Realismo e Naturalismo no Brasil
Cantiga de esponsais
Imagine a leitora que está em 1813, na igreja do
Carmo, ouvindo uma daquelas boas festas antigas, que eram todo o recreio
público e toda a arte musical. cantada; podem imaginar o que seria uma missa cantada
Não lhe chamo a atenção para os padres e os sacristãos,
nem olhos das moças cariocas, que já eram bonitos nesse tempo, senhoras graves,
os calções, as cabeleiras, as sanefas, as luzes, os sequer da orquestra, que é
excelente; limito-me a mostrar-lhes a cabeça desse velho que rege a orquestra,
com alma e devoção.
Mestre Romão já vem, pai José, disse a vizinha.
Eh! eh! adeus, sinhá, até logo.
Pai José deu um salto, entrou em casa, e esperou o
senhor, que daí a pouco entrava com o mesmo ar de costume. A casa não era. rica naturalmente; nem
alegre. Não tinha o menor vestígio de
mulher, velha ou moça, nem passarinhos que cantassem, nem flores, nem cores
vivas ou jucundas. Casa somb e nua. O mais alegre era um cravo, onde o mestre
Romão tocava algumas vezes, estudando.
Sobre uma cadeira, ao pé, alguns papéis de música; nenhuma dele...
Alongo, ou por esses ele.
Mestre Romão
ASSIS,
Machado de. Obra completa. Rio de
Janeiro, Aquilar, 1962, vol. 2, p. 386-387.
Análise do Texto: "Cantiga de Esponsais" - Machado de Assis
O texto "Cantiga de Esponsais", escrito por Machado de Assis, destaca-se como um exemplo de sua habilidade em retratar cenas do cotidiano e personagens com profundidade psicológica, envoltos em um contexto histórico e cultural rico. Vamos explorar os aspectos principais do texto:
1. Contexto Histórico e Cultural
Machado ambienta o conto em 1813, numa época em que a música sacra desempenhava um papel central nas festividades religiosas e na vida social brasileira. A missa cantada mencionada no texto não era apenas um evento litúrgico, mas também uma forma de arte e entretenimento para o público.
Música como Arte e Religião:
A narrativa destaca o papel da música sacra, regida pelo personagem Mestre Romão, como um símbolo de devoção religiosa e expressão artística. A referência ao compositor José Maurício Nunes Garcia, figura histórica real e contemporânea à época, confere autenticidade ao cenário.Costumes da Sociedade do Século XIX:
Machado descreve os costumes e a atmosfera social do período, mencionando as moças cariocas, os padres, as vestimentas e os comportamentos típicos da época.
2. Personagem Central: Mestre Romão
Mestre Romão é um retrato do músico devotado, cuja vida parece girar em torno da música. A narrativa o apresenta como um homem simples, melancólico e dedicado ao ofício.
Personalidade Dual:
- Na regência: Quando está diante da orquestra, Romão transforma-se, iluminado pela paixão pela música, como se fosse outro homem.
- No cotidiano: Fora da música, retoma um comportamento reservado, silencioso e aparentemente indiferente à vida social.
Simbolismo do Cravo:
A presença do cravo em sua casa reflete sua relação íntima com a música, sendo o único elemento "vivo" em um ambiente sombrio e solitário.
3. Temas Principais
A Arte como Transformação:
Machado destaca o poder da música em transformar a vida do personagem. Durante a regência, Mestre Romão parece ganhar uma vitalidade que não é observada em outros momentos de sua rotina. Isso sugere como a arte pode ser um refúgio e uma razão de viver.Solidão e Melancolia:
A casa de Romão, "sombria e nua", simboliza sua solidão. A ausência de família, companhias femininas, passarinhos ou flores reforça o tom melancólico do texto.Dedicação e Anonimato:
Romão é um exemplo de artistas que dedicam suas vidas à arte sem buscar reconhecimento pessoal. Ele rege com a mesma paixão, independentemente de ser uma composição sua ou de outro.
4. Estilo Literário de Machado de Assis
Realismo:
O texto reflete características do Realismo, como a preocupação em retratar personagens comuns, sem idealizações, e o foco na psicologia e no cotidiano.Ironia e Sutileza:
A narrativa de Machado possui um tom discreto, mas crítico, ao descrever a "luz ordinária" que volta ao rosto de Romão após a missa, sugerindo como a vida real pode ser menos vibrante do que os momentos de êxtase proporcionados pela arte.Descrição Minuciosa:
Machado emprega descrições detalhadas para criar uma ambientação rica e transportar o leitor para a igreja do Carmo e para a vida do personagem.
