou uma descoberta pessoal. No contexto literário, epifania se refere a um momento de revelação ou clareza, em que o personagem, ou até o leitor, tem uma compreensão repentina e clara sobre algo que antes estava velado ou incompreendido. Em obras literárias, a epifania é frequentemente usada para ilustrar um ponto de virada na vida do personagem ou para expressar um entendimento mais profundo sobre o mundo.
e) Figuras de linguagem
Eufemismo: O eufemismo é uma figura de linguagem utilizada para suavizar ou atenuar uma ideia, geralmente para evitar palavras ou expressões que possam ser consideradas negativas ou ofensivas. Exemplo: "Ele partiu para o além" (em vez de "Ele morreu").
Anacoluto: O anacoluto é uma figura de linguagem que ocorre quando há uma quebra na estrutura sintática de uma frase, ou seja, a oração começa de uma forma e termina de outra, sem uma conexão clara. Exemplo: "Eu sei que você está ocupado, mas a questão é a seguinte...". Aqui, há uma mudança de foco sem continuidade direta da ideia.
Ironia: A ironia é uma figura de linguagem em que se diz o oposto do que se pensa, com o intuito de expressar uma crítica ou provocar reflexão. Exemplo: "Que ótimo, mais um dia de chuva!" (quando, na verdade, a pessoa não está feliz com a chuva).
Paradoxo: O paradoxo é uma figura de linguagem que une ideias aparentemente contraditórias, mas que, ao serem refletidas, revelam uma verdade profunda. Exemplo: "É preciso estar perdido para se encontrar". O paradoxo sugere que, por vezes, a confusão é necessária para a descoberta ou clareza.
Essas figuras de linguagem ajudam a enriquecer o discurso e a transmitir ideias de maneira mais eficaz e expressiva.
II-Nomeie as
personagens:
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Personagem
principal. Tem por volta dos sete anos, é negra e órfã, de aparência muito
raquítica, foi criada no canto com um gato, sofreu durante toda sua vida e o
conto se encerra com sua morte. |
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Senhora
que adotou Negrinha, é vista como uma mulher digna, de caráter ilibado,
possuidoras de riquezas e constante frequentadora da Igreja. A partir deste
personagem Lobato mostra sua crítica, ao mostrar a hipocrisia da sociedade da
época, pois ela é vista como uma cidadã exemplar, sendo que dentro de sua
casa ela tortura uma criança. |
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Personagem
coadjuvante está na trama apenas para fortalecer a imagem de “honrada
senhora” de Dona Inácia. |
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Participa
do momento em que a menina engole o ovo quente. Aparece mais à frente um
pouco mais amena em relação à garota, não a destratando. |
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Único
elemento de felicidade de Negrinha representa uma metáfora do tempo, sempre que saía do relógio para mostrar as
horas, no final da trama aparece mostrando para a garota que seu tempo está
se esvaindo. |
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São
garotas de uma realidade completamente diferente da de Negrinha, são louras e
saudáveis. Aparecem de meio para o fim da trama, quando vão passar as férias
na casa de sua tia. Brincam com Negrinha, achando estranho o fato de ela
nunca ter visto uma boneca. |
III-TEMPO: Final do século XIX início
do século XX, período pós-abolição. Que fatos marcaram esse período
no Brasil ? (pesquisar)
IV- TEMAS: ( observar o contexto histórico e a
crítica social)
A hipocrisia religiosa da senhora, que é
vista como boa, mas tortura cruelmente a Negrinha. A continuidade da escravidão
no Brasil, a obra mostra que após abolição não houve a devida inclusão, e sim a
perpetuação da escravidão, com o negro dentro das casas de família.
Os temas são: hipocrisia
religiosa , autoritarismo, opressão e
preconceito racial(racismo).
II- Personagens:
V-O conto mostra, através da Negrinha, que o negro
sofreu muito ainda após o período de pós-abolição, e a hipocrisia das pessoas,
na personagem de Dona Inácia, evidenciando a questão paradoxal: a senhora,
gorda, rica, excelente patroa, com lugar garantido no céu, era vista como uma
pessoa boa para a sociedade e a garota, negra, pobre, esmirrada, era vista com
ódio pela sociedade. Qual é a sua opinião sobre a afirmação acima? (individual)
Opinião sobre a afirmação: A afirmação sobre o conto de Negrinha ressalta uma das principais críticas de Monteiro Lobato: a hipocrisia da sociedade da época, especialmente no que diz respeito à forma como as pessoas viam a classe social e racial. A figura de Dona Inácia, que é rica, religiosa e bem vista pela sociedade, contrasta com a figura de Negrinha, uma criança negra e pobre, desprovida de qualquer tipo de carinho ou dignidade. A sociedade valorizava as aparências, enquanto a vida de Negrinha era marcada pela miséria e sofrimento.
