segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Realismo e Naturalismo no Brasil

  

Realismo e Naturalismo no Brasil

Cantiga de esponsais

Imagine a leitora que está em 1813, na igreja do Carmo, ouvindo uma daquelas boas festas antigas, que eram todo o recreio público e toda a arte musical. cantada; podem imaginar o que seria uma missa cantada

Não lhe chamo a atenção para os padres e os sacristãos, nem olhos das moças cariocas, que já eram bonitos nesse tempo, senhoras graves, os calções, as cabeleiras, as sanefas, as luzes, os sequer da orquestra, que é excelente; limito-me a mostrar-lhes a cabeça desse velho que rege a orquestra, com alma e devoção.

 Chama-se Romão Pires; terá sessenta anos, não menos, nasceu lados. É bom músico e bom homem; todos os músicos gostam é o nome familiar; e dizer familiar e público era a mesma cousa em tal matéria e naquele tempo "Quem rege a missa é mestre Romão", - equivalia a esta outra forma de anúncio, anos depois: "O ator Martinho cantará uma de suas melhores árias".  Era o tempero certo, o chamariz, delicado e popular.  Mestre Romão rege a festa!  Quem não conhecia mestre Romão, com o seu ar circunspecto, olhos no chão, riso triste, e passo demorado?  Tudo isso desaparecia à frente da orquestra; então a vida derramava-se por todo o corpo e todos os gestos do mestre; o olhar acendia-se, o riso iluminava-se: era outro.  Não que a missa fosse dele; esta, por exemplo, que ele rege agora no C'armo é de José Maurício; mas e rege-a com o mesmo amor que empregaria, se a missa fosse sua.

 Acabou a festa; é como se acabasse um clarão intenso, e deixasse o rosto apenas alumiado da luz ordinária.  Ei-lo que desce do coro, apoiado na bengala; vai à sacristia beijar a mão aos padres e aceita um lugar à mesa do jantar.  Tudo isso indiferente e calad Jantou, saiu, caminhou para a Rua da Mãe dos Homens, onde reside, com um preto velho, pai José, que é a sua verdadeira mãe, e que neste momento conversa com uma vizinha.

Mestre Romão já vem, pai José, disse a vizinha.

Eh! eh! adeus, sinhá, até logo.

Pai José deu um salto, entrou em casa, e esperou o senhor, que daí a pouco entrava com o mesmo ar de costume.  A casa não era. rica naturalmente; nem alegre.  Não tinha o menor vestígio de mulher, velha ou moça, nem passarinhos que cantassem, nem flores, nem cores vivas ou jucundas.  Casa somb e nua.  O mais alegre era um cravo, onde o mestre Romão tocava algumas vezes, estudando.  Sobre uma cadeira, ao pé, alguns papéis de música; nenhuma dele...

 Sabem o que é uma missa daqueles anos remotos. para o sermão, nem para os nem para as mantilhas das incensos, nada.  Não falo uma cabeça branca,

 

Alongo, ou por esses ele.  

Mestre Romão 

ASSIS, Machado de.  Obra completa.  Rio de Janeiro, Aquilar, 1962, vol. 2, p. 386-387.

Análise do Texto: "Cantiga de Esponsais" - Machado de Assis

O texto "Cantiga de Esponsais", escrito por Machado de Assis, destaca-se como um exemplo de sua habilidade em retratar cenas do cotidiano e personagens com profundidade psicológica, envoltos em um contexto histórico e cultural rico. Vamos explorar os aspectos principais do texto:

1. Contexto Histórico e Cultural

Machado ambienta o conto em 1813, numa época em que a música sacra desempenhava um papel central nas festividades religiosas e na vida social brasileira. A missa cantada mencionada no texto não era apenas um evento litúrgico, mas também uma forma de arte e entretenimento para o público.

  • Música como Arte e Religião:
    A narrativa destaca o papel da música sacra, regida pelo personagem Mestre Romão, como um símbolo de devoção religiosa e expressão artística. A referência ao compositor José Maurício Nunes Garcia, figura histórica real e contemporânea à época, confere autenticidade ao cenário.

  • Costumes da Sociedade do Século XIX:
    Machado descreve os costumes e a atmosfera social do período, mencionando as moças cariocas, os padres, as vestimentas e os comportamentos típicos da época.

2. Personagem Central: Mestre Romão

Mestre Romão é um retrato do músico devotado, cuja vida parece girar em torno da música. A narrativa o apresenta como um homem simples, melancólico e dedicado ao ofício.

  • Personalidade Dual:

    • Na regência: Quando está diante da orquestra, Romão transforma-se, iluminado pela paixão pela música, como se fosse outro homem.
    • No cotidiano: Fora da música, retoma um comportamento reservado, silencioso e aparentemente indiferente à vida social.
  • Simbolismo do Cravo:
    A presença do cravo em sua casa reflete sua relação íntima com a música, sendo o único elemento "vivo" em um ambiente sombrio e solitário.

3. Temas Principais

  1. A Arte como Transformação:
    Machado destaca o poder da música em transformar a vida do personagem. Durante a regência, Mestre Romão parece ganhar uma vitalidade que não é observada em outros momentos de sua rotina. Isso sugere como a arte pode ser um refúgio e uma razão de viver.

  2. Solidão e Melancolia:
    A casa de Romão, "sombria e nua", simboliza sua solidão. A ausência de família, companhias femininas, passarinhos ou flores reforça o tom melancólico do texto.

  3. Dedicação e Anonimato:
    Romão é um exemplo de artistas que dedicam suas vidas à arte sem buscar reconhecimento pessoal. Ele rege com a mesma paixão, independentemente de ser uma composição sua ou de outro.

4. Estilo Literário de Machado de Assis

  • Realismo:
    O texto reflete características do Realismo, como a preocupação em retratar personagens comuns, sem idealizações, e o foco na psicologia e no cotidiano.

  • Ironia e Sutileza:
    A narrativa de Machado possui um tom discreto, mas crítico, ao descrever a "luz ordinária" que volta ao rosto de Romão após a missa, sugerindo como a vida real pode ser menos vibrante do que os momentos de êxtase proporcionados pela arte.

  • Descrição Minuciosa:
    Machado emprega descrições detalhadas para criar uma ambientação rica e transportar o leitor para a igreja do Carmo e para a vida do personagem.

5. Leituras e Interpretações

  • Humanização do Artista:
    Mestre Romão representa o artista devotado, cuja vida se resume à arte que cria ou interpreta. Apesar de sua importância na comunidade, ele vive à margem, sem os prazeres mundanos ou o reconhecimento pleno.

  • Contraste entre Arte e Vida:
    O texto mostra como a arte pode elevar o espírito humano, mas também evidencia o contraste com a dureza e a monotonia da vida cotidiana.

6. Conclusão

"Cantiga de Esponsais" é uma obra que exemplifica a genialidade de Machado de Assis em capturar aspectos do cotidiano e transformá-los em reflexões profundas sobre a condição humana. O texto convida o leitor a refletir sobre temas como a solidão, o anonimato e o poder transformador da arte, apresentados por meio de uma narrativa envolvente e repleta de nuances emocionais.

