quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH)

 

Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH)

Definição
O TDAH é caracterizado por uma atenção inapropriadamente fraca, aspectos de hiperatividade e impulsividade, ou ambos, inapropriados à idade.
O transtorno deve estar presente por, pelo menos, seis meses e comprometer o funcionamento acadêmico ou social da criança, ocorrendo antes dos sete anos.
Uma criança pode qualificar-se para o transtorno apenas com sintomas de desatenção ou com sintomas de hiperatividade e impulsividade, sem desatenção.

Subtipos (segundo o DSM-IV)

  1. Tipo predominantemente desatento
  2. Tipo predominantemente hiperativo-impulsivo
  3. Tipo combinado

Epidemiologia

  • Maior incidência em meninos (3 a 5 ANOS)
  • Pais de crianças com TDAH têm maior incidência de hipercinesia, sociopatia, dependência de álcool e transtorno conversivo.

Hipercinesia

  • Definição: Refere-se ao aumento anormal da atividade motora, geralmente manifestada por movimentos excessivos e agitação.
  • Características:
    • Movimentos repetitivos e involuntários.
    • Pode ocorrer em várias condições neurológicas e psiquiátricas.
    • É um sintoma comum em distúrbios como o TDAH, doenças neurológicas e efeitos colaterais de medicamentos.
  • Causas:
    • Transtornos neurológicos, como lesões cerebrais, disfunções nos neurotransmissores ou como efeito adverso de medicamentos.
    • Em algumas condições psicológicas, pode ser uma forma de externalizar ansiedade ou frustração.

Sociopatia (Transtorno de Personalidade Antissocial)

  • Definição: Caracteriza-se pela falta de empatia, comportamentos impulsivos e violação dos direitos dos outros sem remorso.
  • Características:
    • Desrespeito pelas normas sociais e morais.
    • Dificuldade em formar relacionamentos estáveis e de confiança.
    • Tendência a manipular ou enganar para obter benefícios próprios.
    • Falta de remorso por comportamentos prejudiciais aos outros.
  • Causas:
    • Fatores genéticos e ambientais, como uma infância marcada por negligência, abuso ou privação emocional.
    • Anomalias nas áreas cerebrais responsáveis pela empatia e controle emocional.

Dependência de Álcool

  • Definição: A dependência de álcool é um transtorno no qual uma pessoa desenvolve uma necessidade compulsiva de beber, apesar das consequências negativas para a saúde e a vida social.
  • Características:
    • Consumo excessivo e frequente de álcool, que interfere nas atividades diárias.
    • Necessidade crescente de ingerir grandes quantidades para atingir o efeito desejado (tolerância).
    • Sintomas de abstinência quando o consumo é interrompido, como tremores, sudorese, ansiedade e, em casos graves, delírios e alucinações.
  • Causas:
    • Fatores genéticos, históricos familiares de dependência, problemas emocionais, traumas e estresse psicológico.
    • A dependência pode ser exacerbada por fatores sociais e culturais que promovem o consumo de álcool.

Transtorno Conversivo (ou Transtorno de Conversão)

  • Definição: Caracteriza-se pela presença de sintomas neurológicos (como paralisia, cegueira ou tremores) sem uma explicação médica, frequentemente ligados a fatores psicológicos ou estresse emocional.
  • Características:
    • Perda de funções físicas, como paralisia, dificuldade para falar, cegueira, tremores, ou crises convulsivas, sem uma base orgânica identificável.
    • Os sintomas costumam ocorrer após eventos traumáticos ou estresse emocional significativo.
    • A pessoa pode não estar consciente de que os sintomas têm uma origem psicológica.
  • Causas:
    • Estressores psicológicos, traumas emocionais, conflitos internos não resolvidos.
    • A psicodinâmica do transtorno sugere que a pessoa "converte" conflitos emocionais não resolvidos em sintomas físicos como uma forma de lidar com o estresse.
  • O início geralmente ocorre aos três anos, mas o diagnóstico é geralmente feito quando a criança entra na escola primária, quando o aprendizado exige períodos de atenção e concentração.

