ALMAS AGRADECIDAS
Machado de
Assis
Havia representação no Ginásio. A peça da moda era então a célebre Dama
das Camélias. A casa estava cheia. No fim do quarto ato começou
a chover um pouco; do meio do quinto ato em diante, a chuva redobrou de
violência.
Quando acabou o espetáculo, cada família entrou no seu carro; as poucas
que não tinham esperavam uma estiada, e, mediante os lá saíram com as saias
arregaçadas.
.........................aos olhos dando,
O que às mãos cobiçosas vão negando.
Os homens abriam
os seus guarda-chuvas; outros chamavam tílburis; e pouco a pouco se foi
despejando o saguão, até que só ficaram dois rapazes, um dos quais abotoara até
o pescoço o paletó, e esperava maior estiada para sair, porque além de não ter
guarda-chuva, não via nenhum tílburi no horizonte.
O outro também abotoara o paletó, mas tinha
guarda-chuva; não parecia, entretanto, disposto a abri-lo. Olhava de esguelha para
o primeiro, que fumava tranquilamente um charuto.
Já o porteiro havia fechado as duas portas laterais
e ia fazer o mesmo à porta central, quando o rapaz do guarda-chuva
dirigiu ao outro estas palavras:
- Para que lado vai?
O interpelado compreendeu que o
companheiro lhe ia oferecer abrigo e respondeu, com palavras de agradecimento,
que morava na Glória.
- É muito longe, disse ele, para aceitar o abrigo que naturalmente me
quer oferecer. Eu esperarei aqui um tílburi.
- Mas a porta vai fechar-se, observou
o outro.
- Não importa, esperarei do lado
de fora.
- Não é possível, insistiu o
primeiro; a chuva ainda está forte e
pode aumentar mais. Não lhe ofereço abrigo até casa porque moro na Prainha,
que é justamente do lado oposto; mas posso cobri-lo até ao Rócio, onde
encontraremos um tílburi.
- É verdade, respondeu o rapaz
que não tinha guarda-chuva; não me havia
ocorrido isto, aceito com prazer.
Saíram os dois rapazes e foram
até ao Rocio. Nem sombra de tílburi ou caleça.
- Não
admira, disse o rapaz do guarda-chuva; foram todos com gente do teatro. Daqui a
pouco haverá algum de volta...
- Mas eu não
quisera dar-lhe o incômodo de o reter mais tempo aqui à chuva.
- Cinco ou
dez minutos, talvez; esperaremos.
A chuva veio
contrariar estes bons desejos do rapaz, caindo com furor. Mas o desejo de
servir tem mil maneiras de se manifestar. O rapaz do guarda-chuva propôs um
meio excelente de escapar à chuva e esperar condução: era ir tomar chá ao hotel
que mais à mão lhe ficasse. O convite não era mau; tinha só o inconveniente de
vir de um desconhecido. Antes de lhe responder, o rapaz sem guarda-chuva deitou
um rápido olhar ao seu companheiro, espécie de exame prévio da condição social
da pessoa. Parece que a achou boa, porque aceitou o convite.
- É levar muito
longe a sua bondade, disse ele, mas eu não posso deixar de abusar dela; a noite
está inclemente.
- Eu também
costumo esquecer o guarda-chuva, e amanhã estarei nas suas mesmas
circunstâncias.
Foram para o
hotel e daí a pouco tinham diante de si um excelente pedaço de rosbife frio,
acompanhado de não menos excelente chá.
- Há de
desculpar a minha curiosidade, disse o rapaz sem guarda-chuva; mas eu desejaria
saber a quem devo a obsequiosidade com que sou tratado há vinte minutos.
- Não somos
inteiramente desconhecidos, respondeu o outro; a sua memória é que é menos
conservadora do que a minha.
- Donde me
conhece?
- Do
colégio. Andamos juntos no colégio Rosa...
- Andei lá,
é verdade, mas...
- Não se
lembra do Oliveira? Aquele que trocava as réguas por laranjas? Aquele que
desenhava com giz o retrato do mestre nas costas dos outros meninos?
- Que me
diz? É o senhor?
- De carne e
osso, eu mesmo. Acha-me mudado, não?
- Oh! muito!
- Não
admira: Eu era naquele tempo uma criança rechonchuda e vermelha; hoje como vê,
estou quase tão magro como D. Quixote; e não foram trabalhos, porque eu não os
tenho tido; nem desgostos, que eu ainda não os experimentei. O senhor, porém, é
que não mudou; se não fosse esse pequeno bigode, pareceria o mesmo daquele
tempo.
- E todavia
não me hão faltado desgostos, acudiu o outro; minha vida tem sido atribulada. A
natureza tem destas coisas.
- Casou?
- Não; e o
senhor?
- Também
não.
A pouco e
pouco começaram as confidências pessoais; cada um narrou aquilo que podia
narrar, por maneira que, ao fim da cela, pareciam tão íntimos como no tempo do
colégio.
Sabemos
destas revelações mútuas, que Oliveira era bacharel em direito, e começava a
advogar com pouco êxito. Herdara alguma coisa da avó, última parenta que
conservara até então, tendo-lhe morrido os pais antes de entrar na
adolescência. Estava com certo desejo de entrar na vida política e contava
com a proteção de alguns amigos de seu pai, para ser eleito deputado à
assembleia provincial fluminense.
Magalhães era o nome do outro; não herdara de seus pais dinheiro, nem
amigos políticos. Aos 16 anos, achou-se só no mundo; exercera vários empregos de caráter
particular, até que conseguira obter uma nomeação para o Arsenal de Guerra,
onde estava atualmente... Confessou que esteve a ponto de enriquecer, casando
com uma viúva rica; mas não revelou as causas que lhe impediram essa mudança de
fortuna.
A chuva cessara de todo. Já uma
parte do céu se havia descoberto deixando aparecer o rosto da lua cheia, cujos
raios pálidos e frios brincavam nas pedras e nos telhados úmidos.
Saíram os nossos dois amigos.
Magalhães declarou que iria a pé.
- Não chove mais, disse ele; ou,
pelo menos, nesta meia hora; vou a pé até à Glória.
