ERA CLÁSSICA EM PORTUGAL: BARROCO
- Séculos: XVII e XVIII.
- Período: 1580-1756.
- Marcos importantes:
- Portugal estava sob domínio da Espanha durante a União Ibérica (1580-1640), o que marcou o início do Barroco português.
- Padre Antônio Vieira é uma figura central do Barroco português, com seus sermões e escritos profundamente influenciados pela espiritualidade e complexidade barrocas.
- Marcos importantes:
ERA COLONIAL NO BRASIL: BARROCO OU SEISCENTISMO
- Século: XVII.
- Período: 1601-1768.
- Marcos importantes:
- A publicação de Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira, é considerada o início do Barroco literário no Brasil.
- O Barroco brasileiro se desenvolveu no contexto da colonização portuguesa, refletindo tensões religiosas, culturais e políticas do período.
- Marcos importantes:
Portanto:
- Padre Antônio Vieira está corretamente identificado como um marco do Barroco português, sendo ele um dos maiores representantes do estilo em Portugal e no Brasil.
- A União Ibérica é de fato um marco histórico relevante para o Barroco português.
- A publicação de Prosopopeia (1601) por Bento Teixeira é um marco inicial do Barroco no Brasil, que se estendeu até meados do século XVIII.
Barroco em Portugal
Início: 1580
- Marco inicial: Morte de Luís de Camões e início da União Ibérica (1580-1640), quando Portugal ficou sob domínio espanhol.
- Este período trouxe um senso de crise e instabilidade, que é refletido na literatura barroca, marcada por contrastes, conflitos e tensão entre fé e razão.
Término: 1756
- Marco final: Fundação da Arcádia Lusitana. Este evento marcou a transição do Barroco para o Arcadismo, com a busca por maior simplicidade e racionalidade na literatura.
Barroco no Brasil
Início: 1601
- Marco inicial: Publicação de "Prosopopeia", de Bento Teixeira, considerada a primeira obra literária do Barroco no Brasil.
Término: 1768
- Marco final: Publicação de "Obras Poéticas", de Cláudio Manuel da Costa, que introduziu o Arcadismo no Brasil e encerrou o período barroco.
O Barroco é um movimento cultural e artístico que teve grande impacto tanto em Portugal quanto no Brasil, mas as suas expressões e características podem apresentar diferenças marcantes, devido aos contextos históricos, sociais e culturais distintos de cada país. As principais semelhanças e diferenças nas características do Barroco nesses dois contextos.
Semelhanças
Profundidade espiritual e religiosidade:
- O Barroco foi fortemente influenciado pela Igreja Católica, especialmente no período da Contra-Reforma. Em ambos os países, a religiosidade esteve no centro da produção cultural, com ênfase em temas como a mortalidade, o pecado, a salvação e o arrependimento.
- Tanto em Portugal quanto no Brasil, o Barroco religioso se manifesta em igrejas, altares e esculturas exuberantes, com uma busca pela expressão emocional intensa, seja na arte, na literatura ou na música.
Contrastes e paradoxos:
- O Barroco é conhecido por sua ênfase em contrastes, especialmente entre o mundo espiritual e o mundo material. A dualidade entre a vida terrena e a eterna é uma característica comum tanto em Portugal quanto no Brasil, visível nas obras de Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira.
- A ideia de carpe diem (aproveitar o momento) e o memento mori (lembre-se da morte) são temas recorrentes em ambos os contextos, refletindo a tensão entre o prazer terreno e a transitoriedade da vida.
Uso de metáforas e figuras de linguagem:
- Tanto em Portugal quanto no Brasil, o conceptismo e o cultismo se manifestaram, com autores explorando uma linguagem elaborada e repleta de metáforas, antíteses e hipérboles. Autores como Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos (Brasil) e Fernando Pessoa e Gregório de Nóbrega (Portugal) usam essas técnicas para comunicar as complexas questões religiosas e sociais de sua época.
Exuberância artística e arquitetônica:
- Na arte e arquitetura, o Barroco se expressa através de formas ornamentadas e complexas, tanto em Portugal quanto no Brasil. Igrejas e edifícios de grandes dimensões, com detalhes intricados e decorados, refletem a busca pela grandeza divina e pela glória de Deus.