Etiologia

Causas desconhecidas, mas fatores sugeridos incluem:

  • Genéticos: Maior concordância em gêmeos monozigóticos que dizigóticos. Irmãos de crianças hiperativas têm o dobro do risco de apresentar o transtorno.
  • Lesão cerebral: A maioria das crianças com TDAH não apresenta lesões estruturais ou doenças do SNC, mas pode ter sofrido lesões cerebrais mínimas ou sutis durante a gestação ou no período perinatal. Estudos sugerem redução do fluxo sanguíneo cerebral e taxas metabólicas nas áreas dos lobos frontais.
  • Fatores neuroquímicos: Disfunção dos sistemas adrenérgicos e dopaminérgicos, entre outros neurotransmissores.
  • Fatores neurofisiológicos: Atraso maturativo do cérebro pode gerar um quadro temporário de TDAH.
  • Fatores psicossociais: Privação emocional, estresse, fatores familiares e sociais também podem contribuir.

Características Clínicas / Diagnóstico

Sintomas comuns (em ordem de frequência):

Hiperatividade

  • O que é: A pessoa é muito agitada, não consegue ficar parada e está constantemente em movimento.
  • Exemplo: Uma criança que corre, pula ou mexe as mãos e pés sem parar, mesmo quando deveria estar em uma atividade tranquila.

Comprometimento Percepto-Motor

  • O que é: Dificuldade em coordenar a percepção (o que se vê, ouve, sente) com o movimento do corpo.
  • Exemplo: A pessoa pode ter dificuldades para escrever, desenhar ou até para caminhar de maneira coordenada.

Instabilidade Emocional

  • O que é: Mudanças rápidas e intensas no estado emocional, como passar de felicidade para tristeza ou raiva sem motivo claro.
  • Exemplo: Uma pessoa pode ficar muito irritada por algo pequeno e, em seguida, ficar triste ou chorar sem uma razão aparente.

Déficit de Coordenação

  • O que é: Dificuldade em realizar movimentos que exigem coordenação entre diferentes partes do corpo.
  • Exemplo: A pessoa pode ter dificuldade para andar em linha reta, escrever de forma legível ou pegar objetos sem deixar cair.

Distúrbio da Atenção

  • O que é: A pessoa tem dificuldade em se concentrar e prestar atenção por um tempo adequado.
  • Exemplo: Alguém que se distrai facilmente e tem problemas para se concentrar em uma tarefa por muito tempo, como ler um livro ou assistir a uma aula.

Impulsividade

  • O que é: A pessoa age sem pensar nas consequências, tomando decisões rápidas e sem refletir.
  • Exemplo: Uma criança que interrompe os outros, fala sem pensar ou age rapidamente, sem se preocupar se é a coisa certa a fazer.

Transtorno da Memória e do Pensamento

  • O que é: Dificuldade em lembrar coisas ou em organizar o raciocínio e pensamentos de forma clara.
  • Exemplo: Esquecer informações simples com facilidade, como o nome de uma pessoa ou o que estava fazendo, ou ter dificuldade para resolver problemas de forma lógica.

Deficiências Específicas de Aprendizado

  • O que é: Dificuldade em aprender ou entender certas habilidades acadêmicas, apesar de ter inteligência normal.
  • Exemplo: Uma criança que tem dificuldade em aprender a ler, escrever ou fazer contas, mesmo que não tenha problemas de inteligência.

Sinais e Irregularidades Neurológicas (Eletroencefalograma)

  • O que é: Resultados anormais em exames do cérebro, como o eletroencefalograma, que mede a atividade elétrica do cérebro.
  • Exemplo: Alterações nos padrões de atividade cerebral que podem indicar condições como convulsões ou problemas neurológicos, mesmo sem sintomas visíveis.

Critérios para diagnóstico (segundo o DSM-IV):
Seis ou mais dos seguintes sintomas de desatenção ou hiperatividade devem persistir por, pelo menos, 6 meses, comprometendo o funcionamento da criança:

Desatenção:

  • Erros descuidados em atividades escolares ou de trabalho
  • Dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas
  • Não segue instruções ou termina tarefas
  • Parece não escutar quando lhe dirigem a palavra
  • Dificuldade em organizar tarefas e atividades
  • Relutância para envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante
  • Perda de objetos necessários para tarefas
  • Facilidade para se distrair
  • Esquecimento em atividades diárias

Hiperatividade:

  • Remexe as mãos ou pés, não consegue ficar sentado
  • Abandona sua cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado
  • Corre ou escala em demasia
  • Dificuldade para brincar silenciosamente
  • Está sempre ativo ou agindo como se estivesse "à mil"
  • Fala em excesso