Questões de Leitura e Interpretação do Texto acima: 

1. Leia o texto de Machado de Assis e indique a alternativa que esteja de acordo com o texto.

a) No 19º parágrafo, o narrador revela escrever para o leitor feminino, o que implica uma crítica ao leitor masculino.
Resposta: FALSO. O narrador não faz essa crítica diretamente, mas direciona o discurso para o leitor de forma irônica e reflexiva.

b) A missa de que o autor fala pertence a um tempo passado, muito distante, remoto, com as características do século XVIII.
Resposta: FALSO. O texto menciona a missa, mas ela pertence a um tempo mais recente, não sendo do século XVIII.

c) A missa de que o narrador fala pertence a um tempo que não é o mesmo da escritura do conto e nem o da leitura.
Resposta: VERDADEIRO. O autor faz uma referência a um evento passado, mas não está no mesmo tempo em que o conto é escrito ou lido.

d) No 1º parágrafo, o autor utiliza-se de uma manobra para não descrever personagens da missa e atém-se somente à descrição do "velho de cabeça branca".
Resposta: VERDADEIRO. O autor usa uma descrição mais indireta e se concentra em um único personagem, o "velho de cabeça branca", sem detalhar outros aspectos da missa.


2. Indique a alternativa correta de acordo com o texto no 2º parágrafo.

a) O autor nos diz que Mestre Romão é da mesma época do ator Joffo Caetano.
Resposta: FALSO. Não há referência a Joffo Caetano no texto.

b) O autor nos diz que "familiar e público era a mesma coisa", porque no tempo em que transcorreu a missa, na cidade do Rio de Janeiro, tudo era próximo, pequeno, sem características de centro urbano.
Resposta: VERDADEIRO. O texto menciona que a cidade era pequena e as distâncias entre público e privado eram mais próximas.

c) O tipo de descrição (referencial) de Mestre Romão nos leva a entender que o autor é realista: ele se atém ao retrato físico.
Resposta: FALSO. O autor se atém a aspectos mais subjetivos da personagem, não apenas a um retrato físico realista.

d) Para Mestre Romão, o ato de reger era uma festa porque, para ele, era o mesmo que compor a música.
Resposta: VERDADEIRO. Mestre Romão vê o ato de reger como algo que é quase equivalente à criação musical.


3. De acordo com o 3º parágrafo:

a) Há um grande contraste entre o rosto do regente fora e dentro da missa: é o contraste entre sua vida como regente e sua vida em sociedade.
Resposta: VERDADEIRO. O texto descreve esse contraste, mostrando a dualidade da vida do regente.

b) O mestre, pela descrição, assemelha-se a qualquer tipo de ator em fim de carreira; fisicamente frágil e psiquicamente indiferente, distante, disfarça tais deficiências, revelando certa empáfia.
Resposta: VERDADEIRO. A descrição sugere que Mestre Romão é uma figura desgastada, mas ainda tenta manter uma certa postura de autoridade.

c) Mestre Romão tem um código, por meio do qual se comunica, cujos signos são as notas musicais. Envolvido por essa linguagem, o regente dispensa o código linguístico, mas o autor depende dele para falar da personagem.
Resposta: VERDADEIRO. Mestre Romão se comunica através da música, mas o autor usa a linguagem literária para descrevê-lo.


Périodo Histórico e Contexto Social:

O texto também menciona aspectos do Brasil do século XIX, como a luta pela abolição, a formação da agricultura cafeeira, a dependência do capital inglês, a construção de ferrovias e a insatisfação gerada pela divulgação das ideias republicanas. Esses elementos ajudam a contextualizar a sociedade e o cenário em que os personagens e a história estão inseridos.

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Realismo-Naturalismo no Brasil e em Portugal: Linha do Tempo 

Em Portugal

  1. Início do Realismo-Naturalismo:

    • 1865: Questão Coimbrã.
      • Movimento literário e filosófico que introduziu novas ideias estéticas, rompendo com o Romantismo.
      • Debate entre jovens escritores de Coimbra e figuras do Romantismo.
      • Marcou a chegada das influências positivistas e científicas à literatura portuguesa.
  2. Marco Literário:

    • Principais autores: Eça de Queirós (representante do Realismo e Naturalismo em Portugal).
    • Temáticas: crítica social, retratos da sociedade burguesa, análise psicológica.
  3. Fim do Período:

    • 1900: Morte de Eça de Queirós.
      • Encerramento simbólico do ciclo do Realismo e Naturalismo em Portugal.

No Brasil

  1. Transição Literária:

    • 1881: Publicação de obras inaugurais:
      • "Memórias Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis (Realismo).
      • "O Mulato" de Aluísio Azevedo (Naturalismo).
  2. Principais Características no Brasil:

    • Realismo:

      • Crítica aos valores burgueses.
      • Análise psicológica e comportamental dos personagens.
      • Foco na objetividade e racionalidade.
      • Autor de destaque: Machado de Assis.
    • Naturalismo:

      • Influência das ciências naturais (determinismo, positivismo).
      • Análise social e biológica dos indivíduos.
      • Exploração de temas como desigualdade, violência e sexualidade.
      • Autor de destaque: Aluísio Azevedo.
  3. Parnasianismo Simultâneo:

    • Movimento poético que coexistiu com o Realismo e Naturalismo.
    • Obras:
      • 1882: Publicação de "Missal" e "Broquéis" por Cruz e Sousa.
  4. Declínio:

    • 1893: Enfraquecimento do movimento com a chegada do Simbolismo.

Comparações Gerais

  1. Portugal:

    • Marco inicial: Questão Coimbrã (1865).
    • Destaque para Eça de Queirós, com obras como "Os Maias" e "O Primo Basílio".
    • Temáticas voltadas à crítica da sociedade burguesa portuguesa.
  2. Brasil:

    • Marco inicial: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).
    • Integração de elementos da realidade brasileira, como a escravidão, desigualdade social e regionalismos.
    • Divisão entre a análise psicológica (Realismo) e biológica (Naturalismo).
  3. Conclusão:

    • Enquanto em Portugal o Realismo-Naturalismo foi uma transição do Romantismo para a modernidade literária, no Brasil marcou um movimento pioneiro na construção de uma literatura verdadeiramente nacional e crítica.

CONTEXTO  HISTÓRICO- CULTURAL

 Esse fragmento de conto de Machado de Assis nos dá a medida exata do Realismo, que graças a ele se desenvolvera; no Brasil: realismo na descrição, na observação do mundo exterior e interior das personagens.

A grande expressão da literatura brasileira que foi Machado de Assis refletiu muito bem em suas obras a época em que viveu.  Era o Brasil Imperial, marcado pelo grito de Independência, mas, na prática, à mercê do capital estrangeiro, dependendo de uma política de exportação (café e cana-de-açúcar), país escravocrata, de grandes proprietários rurais, donos da política do Império.  As leis, a ordem e a vida eram determinadas por eles.

Como toda a economia que se baseia apenas na exportação, também a nossa era oscilante, pois os preços e condições eram ditados pelo mercado exterior.  Para consumo interno só se produziam alimentos, como hortaliças, frutas, além de aves e peixes, que incrementavam a alimentação.  Afora isso, tudo era importado.

Enquanto isso, a industrialização tornava a Inglaterra imperialista mais poderosa; países como Portugal e Brasil necessitavam de seus produtos e começavam a contrair ainda mais dívidas.  Quanto mais o Brasil se endividava, mais nossos produtos eram exportados a preços determinados pelo país credor.

O Rio de Janeiro era a capital federal: o conforto e a modernização da cidade tinham sido construídos apenas para abrigar a corte de D. Joao.  De resto, suas ruas eram sujas, não havia saneamento básico, a febre amarela era um risco constante.

De um lado, portanto, a cidade comportava a aparência europeia para servir ao Império e, de outro, era lotada por uma população privada de condições básicas de vida.

Enquanto nos anos de 70 em Portugal eram discutidas questões como república, socialismo e comunismo, aqui caminhávamos progressivamente para a campanha abolicionista.  Além do aspecto humano, levantado e denunciado por idealistas como Joaquim Nabuco, abolicionista ao extremo, havia o aspecto econômico que interessava aos plantadores de café, que percebiam que o sustento do escravo era menos lucrativo que a manutenção de mão-de-obra assalariada.  Portanto, a campanha da abolição tinha de ter êxito, pois atrás dela estavam em jogo os interesses também dos "barões do café".