Diferenças
Contexto social e colonial (Brasil):
- O Barroco no Brasil surge em um contexto colonial, com uma forte presença de escravizados africanos e indígenas, e uma sociedade hierárquica estruturada pelo domínio português. As expressões artísticas no Brasil eram influenciadas pela mestiçagem cultural e pela necessidade de adaptação ao contexto colonial. Por exemplo, a arte barroca no Brasil foi utilizada para seduzir espiritualmente a população indígena e africana, criando uma artesanização popular que refletia o sincretismo religioso.
- Na literatura, autores como Padre Antônio Vieira misturavam o Barroco com uma crítica velada ao sistema colonial e à exploração de povos indígenas e escravizados.
Relevância política e cultural (Portugal):
- Em Portugal, o Barroco se desenvolveu dentro de um contexto mais europeu e monárquico, refletindo os valores da aristocracia e a centralização do poder. A arte e a literatura barroca portuguesa estavam mais ligadas aos interesses da nobreza e à figura do monarca como representante de uma ordem divina. O Barroco português também foi um reflexo da inscrição religiosa no poder real, como vimos na relação entre Igreja e Coroa.
- Na literatura portuguesa, o Barroco se aproximava da tradição clássica, sendo fortemente influenciado por Dante, Camões, Góngora, e outros grandes nomes do Renascimento e do Barroco europeu. Aqui, o Barroco tem uma relação mais direta com as ideias filosóficas e políticas da época, voltadas para questões como o fatalismo e a transitoriedade da vida.
Representações da morte:
- No Brasil, a morte no Barroco é mais associada ao memento mori (lembre-se da morte) e ao carpe diem, refletindo as condições de vida do período colonial, com a presença constante de doenças, conflitos e o sofrimento das populações subjugadas.
- Já em Portugal, a morte é muitas vezes retratada de forma mais abstracta e metafísica, ligada à ideia de redenção divina e ao sacrifício cristão.
Elementos de resistência cultural (Brasil):
- O Barroco brasileiro também foi marcado por uma resistência cultural, no qual as tradições indígenas e africanas foram preservadas e até incorporadas à arte e à literatura. A religiosidade afro-brasileira, com seus elementos e símbolos, foi absorvida por meio de uma combinação de formas católicas e tradições indígenas e africanas, criando uma arte e literatura híbridas.
- Em Portugal, essa resistência cultural era mais voltada para uma defesa das tradições europeias, e o sincretismo religioso era mais moderado ou até ausente, dado o contexto religioso mais homogêneo da nação.
Conclusão:
Embora o Barroco tenha características comuns em Portugal e no Brasil, especialmente no que diz respeito à expressão religiosa, à complexidade linguística e à ornamentação artística, as diferenças principais podem ser observadas nas condições sociais e no contexto histórico de cada país. O Brasil, sendo uma colônia com uma população diversa e uma realidade social complexa, trouxe ao Barroco uma dimensão popular e sincrética, enquanto Portugal manteve uma expressão mais formal, ligada aos valores monárquicos e aristocráticos da época.
Essas distinções enriquecem a análise do Barroco como um movimento cultural e artístico, mostrando como ele foi moldado pelas realidades locais, mas também mantendo uma ligação com as grandes tradições da Europa barroca
Origem do Termo "Barroco"
- A palavra "barroco" deriva do termo português e espanhol para designar um tipo de pérola de forma irregular. Essa metáfora foi aplicada ao estilo artístico e literário devido à sua complexidade, exagero e busca pelo extraordinário, características que fugiam da regularidade clássica do Renasciment
Contexto Histórico-Cultural – Portugal
- Início e Marco Histórico:
- Início: 1580 – Morte de Camões e domínio espanhol com a União Ibérica (1580-1640).
- Domínio espanhol após a morte de D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir.
- Características da União Ibérica:
- Portugal sob influência cultural e política da Espanha.
- Crescimento da Contrarreforma: reforço do teocentrismo, perseguição aos protestantes, fortalecimento da Companhia de Jesus e repressão pela Santa Inquisição.