VI- Faça um levantamento das palavras e expressões
que caracterizam a Negrinha, desde a ausência de nome próprio até idade, origem,
aspecto físico, olhos, as marcas do corpo, temperamento, onde vivia, com quem
vivia etc. (palavras que representariam o cúmulo de um pensamento racista)
Levantamento das palavras e expressões que caracterizam Negrinha:
Ausência de nome próprio: Negrinha é chamada apenas de "Negrinha", um diminutivo que evidencia a falta de identidade, individualidade e a marginalização da criança.
Idade: Aproximadamente sete anos, uma idade em que uma criança deveria estar vivendo momentos de alegria e aprendizado, mas ela vive apenas sofrimento.
Origem e condição social: Órfã, pobre, sem nenhuma rede de apoio, criando-se em um contexto de total abandono e negligência.
Aspecto físico: "Raquítica", "magricela", "corpo esmirrado", que reforçam a ideia de fragilidade e sofrimento físico, consequência da negligência e da falta de cuidados.
Olhos e marcas do corpo: Embora o conto não descreva com detalhes os olhos de Negrinha, sua condição física precária e as marcas em seu corpo refletem o sofrimento constante e o abuso que ela vivia.
Temperamento: Não é descrita de forma detalhada em termos de personalidade, mas seu temperamento é associado à passividade e submissão, resultado de uma vida de opressão.
Onde vivia: Negrinha vivia "no canto", um lugar isolado e sem conforto, o que simboliza sua condição de marginalização.
Com quem vivia: Vivendo sob os cuidados de Dona Inácia, mas sem qualquer tipo de afeto ou cuidado, ela era tratada como uma serva, sem direitos ou dignidade.
As palavras e expressões que caracterizam Negrinha reforçam a imagem de uma criança negra e pobre, tratada com desprezo e sem qualquer forma de carinho ou respeito. Isso reflete um pensamento racista e preconceituoso, em que ela é desumanizada, reduzida a sua cor e condição social.
VII- Faça um levantamento das
palavras e expressões que caracterizam a personagem dona Inácia.
Rica: "Gorda" e "rica", expressões que a caracterizam como parte da classe dominante e privilegiada, refletindo sua posição social.
Boa patroa: Dona Inácia é descrita como uma "excelente patroa", o que a coloca em um pedestal social, como uma mulher respeitada pela sociedade.
Religiosa: Frequentadora constante da Igreja, uma mulher que se apresenta como moralmente superior, religiosa e piedosa, reforçando a ideia de que sua bondade é inquestionável.
Imagem de "cidadã exemplar": Dona Inácia representa uma mulher que a sociedade vê como digna, enquanto sua crueldade em relação a Negrinha revela a contradição e hipocrisia por trás dessa imagem.
As palavras e expressões que caracterizam Dona Inácia criam a imagem de uma mulher respeitada e com poder, que é considerada moralmente superior pela sociedade, mas que, na realidade, esconde uma personalidade cruel e hipócrita.
VIII-O conto também é repleto de
ironias - ironia é uma figura de
linguagem que ocorre quando se diz alguma coisa, querendo-se dizer exatamente o
contrário. Por exemplo:
Que ideia faria de si essa
criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja,
barata descascada, [...] - não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam.
O emprego de
"mimoseavam" é ironia porque atribuir nomes depreciativos a uma
pessoa não é uma forma de mimoseá-la, isto é, agradá-la. É exatamente o
contrário.
Encontre os conceitos presentes
no texto, como: crueldade, cinismo, hipocrisia, piedade, gratidão.
IX-Os tipos de castigos físicos
aplicados na menina negra parecem ser herança do escravismo. Observe a descrição detalhada deles. Quais os
castigos sofridos pela Negrinha?
X-
Evidenciem o tratamento desigual dispensado à menina negra e às meninas louras,
sobrinhas de dona Inácia. Grife os trechos que mostram o que o narrador pensa
da importância do brincar para uma criança?
Negrinha é tratada de maneira completamente inferior em comparação com as sobrinhas loiras de Dona Inácia. O texto destaca esse tratamento desigual:
Negrinha é desumanizada: Ela é descrita como “raquítica”, sem direito a uma infância normal. Ela não tem brinquedos, nem momentos de diversão. Já as meninas louras são saudáveis, brincam com bonecas e são vistas com carinho.
O tratamento das sobrinhas: As sobrinhas de Dona Inácia têm privilégios, como viajar e brincar com objetos de luxo. Negrinha é tratada como uma serva e é ignorada, mesmo quando tenta se aproximar delas.
No que diz respeito ao valor do brincar para as crianças, o narrador expressa que brincar é essencial para o desenvolvimento, pois é um direito que todas as crianças deveriam ter, mas que Negrinha não experimenta devido à sua condição de escravizada emocionalmente e fisicamente. O brincar é uma oportunidade para a criança conhecer o mundo de forma saudável, mas isso é negado a Negrinha, que vive para trabalhar e sofrer.
XI-O que
aconteceu com a menina negra depois que brincou com a boneca de louça? Por qual
transformação ela passou?
XII- Brincara!... Construída
apenas com uma palavra, a frase é carregada de significação.