Nessa época chegam a nós as produções literárias revolucionárias; Madame Bovary, de Flaubert, por exemplo, que causou escândalo ao tratar o assunto adultério como consequência da concepção romântica de amor e de casamento; as proibidas conferências do Cassino Lisbonense; as ideias positivistas e deterministas, baseadas em leis fisiológicas que originaram o Naturalismo, e também as ideias parnasianas francesas que propunham uma nova poesia antirromântica.

Em 1889 foi proclamada a nossa República e pouca coisa mudou: dependência externa, política de exportação, país sem indústria.  Com mentalidade de colônia, imitávamos tudo o que era estrangeiro.

 Contra a República estavam os donos do açúcar, conservadores que tinham seus interesses favorecidos pelo Império.  Mas os "barões do café" precisavam de unia nova ordem, de leis e políticas que os apoiassem na exportação e mesmo no processo de comercialização (créditos, bancos etc.). Assim, os fazendeiros de café que também eram os empresários iniciantes, eram republicanos que, prevendo os novos tempos, precisavam de um novo poder.

Nesse contexto é desenvolvido o Realismo no Brasil, que teve, como expoente superior, o mestre Machado de Assis.

Resumo do texto acima:  

Contexto Histórico-Cultural do Realismo no Brasil

1. O Realismo e Machado de Assis

  • Machado de Assis foi o maior expoente do Realismo no Brasil.
  • Suas obras retratavam com profundidade o contexto histórico-social e psicológico das personagens.
  • O Realismo priorizava a descrição objetiva e a observação do mundo exterior e interior.

2. O Brasil Imperial

  • Independência formal, mas dependência econômica:
    • Economia voltada à exportação (café e cana-de-açúcar).
    • Dependência do capital estrangeiro, especialmente da Inglaterra.
  • Sociedade escravocrata:
    • Grandes proprietários rurais controlavam a política e a economia.
    • População urbana vivia em condições precárias.

3. Economia e Industrialização

  • Economia instável, sujeita às oscilações do mercado externo.
  • A industrialização era inexistente no Brasil, enquanto países como Inglaterra prosperavam.
  • Dívidas externas crescentes agravavam a dependência econômica.

4. A Capital: Rio de Janeiro

  • Dualidade social:
    • Parte da cidade tinha aparência europeia para a corte.
    • A outra parte enfrentava condições insalubres e pobreza extrema.
  • Problemas urbanos:
    • Falta de saneamento básico.
    • Epidemias como a febre amarela.

5. A Campanha Abolicionista

  • Movimento abolicionista:
    • Liderado por idealistas como Joaquim Nabuco.
    • Pressionado também por fazendeiros de café que viam a mão de obra assalariada como mais lucrativa.
  • A abolição foi impulsionada tanto por razões humanitárias quanto econômicas.

6. Influências Literárias e Filosóficas

  • Obras revolucionárias europeias chegaram ao Brasil:
    • Madame Bovary, de Flaubert, escandalizou ao abordar o adultério.
  • Ideias e movimentos influentes:
    • Positivismo e determinismo (base do Naturalismo).
    • Parnasianismo francês, que propunha uma poesia objetiva e antirromântica.
    • Conferências proibidas no Cassino Lisbonense, que disseminaram ideias modernas.

7. A Proclamação da República (1889)

  • A mudança de regime pouco alterou a realidade do país:
    • Dependência externa e economia baseada em exportação continuaram.
    • A mentalidade colonial persistiu, com imitação de padrões estrangeiros.
  • Conflito de interesses:
    • Conservadores (produtores de açúcar) apoiavam o Império.
    • Barões do café precisavam de uma nova ordem republicana para expandir seus negócios.

8. Realismo no Brasil

  • Desenvolveu-se nesse contexto de transição política e social.
  • Influenciado pelas condições econômicas, sociais e culturais do período.
  • Machado de Assis usou o Realismo para retratar as contradições e complexidades da sociedade brasileira.

AUTORES DO REALISMO

 Machado de Assis

 Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu no Morro do Livramento: magro, doente, pobre e mulato.  Muito cedo ficou órfão de mãe e foi a madrasta, Maria Inês, quem cuidou do menino (mesmo porque, logo depois ele perderia o pai); ela era lavadeira e doceira e o menino Joaquim Maria vendia o que a madrasta fazia.

Não pode frequentar escola, pois estudar era um privilégio apenas de quem tinha condições econômicas.  Sua alfabetização foi precária, mas Joaquim Maria, vendedor de balas, seria mais tarde o fundador e presidente perpétuo da Academia Brasileira de Letras (1 896).

Autodidata, esforçado e inteligente, Machado vai procurar emprego que lhe dê mais segurança.  Através dele consegue ter contato com jornalistas e intelectuais, o que o tira do isolamento intelectual em que vivia.  O relacionamento com pessoas e ideias permite a reflexão a partir de discussões, não mais a partir do isolamento do autodidata.

Em 1855, Machado publica seu soneto "Ela", na "Marmota Fluminense", graças a Paula Brito - famoso proprietário de uma tipografia e livraria que conheceu Machado aos 16 anos.

Oferece4he trabalho, e da função mais elementar, o semialfabetizado Machado passa, aos poucos, a corrigir originais, rever textos, além de ser vendedor na livraria de Paula Brito.

 Nesse ambiente ele tem contato com textos e pessoas que ampliam sua vida no plano intelectual.

No plano afetivo, Machado amou Carolina com quem se casou em 1869.  Ela pode ser considerada, para a época, uma mulher corajosa, pois sua família portuguesa e os valores da sociedade da época pouco admiravam, para marido, um mulato, pobre e com pretensões a escritor.

Por essa época Machado já era um homem respeitado e pessoas ilustres o apoiaram na luta contra a família de Carolina.  Viveu com essa mulher por 35 anos, separados apenas pela morte dela em 1904.  E isso é o início do fim de Machado.

 Resumo: Machado de Assis

1. Dados Biográficos

  • Nome completo: Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908).
  • Origem: Nasceu no Morro do Livramento, Rio de Janeiro.
  • Condições sociais: Magro, doente, pobre e mulato.

2. Infância e Juventude

  • Órfão de mãe muito cedo; perdeu o pai logo depois.
  • Criado pela madrasta, Maria Inês, lavadeira e doceira.
  • Vendia doces feitos pela madrasta para ajudar no sustento.
  • Não frequentou escola por falta de recursos; alfabetização inicial foi precária.

3. Formação e Carreira

  • Autodidata: Aprendeu por conta própria e se dedicou aos estudos.
  • Trabalhou com Paula Brito (dono de livraria e tipografia), aos 16 anos:
    • Começou em funções simples, depois corrigia originais e revisava textos.
    • O ambiente intelectual ampliou sua visão de mundo.
  • Primeiro soneto: "Ela", publicado em 1855 na Marmota Fluminense.
  • Tornou-se fundador e presidente perpétuo da Academia Brasileira de Letras (1896).

4. Vida Intelectual

  • Contato com jornalistas e intelectuais no emprego ajudou a sair do isolamento.
  • Participação em debates e discussões estimulou seu pensamento crítico.
  • Consolidou-se como um dos maiores escritores do Brasil.

5. Vida Pessoal

  • Casou-se com Carolina em 1869:
    • Ela era portuguesa, de uma família conservadora.
    • Enfrentaram preconceitos por ele ser mulato e pobre.
  • Foi apoiado por amigos ilustres na luta para se casar com Carolina.
  • Casamento durou 35 anos; separados apenas pela morte de Carolina, em 1904.