- Aumento dos impostos, perda de monopólios comerciais e declínio econômico.
- Patriotas portugueses impulsionados pela insatisfação com a dominação espanhola.
- Sociedade e Cultura:
- Luxo e ostentação da corte e nobreza em contraste com a pobreza do povo.
- Controle educacional pela Companhia de Jesus, alinhando Igreja, Estado e Escola.
- Fim do Domínio Espanhol:
- 1640: Portugal recupera sua autonomia, mas enfrenta dificuldades econômicas.
- Busca de reconstrução baseada na exploração das colônias, como o Brasil.
Contexto Histórico-Cultural – Brasil
- Início e Marco Histórico:
- Início: 1601 – Publicação de "Prosopopeia" de Bento Teixeira.
- Século XVII: Transformações econômicas pela atividade açucareira e invasões holandesas no Nordeste.
- Características da Sociedade Brasileira:
- Colonização exploratória: utilização de mão de obra escrava indígena e africana no cultivo do açúcar e extração do ouro.
- Ensino e doutrinação pela Companhia de Jesus: submissão à metrópole e defesa contra invasões holandesas.
- Baixo índice de alfabetização, com poucos indivíduos letrados pertencentes à elite abastada.
- Cultura e Produção Literária:
- Produção literária destinada à elite culta e dominante.
- Influência dos modelos literários portugueses, com pouca identidade local.
- Barroco "crioulizado": misturava tendências europeias com elementos nativistas.
Características Gerais do Barroco no Brasil e em Portugal
- Arte e Literatura:
- Trabalha antíteses e paradoxos, refletindo a crise de valores e as contradições do período.
- Influência da Espanha, berço do Barroco, no estilo literário luso-brasileiro.
- Sociedade e Política:
- Portugal mergulhado no obscurantismo medieval, alheio às descobertas científicas da época.
- No Brasil, a elite trazia ideias europeias que não refletiam a realidade da colônia.
- Produção Literária:
- O público leitor era restrito às classes dominantes.
- Surgimento de Academias como espaços de debates intelectuais e literários.
Características Gerais do Barroco
Influências e Contexto:
- União de valores renascentistas (racionalismo, humanismo, gosto pelos prazeres terrenos) e medievais (fé, espiritualidade, submissão à Igreja).
- Influência direta da Contrarreforma e da educação jesuítica, que visavam reconduzir o homem à Igreja como servo espiritual.
- Surge em um período de contradições políticas, econômicas e religiosas, refletindo uma sociedade em crise de valores.
Dualidades e Contradições:
- Razão x Fé
- Mundo Terreno x Mundo Espiritual
- Dor x Prazer
- Sensualidade x Espiritualidade
- Essas oposições geram uma literatura marcada por antíteses, que são usadas para refletir a complexidade do período.
Origem e Difusão:
- Origem: Espanha.
- Chegada ao Brasil por meio de Portugal.
Estilos Literários do Barroco
Conceptismo:
- Ênfase nas ideias, conceitos e raciocínios paradoxais.
- Exploração da essência dos objetos e conceitos por meio da inteligência e da razão.
- Estilo dissertativo, com argumentos lógicos e estruturados.
- Exemplos de recursos usados: antíteses, paradoxos, e raciocínio abstrato.
Cultismo (ou Gongorismo):
- Linguagem rebuscada e complexa.
- Vocabulário erudito e uso frequente de hipérbatos (inversão da ordem das palavras), neologismos e trocadilhos.
- Estilo voltado à forma e ao ornamento, tornando-o tortuoso e exagerado.
Linguagem e Estilo
- Linguagem rica em figuras de estilo como antíteses, paradoxos, hipérboles, metáforas e hipérbatos.
- Forte presença de elementos sensoriais e visuais, buscando impressionar e persuadir o público.
- Mistura de aspectos racionais e emocionais, refletindo o conflito interno do homem barroco.
A Arte Barroca
- É marcada por:
- Exagero e dramaticidade.
- Busca pela síntese entre opostos, como fé e razão.
- Tensão constante entre o material e o espiritual.
No Brasil
- O Barroco brasileiro adquire uma forma adaptada ao contexto local, misturando as tendências europeias com elementos nativistas.