Impulsividade:

  • Dá respostas apressadas antes de as perguntas serem completadas
  • Dificuldade para aguardar sua vez
  • Interrompe ou se mete em assuntos de outros

Diagnóstico Diferencial

Ansiedade (pode acompanhar o TDAH como aspecto secundário)

  • O que é: A ansiedade é quando a pessoa se sente excessivamente preocupada ou nervosa, mesmo quando não há motivo claro para isso.
  • Exemplo: Alguém com TDAH pode se preocupar muito com as coisas que não consegue fazer, como estudar ou se concentrar, o que pode aumentar sua ansiedade.

Distúrbio Depressivo Primário

  • O que é: A depressão é um distúrbio de humor, onde a pessoa se sente triste, sem energia ou sem interesse pelas coisas que antes gostava, por um longo período de tempo.
  • Exemplo: Uma pessoa que sente uma tristeza profunda, se sente sem esperança e tem dificuldades para fazer suas atividades diárias.

Transtornos de Conduta

  • O que é: São comportamentos em que a pessoa age de forma agressiva ou desrespeitosa com os outros, desobedecendo regras ou normas sociais.
  • Exemplo: Uma criança que briga com os outros, quebra objetos ou desobedece constantemente as regras da escola ou de casa.

Transtornos de Aprendizado

  • O que é: Dificuldades em aprender certos conteúdos escolares, como leitura, escrita ou matemática, mesmo que a pessoa tenha inteligência normal.
  • Exemplo: Uma criança que tem dificuldade para aprender a ler ou escrever, apesar de ser capaz de entender outras coisas normalmente.

Comprometimento Sensorial (Audição)

  • O que é: Dificuldades no processamento de estímulos sensoriais, como sons, que podem afetar como a pessoa percebe o mundo ao seu redor.
  • Exemplo: Uma pessoa pode ter dificuldade em ouvir sons de forma clara ou se sentir incomodada com sons que outras pessoas não percebem como perturbadores.

Epilepsia Tipo Pequeno Mal

  • O que é: É um tipo de crise epiléptica em que a pessoa perde temporariamente a consciência, mas sem grande movimento ou agitação no corpo.
  • Exemplo: A pessoa pode ficar "apagada" por alguns segundos, sem perceber, e logo voltar ao normal, sem saber o que aconteceu.

Efeitos Colaterais de Medicamentos (Antipsicóticos, Anticonvulsivantes)

  • O que é: São reações indesejadas que ocorrem quando a pessoa usa certos medicamentos, como os antipsicóticos (para tratar problemas de saúde mental) e anticonvulsivantes (para tratar convulsões).
  • Exemplo: Uma pessoa pode sentir sonolência, ganho de peso, tremores ou mudanças no comportamento como efeito do uso desses medicamentos.

Curso e Prognóstico

  • O curso do TDAH pode variar. Os sintomas podem persistir até a adolescência ou vida adulta, mas a hiperatividade tende a diminuir, enquanto a distração pode persistir.
  • A remissão dos sintomas geralmente ocorre entre 12 e 20 anos.
  • Crianças com TDAH na adolescência estão em alto risco para transtornos de conduta, transtornos de personalidade anti-social na vida adulta e transtornos relacionados ao uso de substâncias.
  • Transtornos de Conduta

    • O que é: Refere-se a comportamentos agressivos, desrespeitosos ou que violam as regras sociais.
    • Exemplo: Uma pessoa que tem dificuldade em respeitar normas de convivência, como brigar com os outros, mentir, roubar ou destruir coisas.

    Transtornos de Personalidade Antissocial na Vida Adulta

    • O que é: É um padrão de comportamento caracterizado por desrespeito contínuo pelas regras sociais e pelos direitos dos outros. As pessoas com esse transtorno frequentemente mentem, manipulam e se envolvem em atividades ilegais ou prejudiciais.
    • Exemplo: Um adulto que age de forma fria, calculista e irresponsável, sem sentir remorso por prejudicar os outros.

    Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias

    • O que é: São problemas causados pelo uso excessivo de drogas ou álcool, o que leva a dependência ou comportamentos prejudiciais à saúde e à vida social.
    • Exemplo: Uma pessoa que não consegue parar de beber ou usar drogas, mesmo que isso esteja afetando sua vida de forma negativa, como problemas no trabalho, relacionamentos ou saúde.