6. Fim de Vida

  • A morte de Carolina marcou o início do declínio emocional de Machado.
  • Faleceu em 1908, reconhecido como um dos maiores expoentes da literatura brasileira.

A Carolina

       "Trago-te flores, - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa e separados.

 

Que eu, se tenho nos olhos mal feridos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos."

 A análise completa do poema "A Carolina", de Machado de Assis

1. Contexto Histórico e Biográfico

  • Escrito em 1904: O poema foi composto por Machado de Assis após a morte de sua esposa, Carolina Augusta Xavier de Novais, com quem viveu durante 35 anos.
  • Carolina foi uma figura fundamental na vida de Machado, apoiando-o emocional e intelectualmente, em um casamento marcado por parceria e dedicação mútua.
  • O poema é uma elegia, ou seja, um texto poético que expressa luto, dor e saudade.. Estrutura do Poema
  • Versos decassílabos: Seguem uma métrica regular, conferindo solenidade ao texto.
  • Três versos por estrofe (tercetos): O formato compacto reforça a concisão e intensidade emocional.
  • Rimas intercaladas: "Arrancados"/"Separados" (versos 1 e 3), "Feridos"/"Vividos" (versos 4 e 6) evidenciam musicalidade e harmonia.

3. Temas Centrais

a. Luto e Separação

  • O poema reflete a dor pela perda de Carolina, explicitando a ideia de separação após a morte.
  • A imagem dos "restos arrancados" simboliza o que sobrevive após a passagem do tempo e da morte: as memórias e os sentimentos.

b. Amor e Saudade

  • O eu lírico enfatiza o amor eterno, mesmo após a morte: as "flores" representam tanto a despedida quanto a permanência do sentimento.
  • A saudade é expressa por meio do contraste entre o "passar unidos" e o "deixar separados".

c. Reflexão sobre a Vida e a Morte

  • Machado projeta o impacto da perda na própria existência. Os "pensamentos de vida formulados" já estão "idos e vividos", indicando que tudo se encerra com a ausência de sua companheira.
  • O poema sugere a fugacidade da vida e a inevitabilidade da morte.

4. Análise Estilística

a. Simbolismo das Flores

  • As flores são "restos arrancados da terra", metáfora da transitoriedade e da fragilidade da vida.
  • Representam um presente simbólico, que conecta o amor do passado ao luto presente.

b. Tom Elegíaco

  • O tom é de tristeza e melancolia, característico de uma elegia.
  • O uso de palavras como "mortos", "separados", "feridos" e "idos" reforça a atmosfera de perda.

c. Contraste Temporal

  • "Passar unidos" e "deixar separados" criam uma oposição que destaca a mudança abrupta causada pela morte.
  • O tempo passado é associado à plenitude e união, enquanto o presente é marcado pela solidão.

d. Linguagem Simples e Subjetiva

  • Apesar de sua profundidade, a linguagem é direta e acessível, reforçando a sinceridade do sentimento.
  • O poema se torna íntimo, quase como uma conversa entre o poeta e a amada falecida.

5. Interpretação Crítica

  • Machado de Assis, conhecido por seu ceticismo e racionalismo em suas obras, apresenta aqui um lado profundamente humano e emocional.
  • O poema contrasta com o tom irônico de muitos de seus textos, revelando um momento de fragilidade e devoção pessoal.
  • "A Carolina" é, acima de tudo, uma homenagem à parceria de toda uma vida, em que o amor supera a barreira da morte, permanecendo nos "pensamentos idos e vividos".

6. Conclusão

O poema "A Carolina" é um exemplo de como Machado de Assis conseguiu condensar, em poucos versos, uma carga emocional intensa. A simplicidade da forma não diminui a profundidade do conteúdo, mas, ao contrário, torna-o universal e atemporal. Trata-se de uma das mais belas expressões de amor e luto na literatura brasileira, imortalizando o vínculo entre Machado e Carolina.

MACHADO DE ASSIS 

Machado foi jornalista, funcionário público, crítico de teatro, de romances, elogiado e condecorado, conhecido, em vida, dentro e fora do Brasil.  Mas foi, principalmente, um homem pacato, caseiro, que vivia com simplicidade e hábitos rotineiros.

Machado morreu quatro anos depois de Carolina e seu corpo velado na Academia Brasileira de Letras oficializava a sua imortalidade: Rui Barbosa discursou em sua homenagem.  E até hoje ele é o clássico da literatura brasileira, no sentido de que sua obra é atemporal.  Lida, filmada, transformada em telenovela, estudada, reanalisada, reescrita (o conto "Missa do Galo" foi reescrito por vários autores, sob diferentes ângulos), a obra de Machado coroa o moleque mulato que negou, com sua vida, o princípio determinista de que o homem é produto do seu meio ambiente.  Machado é o testemunho de que o homem é agente transformador do seu destino e, portanto, capaz de transformar valores e rumos sociais.  Mas há também em Machado aquele pessimismo que provém da certeza de que o homem também está nas mãos do destino, não raras vezes sujeito à vida, sem poder de desviar as surpresas que ela lhe apresenta.

Sobre a obra machadiana podemos dizer que ela é constituída de contos (Contos F7uminenses (1870), História da Meia-Noite (1873) entre outros, além de Relíquias de Casa Velha (1906) dedicada a Carolina); poesias (Crisálidas (1864), Falenas (1870), entre outras); teatro (Hoje Avental, A mão e a Luva (1860), Queda que as Mulheres Têm para os Tolos (1861) entre outras obras); crônicas, textos críticos e romances.

O romance machadiano revela uma evolução permanente do escritor, que a cada obra amadurece o seu espírito realista e crítico.  Para fins didáticos costuma-se dividir seus romances em românticos (1ªfase) e realistas (2ª fase).

Mas o Machado que inaugura o Realismo a partir de 1881, com o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, é o autor que já se anuncia nos romances anteriores a esse.  Em Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), Machado parece ser o autor que quer divertir o público feminino.  Com histórias simples, conflitos e ações motivadas por amor, orgulho, ciúme, ambição, medo, timidez etc., essas obras lembram o romance romântico de folhetins.  Mas suas personagens são criadas e estruturadas para representarem a sociedade brasileira nos seus valores, preconceitos, nas suas contradições.

As personagens femininas de Machado já começam a se caracterizar como mulheres, diferentes das donzelas de Joaquim Manuel de Macedo.  São personagens que vivem conflitos interiores que o amor e o casamento não resolvem: a sua fase romântica, portanto, não coloca o sonho de amor como solução de problemas existenciais.  Em Iaiá Garcia, por exemplo, o casamento, a conquista do marido se dá por interesses que não se relacionam com o amor.

Machado romântico já anuncia o Machado realista: o casamento pode não ser a comunhão interior de dois seres, mas a união de interesses exteriores.

Machado de Assis, destacando seus aspectos biográficos, obra literária e relevância histórica:

1. Biografia e Contexto Histórico

  • Personalidade e Vida Pacata:
    Machado de Assis foi descrito como um homem pacato e caseiro, que viveu de forma simples, com hábitos rotineiros. Apesar de seu talento e reconhecimento, manteve uma vida modesta e discreta.

  • Reconhecimento em Vida e Pós-Morte:
    Ele foi reconhecido como uma das grandes figuras literárias de seu tempo, tanto no Brasil quanto fora dele. Sua imortalidade literária foi oficializada com um discurso de Rui Barbosa na Academia Brasileira de Letras, onde foi velado após sua morte, quatro anos depois do falecimento de sua esposa, Carolina.

  • Superação Pessoal:
    Sua trajetória refutou o determinismo social de sua época, mostrando que, apesar das condições adversas (ser pobre, mulato e órfão de mãe), ele se tornou um ícone da literatura brasileira.