Faça a comparação entre: Brincou!... e Brincava!... No
uso de pretéritos diferentes, que mudanças de sentido aconteceriam
ao texto?
"Brincou!...": O uso do pretérito perfeito ("brincou") sugere uma ação pontual e única. A frase transmite a ideia de que Negrinha teve uma experiência única e fugaz de felicidade, um momento isolado em sua vida, que foi interrompido rapidamente.
"Brincava!...": O uso do pretérito imperfeito ("brincava") indicaria uma ação repetida, uma atividade contínua. Se o narrador tivesse usado "brincava", sugeriria que Negrinha teria vivido momentos contínuos de alegria e brincadeira, o que não é o caso. O pretérito perfeito reforça a ideia de que a felicidade de Negrinha foi breve, quase impossível em sua vida.
Essa mudança no tempo verbal implica em diferentes interpretações: com o pretérito perfeito, enfatiza-se a perda e a transitoriedade da felicidade, que é um reflexo da opressão e da injustiça que Negrinha sofre.
XIII-O uso da pontuação
expressiva da exclamação e das reticências. Que efeito de sentido provoca no
texto? (pesquisar pontuação)
A exclamação é usada no texto para expressar surpresa, dor, sofrimento e indignação. Ela amplifica a emoção e o impacto de certos momentos, destacando a intensidade do sofrimento de Negrinha e a crueldade de sua situação. A exclamação ajuda a tornar o tom do conto mais dramático e expressivo.
As reticências, por outro lado, sugerem um vazio, uma lacuna, e muitas vezes indicam que algo não é dito, ou que um sentimento está sendo deixado no ar. Elas reforçam a angústia, o sofrimento e a incompletude de Negrinha, que não tem voz nem um final feliz. Essa pontuação adiciona à narrativa uma sensação de perda e de desamparo.
XIV-O desfecho com a morte da
menina negra, depois de ter experimentado pela primeira vez o sentimento da
alegria, sugere a seguinte reflexão: aqueles que sofreram maus tratos não têm
salvação? Está determinado que serão infelizes para sempre?( resposta pessoal e
individual)
Reflexão sobre a morte da menina negra:
A morte de Negrinha, logo após ter experimentado uma pequena alegria, levanta uma questão profunda: será que aqueles que sofreram abusos e maus-tratos têm alguma chance de felicidade verdadeira? A morte dela sugere que a vida de uma criança tão oprimida e desumanizada é condenada ao sofrimento eterno, sem esperança de mudança. Isso reflete uma crítica à sociedade que perpetua a dor e a desigualdade, e talvez seja uma reflexão pessimista sobre as condições sociais de certas classes e raças.
Entretanto, a morte de Negrinha não deve ser vista como uma sentença universal. O conto é uma crítica à sociedade, mas também uma chamada à reflexão sobre como as estruturas sociais podem e devem ser transformadas para garantir dignidade a todos, especialmente aos marginalizados.
XV-A partir dos caracteres que compõem o perfil das personagens protagonistas do texto de Lobato, pode ser observada a mentalidade preconceituosa e opressora da sociedade brasileira de uma determinada época; entretanto, os predicados conferidos a esses seres ficcionais lobatianos destacam a sempre atual busca pelo poder, em que a presença das lutas de classes e dos confrontos entre raças são determinantes para estabelecer a condição social dos seres humanos. Você concorda ou discorda que essa situação continua bem atual? Justifique.
Eu concordo que a situação retratada no conto ainda é muito atual. Embora tenhamos avançado em muitas questões sociais, a luta de classes e o confronto racial continuam presentes na sociedade brasileira. A desigualdade entre classes sociais e a discriminação racial ainda são problemas significativos. A condição de Negrinha, como um símbolo da opressão racial e da luta por dignidade, reflete uma realidade que muitos negros e pobres enfrentam até hoje, especialmente em contextos de exclusão social e violência racial. Portanto, a crítica de Lobato continua relevante, pois a busca pelo poder e o confronto entre raças e classes sociais ainda são determinantes na nossa sociedade.
XVI- A partir do título dessa obra de Monteiro Lobato,
nota-se, pela utilização do sufixo –inha, o tratamento dado à personagem
principal no decorrer do conto. O uso é carinhoso ou pejorativo?
(
) características físicas
( )condição social (
) constante estado psicológico.
No trecho “[…] uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados”:
(X) Características físicas: A descrição de Negrinha como “fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados” refere-se diretamente às suas características físicas.
(X) Condição social: A palavra “pobre” sugere a condição social da personagem, que está em situação de vulnerabilidade.
(X) Constante estado psicológico: A expressão “olhos assustados” indica o constante estado psicológico de Negrinha, que vive com medo e em sofrimento.