- Pois bem, respondeu Oliveira;
já lhe disse o número da minha casa e do meu escritório; apareça lá algumas
vezes; folgarei de reatar as nossas relações da meninice.
- Também eu; até breve.
- Despediram-se na esquina da rua
do Lavradio, e Oliveira enfiou pela de S. Jorge. Ambos foram pensando um no
outro.
- Parece ser um excelente
rapaz este Magalhães, dizia o jovem advogado consigo; no colégio, foi sempre um
menino sério. Ainda o é agora; e até parece um pouco reservado, mas é natural
porque sofreu.
II
Três dias depois, apareceu Magalhães no escritório
de Oliveira; falou na sala a um porteiro que lhe pediu o cartão.
- Não tenho cartão, respondeu Magalhães envergonhado; esqueci-me de o trazer; diga-lhe que é o Magalhães.
- Queira esperar alguns minutos,
tornou o porteiro; ele está conversando com uma pessoa.
Magalhães assentou-se numa
cadeira de braços, enquanto o porteiro assoava silenciosamente o nariz e tomava
uma pitada de rapé, que lhe não ofereceu. Magalhães examinou detidamente as
cadeiras, as estantes, os quadros de gravuras, os capachos e as escarradeiras.
A sua curiosidade era minuciosa e sagaz; parecia estar avaliando o gesto ou
a riqueza de seu ex-colega.
Minutos depois, ouviu-se um rumor
de cadeiras, e não tardou que viesse da sala do fundo um velho alto e
empertigado, vestido com certo apuro, a quem o porteiro fez largos cumprimentos
até o patamar da escada.
Magalhães não esperou que o
porteiro fosse avisar Oliveira; atravessou o corredor que separava as duas
salas e foi ter com o amigo.
- Ora, viva! disse este apenas o
viu entrar. Estimo que não lhe houvesse esquecido a promessa. Sente-se; chegou
a casa com chuva?
- Começou a chuviscar, quando eu me achava a dois passos da porta,
respondeu Magalhães.
- Que horas são?
- Pouco mais de duas, creio eu.
- O meu relógio está parado, disse Oliveira,
lançando o olhar de esguelha para o colete de Magalhães, que não tinha
relógio. Naturalmente, ninguém mais me procurará hoje; e ainda que venham,
quero descansar.
Oliveira
tocou a campainha apenas acabou de proferir estas palavras. Veio o porteiro.
- Se vier
alguém, disse Oliveira, não estou cá.
O porteiro
inclinou-se e saiu.
- Estamos
livres de importunos, disse o advogado, apenas o porteiro virou as costas.
Todas estas maneiras e palavras de
simpatia e cordialidade foram angariando a confiança de Magalhães, que começou
a parecer alegre e franco com o seu ex-colega.
Longa foi a
conversa, que durou até às 4 horas da tarde. Às 5 jantava Oliveira; mas o outro
jantava às 3, e se o não disse, era talvez por deferência, se não fosse por
cálculo. Um jantar copioso e escolhido não era melhor que o ramerrão culinário
de Magalhães? Fosse uma ou outra coisa, Magalhães suportou a fome com admirável
denodo. Eram 4 horas da tarde, quando Oliveira deu acordo de si.
- Quatro
horas! exclamou ele, ouvindo as badaladas de um sino próximo. Naturalmente, já
você perdeu a hora do jantar.
- Assim é,
respondeu Magalhães; eu costumo jantar às 3 horas. Não importa; adeus.
- Isso é que
não; há de ir jantar comigo.
- Não;
obrigado...
- Ande cá,
jantaremos no hotel mais próximo, porque a minha casa é longe. Eu ando com
ideia de mudar de casa; estou muito fora do centro da cidade. Vamos aqui ao
Hotel de Europa.
Os vinhos
eram bons; Magalhães gostava de vinhos
bons. No meio do jantar, tinha-se-lhe desenvolvido completamente a língua.
Oliveira fazia quanto podia para tirar ao amigo da infância toda espécie de
acanhamento. Isto e o vinho deram excelente resultado.
Desta
ocasião em diante foi que Oliveira começou a apreciar o ex-colega. Era Magalhães um rapaz de agudo espírito, boa
observação, conversador ameno, um pouco lido em obras fúteis e correntes. Tinha,
além disso, o dom de ser naturalmente insinuante. Com estas prendas juntas não
era difícil, era antes facílimo angariar as boas graças de Oliveira, que, à sua
extrema bondade, reunia uma natural confiança, ainda não diminuída pelos
cálculos da vida madura. Demais Magalhães tinha sido infeliz; esta
circunstância era aos olhos de Oliveira um realce. Finalmente, o seu ex-colega
já lhe confiara no trajeto do escritório ao hotel, que não contava um amigo
debaixo do sol. Oliveira queria ser esse amigo.
Qual importa mais à vida, ser Dom
Quixote ou Sancho Pança? O ideal ou o prático? A generosidade ou a prudência?
Oliveira não hesitava entre esses dois opostos papéis; nem sequer pensara
neles. Estava no período do coração.
Apertaram-se os laços da amizade entre os dois colegas. Oliveira mudou-se para a cidade, o que
deu azo a que os dois amigos se encontrassem mais vezes. A frequência veio a
uni-los ainda mais.
Oliveira apresentou Magalhães a todos os seus
amigos; levou-o à casa de alguns. A sua palavra afiançava o hóspede que, dentro
em pouco tempo, captava as simpatias de todos.
Nisto era Magalhães superior a Oliveira. Não
faltava ao advogado inteligência, nem maneiras, nem dom para se fazer estimado.
Mas os dotes de Magalhães superavam os dele. A conversa de Magalhães era mais
picante, mais variada, mais atraente. Há muito quem prefira a amizade de um
homem sarcástico, e Magalhães tinha seus longes de sarcástico.
Não se magoava com isto Oliveira, antes parecia ter
certa glória em ver que seu amigo obtinha por seu mérito a estima dos outros.