- É voltado à elite culta, influenciada pelos modelos europeus.
- Representantes: Padre Antônio Vieira (prosa conceptista) e Gregório de Matos (poesia cultista e satírica).
Padre Antônio Vieira: Biografia e Contexto
Nascimento e Infância:
- Nascido em Lisboa (Portugal), 1608, mas viveu grande parte de sua vida no Brasil (principalmente na Bahia, após os 7 anos).
- Estudou no Colégio dos Jesuítas (Bahia) e ingressou na Companhia de Jesus aos 15 anos.
Carreira Religiosa e Política:
- Ordenação em 1634 e grande destaque como pregador.
- Missões Diplomáticas: Apoia D. João IV e realiza várias missões internacionais.
- Retorno ao Brasil (1652): Dedica-se à conversão dos indígenas e à defesa da fé católica.
Apoio à Restauração e a Defesa de Portugal:
- Pronuncia o sermão "Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda", justificando a defesa do império português e a expansão da fé católica.
- Defende a Restauração de Portugal (1640), que marca a independência de Portugal da Espanha.
Controvérsias e Perseguições:
- Defesa dos judeus: Vieira acredita que o restabelecimento de Portugal depende do apoio financeiro dos judeus, o que o coloca em conflito com a Inquisição, sendo perseguido e exilado para o Maranhão.
- Luta contra a escravidão indígena: Defende que os índios não devem ser escravizados, propondo a importação de escravos africanos.
- Carreira e Atuação:
- Ganhou notoriedade em 1640 com o "Sermão do bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda".
- Em 1640, após a Restauração portuguesa, foi enviado a Lisboa, onde se tornou conselheiro e embaixador de D. João IV.
- Entre 1641 e 1652, teve grande atividade política e de oratória, mas suas missões diplomáticas falharam, perdendo prestígio.
- Em 1651, retornou ao Brasil como missionário no Maranhão, onde atuou por dez anos.
- Após a morte de D. João IV, perdeu influência e foi expulso do Brasil pelos colonos em 1661.
Aspectos Gerais de Sua Literatura:
Natureza da Obra:
- Vieira não escreveu ficção, mas focou em textos políticos e religiosos.
- Seus discursos e sermões, muito publicados em vida, transformaram sua figura histórica em uma figura literária.
- A voz em seus textos não é a de um narrador ficcional, mas de um orador pio que segue a retórica clássica e os preceitos católicos.
Estilo Barroco:
- A obra de Vieira reflete a crise dos valores renascentistas e o Barroco, com um foco no alinhamento entre razão e fé.
- Demonstrou habilidade em lidar com o contraditório, ornamentação e expressividade, alinhando valores da Igreja e do Estado aos seus próprios interesses.
Técnicas Retóricas:
- "Disseminação e Recolha": Dispersão de ideias e questionamentos sem respostas claras, seguidas de respostas assertivas baseadas em exemplos.
- A oratória de Vieira é influenciada pelo conceptismo, que prioriza o jogo de ideias, a organização lógica das frases e o uso de metáforas.
Análise de "Os Sermões", de Padre Antônio Vieira (1979)
Contexto Litúrgico:
- A Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma, período de 40 dias antes da Páscoa.
- O dia de Cinzas simboliza o dever da conversão e a certeza da morte, com foco na reflexão sobre a fé e a preparação para a ressurreição de Cristo.
Discursos de Padre Antônio Vieira:
- Publicação de três sermões para o dia de Cinzas no século XVII:
- Sermão de 1672: Pregado em Roma, na Igreja de São Antônio dos Portugueses.
- Sermão de 1673: Também pregado na Igreja de São Antônio dos Portugueses, em 15 de fevereiro.
- Sermão sem data: Preparado para a Capela Real em Lisboa, mas não foi pregado devido à enfermidade do autor.
- Publicação de três sermões para o dia de Cinzas no século XVII:
Tema da Morte:
- A morte é central nos sermões, mas com uma abordagem distinta da literatura gótica ou ultrarromântica, que foca no terror.
- Em vez disso, Vieira adapta a temática ao contexto religioso, enfatizando a fugacidade da vida e a irreversibilidade da morte.