Tratamento

Farmacoterapia:

  • Estimulantes do SNC 
  • Antidepressivos 

Psicoterapia:

  • Psicoterapia individual
  • Modificação de comportamento
  • Aconselhamento parental
  • Tratamento de distúrbios específicos do desenvolvimento
  • Auxílio para estruturação do ambiente da criança

Observação:
As crianças com TDAH não devem ser dispensadas das exigências e expectativas aplicáveis às outras crianças, pois isso pode prejudicar seu desenvolvimento.


Estratégias para Melhorar o Manejo e Tratamento do TDAH

  1. Entendimento e Educação sobre o TDAH

    • Explicar aos pais, professores e cuidadores sobre as características do transtorno.
    • Esclarecer que o TDAH não é um "defeito" ou "falta de disciplina", mas sim um transtorno neurodesenvolvimental.
    • Promover uma compreensão adequada para reduzir preconceitos e expectativas irrealistas.
  2. Intervenções Educacionais

    • Adaptações na sala de aula:
      • Ambientes organizados e com poucas distrações.
      • Rotinas claras e previsíveis.
      • Metas curtas e alcançáveis para manter o foco da criança.
    • Reforço positivo:
      • Elogios e recompensas por comportamentos apropriados.
      • Estímulo para completar tarefas e desenvolver autoconfiança.
    • Uso de ferramentas visuais e auditivas:
      • Cronômetros, listas de tarefas e gráficos de progresso.
  3. Terapias Psicossociais

    • Terapia Comportamental:
      • Ensinar habilidades sociais e autorregulação emocional.
      • Estratégias para reduzir impulsividade e melhorar a atenção.
    • Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (TCC):
      • Foco em identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais.
      • Apoio para lidar com baixa autoestima ou frustrações associadas ao TDAH.
    • Aconselhamento Parental:
      • Ensinar aos pais técnicas de manejo de comportamento.
      • Orientação para lidar com episódios de hiperatividade e impulsividade de forma construtiva.
  4. Tratamento Farmacológico

    • Estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC):
      • Medicamentos  para melhorar atenção e reduzir hiperatividade.
    • Alternativas não estimulantes:
      • especialmente em casos de intolerância aos estimulantes.
    • Monitoração do uso:
      • Avaliação contínua para ajustar dosagens e minimizar efeitos colaterais.
  5. Estruturação do Ambiente Familiar

    • Rotinas regulares e previsíveis em casa.
    • Estímulo à prática de esportes para reduzir excesso de energia.
    • Limitação de distrações, como uso excessivo de telas.
  6. Abordagem Escolar

    • Comunicação entre pais e professores para alinhar estratégias.
    • Suporte pedagógico, como tempo extra para testes e tarefas.
    • Participação em programas de educação inclusiva.
  7. Desenvolvimento de Habilidades Sociais

    • Promoção de atividades que incentivem a interação saudável com outras crianças.
    • Jogos que estimulem cooperação e respeito às regras.
  8. Gestão de Emoções e Ansiedade

    • Técnicas de mindfulness e relaxamento para reduzir o estresse.
    • Incentivo ao uso de diários para expressar pensamentos e sentimentos.
  9. Prevenção de Problemas Associados

    • Identificação precoce de transtornos de conduta, ansiedade ou depressão.
    • Apoio psicológico contínuo para evitar a escalada de problemas comportamentais ou abuso de substâncias.
  10. Envolvimento em Terapias Ocupacionais e Físicas

    • Auxílio para melhorar a coordenação motora e habilidades organizacionais.
    • Estímulo à prática de atividades motoras que demandem concentração, como yoga e artes marciais.
  11. Apoio Comunitário e Redes de Suporte

    • Grupos de apoio para pais e crianças com TDAH.
    • Participação em programas comunitários para compartilhar experiências e estratégias.
  12. Monitoramento e Avaliação Contínuos

    • Reavaliação periódica para ajustar estratégias.
    • Documentação dos avanços e desafios para identificar padrões e soluções.

Essas abordagens integradas podem proporcionar uma melhora significativa no manejo do TDAH, promovendo o bem-estar da criança e melhorando suas interações sociais e desempenho acadêmico

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