XVIII-Negrinha ( a oprimida) , a
personagem-título, é filha de uma
escrava e, com a morte desta, passa a ser criada por D. Inácia ( a opressora),
uma rica senhora acostumada ao antigo regime escravocrata, abolido em 1888(
leis não têm força para abolir costumes culturais). Mostra-se, portanto, a
crítica feroz lobatiana, com o intuito de revelar a situação das classes menos
favorecidas de uma sociedade brasileira discriminatória. Você concorda que a
citação mostra uma das características do Pré-Modernismo?
Sim, a citação reflete uma das características do Pré-Modernismo, especialmente no que se refere à crítica social e à denúncia das desigualdades e injustiças de uma sociedade ainda marcada pelos vestígios do regime escravocrata. A menção à continuidade dos costumes da escravidão, apesar da abolição formal, é uma crítica central do Pré-Modernismo, que buscava representar as dificuldades sociais e políticas da época. O autor retrata, de maneira crua, a opressão e a exploração dos mais pobres e da população negra, reforçando o contraste entre as camadas sociais e a hipocrisia dos valores dominantes.
XIX-Negrinha é vítima de um meio social injusto e
preconceituoso, cujos padrões se valem da submissão dos mais fracos e da
hipocrisia. Dona Inácia, a dona da fazenda, representa isso, pois enquanto
agride a menina, caracteriza-se por seu status e suas falsas virtudes: “Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica,
dona do mundo, a mimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de
luxo reservado no céu […] Mas não admitia choro de criança”. Neste
trecho, qual é a incoerência? ´
A incoerência em Dona Inácia está no contraste entre sua imagem pública e suas ações privadas. Ela é retratada como uma mulher exemplar, "gorda, rica, dona do mundo", que é reverenciada na sociedade, mas, ao mesmo tempo, agride e oprime a menina. A descrição de Dona Inácia como "mimada dos padres" e com "lugar certo na igreja" revela a hipocrisia de uma sociedade que a vê como uma figura de moralidade e virtude, mas que, na realidade, é cruel e tirânica em seu trato com os mais fracos, como Negrinha. Esse comportamento reflete a falsidade de valores que são propagados publicamente, mas não se aplicam ao cotidiano das relações sociais e familiares.
XX-Qual crítica o texto apresenta em
relação à postura de certos membros da Igreja Católica?
Pense: proprietários rurais/ poder/dinheiro/valores cristãos ; quando o
reverendo elogia dona Inácia, sua intenção é apenas a de enaltecer a
proprietária rural. Ele sinceramente não tem intenção de fazer o contrário, ou
seja, falar mal dela.
XXI-Observando a
caracterização física e psicológica dessas duas personagens, pode-se chegar à
seguinte oposição:
Nome:
DONA(FORMA RESPEITOSA DE TRATAMENTO)
Inácia/patroa = adulta, rica, branca, opressora, gorda, “dona do
mundo”, “virtuosa” , sádica, preconceituosa , escravagista (USA DA RAZÃO E
É BEM VISTA PELA SOCIEDADE)
X |
Diante das
características físicas e psicológicas, pode-se observar a posição social das
personagens pertencentes a um mesmo contexto sócio - histórico do Brasil .
Negrinha é representante de três grupos sociais brasileiros: o escravo, a
mulher e a criança, cujas
trajetórias na História não foram bem sucedidas. Você concorda ou discorda
dessa afirmação? Justifique.
Posição social de Negrinha:
XXII- Batiam-lhe sempre,
por ação ou omissão […] Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata
choca, pinto gorado, mosca morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa
ruim, lixo – não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam […] O
corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da
casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Por isso, a menina
guarda as marcas da hostilidade, que chegam ao ápice da violência, seja pelas
agressões físicas, pelo desafeto ou pelos castigos que recebe dos habitantes da
casa-grande. Hoje em dia, será que em algum estado brasileiro ainda acontece
essa barbárie? Pesquisar.
Castigos e violência contra Negrinha:
Sim, infelizmente, em algumas partes do Brasil, ainda ocorrem práticas de violência, humilhação e castigos abusivos, especialmente contra grupos vulneráveis, como crianças e populações negras e pobres. O uso de violência física e psicológica é uma realidade que, apesar dos avanços legais e educacionais, ainda persiste em muitos contextos de desigualdade social e racial. A violência contra crianças em situação de vulnerabilidade é um problema grave em muitas regiões do Brasil, com manifestações de crueldade, castigos corporais e práticas abusivas que precisam ser combatidas de forma urgente por políticas públicas de proteção à infância e educação.
XXIII-A não-identidade da menina demonstra que ela não é considerada um ser humano pelos demais, mas sim um objeto, sobretudo um animal que não possui alma e precisa ser domesticado. Ela não pode andar pela casa, brincar e, nem mesmo, falar, segundo Lobato “[…] feito um gato sem dono, levada a pontapés […] que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas […]”, pois seria castigada pela realização de um de seus atos, quando, por exemplo, é forçada a engolir um ovo fervendo como forma de castigo por uma de suas travessuras: “Negrinha abriu a boca como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água ‘pulando’ o ovo e zás! na boca da pequena […]”. Nesse sentido, deve-se dizer que, inicialmente, Negrinha pode ser considerada uma personagem monológica , devido às suas características individuais, pela aceitação de sua situação miserável e por não ir contra àquela realidade em que vive, o que equivale à não-ativação de pontos de vista questionadores. Logo, essa primeira etapa da personagem mostra toda sua passividade diante das crueldades do preconceito e das desigualdades sociais. Por que Negrinha era tão passiva?