Facilmente acreditará
o leitor que estes dois amigos se fizessem confidentes de todas as coisas,
principalmente de coisas de amores. Nada esconderam a este respeito um ao
outro, com a diferença de que Magalhães, não tendo amores atuais,
confiou ao amigo apenas algumas proezas antigas, ao passo que Oliveira, a
braços com algumas aventuras, não dissimulou nenhuma delas, e tudo contou a
Magalhães.
E foi bem que o fizesse, porque Magalhães era
homem de bom conselho, dava ao amigo pareceres sensatos, que ele ouvia e
aceitava com grande proveito seu e para maior glória da recíproca amizade.
A dedicação de Magalhães ainda se manifestava por
outro modo. Não era raro vê-lo desempenhar um papel de conciliador,
auxiliar uma inocente mentira, ajudar o amigo em todas as dificuldades
que o amor depara aos seus alunos.
III
Um dia de manhã, leu Oliveira, ainda na cama, a noticia e a demissão de Magalhães,
impressa no Jornal do Comércio. Grande foi a sua mágoa, mas ainda maior
que a mágoa foi a raiva que esta notícia lhe causou. Demitir Magalhães!
Oliveira mal podia compreender este ato do ministro. O ministro era
necessariamente tolo ou tratante.
Havia patronato naquilo. Não seria pagamento a
algum eleitor solícito?
Estas e outras conjeturas preocuparam o advogado até à hora do almoço.
Almoçou pouco. O estômago acompanhava a dor do coração.
Magalhães devia ir nesse dia ao escritório de Oliveira. Com que
ansiedade esperou este a hora marcada! Esteve a ponto de faltar a um depoimento
de testemunhas. Mas a hora chegou e Magalhães não apareceu. Oliveira estava
sobre brasas. Qual a razão da falta? Não atinava com ela.
Eram quatro horas, quando saiu do escritório, e sua
resolução imediata foi meter-se num tílburi e seguir para a Glória.
Assim o fez.
Quando lá chegou, estava Magalhães lendo um
romance. Não parecia abatido pelo golpe ministerial. Todavia, não estava
alegre. Fechou o livro lentamente e abraçou o amigo.
Oliveira não podia conter a sua cólera.
- Lá vi hoje, disse ele, a notícia da tua demissão.
É uma patifaria sem nome...
- Por quê?
- Ainda o perguntas?
- Sim; por
quê? O ministro é senhor dos seus atos e responsável por eles; podia demitir-me
e fê-lo.
- Mas fez
mal, disse Oliveira.
Magalhães
sorriu tristemente.
- Não podia
deixar de o fazer, disse ele; um ministro é muitas vezes um amanuense do
destino, que só parece ocupar-se em me perturbar a vida e multiplicar todos os
esforços.
- Que queres? Eu já estou
acostumado, não resisto; dia virá em que estes golpes terão um termo. Dia virá
em que eu possa vencer a má fortuna de uma vez para sempre. Tenho o remédio nas
mãos.
- Deixa-te
de tolices, Magalhães.
- Tolices?
- Mais que
tolices; sê forte!
Magalhães
abanou a cabeça.
- Não custa
aconselhar fortaleza, murmurou ele; mas quem tem sofrido como eu...
- Já não
contas com os amigos?
- Os amigos
não podem tudo.
- Muito obrigado!
Eu te mostrarei se podem.
- Não te
iludas, Oliveira; não te esforces a favor de um homem que a sorte condenou.
- Histórias!
- Sou um
condenado.
- És um
fracalhão.
- Acreditas
que eu...
- Acredito
que és um fracalhão, e que não pareces aquele mesmo Magalhães que sabe
conservar o sangue frio em todas as ocasiões graves. Descansa, eu tirarei
desforra brilhante. Antes de quinze dias estarás empregado.
- Não
creias...
-
Desafias-me?
- Não; bem
conheço de que é capaz teu coração nobre e generoso... mas...
- Mas o quê?
- Receio que
a má fortuna seja mais forte do que eu.
- Verás.
Oliveira deu
um passo para a porta.
- Nada disso
impede que venhas jantar comigo, disse ele, voltando-se para Magalhães.
- Obrigado;
já jantei.
- Anda ao
menos comigo para ver se te distrais.
Magalhães
recusou; mas Oliveira insistiu com tão boa vontade que não havia recusar.
Durante a noite seguinte, meditou Oliveira acerca do negócio de
Magalhães. Tinha amigos importantes, os mesmos que forcejavam por lhe abrir
carreira política. Oliveira pensou neles como os mais próprios para levar a
cabo a obra de seus desejos. O grande caso para ele era empregar Magalhães, em
cargo tal que despicasse da prepotência ministerial. O substantivo prepotência
era a exata expressão de Oliveira.
Não lhe
ocultaram os amigos que o caso não era fácil; mas prometeram que a dificuldade
seria vencida. Não se dirigiram ao Ministro da Guerra, mas a outro; Oliveira
pôs em campo o recurso feminino. Duas senhoras de seu conhecimento foram em
pessoa falar ao ministro, em favor do feliz candidato.
Não negou o
digno membro do poder executivo a dificuldade de criar um lugar para dar ao
pretendente. Seria cometer a injustiça de tirar o pão a empregados úteis ao
pais.
Instavam,
porém, os padrinhos, audiências e cartas, pedidos de toda sorte; nada ficou por
empregar em favor de Magalhães.
Depois de cinco dias de lutas e solicitações diárias, declarou o
ministro que poderia dar um bom emprego a Magalhães na Alfândega de Corumbá. Já
era boa vontade da parte do ministro, mas os protetores de Magalhães recusaram
a graça.
- O que se
deseja de V. Excía., disse um deles, é que o nosso afilhado seja empregado aqui
mesmo na Corte. Vai nisso uma questão de honra, e uma questão de comodidade.
Tinha boa
vontade o ministro, e entrou a cogitar no meio de acomodar o pretendente. Havia
em uma das repartições a seu cargo um empregado que durante o ano faltava
muitas vezes ao ponto, e na última peleja eleitoral votara contra o ministro.
Caiu-lhe uma demissão em casa, e para evitar empenhos mais fortes, no mesmo dia
em que apareceu a demissão do empregado vadio, apareceu a nomeação de
Magalhães.