5. Leituras e Interpretações
Humanização do Artista:
Mestre Romão representa o artista devotado, cuja vida se resume à arte que cria ou interpreta. Apesar de sua importância na comunidade, ele vive à margem, sem os prazeres mundanos ou o reconhecimento pleno.Contraste entre Arte e Vida:
O texto mostra como a arte pode elevar o espírito humano, mas também evidencia o contraste com a dureza e a monotonia da vida cotidiana.
6. Conclusão
"Cantiga de Esponsais" é uma obra que exemplifica a genialidade de Machado de Assis em capturar aspectos do cotidiano e transformá-los em reflexões profundas sobre a condição humana. O texto convida o leitor a refletir sobre temas como a solidão, o anonimato e o poder transformador da arte, apresentados por meio de uma narrativa envolvente e repleta de nuances emocionais.
Questões de Leitura e Interpretação do Texto acima:
1. Leia o texto de Machado de Assis e indique a alternativa que esteja de acordo com o texto.
a) No 19º parágrafo, o narrador revela escrever para o leitor feminino, o que implica uma crítica ao leitor masculino.
Resposta: FALSO. O narrador não faz essa crítica diretamente, mas direciona o discurso para o leitor de forma irônica e reflexiva.
b) A missa de que o autor fala pertence a um tempo passado, muito distante, remoto, com as características do século XVIII.
Resposta: FALSO. O texto menciona a missa, mas ela pertence a um tempo mais recente, não sendo do século XVIII.
c) A missa de que o narrador fala pertence a um tempo que não é o mesmo da escritura do conto e nem o da leitura.
Resposta: VERDADEIRO. O autor faz uma referência a um evento passado, mas não está no mesmo tempo em que o conto é escrito ou lido.
d) No 1º parágrafo, o autor utiliza-se de uma manobra para não descrever personagens da missa e atém-se somente à descrição do "velho de cabeça branca".
Resposta: VERDADEIRO. O autor usa uma descrição mais indireta e se concentra em um único personagem, o "velho de cabeça branca", sem detalhar outros aspectos da missa.
2. Indique a alternativa correta de acordo com o texto no 2º parágrafo.
a) O autor nos diz que Mestre Romão é da mesma época do ator Joffo Caetano.
Resposta: FALSO. Não há referência a Joffo Caetano no texto.
b) O autor nos diz que "familiar e público era a mesma coisa", porque no tempo em que transcorreu a missa, na cidade do Rio de Janeiro, tudo era próximo, pequeno, sem características de centro urbano.
Resposta: VERDADEIRO. O texto menciona que a cidade era pequena e as distâncias entre público e privado eram mais próximas.
c) O tipo de descrição (referencial) de Mestre Romão nos leva a entender que o autor é realista: ele se atém ao retrato físico.
Resposta: FALSO. O autor se atém a aspectos mais subjetivos da personagem, não apenas a um retrato físico realista.
d) Para Mestre Romão, o ato de reger era uma festa porque, para ele, era o mesmo que compor a música.
Resposta: VERDADEIRO. Mestre Romão vê o ato de reger como algo que é quase equivalente à criação musical.
3. De acordo com o 3º parágrafo:
a) Há um grande contraste entre o rosto do regente fora e dentro da missa: é o contraste entre sua vida como regente e sua vida em sociedade.
Resposta: VERDADEIRO. O texto descreve esse contraste, mostrando a dualidade da vida do regente.
b) O mestre, pela descrição, assemelha-se a qualquer tipo de ator em fim de carreira; fisicamente frágil e psiquicamente indiferente, distante, disfarça tais deficiências, revelando certa empáfia.
Resposta: VERDADEIRO. A descrição sugere que Mestre Romão é uma figura desgastada, mas ainda tenta manter uma certa postura de autoridade.
c) Mestre Romão tem um código, por meio do qual se comunica, cujos signos são as notas musicais. Envolvido por essa linguagem, o regente dispensa o código linguístico, mas o autor depende dele para falar da personagem.
Resposta: VERDADEIRO. Mestre Romão se comunica através da música, mas o autor usa a linguagem literária para descrevê-lo.
Périodo Histórico e Contexto Social:
O texto também menciona aspectos do Brasil do século XIX, como a luta pela abolição, a formação da agricultura cafeeira, a dependência do capital inglês, a construção de ferrovias e a insatisfação gerada pela divulgação das ideias republicanas. Esses elementos ajudam a contextualizar a sociedade e o cenário em que os personagens e a história estão inseridos.