XXIV-Explique, com as suas palavras, a frase: “Varia a pele, a condição,
mas a alma da criança é a mesma [...]” (70º parágrafo).
Essa frase sugere que, apesar das diferenças físicas e sociais entre as crianças, todas compartilham uma essência humana comum. A frase defende a ideia de que, independentemente da cor da pele, da classe social ou da origem, todas as crianças possuem os mesmos sentimentos, sonhos e direitos. A alma da criança é descrita como sendo universal, sugerindo que a humanidade e a dignidade não devem ser avaliadas pela aparência ou pela posição social.
XXV- Explique o que o
narrador quis dizer na seguinte passagem do texto: “Viúva sem filhos, não a
calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da
carne alheia.” (4º parágrafo).
A criminosa é Negrinha, e o crime é ela brincar com a boneca que não deveria ser dela. No contexto da casa de Dona Inácia, qualquer ato de rebeldia ou desobediência, por menor que fosse, era considerado um crime. A mãe da "criminosa" (Dona Inácia) tenta esconder o ato de brincadeira de sua filha para evitar punições. Isso demonstra a rigidez e o controle autoritário sobre Negrinha, que não tinha liberdade para se comportar como uma criança deveria.
XXVII- Em diversas
passagens no texto, o narrador usa a ironia para falar de Dona Inácia.
Destaque, no mínimo, dois trechos onde isso fica evidente, explicando a crítica
implícita.
"Ela era a mimada dos padres": Isso é uma ironia porque, embora Dona Inácia seja considerada uma pessoa religiosa e virtuosa, ela age de maneira cruel e tirânica com Negrinha. O reverendo a trata como uma pessoa moralmente íntegra, mas essa imagem é contradita por suas ações.
"Com lugar certo no céu e camarote de luxo reservado no céu": Mais uma ironia que satiriza a ideia de que Dona Inácia, pela sua posição social e comportamentos públicos, tem garantia de salvação divina, enquanto, na realidade, ela é cruel e imoral em seus atos.
XXVIII-Qual foi, na sua
opinião, o pior castigo sofrido por Negrinha? Justifique.
Na minha opinião, o pior castigo sofrido por Negrinha foi a violência física constante e a humilhação diária. Os castigos físicos, como as marcas de agressões no corpo, e os castigos psicológicos, como os apelidos pejorativos e a falta de carinho, causaram-lhe uma dor profunda. A humilhação e a exclusão social que ela sofreu foram devastadoras para sua autoestima e para seu bem-estar emocional.
XXIX- Qual foi o fato que
mudou a vida de Negrinha?
O fato que mudou a vida de Negrinha foi o momento em que ela brincou com a boneca de louça, algo que ela nunca havia feito antes. Esse ato simbólico de alegria e liberdade foi um momento de fuga da opressão e de vivência de um direito básico da infância: brincar. No entanto, a alegria foi curta, e o castigo por essa brincadeira foi severo, mostrando o contraste entre a inocência da criança e a dureza do ambiente em que vivia.
XXX- A que são comparadas
as sobrinhas de Dona Inácia no texto? Por que você acha que é feita essa
comparação?
As sobrinhas de Dona Inácia são comparadas com bonecas. Elas representam uma realidade diferente, saudável e infantil, enquanto Negrinha é apresentada como alguém que nunca teve essa experiência de infância. Essa comparação serve para ilustrar as desigualdades sociais e raciais, pois as sobrinhas podem brincar e viver uma infância digna, enquanto Negrinha é privada disso por sua condição de escravizada e submissa.
Negrinha achava que brincar e se divertir era um crime, pois sempre foi punida por isso. A ideia de que algo tão simples como brincar fosse uma infração reflete o nível de opressão em que ela vivia. Sua percepção muda quando ela se permite, ainda que brevemente, viver a alegria da infância, ao brincar com a boneca, o que foi visto como algo irregular e punido pela patroa.
XXXII- Explique, com as
suas palavras, a frase: “Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a
mesma [...]” (70º parágrafo).
Explicação da frase: “Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma”:
A frase significa que, apesar das diferenças físicas e sociais entre as crianças, todas compartilham as mesmas características humanas essenciais. Crianças, independentemente de sua cor, classe social ou origem, possuem sentimentos, desejos e a mesma capacidade de se desenvolver, e merecem ser tratadas com dignidade e respeito.