Mensagem Religiosa:
- A vida em Cristo é vista como um "morrer para o mundo", o que se reflete no tom dos sermões.
- Há um jogo retórico e engenhoso, onde Vieira utiliza a morte como um meio de reflexão sobre os deveres religiosos dos cristãos católicos.
Estilo e Retoricidade:
- A retórica de Vieira surpreende a cada sentença, com um discurso que busca despertar nos fiéis uma reflexão profunda sobre a morte e a vida cristã.
Resumo em Tópicos: "Sermões de Cinza" de Padre Antônio Vieira
Aspectos Gerais da Obra:
- Título e Temática:
- Os “Sermões de Cinza” são também conhecidos como “Sermões do Pó”, baseados na passagem de Gênesis 3:19, que fala sobre o homem sendo pó e voltando ao pó.
- A obra é composta por três sermões que formam um tríptico discursivo, com temas sequenciais e complementares.
- Título e Temática:
1º Sermão de Cinza:
- Exórdio: Apresentação do tema do pó, com base em Gênesis 3:19, e questionamento sobre o homem ser pó no presente, não apenas no passado e no futuro.
- Narração: Discussão sobre a natureza circular da vida humana, indo do pó ao pó, com a ideia de que a vida é um caminho para a morte.
- Divisão: Distinção entre o pó da vida (em movimento) e o pó da morte (em repouso), com foco na transitoriedade da vida.
- Confirmação: A ênfase na efemeridade das conquistas mundanas e a exortação contra a vaidade, seguida de reflexão sobre a promessa da ressurreição.
- Peroração: Conclusão com o conselho de tratar a vida como mortais e a outra vida como imortais.
2º Sermão de Cinza:
- Exórdio: Retomada do tema do pó e proposta de "morrer antes de morrer" para vencer a morte e alcançar o Paraíso.
- Narração: Exemplos de figuras históricas e religiosas (Sêneca, S. João, S. Ambrósio, Davi) que adotaram a prática de "morrer enquanto vivos", ou seja, abandonando o pecado antes da morte física.
- Divisão e Confirmação: Discussão sobre a preparação para a morte, considerando a certeza, a antecipação e a passagem do tempo.
- Confutação: Contra-argumento sobre a morte rumo ao Paraíso, que não é uma perda, mas uma transição para a vida eterna, reconhecendo a dificuldade de abrir mão dos prazeres mundanos.
- Peroração: A conclusão gira em torno da ideia de que "morrer antes da morte" é alcançar a liberdade e uma vida mais tranquila.
3º Sermão de Cinza:
- Exórdio: Introdução sobre a diferença de público (Corte portuguesa) e menção aos sermões anteriores, com a proposição de que o amor à vida e o temor à morte deveriam ser trocados.
- Narração: A morte é apresentada como liberdade e a vida como cativeiro, com exemplos bíblicos e históricos que ressaltam que a morte é mais desejável que a vida.
- Confutação: A vida é mais temível que a morte, pois mesmo aqueles que vivem confortavelmente estão sujeitos ao sofrimento e à incerteza. A morte é vista como castigo e não misericórdia.
- Divisão e Confirmação: A análise dos bens da natureza, da fortuna e da graça, mostrando que a vida está cheia de perdas, enquanto a morte traz a liberdade dos vícios e das tentações.
- Peroração: Conclusão amarga, refletindo a situação pessoal de Vieira, com a ideia de que o “morrer antes da morte” é a chave para uma vida melhor e mais livre das tentações da vida terrena.
Análise Linguística:
Figuras de Linguagem:
- Metáforas: Vieira utiliza metáforas para ilustrar temas complexos e dar maior profundidade aos seus sermões. Por exemplo, o conceito do “pó” é uma metáfora poderosa para a transitoriedade da vida humana e a inevitabilidade da morte, além de representar a fragilidade do ser humano.
- Antíteses: Ele faz uso de antíteses para contrastar vida e morte, pó levantado e pó caído, mostrando as diferenças entre os estados da existência. Esse recurso realça a oposição entre a efemeridade da vida e a eternidade da morte, além de ser um convite à reflexão.