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Realismo-Naturalismo no Brasil e em Portugal: Linha do Tempo
CONTEXTO HISTÓRICO- CULTURAL
A grande expressão da literatura brasileira que foi
Machado de Assis refletiu muito bem em suas obras a época em que viveu. Era o Brasil Imperial, marcado pelo grito de
Independência, mas, na prática, à mercê do capital estrangeiro, dependendo de
uma política de exportação (café e cana-de-açúcar), país escravocrata, de
grandes proprietários rurais, donos da política do Império. As leis, a ordem e a vida eram determinadas
por eles.
Como toda a economia que se baseia apenas na
exportação, também a nossa era oscilante, pois os preços e condições eram
ditados pelo mercado exterior. Para
consumo interno só se produziam alimentos, como hortaliças, frutas, além de
aves e peixes, que incrementavam a alimentação.
Afora isso, tudo era importado.
Enquanto isso, a industrialização tornava a Inglaterra imperialista
mais poderosa; países como Portugal e Brasil necessitavam de seus produtos e
começavam a contrair ainda mais dívidas.
Quanto mais o Brasil se endividava, mais nossos produtos eram exportados
a preços determinados pelo país credor.
O Rio de Janeiro era a capital federal: o conforto e a
modernização da cidade tinham sido construídos apenas para abrigar a corte de
D. Joao. De resto, suas ruas eram sujas,
não havia saneamento básico, a febre amarela era um risco constante.
De um lado, portanto, a cidade comportava a aparência
europeia para servir ao Império e, de outro, era lotada por uma população privada
de condições básicas de vida.
Enquanto nos anos de 70 em Portugal eram discutidas
questões como república, socialismo e comunismo, aqui caminhávamos
progressivamente para a campanha abolicionista.
Além do aspecto humano, levantado e denunciado por idealistas como
Joaquim Nabuco, abolicionista ao extremo, havia o aspecto econômico que
interessava aos plantadores de café, que percebiam que o sustento do escravo
era menos lucrativo que a manutenção de mão-de-obra assalariada. Portanto, a campanha da abolição tinha de ter
êxito, pois atrás dela estavam em jogo os interesses também dos "barões do
café".
Nessa época chegam a nós as produções literárias
revolucionárias; Madame Bovary, de
Flaubert, por exemplo, que causou escândalo ao tratar o assunto adultério como
consequência da concepção romântica de amor e de casamento; as proibidas
conferências do Cassino Lisbonense; as ideias positivistas e deterministas,
baseadas em leis fisiológicas que originaram o Naturalismo, e também as ideias
parnasianas francesas que propunham uma nova poesia antirromântica.
Em 1889 foi proclamada a nossa República e pouca coisa
mudou: dependência externa, política
de exportação, país sem indústria. Com
mentalidade de colônia, imitávamos tudo o que era estrangeiro.
Nesse contexto é desenvolvido o Realismo no Brasil, que
teve, como expoente superior, o mestre Machado de Assis.
AUTORES DO REALISMO
Não pode frequentar escola, pois estudar era um
privilégio apenas de quem tinha condições econômicas. Sua alfabetização foi precária, mas Joaquim
Maria, vendedor de balas, seria mais tarde o fundador e presidente perpétuo da
Academia Brasileira de Letras (1 896).
Autodidata, esforçado e inteligente, Machado vai
procurar emprego que lhe dê mais segurança.
Através dele consegue ter contato com jornalistas e intelectuais, o que
o tira do isolamento intelectual em que vivia.
O relacionamento com pessoas e ideias permite a reflexão a partir de
discussões, não mais a partir do isolamento do autodidata.
Em 1855, Machado publica seu soneto "Ela", na
"Marmota Fluminense", graças a Paula Brito - famoso proprietário de
uma tipografia e livraria que conheceu Machado aos 16 anos.
Oferece4he trabalho, e da função mais elementar, o semialfabetizado
Machado passa, aos poucos, a
corrigir originais, rever textos, além de ser vendedor na livraria de Paula
Brito.
No plano afetivo, Machado amou Carolina com quem se casou
em 1869. Ela pode ser considerada, para
a época, uma mulher corajosa, pois sua família portuguesa e os valores da
sociedade da época pouco admiravam, para marido, um mulato, pobre e com
pretensões a escritor.
Por essa época Machado já era um homem respeitado e
pessoas ilustres o apoiaram na luta contra a família de Carolina. Viveu com essa mulher por 35 anos, separados
apenas pela morte dela em 1904. E isso é
o início do fim de Machado.
A Carolina
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos mal feridos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos."