O que matou Negrinha:
Época da narrativa e abolição da escravidão:
A narrativa se passa pós-abolição da escravatura, mas é clara a persistência de práticas e mentalidades escravocratas. A abolição ocorreu em 1888, mas as heranças da escravidão, como o preconceito racial e a discriminação social, continuam a afetar as relações sociais e a estrutura de classes, como mostrado na vida de Negrinha. Mesmo com a abolição formal da escravidão, muitas das práticas sociais e as estruturas de poder se mantêm inalteradas.
Levantamento das palavras e expressões que caracterizam Negrinha e Dona Inácia:
Negrinha:
- "Peste", "diabo", "trapo", "sujeira", "bruxa", "pato choca", "mosca morta" - essas expressões denotam um tratamento desumanizante e pejorativo, evidenciando o desprezo e a opressão a que ela está sujeita. Ela é descrita com uma linguagem violenta e humilhante, refletindo sua posição social subalterna.
- "Atrofiada", "corpo tatuado de sinais, cicatrizes, vergões" - indicam os marcos físicos das agressões sofridas, seja pela violência ou pela negligência.
Dona Inácia:
- "Gorda, rica, dona do mundo, a mimada dos padres, com lugar certo no céu" - essa descrição, embora pareça elogiosa à primeira vista, é carregada de ironia e sarcasmo. Dona Inácia é descrita como alguém que é socialmente respeitada (devido ao seu status e riqueza), mas a escolha de palavras como "mimada" e "lugar certo no céu" sugere uma crítica à falsidade de sua virtude, já que suas ações são completamente opostas aos valores cristãos que ela exibe.
Resposta à pergunta do autor: "Que ideia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho?"
Negrinha provavelmente teria uma imagem de si distorcida, marcada pela culpa e pelo desprezo que lhe foram impostos ao longo de sua vida. Sua percepção de si mesma seria a de uma pessoa inútil, indesejada e menosprezada. A falta de carinho e afeição provavelmente impediu que ela desenvolvesse uma autoestima saudável.
"Varia a cor da pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma – na princesinha e na mendiga":
Eu concordo com essa afirmação, pois ela defende a ideia de que todas as crianças possuem um valor intrínseco, independentemente de sua cor ou condição social. Essa visão propõe que todas as crianças têm direito ao amor, à felicidade e à dignidade, características que não deveriam ser determinadas por fatores externos, como a classe social ou a aparência física. No entanto, a realidade social nem sempre reconhece essa igualdade, como fica evidente na vida de Negrinha.
Diferença de sentido entre "brincara", "brincou" e "brincava":
- "Brincara": Refere-se a algo que aconteceu no passado, mas com um sentido conclusivo e de fim, já que não há continuidade ou repetição após o evento.
- "Brincou": Indica uma ação no passado, mas sem um foco no término, podendo sugerir uma ação que foi interrompida ou que pode se repetir.
- "Brincava": Este verbo no pretérito imperfeito sugere uma ação contínua, repetitiva ou habitual, indicando que brincar era algo que fazia parte da sua rotina, mas que, de alguma forma, foi privada disso.
O autor transmite a ideia de que "brincar" para Negrinha foi um ato isolado e transformador, algo que ela experimentou pela primeira vez, mas não pode continuar. Isso sugere que sua infância foi limitada, sem momentos de alegria e liberdade, como deveriam ser.
O que despertou a consciência de Negrinha e como o autor comenta essa transformação?
O que despertou a consciência de Negrinha foi o ato de brincar com a boneca, um momento de alegria e liberdade que ela nunca tinha experimentado. Esse pequeno gesto de felicidade a fez perceber a grande diferença entre a vida que ela estava vivendo e o que ela merecia como criança. O autor comenta essa transformação de maneira sutil, sugerindo que Negrinha, ao brincar, experimentou pela primeira vez o que era uma infância digna. No entanto, a tragédia de sua vida a impede de desfrutar dessa liberdade por mais tempo.
O que tornou Negrinha tão triste a ponto de morrer?
Negrinha morreu de desgosto e desespero. Ela foi privada de afeto, de cuidado e de uma infância saudável. A marginalização constante, os castigos implacáveis e a falta de um futuro promissor fizeram com que ela perdesse a vontade de viver. Sua morte não foi apenas física, mas também emocional, resultante da negação de sua humanidade.
Padrão de beleza da boneca e sua persistência:
O padrão de beleza representado pela boneca de louça é o de uma beleza europeia, branca, delicada e perfeita, muito distante da realidade de Negrinha. Esse padrão de beleza ainda persiste na atualidade, sendo associado a um ideal de perfeição que é muitas vezes inatingível, marginalizando as características físicas de pessoas negras, indígenas ou de outras etnias.
Denúncias feitas no conto:
O conto de Monteiro Lobato faz várias denúncias sociais: a violência racial, a discriminação contra as mulheres, o preconceito social e a hipocrisia das elites. A denúncia que mais chama a atenção é a desumanização de Negrinha, que, mesmo após a abolição da escravidão, continua sendo tratada como escrava e privada de direitos básicos.