  • Pessimismo Filosófico:
    Embora reconheça a capacidade humana de transformação, Machado frequentemente abordava o pessimismo decorrente da imprevisibilidade do destino, destacando o conflito entre o controle humano sobre sua vida e as surpresas que ela pode trazer.

2. Produção Literária de Machado de Assis

a. Contos e Poesias

  • Escreveu várias coletâneas de contos, como Contos Fluminenses (1870) e Relíquias de Casa Velha (1906).
  • Produziu obras poéticas notáveis, como Crisálidas (1864) e Falenas (1870), que evidenciam sua habilidade em trabalhar diferentes formas literárias.

b. Teatro e Crônicas

  • Atuou também no teatro, com peças como Hoje Avental, a Mão e a Luva (1860).
  • Escreveu crônicas e textos críticos, mostrando seu engajamento com os debates literários e sociais de sua época.

c. Romances

  • Primeira Fase (Romântica):
    Romances como Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878) apresentam histórias influenciadas pelo romance romântico, com temáticas de amor, ciúme, orgulho e ambição. No entanto, mesmo nessa fase, Machado já demonstra um olhar crítico para a sociedade brasileira e suas contradições.

  • Segunda Fase (Realista):
    Com o marco de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado inaugura o Realismo no Brasil. Os romances dessa fase exploram com profundidade o comportamento humano, as contradições sociais e os interesses egoístas que muitas vezes pautam as relações, como em Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899).

3. Temas e Características Literárias

a. Crítica Social e Filosófica

  • Desde a fase romântica, Machado já demonstra uma visão crítica da sociedade.
  • No Realismo, ele aprofunda a análise psicológica das personagens, mostrando como o casamento, por exemplo, pode ser motivado mais por interesses do que por amor (Iaiá Garcia).

b. Representação Feminina

  • Suas personagens femininas vão além do estereótipo da "donzela romântica". São mulheres com conflitos interiores e complexidade emocional, antecipando a abordagem psicológica de sua fase realista.

c. Pessimismo e Fatalismo

  • O pessimismo de Machado surge da constatação de que, embora o homem seja um agente transformador, ele também está sujeito a forças maiores, como o destino e as imposições sociais.

d. Universalidade e Atemporalidade

  • Sua obra transcende o contexto histórico, sendo continuamente lida, adaptada e reinterpretada, como no caso de Missa do Galo, que foi reescrita por diversos autores sob diferentes ângulos.

4. Relevância de Machado de Assis

  • Clássico da Literatura Brasileira: Machado permanece como um marco na literatura nacional, tanto por sua contribuição estilística quanto por sua capacidade de explorar as contradições humanas e sociais.
  • Superação do Determinismo Social: Sua vida e obra são testemunhos de que o talento e a determinação podem superar barreiras impostas pela sociedade.

Machado de Assis é, portanto, uma figura multifacetada: um escritor que equilibrou crítica social, análise psicológica e um estilo literário único, deixando uma herança literária que continua a inspirar e desafiar leitores em todo o mundo.

A Evolução Literária de Machado de Assis no Realismo

A partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis inicia uma nova fase literária, marcando o ápice de sua produção. Este período abrange romances como Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), consolidando a força crítica e realista de sua obra.


Características da Fase Realista de Machado de Assis

  1. Abandono de Histórias Sentimentais
    Machado afasta-se das narrativas sentimentais e previsíveis de sua primeira fase, focando em um retrato profundo da psicologia das personagens. Seu interesse não está mais nos eventos surpreendentes, mas na análise minuciosa do comportamento humano e nas motivações interiores, muitas vezes mesquinhas, das pessoas.

  2. A Técnica Narrativa e o Papel do Leitor

    • Diálogo com o Leitor: Machado frequentemente interrompe a narrativa para conversar diretamente com o leitor, inserindo-o na obra e tornando-o cúmplice da análise social e psicológica das personagens.
    • Ruptura da Cronologia Linear: Seus romances são construídos com fragmentos aparentemente desconexos, como um vaivém, que são ligados pelo narrador ao longo da obra. Essa estrutura, que ele próprio descreve como o "andar dos ébrios", torna sua escrita inovadora e atemporal.
  3. Ironia e Desnudamento Social

    • Machado utiliza uma linguagem precisa, repleta de ironia e insinuações, para revelar o contraste entre o "ser" e o "parecer".
    • Ele explora temas como:
      • A hipocrisia social: A caridade como símbolo de status social.
      • O casamento por conveniência: Um contrato de estabilidade econômica e não de amor.
      • A política como oportunismo: Denúncia do individualismo e da corrupção política.
  4. Retrato da Sociedade Brasileira

    • Suas obras refletem a camada social carioca da época do Segundo Império e início da República, com ênfase nos salões aristocráticos do Rio de Janeiro.
    • Machado também expõe as contradições entre classes sociais, mostrando o conservadorismo, a mentalidade escravocrata e a desigualdade entre brancos e negros, ricos e pobres.
  5. Exemplos de Violência Simbólica

    • Quincas Borba: Palha, o marido "flexível", e Sofia, que simboliza a "sabedoria", ilustram como o adultério e o interesse mesquinho podem coexistir sem rupturas aparentes.
    • Memórias Póstumas de Brás Cubas: O corpo da negra, explorado de forma sensual e desrespeitosa, e a relação utilitária com Marcela, que "amou" o narrador durante "quinze meses e onze contos de réis".

Crítica Social e Atemporalidade

Machado critica com sutileza as desigualdades sociais, expondo as misérias humanas e psíquicas. Ele documenta os hábitos e costumes do Rio de Janeiro, com cenários como a Rua do Ouvidor e a Igreja do Carmo, mas seus temas transcendem o século XIX e a cidade carioca.

Seus textos permanecem atuais, retratando a sociedade como um espaço de violência simbólica, onde o ser humano é reduzido a mercadoria, como exemplificado em Memórias Póstumas de Brás Cubas:

"Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos."

Conclusão

Machado de Assis é um narrador que combina distanciamento e ironia para provocar uma reflexão profunda no leitor. Ele aborda as misérias sociais com precisão analítica, sem apelos emocionais ou moralismos, e sua obra, além de atemporal, é universal em sua crítica à hipocrisia e às contradições humanas.


Raul Pompéia - Vida e Obra

1. Biografia

  • Nascimento e Formação:
    Raul D'Ávila Pompéia nasceu em 1863. Estudou no Colégio Abílio, cujas vivências inspiraram sua obra mais célebre, O Ateneu. Formou-se em Direito em Recife, após iniciar o curso em São Paulo.

  • Atividades Profissionais:

    • Diretor do Diário Oficial.
    • Professor de Mitologia na Escola Nacional de Belas-Artes.
    • Diretor da Biblioteca Nacional, sendo demitido por ordem de Prudente de Morais devido à sua ligação com Floriano Peixoto e pelo discurso em sua homenagem.
  • Atuação Política:

    • Abolicionista e republicano ativo, sofreu perseguições políticas.
    • Envolveu-se em polêmicas públicas, como a troca de ofensas com Olavo Bilac, que quase resultou em um duelo.
  • Morte Trágica:
    Sentindo-se desonrado após uma série de ataques, incluindo o artigo "Um Louco no Cemitério", suicidou-se na noite de Natal de 1895, aos 32 anos.

2. Produção Literária

  • Romances:

    • Uma Tragédia no Amazonas (1880).
    • As Jóias da Coroa (1882).
    • O Ateneu (1888), sua obra mais famosa.
    • Agonia (inacabado e inédito).
  • Contos e Poesia:

    • Microscópios (1881).
    • Canções sem Metro (poemas em prosa, 1883).