1. Contexto Histórico e Biográfico
- Escrito em 1904: O poema foi composto por Machado de Assis após a morte de sua esposa, Carolina Augusta Xavier de Novais, com quem viveu durante 35 anos.
- Carolina foi uma figura fundamental na vida de Machado, apoiando-o emocional e intelectualmente, em um casamento marcado por parceria e dedicação mútua.
- O poema é uma elegia, ou seja, um texto poético que expressa luto, dor e saudade.. Estrutura do Poema
- Versos decassílabos: Seguem uma métrica regular, conferindo solenidade ao texto.
- Três versos por estrofe (tercetos): O formato compacto reforça a concisão e intensidade emocional.
- Rimas intercaladas: "Arrancados"/"Separados" (versos 1 e 3), "Feridos"/"Vividos" (versos 4 e 6) evidenciam musicalidade e harmonia.
3. Temas Centrais
a. Luto e Separação
- O poema reflete a dor pela perda de Carolina, explicitando a ideia de separação após a morte.
- A imagem dos "restos arrancados" simboliza o que sobrevive após a passagem do tempo e da morte: as memórias e os sentimentos.
b. Amor e Saudade
- O eu lírico enfatiza o amor eterno, mesmo após a morte: as "flores" representam tanto a despedida quanto a permanência do sentimento.
- A saudade é expressa por meio do contraste entre o "passar unidos" e o "deixar separados".
c. Reflexão sobre a Vida e a Morte
- Machado projeta o impacto da perda na própria existência. Os "pensamentos de vida formulados" já estão "idos e vividos", indicando que tudo se encerra com a ausência de sua companheira.
- O poema sugere a fugacidade da vida e a inevitabilidade da morte.
4. Análise Estilística
a. Simbolismo das Flores
- As flores são "restos arrancados da terra", metáfora da transitoriedade e da fragilidade da vida.
- Representam um presente simbólico, que conecta o amor do passado ao luto presente.
b. Tom Elegíaco
- O tom é de tristeza e melancolia, característico de uma elegia.
- O uso de palavras como "mortos", "separados", "feridos" e "idos" reforça a atmosfera de perda.
c. Contraste Temporal
- "Passar unidos" e "deixar separados" criam uma oposição que destaca a mudança abrupta causada pela morte.
- O tempo passado é associado à plenitude e união, enquanto o presente é marcado pela solidão.
d. Linguagem Simples e Subjetiva
- Apesar de sua profundidade, a linguagem é direta e acessível, reforçando a sinceridade do sentimento.
- O poema se torna íntimo, quase como uma conversa entre o poeta e a amada falecida.
5. Interpretação Crítica
- Machado de Assis, conhecido por seu ceticismo e racionalismo em suas obras, apresenta aqui um lado profundamente humano e emocional.
- O poema contrasta com o tom irônico de muitos de seus textos, revelando um momento de fragilidade e devoção pessoal.
- "A Carolina" é, acima de tudo, uma homenagem à parceria de toda uma vida, em que o amor supera a barreira da morte, permanecendo nos "pensamentos idos e vividos".
6. Conclusão
O poema "A Carolina" é um exemplo de como Machado de Assis conseguiu condensar, em poucos versos, uma carga emocional intensa. A simplicidade da forma não diminui a profundidade do conteúdo, mas, ao contrário, torna-o universal e atemporal. Trata-se de uma das mais belas expressões de amor e luto na literatura brasileira, imortalizando o vínculo entre Machado e Carolina.
MACHADO DE ASSIS
Machado foi jornalista, funcionário público, crítico de
teatro, de romances, elogiado e condecorado, conhecido, em vida, dentro e fora
do Brasil. Mas foi, principalmente, um
homem pacato, caseiro, que vivia com simplicidade e hábitos rotineiros.
Machado morreu quatro anos depois de Carolina e seu
corpo velado na Academia Brasileira de Letras oficializava a sua imortalidade:
Rui Barbosa discursou em sua homenagem.
E até hoje ele é o clássico da literatura brasileira, no sentido de que
sua obra é atemporal. Lida, filmada,
transformada em telenovela, estudada, reanalisada, reescrita (o conto "Missa
do Galo" foi reescrito por vários autores, sob diferentes ângulos), a obra
de Machado coroa o moleque mulato que negou, com sua vida, o princípio
determinista de que o homem é produto do seu meio ambiente. Machado é o testemunho de que o homem é
agente transformador do seu destino e, portanto, capaz de transformar valores e
rumos sociais. Mas há também em Machado
aquele pessimismo que provém da certeza de que o homem também está nas mãos do
destino, não raras vezes sujeito à vida, sem poder de desviar as surpresas que
ela lhe apresenta.