Outro final para o conto:
Após a partida das sobrinhas de Dona Inácia, um final alternativo poderia ser que Negrinha fosse acolhida por alguém ou encontrasse um meio de escapar da opressão, finalmente conseguindo construir sua própria identidade e viver uma infância verdadeira, longe da crueldade. Ela poderia, com o apoio de um novo ambiente ou de uma figura de resistência, superar as limitações de sua situação e encontrar a felicidade que lhe foi negada por tanto tempo.
Nome _________________________________________________nº________________
9º ano
Valor 5,0 (individual)
1-Você gostou dessa história? Por quê? (5,0)
REFLITA E RESPONDA PENSANDO NAS PERGUNTAS:
O que a leitura acrescentou em sua vida?
O que modificou em seu modo de pensar?
Qual foi a mensagem deixada para você? .
(Observação: para justificar se gostou ou não da
leitura de algum livro ou texto é necessário sempre pensar nas perguntas
acima.)
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1) Todos nós sabemos que o nosso nome é o que nos identifica. A partir dele somos gente, somos conhecidos, enfim, temos uma identidade. Por que você acha que a menina não tem nome na história? E por que o apelido está no diminutivo?
2) Existem palavras desconhecidas no texto e, para entendê-lo, precisamos
compreendê-las! Pesquise o significado das palavras abaixo e complete o quadro:
3) Aponte algumas características que o narrador atribui à personagem
principal – Negrinha – e à patroa – Inácia.
Características de Negrinha: Ela é descrita como pobre, negra, magra, triste, e submissa, sem identidade própria. Características de Dona Inácia: Ela é gorda, rica, branca, virtuosa, hipócrita, sádica e opressora.
4) Explique o que o narrador quis dizer na seguinte passagem do texto:
“Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não
suportava o choro da carne alheia.” (4º parágrafo).
O narrador quis dizer que, como Dona Inácia não teve filhos, ela nunca experimentou a dor e o afeto da maternidade. Por isso, ela é incapaz de demonstrar compaixão e não suporta o sofrimento de outras pessoas, como o choro de Negrinha, que a faz lembrar daquilo que ela nunca viveu e não compreende.
5) Observe o seguinte trecho: “A mãe da criminosa abafava a boquinha da
filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal [...]” (6º parágrafo).
Quem era a criminosa e qual era o crime que estava sendo cometido?
A criminosa referida no trecho é Negrinha. O "crime" que estava sendo cometido, de acordo com a visão de Dona Inácia, era o simples ato de Negrinha ser uma criança negra e pobre, algo que a patroa não aceitava ou tolerava.
6) Em diversas passagens no texto, o narrador usa a ironia para falar de
Dona Inácia. Destaque, no mínimo, dois trechos onde isso fica evidente,
explicando a crítica implícita.
- "Excelente senhora, a patroa, com lugar garantido no céu" – A frase é irônica porque a personagem é descrita como uma pessoa boa e virtuosa, mas suas ações são cruéis e desumanas.
- "Ela não admitia choro de criança" – Ironiza o comportamento de Dona Inácia, que se considera uma pessoa boa, mas sua atitude de ignorar a dor de uma criança é cruel.
7) Qual foi, na sua opinião, o pior castigo sofrido por Negrinha?
Justifique:
8) Qual foi o fato que mudou a vida de Negrinha?
9) A que são comparadas as sobrinhas de Dona Inácia no texto? Por que
você acha que é feita essa comparação?
As sobrinhas de Dona Inácia são comparadas com princesinhas. Essa comparação é feita para destacar a diferença brutal entre elas e Negrinha, mostrando como as crianças brancas, ricas e com status social alto eram vistas como seres delicados e preciosos, enquanto Negrinha era tratada como inferior e desprezível.
10) O que Negrinha achava que fosse crime e qual foi o fato que mudou
essa percepção?
11) Explique, com as suas palavras, a frase: “Varia a pele, a condição,
mas a alma da criança é a mesma [...]” (70º parágrafo).
12) O que matou Negrinha? Por que, na sua opinião, isso a matou?
- O que matou Negrinha foi o desgaste emocional e físico causado por anos de sofrimento e violência. A falta de carinho e o tratamento desumano a afetaram profundamente, resultando em sua morte precoce.
13) Observe a frase: "Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros
anos, vivia-os pelos cantos [...]" (2º parágrafo). O pronome
destacado substitui qual termo mencionado anteriormente?
14) Na frase: "Punha-lhe os nervos em carne viva." (4º
parágrafo), o pronome destacado refere-se a quem?
O pronome "Punha-lhe os nervos em carne viva" refere-se a Negrinha, a quem a patroa causa sofrimento.
15) No sexto parágrafo, que termo foi utilizado para introduzir uma pergunta,
na primeira frase? Como é classificado esse termo?
No sexto parágrafo, o termo que introduz a pergunta é "Que", que é classificado como pronome interrogativo.
16) Indique a quem se referem os pronomes destacados no trecho: "A mãe da
criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para
os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de
desespero." (6º parágrafo).