3. O Ateneu – Análise da Obra

  • Contexto e Repercussão:
    Publicado em 1888, O Ateneu narra a vida de adolescentes em um internato. Sua linguagem inovadora e estilo psicológico geraram debates sobre se seria ou não autobiográfico.

  • Temática Principal:

    • Denúncia da opressão e deformação impostas pelo internato, apresentado como uma microrrealidade que reflete os valores da sociedade da época.
  • Personagens e Relações:

    • Aristarco: Diretor do colégio, caricatura do autoritarismo e conservadorismo.
    • Relações entre estudantes são descritas em profundidade, abordando temas como homossexualidade e o complexo de Édipo.
  • Estilo e Linguagem:

    • Uso de caricaturas para representar traços sociais e psicológicos.
    • Linguagem rica em metáforas e ritmo poético, o que confere à obra características simbólicas e estilísticas inovadoras.

4. Importância de Raul Pompéia

  • Consciência Crítica:

    • Raul Pompéia denunciou as injustiças e hipocrisias de sua época, utilizando a literatura como meio de reflexão social.
  • Inovação Estilística:

    • O Ateneu é considerado um marco pelo uso de técnicas narrativas sofisticadas, que unem descrição psicológica, crítica social e simbolismo poético.

 Características do Naturalismo

  • Origem e Influências:

    • Desenvolvido como um desdobramento do Realismo, sob influência do cientificismo determinista.
    • Principal expoente: Émile Zola (França).
    • No Brasil, o maior representante é Aluísio Azevedo.
  • Temáticas Centrais:

    • Foco na representação das condições humanas sob um prisma científico e determinista.
    • Exploração de temas sociais, como preconceito, pobreza, violência, exploração econômica e sexualidade.
    • Ênfase na luta entre forças econômicas e no papel da coletividade.

Aluísio Azevedo – Biografia e Produção Literária

  • Vida e Formação:

    • Nascido em São Luís, Maranhão, em 1857.
    • Trabalhou como caricaturista antes de se dedicar à literatura.
    • Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde viveu exclusivamente da escrita.
    • Tornou-se diplomata e faleceu em 1913, na Argentina.
  • Obras Principais:

    • O Mulato (1881): marco inicial do Naturalismo no Brasil, abordando o preconceito racial.
    • Casa de Pensão (1884): crítica à hipocrisia da sociedade urbana.
    • O Cortiço (1890): obra-prima do Naturalismo brasileiro, com enfoque na coletividade.
  • Outras Obras:

    • Mistério da Tijuca (1882), A Mortalha de Alzira (1894), entre outras.

Características das Obras de Aluísio Azevedo

  • Naturalismo com Traços Realistas e Românticos:

    • Apesar de naturalista, apresenta influências do Realismo e do Romantismo em sua obra.
    • Produções irregulares, alternando características em diferentes publicações.
  • Crítica Social:

    • Denúncia da exploração econômica, do preconceito racial, e da marginalização de grupos como mulheres, homossexuais e operários.
    • Exposição da opressão social em função da desigualdade econômica.
  • Coletividade como Protagonista:

    • Destaque para grupos sociais em vez de indivíduos.
    • Em O Cortiço, o ambiente e a coletividade têm mais relevância que personagens isolados.
  • Pessimismo e Esperança:

    • Representação de um cenário em que forças econômicas e sociais esmagam os indivíduos.
    • Crítica e denúncia como instrumentos de transformação social.
  • Descrição Detalhista e Crueza:

    • Descrições minuciosas, comparáveis a quadros ou cenas cinematográficas.
    • Linguagem direta e crua, sem eufemismos, para refletir a realidade da época.

Comparações com Outros Autores

  • Machado de Assis:

    • Machado explora o contraste entre o ser e o parecer (dimensão psicológica).
    • Aluísio foca no contraste socioeconômico (dimensão social).
  • Influência Internacional:

    • Aluísio no Brasil e Cesário Verde em Portugal descrevem a vida moderna com realismo detalhista, apresentando a nova dinâmica social do século XIX.

Legado de Aluísio Azevedo

  • Aluísio marcou a transição da literatura brasileira, abordando questões sociais com profundidade e cientificismo.
  • Suas obras continuam sendo referência na análise das transformações sociais e do papel do indivíduo em contextos coletivos.

Perguntas e respostas: 

Dissertativas

  1. Dissertativa: Explique as principais diferenças entre Realismo e Naturalismo, destacando suas influências sociológicas e científicas, e a forma como esses movimentos literários tratam o ser humano e as relações sociais. Como essas diferenças se refletem nas obras de Machado de Assis e Aluísio Azevedo?

  2. Dissertativa: Em que medida a obra "O Cortiço", de Aluísio Azevedo, reflete as características do Naturalismo, como o determinismo social e a influência do ambiente sobre o comportamento humano? Apresente exemplos específicos da obra para sustentar sua argumentação.

  3. Dissertativa: Compare a construção psicológica dos personagens de Machado de Assis e Raul Pompéia, destacando como a crítica social e a complexidade da psicologia humana são apresentadas em suas obras.

respostas:
 

1. Diferenças entre Realismo e Naturalismo

O Realismo e o Naturalismo são dois movimentos literários que surgiram no século XIX e que se caracterizam por uma abordagem mais científica e objetiva da realidade, com ênfase no homem e na sociedade. No entanto, apresentam diferenças significativas tanto nas influências quanto no tratamento das questões humanas.

  • Realismo: O Realismo, influenciado principalmente pelas teorias filosóficas de Auguste Comte e pela sociologia, busca retratar a realidade de maneira fiel, sem idealizações. A ênfase está nas questões sociais, psicológicas e morais do indivíduo, com uma observação crítica das relações entre o homem e a sociedade. Machado de Assis, um dos principais autores do Realismo no Brasil, retratou o indivíduo em suas complexidades psicológicas, usando a ambiguidade e a subjetividade como ferramentas narrativas. Suas obras, como "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas", exploram a psicologia dos personagens e suas relações com o ambiente social, mas sem recorrer ao determinismo, como no Naturalismo. A crítica social de Machado é sutil, mais focada nas falhas humanas e na moralidade do que em uma denúncia direta das condições sociais.

  • Naturalismo: O Naturalismo, por sua vez, é uma vertente mais radical e determinista do Realismo. Influenciado por teorias científicas, especialmente as de Charles Darwin, o Naturalismo vê o ser humano como um produto do ambiente e da hereditariedade. No Brasil, autores como Aluísio Azevedo, em obras como "O Cortiço" e "O Mulato", exploram a ideia de que o comportamento humano é influenciado por fatores biológicos e sociais. Nesse movimento, a literatura se volta para as condições de vida das classes mais baixas, enfatizando a degradação social e moral como reflexo de um determinismo genético e ambiental. O Naturalismo é mais cruento em suas descrições, com foco em aspectos fisiológicos e patológicos dos personagens.

Em resumo, a principal diferença entre os dois movimentos é que o Realismo tende a focar mais nas complexidades psicológicas e sociais do indivíduo, sem uma explicação científica ou determinista, enquanto o Naturalismo busca entender o comportamento humano a partir de uma ótica científica e determinista, com forte influência do ambiente e da hereditariedade. As obras de Machado de Assis exemplificam a sutileza psicológica do Realismo, enquanto as de Aluísio Azevedo evidenciam o determinismo social e biológico do Naturalismo.

2. "O Cortiço" e o Naturalismo

A obra "O Cortiço", de Aluísio Azevedo, é um excelente exemplo das características do Naturalismo, especialmente em relação ao determinismo social e à influência do ambiente sobre o comportamento humano. No contexto dessa obra, Azevedo retrata a vida de um cortiço, um ambiente degradado e superlotado, onde seus moradores são vistos como produtos das condições sociais e do espaço que ocupam. O autor utiliza uma abordagem que descreve o ambiente e os personagens com um olhar científico, como se os indivíduos fossem "experimentos" vivos, sujeitos às forças da natureza e do meio.