Sobre a obra machadiana podemos dizer que ela é
constituída de contos (Contos F7uminenses
(1870), História da Meia-Noite (1873) entre outros, além de Relíquias de Casa Velha (1906) dedicada
a Carolina); poesias (Crisálidas (1864), Falenas (1870), entre outras);
teatro (Hoje Avental, A mão e a Luva
(1860), Queda que as Mulheres Têm
para os Tolos (1861) entre outras obras); crônicas, textos críticos e
romances.
O romance machadiano revela uma evolução permanente do
escritor, que a cada obra amadurece o seu espírito realista e crítico. Para fins didáticos costuma-se dividir seus
romances em românticos (1ªfase) e realistas (2ª fase).
Mas o Machado que inaugura o Realismo a partir de 1881,
com o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, é o autor que já
se anuncia nos romances anteriores a esse.
Em Ressurreição (1872), A Mão e a
Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), Machado parece ser o
autor que quer divertir o público feminino.
Com histórias simples, conflitos e ações motivadas por amor, orgulho,
ciúme, ambição, medo, timidez etc., essas obras lembram o romance romântico de
folhetins. Mas suas personagens são
criadas e estruturadas para representarem a sociedade brasileira nos seus
valores, preconceitos, nas suas contradições.
As personagens femininas de Machado já começam a se
caracterizar como mulheres, diferentes das donzelas de Joaquim Manuel de
Macedo. São personagens que vivem
conflitos interiores que o amor e o casamento não resolvem: a sua fase romântica,
portanto, não coloca o sonho de amor como solução de problemas
existenciais. Em Iaiá Garcia, por exemplo, o casamento, a conquista do marido se dá
por interesses que não se relacionam com o amor.
Machado romântico já anuncia o Machado realista: o casamento
pode não ser a comunhão interior de dois seres, mas a união de interesses
exteriores.
A Evolução Literária de Machado de Assis no Realismo
Raul Pompéia - Vida e Obra
1. Biografia
Nascimento e Formação:
Raul D'Ávila Pompéia nasceu em 1863. Estudou no Colégio Abílio, cujas vivências inspiraram sua obra mais célebre, O Ateneu. Formou-se em Direito em Recife, após iniciar o curso em São Paulo.Atividades Profissionais:
- Diretor do Diário Oficial.
- Professor de Mitologia na Escola Nacional de Belas-Artes.
- Diretor da Biblioteca Nacional, sendo demitido por ordem de Prudente de Morais devido à sua ligação com Floriano Peixoto e pelo discurso em sua homenagem.
Atuação Política:
- Abolicionista e republicano ativo, sofreu perseguições políticas.
- Envolveu-se em polêmicas públicas, como a troca de ofensas com Olavo Bilac, que quase resultou em um duelo.
Morte Trágica:
Sentindo-se desonrado após uma série de ataques, incluindo o artigo "Um Louco no Cemitério", suicidou-se na noite de Natal de 1895, aos 32 anos.
2. Produção Literária
Romances:
- Uma Tragédia no Amazonas (1880).
- As Jóias da Coroa (1882).
- O Ateneu (1888), sua obra mais famosa.
- Agonia (inacabado e inédito).
Contos e Poesia:
- Microscópios (1881).
- Canções sem Metro (poemas em prosa, 1883).
3. O Ateneu – Análise da Obra
Contexto e Repercussão:
Publicado em 1888, O Ateneu narra a vida de adolescentes em um internato. Sua linguagem inovadora e estilo psicológico geraram debates sobre se seria ou não autobiográfico.Temática Principal:
- Denúncia da opressão e deformação impostas pelo internato, apresentado como uma microrrealidade que reflete os valores da sociedade da época.
Personagens e Relações:
- Aristarco: Diretor do colégio, caricatura do autoritarismo e conservadorismo.
- Relações entre estudantes são descritas em profundidade, abordando temas como homossexualidade e o complexo de Édipo.
Estilo e Linguagem:
- Uso de caricaturas para representar traços sociais e psicológicos.
- Linguagem rica em metáforas e ritmo poético, o que confere à obra características simbólicas e estilísticas inovadoras.
4. Importância de Raul Pompéia
Consciência Crítica:
- Raul Pompéia denunciou as injustiças e hipocrisias de sua época, utilizando a literatura como meio de reflexão social.
Inovação Estilística:
- O Ateneu é considerado um marco pelo uso de técnicas narrativas sofisticadas, que unem descrição psicológica, crítica social e simbolismo poético.
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