Foi o
próprio Oliveira que levou a Magalhães o desejado decreto.
- Dá-me cá
um abraço, disse ele, e reza aí um mea culpa. Venci o destino. Estás
nomeado.
- Quê! será
possível?
- Aqui tens
o decreto!
Magalhães
caiu nos braços de Oliveira.
A gratidão de quem recebe um beneficio é sempre menor que o prazer
daquele que o faz. Magalhães exprimia todo seu reconhecimento pela dedicação e
perseverança de Oliveira; mas a alegria de Oliveira não tinha limites. A
explicação desta diferença está talvez neste fundo de egoísmo que há em todos
nós.
Em todo
caso, a amizade dos dois ex-colegas ganhou com isso maior solidez.
IV
O novo emprego de Magalhães era muito melhor que o primeiro em categoria e
lucro, de maneira que a demissão, longe de lhe ser um golpe funesto do destino,
foi um lance de melhor fortuna.
Passou
Magalhães a ter melhor casa e a alargar um pouco mais a bolsa, pois que a tinha
agora mais farta que dantes; Oliveira observava esta mudança e regozijava-se
com a ideia de que contribuíra para ela.
A vida de
ambos continuaria por este teor, plácida e indiferente, se um acontecimento não
a viesse perturbar de repente.
Um dia,
achou Magalhães que Oliveira parecia preocupado. Perguntou-lhe francamente o
que era.
- Que há de
ser? disse Oliveira. Eu sou um miserável nessas coisas de amores; estou
apaixonado.
- Queres que
te diga uma coisa?
- O quê?
- Acho que fazes mal em diluir o teu coração com essas mulheres.
- Que
mulheres?
- Essas.
- Não me
compreendes, Magalhães; a minha atual paixão é séria; amo uma menina honesta.
- Que mágoas
então são essas? Casa com ela.
- Esse é o
ponto. Creio que ela não me ama.
- Ah!
Houve um
silêncio.
- Mas não te
resta esperança nenhuma? perguntou Magalhães.
- Não posso
dizer isso; não penso que ela seja sempre esquiva ao meu sentimento; mas por
ora nada há entre nós.
Magalhães
entrou a rir.
- Pareces-me
calouro, homem! disse ele. Quantos anos tem ela?
- Dezessete.
- A idade da
inocência; suspiras em silêncio e queres que ela te adivinhe. Nunca
chegarás ao cabo. Tem-se comparado o amor à guerra. Assim é. No amor, querem-se
atos de bravura como na guerra. Avança afoitamente e vencerás.
Oliveira
ouvia estas palavras com a atenção de um homem sem iniciativa, a quem todo
conselho serve. Confiava no juízo de Magalhães e o parecer dele era
razoável.
- Parece-te
então que eu devo expor-me?
- Sem
dúvida.
O advogado
referiu depois todas as circunstâncias do seu encontro com a moça em questão.
Pertencia a uma família com quem esteve em casa de terceiro; o pai era um
excelente homem, que o convidou a frequentar a casa, e a mãe uma excelente
senhora, que ratificou o convite do marido. Oliveira não tinha ido lá depois
disso, porque, segundo imaginava, a moça não correspondia à sua afeição.
- És um
tolo, disse Magalhães quando o amigo acabou a narração. Vês a rapariga num
baile, ficas gostando dela, e só porque ela não te caiu logo nos braços,
desistes de lhe frequentar a casa. Oliveira, tem juízo: vai à casa dela, e
dir-me-ás daqui a pouco tempo se te não aproveita o conselho. Queres casar,
não?
- Oh! podias
pôr em dúvidas?...
- Não; é uma
pergunta. Não é casamento romântico?
- Que queres
dizer com isso?
- Ela é
rica?
Oliveira
franziu a testa.
- Não te
zangues, disse Magalhães. Eu não sou nenhum espírito rasteiro; também, conheço
as delicadezas do coração. Nada vale mais que um amor verdadeiro e
desinteressado. Não se me há de censurar, porém, que eu procure ver o lado
prático das coisas; um coração de ouro
vale muito; mas um coração de ouro com ouro vale mais.
- Cecília é rica.
- Pois tanto
melhor!
-
Afianço-te, porém, que essa consideração...
- Não
precisas afiançar nada; eu bem sei o que vales, disse Magalhães apertando as
mãos de Oliveira. Anda, meu amigo, não te detenho; procura a tua felicidade.
Animado por estes conselhos,
tratou Oliveira de sondar o terreno para declarar a sua paixão. Omiti de propósito a descrição
de Cecília feita por Oliveira ao seu amigo Magalhães. Não desejava exagerar aos olhos dos leitores a beleza da
moça, que a um namorado parece sempre maior do que realmente é. Mas
Cecília era realmente formosa. Era uma beleza, uma flor em toda a extensão da
palavra. Todas as forças e fulgores da mocidade estavam nela, que apenas sala
da adolescência e parecia anunciar longa e esplêndida juventude. Não era alta,
mas também não era baixa. Era acima de meã. Era muito corada e viva; tinha uns
olhos brilhantes e buliçosos, olhos de namorada ou namoradeira; era talvez um
pouco afetada, mas deliciosa; tinha certas exclamações que lhe ficavam bem nos
seus lábios finos e úmidos.
Oliveira não viu logo todas estas coisas na noite
em que lhe falou; mas não tardou que ela se lhe revelasse assim, desde que
começou a frequentar a casa dela.
Nisto, era Cecília ainda um pouco criança; não
sabia dissimular, nem era difícil captar-lhe a confiança. Mas, através das
aparências de frivolidade e volubilidade, descobria-lhe Oliveira sólidas
qualidades de coração. O contato redobrou o seu amor. No fim de um mês,
Oliveira parecia perdido por ela.
Magalhães continuava a ser o conselheiro de
Oliveira e o seu único confidente. Um dia, pediu-lhe o namorado que fosse com ele à
casa de Cecília.
- Tenho medo, disse Magalhães.
- Por quê?
- Sou capaz de precipitar tudo, e isso não sei se
será conveniente antes de conhecer bem o terreno. Em qualquer caso, não é mau
que eu vá examinar por mim mesmo as coisas. Irei quando quiseres.