- Comparações: São comuns as comparações entre a vida e a morte, muitas vezes com elementos naturais, como o ciclo da natureza e a transitoriedade das coisas materiais.
- Hipérboles e Paradoxo: No segundo sermão, a ideia de "morrer antes de morrer" é um paradoxo que Vieira usa para provocar o ouvinte a refletir sobre a morte de uma maneira nova e libertadora.
Estilo Barroco:
- Conceptismo: Vieira adota um estilo conciso e profundo, típico do conceptismo, no qual cada palavra e expressão carregam múltiplos sentidos. Sua retórica é mais voltada para a lógica e a argumentação incisiva.
- Cultismo: Apesar de adotar o conceptismo, Vieira também se utiliza de um estilo culto em alguns momentos, enriquecendo o sermão com referências eruditas, figuras literárias e uma linguagem ornamental. O uso de vocabulário rebuscado e de construções complexas é uma característica desse estilo.
- Ritmo e Ornamentação: Os sermões são altamente ornamentados e estruturados, com repetições e variações que conferem musicalidade ao discurso. Essas características tornam a fala de Vieira persuasiva, dando ênfase às suas mensagens.
Influência da Retórica Clássica:
- Vieira segue a tradição da retórica clássica, especialmente a estrutura de exórdio, narratio, divisio, confirmatio e peroratio. Ele organiza seus sermões de forma lógica, com introdução, desenvolvimento dos argumentos e conclusões.
- A técnica de persuasão também é influenciada pela retórica clássica, especialmente o uso de apelos à razão e à moralidade, como forma de influenciar as atitudes e comportamentos de seu público.
Contexto Histórico e Social:
Contra-Reforma:
- Os sermões de Vieira refletem o contexto da Contrarreforma católica, sendo um instrumento de defesa da Igreja e da fé contra as ideias protestantes. Ele utiliza sua oratória para reforçar os dogmas da Igreja Católica e as virtudes da vida cristã, como a obediência e a humildade.
- A ideia da morte e da transitoriedade da vida é uma maneira de levar os fiéis a refletirem sobre a salvação e a necessidade de se afastar dos prazeres mundanos, enfatizando a importância de viver de acordo com a moral cristã.
Brasil Colonial:
- Vieira, como missionário, tem um forte vínculo com o Brasil Colonial, e seus sermões abordam questões sociais e religiosas pertinentes ao contexto da época, como a convivência entre diferentes etnias e a necessidade de conversão dos indígenas.
- O impacto de sua missão no Brasil também reflete-se no conteúdo de seus sermões, que abordam a luta contra o pecado, a corrupção e a busca pela purificação espiritual dos colonos.
Política e Religião:
- Os sermões de Vieira têm uma forte relação com a política, uma vez que ele busca influenciar a opinião pública, especialmente a Corte portuguesa. Em seus discursos, ele se posiciona como um defensor da moralidade e da justiça, e suas palavras têm o poder de influenciar as ações políticas da época.
- A religiosidade de Vieira não é dissociada da política; ele entende que a ação religiosa deve estar diretamente ligada à formação moral e à conduta do povo, incluindo governantes e membros da Corte.
Influência na Literatura:
Legado Literário:
- Vieira é considerado um dos maiores nomes da literatura barroca e sua obra influenciou escritores posteriores. Sua habilidade de unir razão e emoção, de trabalhar com temas universais e de aplicar técnicas retóricas sofisticadas teve grande impacto na literatura portuguesa e brasileira.
- Sua influência é notada em autores como Gregório de Matos, que compartilha a crítica à sociedade de sua época, e outros escritores do período colonial.
Linguagem e Estilo:
- A linguagem rica e elaborada de Vieira contribuiu para o desenvolvimento da prosa em língua portuguesa, dando-lhe um caráter mais refinado e intelectual. Ele estabeleceu um modelo de discurso que foi seguido e admirado por outros escritores barrocos.
- Sua capacidade de elaborar frases complexas e de utilizar recursos linguísticos sofisticados ajudou a consolidar a prosa religiosa como um veículo de reflexão filosófica e teológica.