  • Determinismo social e biológico: A obra de Azevedo retrata um cenário em que o ambiente do cortiço exerce uma influência profunda sobre as vidas dos personagens. João Romão, o proprietário do cortiço, é descrito como alguém que, embora tenha ascendido socialmente, ainda é marcado pela sua origem humilde e pelo seu egoísmo. Bertoleza, sua amante, é uma mulher de origem negra e pobre, cujos destinos estão atrelados ao espaço do cortiço. Ambos os personagens refletem a ideia de que as condições de classe e raça determinam o comportamento e o destino das pessoas.

  • Influência do ambiente: O cortiço é mais do que um simples cenário: ele é um reflexo da degradação moral e física dos seus moradores. O ambiente sujo, abafado e superlotado influencia diretamente o comportamento das pessoas, gerando tensões, violência, e vícios. A relação de Jerônimo e Rita Baiana, por exemplo, é uma demonstração de como os impulsos humanos são exacerbados pela convivência em um ambiente de privação e miséria. A descrição do cortiço, com suas ruas estreitas, casas precárias e falta de higiene, é utilizada como metáfora para o destino trágico dos personagens, que não têm escapatória das suas condições de vida.

Portanto, "O Cortiço" ilustra o determinismo naturalista, mostrando que os personagens são, em grande parte, produtos de suas circunstâncias sociais e ambientais. A obra revela como a classe social, a hereditariedade e o meio ambiente moldam os indivíduos, muitas vezes condenando-os a uma existência de miséria e sofrimento.

3. Comparação entre a construção psicológica dos personagens de Machado de Assis e Raul Pompéia

As obras de Machado de Assis e Raul Pompéia apresentam abordagens psicológicas distintas, refletindo as particularidades de seus respectivos estilos e das questões sociais que abordam. Ambos os autores exploram a complexidade humana, mas enquanto Machado tende a se concentrar na psicologia introspectiva de seus personagens, Raul Pompéia foca em um estilo mais expansivo e envolvente, com ênfase na crítica social.

  • Machado de Assis: Em obras como "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis mergulha na complexidade psicológica de seus personagens, utilizando a subjetividade e a dúvida como elementos centrais. O narrador de "Dom Casmurro", Bentinho, apresenta uma visão distorcida dos eventos de sua vida, devido à sua insegurança e ciúmes, o que cria uma ambiguidade na narrativa. A dúvida sobre a fidelidade de Capitu e a relação entre ela e Bentinho é central na trama, refletindo as inseguranças e os conflitos internos do protagonista. Machado explora a psicologia do indivíduo de maneira profunda, usando a narração em primeira pessoa e a reflexão do personagem para revelar suas contradições e falhas. A crítica social em suas obras é sutil, muitas vezes presente na análise das relações humanas e nas estruturas de poder, mas não é explicitamente denunciada.

  • Raul Pompéia: Em "O Ateneu", Raul Pompéia também apresenta uma análise psicológica dos personagens, mas seu enfoque está mais na relação desses personagens com o ambiente social e escolar. O romance descreve a vida de um jovem no contexto de uma escola interna, onde as tensões sociais e morais são exploradas com uma linguagem vibrante e crítica. A psicologia dos personagens é moldada por suas interações dentro do microcosmo da escola e pela pressão das convenções sociais. O autor descreve suas emoções, medos e conflitos com uma maior exposição, mostrando como a juventude é moldada pela educação e pela sociedade. A crítica social é mais explícita em Pompéia, que usa as situações dentro da escola como metáforas para as injustiças e desigualdades da sociedade brasileira do século XIX.

Em comparação, enquanto Machado de Assis foca na psicologia introspectiva e na ambiguidade das emoções humanas, Raul Pompéia utiliza a psicologia como ferramenta para explorar as tensões sociais e a crítica à sociedade de seu tempo. Ambos os autores, no entanto, partilham uma visão crítica da natureza humana, embora o estilo de Machado seja mais subjetivo e filosófico, e o de Pompéia mais expansivo e voltado para a crítica social direta.


Alternativas

  1. Alternativa: Qual das seguintes características melhor define o Naturalismo no Brasil?

    a) O foco nas relações sociais e psicológicas, com ênfase na análise dos personagens como indivíduos complexos.
    b) A ênfase no determinismo genético e no impacto do ambiente sobre o comportamento dos personagens.
    c) A valorização do simbolismo e das expressões artísticas como formas de crítica social.
    d) A busca por uma literatura mais subjetiva e emocional.

    Resposta correta: b) A ênfase no determinismo genético e no impacto do ambiente sobre o comportamento dos personagens.


V ou F

  1. V ou F:
    ( ) O Realismo no Brasil foi amplamente influenciado pelas ideias de Karl Marx e pelo contexto político e econômico da época.
    ( ) O Naturalismo busca representar a realidade de forma idealizada, priorizando os aspectos emocionais e subjetivos dos personagens.
    ( ) A obra de Machado de Assis no período realista é mais focada na psicologia dos personagens do que na crítica social direta.

    Resposta correta:
    (V) O Realismo no Brasil foi amplamente influenciado pelas ideias de Karl Marx e pelo contexto político e econômico da época.
    (F) O Naturalismo busca representar a realidade de forma idealizada, priorizando os aspectos emocionais e subjetivos dos personagens.
    (V) A obra de Machado de Assis no período realista é mais focada na psicologia dos personagens do que na crítica social direta.


Correspondência

  1. Correspondência: Relacione as obras aos seus respectivos autores.

    1. "Memórias Póstumas de Brás Cubas"
    2. "O Ateneu"
    3. "O Cortiço"
    4. "O Mulato"

    a) Raul Pompéia
    b) Aluísio Azevedo
    c) Machado de Assis
    d) José de Alencar

    Resposta correta:
    1 - c) Machado de Assis
    2 - a) Raul Pompéia
    3 - b) Aluísio Azevedo
    4 - b) Aluísio Azevedo


Análise Crítica

  1. Análise Crítica:
    O que a obra "O Cortiço" de Aluísio Azevedo revela sobre as disparidades sociais e as relações entre diferentes classes no Brasil do século XIX? Como o autor usa o espaço do cortiço para simbolizar a luta entre as classes sociais e a condição humana?

  2. Análise Crítica:
    Em que medida a obra "Dom Casmurro", de Machado de Assis, reflete as tensões sociais e psicológicas do Brasil do século XIX? Explique a importância do narrador Bentinho e a maneira como ele revela as complexidades da alma humana.

Respostas:
 Análise Crítica: "O Cortiço" de Aluísio Azevedo

A obra "O Cortiço" de Aluísio Azevedo é uma representação incisiva das disparidades sociais e da desigualdade de classes que marcaram o Brasil do século XIX. Ao colocar seus personagens em um espaço apertado e degradado, Azevedo oferece uma visão crítica da condição humana e da convivência entre classes sociais distintas. O cortiço — um conjunto de habitações precárias e insalubres, moradas de pessoas marginalizadas, imigrantes, negros, mestiços e operários — é mais do que um simples cenário. Ele simboliza a própria luta de classes, refletindo as condições opressivas e a impossibilidade de ascensão social das camadas mais baixas da sociedade.