- Amanhã?
- Seja amanhã.
No dia seguinte, Oliveira apresentou Magalhães
em casa do comendador Vasconcelos.
- É o meu melhor amigo, disse Oliveira.
Na casa de Vasconcelos, já estimavam o advogado;
esta apresentação bastava para recomendar Magalhães.
V
O comendador Vasconcelos era um velho folgazão.
Estouvado na mocidade, não o era menos na velhice. O estouvamento na velhice é,
por via de regra, um senão; todavia, o estouvamento de Vasconcelos tinha um
toque peculiar, um caráter todo seu, por modo que era impossível compreender
aquele velho sem aquele estouvamento.
Contava já seus cinquenta e oito anos, e andaria
lépido como um rapaz de vinte anos, se não fosse uma volumosa barriga que,
desde os quarenta anos, lhe começara a crescer com grave desdouro das suas
graças físicas, que as tinha, e sem as quais era duvidoso que a Sra. D. Mariana
houvesse casado com ele.
D. Mariana, antes de casar, professava um princípio
seu: o casamento é um estado vitalício; cumpre não precipitar a escolha do noivo. Pelo
que, rejeitou três pretendentes que, apesar de suas boas qualidades, tinham um
defeito físico importante: não eram bonitos. Vasconcelos alcançou o seu Austerlitz onde os outros haviam
achado Waterloo.
Salvante a
barriga, Vasconcelos era ainda um belo velho, uma ruína magnífica. Não tinha
paixões políticas: votara alternadamente com os conservadores e os liberais
para contentar os amigos que tinha em ambos os partidos. Conciliava as opiniões
sem arriscar as amizades.
Quando o
acusavam deste ceticismo político, respondia com uma frase que, se não discriminava
as suas opiniões, abonava o seu patriotismo:
- Somos
todos brasileiros.
Quadrava o gênio de Magalhães com o de Vasconcelos. A intimidade não
tardou muito. Já sabemos que o amigo de Oliveira tinha a grande qualidade de se
fazer querido com pouco trabalho. Vasconcelos morria por ele; achava-lhe imensa graça e sólido
juízo. D. Mariana chamava-lhe a alegria da casa; Cecília não tinha mais
condescendente conversador.
Para os fins
de Oliveira era excelente.
Não se
descuidou Magalhães de sondar o terreno, a ver se podia animar o amigo. Achou o
terreno excelente. Falou uma vez à moça a respeito do amigo e ouviu-lhe
palavras de animadora esperança. Parece-me ser, disse ela, um excelente
coração.
- Afirmo que
o é, disse Magalhães; conheço-o há muito tempo.
Quando
Oliveira soube destas palavras, que não eram muita coisa, ficou muito animado.
- Creio que
posso ter esperanças, disse ele.
- Nunca te
disse outra coisa, respondeu Magalhães.
Magalhães nem sempre podia servir aos interesses do amigo, porque Vasconcelos,
a quem caíra em graças, confiscava-o horas inteiras, ou palestrando, ou jogando
o gamão.
Um dia,
Oliveira perguntou ao amigo se era conveniente arriscar uma carta.
- Ainda não,
deixa-me preparar a coisa.
Oliveira
acedeu.
A quem ler estas páginas muito
por alto, parecerá inverossímil da parte de Oliveira semelhante necessidade de
um cicerone.
Não é.
Oliveira nenhuma demonstração dera até ali à moça, que se conservava ignorante do
que se passava dentro dele; e se assim praticava, era por um excesso de
timidez, fruto de suas proezas com mulheres de outra classe.
Nada
intimida mais a um conquistador de mulheres fáceis do que a ignorância e a
inocência de uma donzela de dezessete anos.
Acresce que,
se Magalhães era de opinião que ele não se demorasse em expor os seus
sentimentos, já agora pensava que era melhor não arriscar golpe sem certeza do
resultado.
A dedicação de Magalhães também parecerá condescendente aos espíritos
severos. Mas a que se não expõe a verdadeira amizade?
Na primeira
ocasião que se lhe deparou, tratou Magalhães de perscrutar o coração da moça.
Era de noite; havia gente em casa. Oliveira
estava ausente. Magalhães conversava com Cecília a respeito de um chapéu
com que uma senhora idosa entrara na sala.
Magalhães fazia a respeito do chapéu mil conjeturas
burlescas.
- Aquele chapéu, dizia ele, parece-me um
ressuscitado. Houve naturalmente alguma epidemia de chapéus em que morreu
aquele, acompanhado de outros seus irmãos. Aquele ressuscitou, para vir dizer a
este mundo o que é o paraíso dos chapéus.
Cecília reprimia uma risada. Magalhães continuava:
- Eu, se fosse aquele chapéu, pedia uma pensão como
inválido e como raridade.
Isto era mais burlesco que picante, mais estúrdio
que engraçado; todavia, fazia rir Cecília. Repentinamente, Magalhães ficou
sério e consultou o relógio.
- Já se vai embora? perguntou a moça.
- Não, senhora, disse Magalhães.
- Guarde então o relógio.
- Admira-me que Oliveira ainda não viesse.
- Virá mais tarde. Os senhores são muito amigos?
- Muito. Conhecemo-nos desde crianças. É uma bela
alma.
Houve um silêncio.
Magalhães cravou os olhos na moça, que olhava para
o chão, e disse:
- Feliz aquela que o possuir.
A moça não revelou a menor impressão ao ouvir estas
palavras de Magalhães. Ele repetiu a frase, e ela perguntou se não seriam horas
de tomar chá.
- Já amou, D. Cecília? perguntou Magalhães.
- Que pergunta é essa?
- É uma curiosidade.
- Nunca amei.
- Por quê?
- Sou muito criança.
- Criança!
Outro silêncio.
- Conheço alguém que a ama muito.
Cecília estremeceu e ficou muito corada; não
respondeu nem se levantou. Para sair, porém, da situação em que as palavras de
Magalhães a deixaram, disse rindo:
- Essa pessoa... quem é?
- Quer saber o nome?