Temas Universais:
- Os temas abordados nos sermões, como a condição humana, a morte, a moralidade, a justiça e a fé, continuam sendo relevantes até os dias de hoje. Sua análise da transitoriedade da vida e da necessidade de viver de forma virtuosa é atemporal, oferecendo uma reflexão sobre o sentido da existência e a busca pelo propósito divino.
Outras Opções:
Sermão da Sexagésima: Uma análise deste sermão também revela a habilidade de Vieira em tratar da condição humana e do pecado. Ele usa uma linguagem direta para discutir a fé e a relação do homem com Deus, com um foco na luta contra as tentações.
Sexagésima é uma palavra de origem latina que significa "relativo ao sexagésimo" ou "o sexagésimo dia". No contexto religioso, especialmente nos sermões de Padre Antônio Vieira, ela se refere ao Sermão da Sexagésima, um dos sermões mais conhecidos de Vieira, pregado durante o período da Quaresma.
A palavra "sexagésima" é usada aqui para designar o terceiro domingo da Quaresma, que ocorre no sexagésimo dia do calendário litúrgico. A Quaresma é o período de 40 dias que antecede a Páscoa e é marcado por momentos de reflexão, arrependimento e preparação espiritual. O Sermão da Sexagésima de Vieira trata de temas como a importância do arrependimento e da conversão, abordando, com sua típica eloquência, o comportamento moral e religioso do público.
Portanto, "sexagésima" tem esse significado litúrgico e temporal no contexto dos sermões barrocos
Sermão da Quarta-feira de Cinzas: Este sermão, assim como os outros, também faz uso de figuras de linguagem e argumentação retórica para abordar a condição de pecado dos homens e a necessidade de arrependimento, inserindo-se na tradição da pregação religiosa do Barroco.
Comparação com Gregório de Matos: Comparando o estilo de Vieira com o de Gregório de Matos, vemos uma diferença no foco: enquanto Vieira se concentra em uma linguagem mais erudita e argumentativa, Gregório de Matos utiliza uma linguagem mais satírica e de crítica social. Ambos, no entanto, compartilham uma preocupação com os valores morais e com a situação de sua sociedade.
A ideia da semente da palavra no Sermão da Sexagésima é, de fato, central na obra de Vieira e oferece uma rica oportunidade para explorarmos temas como a eficácia da pregação, a responsabilidade tanto do pregador quanto do ouvinte, e o uso da natureza como metáfora espiritual. Vamos explorar os aspectos sugeridos:
1. A Metáfora da Semente:
Significado Profundo: A semente representa a palavra de Deus, ou seja, a mensagem divina que é semeada no coração dos ouvintes. O ato de semear é uma metáfora da pregação, enquanto a germinação da semente simboliza a conversão espiritual. A semente, ao ser plantada, precisa de condições adequadas para crescer, o que remete ao processo de interiorização e vivência da fé. Portanto, a eficácia da palavra depende tanto da ação do pregador quanto da receptividade do ouvinte.
Relação com a Pregação e a Conversão: A metáfora da semente também sugere que a palavra, assim como a semente, tem o potencial de gerar frutos — isto é, uma mudança genuína no comportamento do ouvinte, que deve se traduzir em uma vida cristã transformada. No entanto, nem todas as sementes germinam com sucesso. A pregação, muitas vezes, não é capaz de produzir frutos quando o terreno, ou seja, o coração do ouvinte, não está preparado para recebê-la.
2. O Papel do Pregador:
Responsabilidade do Pregador: O pregador tem o dever de semear a palavra com diligência e cuidado, mas não pode garantir que ela gerará frutos. Vieira sublinha que a eficácia da pregação depende não apenas da clareza e força da palavra, mas também da receptividade do ouvinte. O pregador não deve se desanimar diante da aparente falta de frutos, pois ele tem a responsabilidade de transmitir a palavra de forma fiel e constante. Vieira critica aqueles pregadores que não se esforçam adequadamente para transmitir a mensagem de forma clara e convincente, levando muitos a não colherem frutos espirituais.