17) Indique a que termo se referem os pronomes relativos destacados nas frases
abaixo.
a) "Que ideia
faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho?"
b) "[...] a
mesma atração que o imã exerce para o aço."
c) "Mãos em
cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria
[...]"
d) "[...]
surpresa maravilhosa do mundo que trazia em si [...]"
- a) "Que ideia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho?" – "que" refere-se à "ideia".
- b) "[...] a mesma atração que o imã exerce para o aço." – "que" refere-se à "atração".
- c) "Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria [...]" – "cujo" refere-se a "mãos".
- d) "[...] surpresa maravilhosa do mundo que trazia em si [...]" – "que" refere-se à "surpresa maravilhosa".
18) Reescreva as frases abaixo, substituindo as expressões destacadas pelos
pronomes adequados.
a) "[...] e
foi contar o caso à patroa [...]"
b) "[...] e
matas as saudades do bom tempo."
c) "[...] e
fechou os olhos."
Produção textual
Imagine um outro
final para o conto. Pense em como poderia ter sido a vida de Negrinha se aquela
felicidade que ela sentiu durante aquelas férias, continuasse. Use a imaginação
e mãos à obra!
-Enredo de "Negrinha" de Monteiro Lobato:
Resumo da História: O conto narra a vida de uma criança negra, órfã e filha de escrava, chamada Negrinha, que vive na casa de Dona Inácia, uma viúva rica e pertencente à aristocracia. Apesar de ser após a abolição, Dona Inácia ainda mantém uma mentalidade escravocrata e não concorda com a liberdade dos negros. Ela adota Negrinha, mas sua motivação é apenas para descarregar sua raiva e frustração, tratando a menina como um brinquedo, impondo-lhe castigos físicos e psicológicos. Negrinha, que nunca conheceu a felicidade, vive sob constantes abusos e maus-tratos, sendo espancada por todos na casa. A única coisa que lhe dá alguma alegria é observar o cuco do relógio, que marca as horas de sua vida.
O conto ganha um tom trágico quando uma criada denuncia o comportamento de Negrinha, e Dona Inácia, para punir a menina, a obriga a mastigar um ovo quente, causando-lhe grande sofrimento. O autor, ao longo da narrativa, mostra que a vida de Negrinha, desde o nascimento, foi marcada pelo sofrimento, e o conto termina com sua morte, simbolizando a morte de sua inocência e de sua luta por uma vida melhor.
Personagens:
Negrinha:
- Descrição: Personagem principal, negra e órfã, com cerca de sete anos, raquítica e sofrendo abusos físicos e emocionais durante toda sua vida.
- Função: Representa a criança marginalizada e oprimida, sem identidade ou dignidade, sendo vista mais como um objeto do que uma pessoa.
- Destino: Sua vida é marcada pelo sofrimento e culmina com sua morte.
Dona Inácia:
- Descrição: Mulher rica, viúva, e pertencente à aristocracia, conhecida por sua aparente virtude e devoção religiosa.
- Função: Personagem que simboliza a hipocrisia da sociedade da época. Por fora, é uma "honrada senhora", mas dentro de sua casa tortura uma criança indefesa.
- Crítica: Através de Dona Inácia, Monteiro Lobato denuncia as contradições da sociedade, onde as aparências e os padrões sociais de respeito mascaram a crueldade e a injustiça.
Reverendo:
- Descrição: Personagem coadjuvante, presente apenas para reforçar a imagem de "honrada senhora" de Dona Inácia.
- Função: Representa a moralidade imposta pela Igreja e as instituições da época, que, assim como a sociedade, ignoram as injustiças ocorrendo dentro dos lares.
Criada Nova:
- Descrição: Personagem que participa da cena em que Negrinha é forçada a engolir o ovo quente.
- Função: Inicialmente, é cúmplice das ações de Dona Inácia, mas depois se mostra um pouco mais amena em relação a Negrinha, não a tratando com tanta hostilidade.
Cuco:
- Descrição: O cuco do relógio, que sai a cada hora.
- Função: Metáfora do tempo que passa. Representa o único momento de "felicidade" de Negrinha, mas também, ao final da trama, simboliza o esgotamento de seu tempo de vida, a medida que a história se aproxima de sua morte.
Duas Sobrinhas:
- Descrição: Duas meninas loiras e saudáveis que visitam Dona Inácia para passar as férias.
- Função: Representam uma realidade completamente diferente da de Negrinha, sendo vistas como "normais" e privilegiadas. Brincam com Negrinha e se espantam com o fato de ela nunca ter visto uma boneca, o que destaca ainda mais a diferença social e de classe entre elas.
Conclusão: O conto de Monteiro Lobato é uma crítica contundente à sociedade brasileira pós-abolição, onde a libertação dos negros não se traduziu em uma verdadeira emancipação social. A história de Negrinha, cheia de sofrimento, exclusão e violência, denuncia a perpetuação das injustiças e a hipocrisia de uma classe dominante que, embora detentora de poder e prestígio, mantém práticas opressivas em suas próprias casas.
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