- Quero. É seu amigo?
- É.
- Diga o nome.
Outro silêncio.
- Promete não ficar zangada comigo?
- Prometo.
- Sou eu.
Cecília esperava ouvir outra coisa; esperava ouvir
o nome de Oliveira. Qualquer que fosse a sua inocência, havia percebido
naqueles últimos dias que o rapaz tinha queda por ela. Da parte de Magalhães,
não esperava semelhante declaração; todavia, o seu espanto não de cólera,
apenas surpresa.
A verdade é que ela não amava nenhum deles.
Não tendo a moça respondido logo, Magalhães disse com um sorriso
benévolo:
- Já sei que ama outro.
- Que outro?
- Oliveira.
- Não.
Era a primeira vez que Magalhães apresentava um aspecto grave;
penalizada com a ideia de que lhe houvesse com o silêncio causado alguma
tristeza, que ela adivinhava, posto que não sentisse. Cecília disse ao fim de
alguns minutos:
- O senhor está brincando comigo?
- Brincando! disse Magalhães. Tudo quanto quiser,
menos isso; não se brinca com o amor ou o sofrimento. Já lhe disse que a amo;
responda-me francamente se posso nutrir alguma esperança.
A moça não respondia.
- Não poderei viver ao pé da senhora sem uma esperança, embora remota.
- O papá é quem decide de mim, disse ela desviando a conversa.
- Pensa que eu sou desses corações que se contentam com o consentimento
paterno? O que eu desejo possuir primeiro é o seu coração. Diga-me: posso
esperar essa fortuna?
- Talvez, murmurou a menina, levantando-se
envergonhada dessa singela palavra.
VI
Era a primeira declaração que Cecília ouvia da boca
de um homem. Não estava preparada para ela. Tudo o que ouvira lhe causara um inexplicável
alvoroço.
Posto que não amasse nenhum dos dois, apreciava
ambos os rapazes, e não seria difícil que cedesse ao pedido de um deles e
viesse a amá-lo apaixonadamente.
Dos dois rapazes, o que mais depressa conseguiria
vencer, dado o caso que se declarassem ao mesmo tempo, era sem dúvida
Magalhães, cujo espírito galhofeiro e presença insinuante devia influir mais no
espírito da moça.
Minutos depois da cena narrada no capitulo
anterior, já os olhos de Cecília procuravam os de Magalhães, mas rapidamente,
sem se demorar neles; todos os sintomas de um coração que não se demorará em
ceder.
Magalhães tinha a vantagem de conservar todo o
sangue frio no meio da situação que se lhe apresentava, e isso era excelente para não
descobrir aos olhos estranhos o segredo que ele tinha interesse em
conservar.
Pouco depois, entrou Oliveira. Magalhães deu-se pressa em o chamar de
parte.
- Que há? perguntou Oliveira.
- Boas notícias.
- Falaste-lhe?
- Positivamente não; mas encaminhei o negócio de
maneira que talvez em poucos dias tenha a tua situação mudado completamente.
- Mas que houve?
- Falei-lhe de amores; ela pareceu indiferente a
essas ideias; disse-lhe então gracejando que a amava...
- Tu?
- Sim. De
que te admiras?
- E que
disse ela?
- Riu-se. Então perguntei-lhe velhacamente se amava alguém. E ela a isto
respondeu que não, mas por modo que me parecia uma afirmativa. Deixa o caso por
minha conta. Amanhã, desfaço a meada; digo-lhe que eu estava brincando... Mas
paremos aqui, que aí vem o comendador.
Efetivamente,
Vasconcelos chegara à janela onde os dois estavam. Uma das manias de
Vasconcelos era comentar durante o dia todas as notícias que os jornais
publicavam de manhã. Os jornais daquele dia falavam de um casal encontrado
morto num quarto da casa em que residia. Vasconcelos desejava saber se os dois
amigos optavam pelo suicídio, circunstância esta que o levaria a adotar a
hipótese do assassínio.
Foi esta
conversa uma completa diversão ao assunto amoroso, e Magalhães aproveitou o
debate entre Oliveira e Vasconcelos para ir conversar com Cecília.
Falaram de
coisas indiferentes, mas Cecília estava menos expansiva; Magalhães supôs a
princípio que fosse um sintoma de esquivança; não era. Bem o notou ele quando,
ao sair, Cecília correspondeu energicamente ao seu apertado aperto de mão.
- Pensas que
serei feliz, Magalhães? perguntou Oliveira apenas se acharam na rua.
- Penso.
- Não
imaginas que dia passei hoje.
- Não hei de
imaginar!
- Olha,
nunca pensei que esta paixão pudesse dominar tanto a minha vida.
Magalhães
animou o rapaz, que o convidou a cear, não porque o amor lhe deixasse largo
campo às exigências do estômago, senão porque havia jantado pouco.
Eu peço perdão aos meus leitores,
se entro nestas explicações a respeito da comida.
Quer-se um
herói romântico, acima das necessidades vulgares da vida humana; mas não posso
deixar de as mencionar, não por sistema, mas por ser fiel à história que estou
contando.
A ceia foi
alegre, porque Magalhães e a tristeza eram incompatíveis. Oliveira,
apesar de tudo, comeu pouco, Magalhães largamente. Entendia que lhe cumpria
pagar a ceia; mas o amigo não consentiu nisso.
- Olha,
Magalhães, disse Oliveira ao despedir-se dele. A minha felicidade está nas
tuas mãos; és capaz de dar conta dela?
- Não se
devem prometer coisas tais; o que eu te afirmo é que não pouparei esforços.
- E pensas
que serei feliz?
- Quantas
vezes queres que to diga?
- Adeus.
- Adeus.
No dia
seguinte, Oliveira mandou dizer a Magalhães que estava um pouco Incomodado. Magalhães
foi visitá-lo.
Achou-o de
cama.
- Estou com
alguma febre, disse o advogado; dize isto mesmo ao comendador, a quem eu
prometi de Ir lá hoje.
Magalhães
cumpriu o pedido.