O autor utiliza o ambiente do cortiço de forma a demonstrar como o espaço físico é uma extensão da condição social de seus moradores. O cortiço, com suas condições insalubres, estreiteza e pobreza, atua como um catalisador da degradação humana, moldando os comportamentos dos indivíduos e refletindo suas limitações. Personagens como João Romão, que ascende socialmente, e Bertoleza, que se vê subordinada e vítima das circunstâncias, evidenciam como as relações entre classes são determinadas pela exploração e pelo poder. A luta pela sobrevivência e a busca por poder dentro desse espaço é emblemática da luta de classes, onde os pobres e marginalizados são constantemente oprimidos, enquanto os mais poderosos buscam consolidar sua posição.

Além disso, a condição humana é retratada em sua forma mais crua, evidenciando como os personagens são moldados pelo determinismo social. As ações e os destinos dos indivíduos, muitas vezes, são resultantes da imposição do ambiente e da falta de opções para a classe trabalhadora. O cortiço não é apenas um espaço físico, mas uma metáfora para a alienação, a falta de perspectiva e a exploração.


Análise Crítica: "Dom Casmurro" de Machado de Assis

Em "Dom Casmurro", Machado de Assis apresenta uma reflexão sobre as tensões sociais e psicológicas do Brasil do século XIX por meio da figura complexa de Bentinho, o narrador. A obra, aparentemente simples em sua narrativa, torna-se uma análise profunda da alma humana e das inseguranças psicológicas que permeiam as relações interpessoais e sociais. Bentinho, ao contar sua história, revela a fragilidade da memória e a subjetividade da percepção humana, especialmente em relação ao seu casamento com Capitu. Através dessa narrativa, Machado de Assis investiga a dúvida e o ciúme como sentimentos universais, mas também inseridos no contexto social da época, em que a honra e as aparências desempenhavam papel crucial na estrutura familiar e social.

A obra, portanto, explora as tensões entre essência e aparência, um tema recorrente no Realismo. As relações entre Bentinho, Capitu e Escobar revelam a complexidade psicológica dos personagens, em especial a desconstrução do próprio Bentinho. Sua visão, muitas vezes distorcida e enviesada pela insegurança e ciúmes, coloca em questão a veracidade dos acontecimentos e a reliabilidade do narrador. Através disso, Machado de Assis nos leva a questionar não só a natureza dos sentimentos, mas também as construções sociais que envolvem o casamento e a moralidade da época.

A figura de Bentinho simboliza a dúvida e a impossibilidade de certeza sobre os fatos, uma característica da literatura realista. Sua narrativa não é apenas sobre a desconstrução do indivíduo e da relação com o outro, mas também sobre o confronto de valores sociais e pessoais. Ao investigar suas próprias limitações e o comportamento de Capitu, Bentinho expõe as complexidades psicológicas da alma humana, suas fraquezas e fragilidades, e como o contexto social e familiar pode interferir na interpretação da realidade.

Dom Casmurro, assim, revela as tensões entre emoções humanas e as normas sociais, evidenciando como as escolhas e interpretações pessoais são fortemente influenciadas pelo meio, pelo status e pela moralidade da época. A obra é uma análise profunda das contradições humanas, das inseguranças e da psicologia de um indivíduo que busca entender suas próprias emoções e seus relacionamentos em um contexto social restritivo.


Questões Objetivas de Múltipla Escolha

  1. Objetiva:
    Qual é a principal característica da narrativa de "Memórias Póstumas de Brás Cubas"?

    a) A busca pela verdade objetiva sobre os acontecimentos passados.
    b) A narração feita por um defunto que observa e analisa sua vida.
    c) A estrutura linear e direta, sem digressões.
    d) A crítica política explícita à sociedade do século XIX.

    Resposta correta: b) A narração feita por um defunto que observa e analisa sua vida.


Complementação Simples

  1. Complementação Simples:
    A obra "Dom Casmurro" é marcada por uma narrativa _____________, que questiona a relação entre memória e realidade.

Resposta: subjetiva


Resposta Única

  1. Resposta Única:
    Quem é o autor de "O Ateneu", uma obra que critica a sociedade brasileira do século XIX, explorando a formação e as questões sociais dentro de uma escola?

Resposta: Raul Pompéia


Interpretação

  1. Interpretação:
    Ao ler "O Cortiço" de Aluísio Azevedo, observe o modo como o autor descreve o ambiente do cortiço e seus habitantes. Qual é a principal crítica que Azevedo faz à sociedade brasileira da época? Explique com base na narrativa.

Interpretação:

Em "O Cortiço", Aluísio Azevedo faz uma crítica contundente à sociedade brasileira do século XIX, particularmente à desigualdade social, à degradação humana e à influência do ambiente no comportamento das pessoas. O cortiço, um espaço coletivo e degradado, simboliza o submundo das classes trabalhadoras, que vivem em condições precárias e são pressionadas pelas dificuldades sociais e econômicas. Azevedo descreve o cortiço de forma visceral, com um realismo que revela a opressão dos moradores e a luta pela sobrevivência.

A crítica principal está voltada para a falta de mobilidade social, mostrando como o ambiente, as condições de vida e os fatores econômicos determinam o comportamento e as atitudes dos personagens. Por exemplo, a personagem João Romão, que começa como um simples vendedor, mas ascende como proprietário do cortiço, representa a busca pelo poder e a exploração do próximo. Já Bertoleza, sua amante e criada, é uma mulher que, apesar de suas qualidades e virtudes, é consumida pelo ambiente e pelas circunstâncias, sendo uma vítima das estruturas sociais opressivas.

A obra também critica a desumanização e a fragilidade das relações humanas, mostrando como o ambiente e as condições de vida influenciam as ações e os sentimentos das pessoas. Os personagens são frequentemente retratados como seres sem grandes perspectivas, cuja moralidade e comportamento são moldados pela miséria e pela pressão social.

Portanto, a principal crítica de Azevedo é a desigualdade social, a exploração das classes mais baixas e o determinismo social, onde as condições de vida das pessoas acabam por determinar suas ações e destinos, refletindo a sociedade brasileira marcada pela exclusão e pela luta de classes.


Resposta Múltipla

  1. Resposta Múltipla:
    Quais dessas características estão presentes em "O Cortiço" de Aluísio Azevedo?

    a) A análise do determinismo social e racial.
    b) A exploração das relações familiares e afetivas.
    c) A representação da vida urbana e das diferenças de classe.
    d) O uso de simbolismos para representar a luta de classes.

    Resposta correta: a) A análise do determinismo social e racial.
    c) A representação da vida urbana e das diferenças de classe.


Asserção-Razão

  1. Asserção-Razão:
    As obras de Machado de Assis no período Realista são um reflexo das contradições sociais e psicológicas do ser humano.
    Porque essas obras utilizam uma visão profunda da psique humana e das interações sociais para discutir os dilemas individuais.

    Resposta: A asserção é verdadeira e a razão é uma explicação correta.


Questão de Foco Negativo

  1. Foco Negativo:
    Qual das seguintes afirmações NÃO corresponde ao estilo de Machado de Assis em suas obras Realistas?

    a) O foco na análise das relações sociais e psicológicas dos personagens.
    b) A crítica direta e explícita à classe dominante.
    c) A utilização de narradores que refletem a subjetividade e a ambiguidade da memória.
    d) A exploração do lado negativo da natureza humana e dos conflitos internos.

    Resposta correta: b) A crítica direta e explícita à classe dominante.


Questão de Associação

  1. Associação: Relacione os autores às suas respectivas obras.

    1. Raul Pompéia
    2. Machado de Assis
    3. Aluísio Azevedo

    a) "O Cortiço"
    b) "Memórias Póstumas de Brás Cubas"
    c) "O Ateneu"
    d) "Dom Casmurro"

    Resposta correta:
    1 - c) "O Ateneu"
    2 - b) "Memórias Póstumas de Brás Cubas", d) "Dom Casmurro"
    3 - a) "O Cortiço"




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