Crítica aos Pregadores Ineficientes: Vieira condena aqueles que são superficiais em sua pregação e não buscam verdadeiramente impactar a vida dos ouvintes. O pregador deve ser diligente e responsável, mas também deve cultivar uma vida interior rica, de modo a transmitir a palavra com integridade. A crítica está direcionada àqueles que apenas cumprem a tarefa de pregar sem se aprofundar no verdadeiro espírito da mensagem.
3. O Papel do Ouvinte:
Disposição do Ouvinte: A disposição do ouvinte em receber a palavra de Deus é crucial para a eficácia da semente. Vieira destaca que somente aqueles que têm o coração aberto e disposto a acolher a palavra podem experimentar sua transformação. A metáfora da semente sugere que, sem o terreno fértil, a palavra não pode germinar, refletindo a ideia de que a fé e a conversão dependem da atitude interna do ouvinte.
Obstáculos à Germinação da Fé: Vieira menciona vários obstáculos que dificultam a recepção da palavra, como os afazeres mundanos, a arrogância e a falta de humildade. Esses obstáculos podem ser comparados a terrenos pedregosos ou espinhosos, onde a semente não tem espaço para crescer. O pregador não pode controlar a receptividade de cada ouvinte, mas pode incentivar uma postura de reflexão e aceitação genuína da palavra.
4. Relação entre Natureza e Espiritualidade:
Natureza como Metáfora Espiritual: A natureza é utilizada por Vieira como um reflexo da ordem divina e da espiritualidade. A imagem da semente que cresce, germina e dá frutos remete ao processo de crescimento espiritual. Vieira usa a natureza para mostrar como a vida cristã exige paciência, persistência e cuidado, assim como uma semente precisa de tempo e de condições adequadas para se desenvolver.
Ciclo Natural e Espiritual: Ao comparar a pregação com a semeadura e a conversão com a germinação, Vieira traz à tona uma visão cíclica da fé, que segue o ciclo da natureza: é necessário plantar, esperar, cultivar e colher, assim como na vida espiritual é necessário semear a palavra, esperar pela graça divina, cultivar o espírito e colher frutos de conversão.
5. Outras Metáforas no Sermão:
Outras Imagens: Além da metáfora da semente, Vieira utiliza imagens como o pó, a terra e o sol, que têm funções simbólicas importantes. O pó, por exemplo, pode simbolizar a fragilidade humana, a finitude da vida e a necessidade de humildade. O sol pode ser associado à luz divina que ilumina o caminho dos fiéis.
Construção do Argumento: Cada metáfora serve para reforçar a ideia central de que a palavra de Deus precisa ser acolhida e cultivada com dedicação, e que a falha na pregação ou na recepção da palavra resulta na esterilidade espiritual. A natureza se torna uma analogia perfeita para os fenômenos espirituais, tornando a mensagem acessível e compreensível para o público.
6. O Estilo Barroco no Sermão:
Conceptismo e Cultismo: No Sermão da Sexagésima, podemos observar características do conceptismo, com a argumentação incisiva e profunda que visa tocar a razão do ouvinte. Vieira utiliza de uma linguagem racional e estruturada, fazendo uso de metáforas complexas e de uma reflexão filosófica sobre a conversão. Também há elementos do cultismo, com o uso de um vocabulário rebuscado e de imagens poéticas, tornando a pregação rica e elaborada.
Riqueza Linguística: O cultismo se reflete na ornamentação da linguagem, nos jogos de palavras e na sofisticação do estilo, o que cria uma intensidade estética que visa também a sedução do ouvinte, além da persuasão racional.
7. Impacto Histórico e Influência:
Impacto na Época: O Sermão da Sexagésima teve um grande impacto na época de Vieira, especialmente em seu papel de reforçar a moral católica e a necessidade de uma pregação mais eficaz. Ele desafiava os pregadores a serem mais responsáveis e mais conscienciosos na sua missão de semear a palavra de Deus.
Reflexão Contemporânea: O sermão continua a ser uma obra de reflexão sobre a pregação e a prática da fé, sendo utilizado não só em estudos teológicos, mas também em discussões sobre a eficácia da comunicação religiosa. Sua crítica à superficialidade e à falta de compromisso na pregação ainda ressoa nas práticas religiosas contemporâneas.
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