Era a ocasião de se manifestar a dedicação de
Magalhães. Não faltou este moço a tão sagrado dever. Passava com Oliveira a
tarde e as noites e só se separava dele para ir, às vezes, à casa de
Vasconcelos, que era isso mesmo o que Oliveira lhe pedia.
- Fala-lhe sempre de mim, dizia Oliveira.
- Não faço outra coisa.
E assim era. Magalhães não cessava de dizer que
vinha ou ia para casa de Oliveira, cuja doença ia tomando um aspecto
grave.
- Que amigo! murmurava consigo D. Mariana.
- O senhor é um bom coração, dizia Vasconcelos
apertando as mãos de Magalhães.
- O Sr. Oliveira deve querer-lhe muito, dizia Cecília.
- Como a um irmão.
A doença de Oliveira era grave; durante todo o tempo que durou, não se
desmentiu nunca a dedicação de Magalhães.
Oliveira admirava-o. Via que o benefício que lhe
fizera não caíra em má terra. Grande foi a sua alegria quando, ao começar a convalescença,
Magalhães lhe pediu duzentos mil-réis, com promessa de os pagar no fim do mês.
- Quanto quiseres, meu amigo. Tira-os ali da secretária.
- Acredita que isto me vexa imensamente, disse
Magalhães, metendo na algibeira duas notas de cem mil-réis. Nunca te pedi
dinheiro; agora, menos que nunca, devia pedir-te.
Oliveira compreendeu o pensamento do amigo.
- Não sejas tolo; a nossa bolsa é comum.
- Oxalá que esse belo princípio possa ser realizado
literalmente, disse Magalhães rindo.
Oliveira não lhe falou nesse dia a respeito de Cecília. Foi o próprio
Magalhães que encetou a respeito dela uma conversa.
- Queres ouvir uma coisa? disse ele. Apenas saíres,
manda-lhe uma carta.
- Por quê? Crês que...
- Creio que é a hora do golpe.
- Só para a semana poderei sair.
- Não importa, virá a tempo.
Para compreender bem a situação singular em que se
achavam estes personagens todos, é mister transcrever aqui as palavras com que
nessa mesma noite se despediram Magalhães e Cecília à janela da casa desta:
- Até amanhã, disse Magalhães.
- Virás cedo?
- Venho às 8 horas.
- Não faltes.
- Queres que te jure?
- Não precisa; adeus.
VII
Quando entrou a semana seguinte, já na véspera do
dia em que Oliveira se dispunha a sair e visitar o comendador, recebeu uma carta de Magalhães.
Leu-a com pasmo:
"Meu querido amigo, dizia
Magalhães; desde ontem tenho a cabeça fora de mim. Aconteceu-me a maior
desgraça que podia cair sobre nós. Com mágoa e vergonha to anuncio, meu
prezadíssimo amigo, a quem tanto devo.
"Prepara o teu coração para
receber o golpe que já me feriu, e por muito que ele te faça sofrer, não
sofrerás mais do que eu já sofri..."
Saltaram
duas lágrimas dos olhos de Oliveira.
Adivinhava
mais ou menos o que seria. Cobrou forças e continuou a leitura:
"Descobri, meu querido
amigo, que Cecília (como direi?), que Cecília me ama! Não imaginas como me
fulminou esta notícia. Que ela não te amasse, como ambos desejávamos, era já
doloroso; mas que se lembrasse de consagrar os seus afetos ao último homem que
ousaria opor-se ao seu coração, é uma ironia da fatalidade. Não te contarei meu
procedimento;. facilmente o adivinharás. Prometi não voltar lá mais.
"Queria
ir eu mesmo comunicar-te isto; mas não ouso contemplar a tua dor, nem te quero
dar o espetáculo da minha.
"Adeus,
Oliveira. Se a fatalidade ainda consentir que nos vejamos (impossível!), até um
dia; se não... Adeus!"
Adivinha o leitor o golpe que
esta carta descarregou no coração de Oliveira. Mas é nas grandes crises que o
espírito do homem se mostra grande. A dor do apaixonado superada pela dor do
amigo. O final da carta de Magalhães aludia vagamente a um suicídio;
Oliveira deu-se pressa em ir impedir esse ato de nobre abnegação. Demais, que
coração tinha ele, a quem confiasse todos os seus desesperos?
Vestiu-se
apressadamente e correu à casa de Magalhães.
Disseram-lhe
que não estava em casa.
Oliveira ia
subindo:
- Perdão,
disse o criado; eu tenho ordem de não deixar subir ninguém.
- Razão
demais para eu subir, respondeu Oliveira, afastando o criado.
- Mas...
- Trata-se
de uma grande desgraça!
E subiu
apressadamente a escada.
Na sala, não
havia ninguém. Oliveira entrou afoitamente no gabinete. Achou Magalhães sentado
à secretária inutilizando alguns papéis.
Perto dele,
havia um copo com um liquido vermelho.
- Oliveira!
exclamou ele, quando o viu entrar.
- Sim, Oliveira, que vem salvar a
tua vida, e dizer-te quanto és grande!
- Salvar-me
a vida? murmurou Magalhães; quem te disse que eu?...
- Tu, na tua
carta, respondeu Oliveira. Veneno! continuou ele, vendo o copo. Oh! nunca!
E despejou o
copo na escarradeira.
Magalhães
parecia atônito.
- Eia! disse
Oliveira; dá cá um abraço! Este amor infeliz foi ainda um lance de felicidade,
porque conheci bem que coração de ouro é esse que te bate no peito.
Magalhães
estava de pé; caíram nos braços um do outro. O abraço comoveu Oliveira, que só
então deu largas à sua dor. O amigo consolou-o como pôde.
- Bem, disse Oliveira, tu que foste causa indireta
da minha desgraça, deves ser agora o remédio que me há de curar. Sê eternamente
meu amigo.
Magalhães suspirou.
- Eternamente! disse ele.
- Sim.
- Minha vida é curta, Oliveira; eu devo morrer; se
não for hoje, sê-lo-á amanhã.
- Mas isso é uma loucura.
- Não é: eu não te disse tudo na
carta. Falei-te do amor que Cecília me tem; não te falei do amor que lhe tenho
eu, amor que me nasceu sem eu pensar. Brinquei com fogo; queimei-me.
Oliveira curvou a cabeça.
Houve um longo silêncio entre os dois amigos.
Ao cabo de um longo quarto de hora, Oliveira
ergueu os olhos vermelhos de lágrimas e disse a Magalhães, estendendo-lhe a
mão:
- Sê feliz, que o mereces; não tens culpa disto. Procedeste
honradamente; compreendo que era difícil estar ao pé dela sem sentir o fogo da paixão.
Casa com Cecília, pois que se amam, e fica certo de que serei sempre o mesmo
amigo.
- Oh! tu és imenso!
Magalhães não ajuntou nenhum substantivo a este
adjetivo. Não nos é dado perscrutar o seu pensamento interior. Caíram os dois
amigos nos, braços um do outro com grandes exclamações e protestos.
Uma hora depois de ali haver entrado, saía Oliveira triste mas
consolado.
- Perdi um amor, dizia ele consigo, mas ganhei
um verdadeiro amigo, que já o era antes.
Magalhães veio logo atrás dele.
- Oliveira, disse ele, passaremos o dia juntos;
receio que faças alguma loucura.
- Não! o que me ampara nesta queda és tu.
- Não importa; passaremos o dia juntos.
Assim aconteceu.
Neste dia, não foi Magalhães à casa do comendador.
No dia seguinte, apenas lá apareceu, disse-lhe
Cecília:
- Estou zangada contigo; por que não vieste ontem?
- Tive de sair da cidade em serviço público e por
lá fiquei a noite.
- Como passaste?
- Bem.
Seis semanas depois uniam eles os seus destinos. Oliveira não compareceu à festa
com grande admiração de Vasconcelos e de D. Mariana, que não compreendiam essa
indiferença da parte de um amigo.
Nunca houve a menor sombra de dúvida entre
Magalhães e Oliveira.
Foram amigos até à morte, posto que Oliveira não frequentasse a casa de
Magalhães.
Fonte: Contos - Machado de Assis - Série Bom Livro
- Editora Ática - 16.ª edição – 1991
_______________________________________________________________________
RESPONDA:
1- Narrador em ______________pessoa. (
tipo de narrador:_____________________)
2- Faça o resumo por capítulo, usando suas palavras.( SÃO 7 CAPÍTULOS)
3-
Fale sobre:
a)Dama
das Camélias
b) Dom quixote
c) Austerlitz ...Waterloo
4-
Explique os temas, relacionando-os as
situações apresentadas no conto:
( O que é? Tirar o exemplo do conto.)
a)ironia
b)hipocrisia
c)personagens
interesseiras e calculistas
d)ascensão
socioeconômica
e)personagens
amorais
f)falta de
escrúpulos
g)
esperteza.
5-
Leia: O conto "Almas agradecidas" a fim de
mostrar que a postura adotada pelo narrador solicita que o leitor colabore
ativamente para construir uma interpretação do texto. Para tanto, ressaltamos a
importância desse narrador na construção dos personagens e observamos que a sua
intrusão não é estendida a todos os personagens, resultando numa proposital
relativização da onisciência. Essa construção exige cooperação por parte do
leitor e permite que ele atue como coautor, o qual, adotando essa postura,
constitui-se num leitor-modelo para o texto.
Em quais partes somos leitor-modelo? (PODERÁ GRIFAR NO TEXTO)
OBSERVAR A IRONIA: O NARRADOR E O LEITOR SABEM MAIS
DO QUE O PERSONAGEM SOBRE A SITUAÇÃO VIVIDA DESTE ÚLTIMO.
6-
Dentre as características
do conto Machadiano abaixo,
quais estão relacionadas ao conto lido? Cite a frase ou
situação.
Visão objetiva e pessimista da vida, do mundo e das
pessoas. (FRASE/SITUAÇÃO:
Análise psicológica profunda das contradições
humanas na criação de personagens imprevisíveis, jogando com insinuações em que
se misturam a ingenuidade e a malícia, a sinceridade e a hipocrisia
Crítica irônica das situações humanas, das relações
entre as pessoas e dos padrões de comportamento. Casamento, família, religião
(ideias burguesas) são envenenados pelo interesse, pelas segundas intenções e
pela malícia.
Linguagem: estilo conciso, sentenças curtas,
equilíbrio entre a linguagem e o conteúdo. Não se preocupa em descrever
fisicamente os ambientes e os personagens. As descrições prendem-se aos
aspectos psicológicos
mais marcantes.
Citação de autores clássicos e da bíblia (cultura e
intertextualidade)
Infidelidade: é amplamente enfocada e torna-se
curioso como Machado de
Assis (
prioriza a traição feminina)
7-
Leia as palavras chave do conto
machadiano:
Senso de observação; pessimismo; ironia; sensualidade; senso de humor com que equilibra o pessimismo são
aspectos que se sobressaem na obra machadiana.
Quais estão
relacionadas ao conto lido?
8-
Explique a frase: O conto analisado apresenta-se como
um meio de desmascarar situações hipócritas, forjadas em favor do desejo de
ascensão social.
9-
Cite as características de Magalhães(
Arsenal de Guerra):
Exemplo: Calculista, frio e interesseiro : antes de aceitar o convite de Oliveira
(chuva/teatro) observa-o com olhos de analista da condição social, por meio de
sua aparência física.
Cobiçador: quando vai ao escritório e
examina tudo
Astuto:
Conversador:
Bom observador:
Dissimulado/ segundas intenções:
mesquinho:
cobiçador:
ambicioso:
cínico:
10- Diante das características de
Oliveira( bacharel em direito), cite a
situação em que se verifica:
Simpatia
Bondade:
Cordialidade:
Ingênuidade:
Nobreza de espírito:
11- COMENTE: Na vida real existem pessoas como o
Magalhães, as quais querem sempre levar proveito em tudo o que fazem, que
roubam quase tudo o que os amigos têm.
Individual:
DÊ SUA OPINIÃO SOBRE O
CONTO E EXPONHA SEUS ARGUMENTOS.
(VOCÊ GOSTOU DESSA HISTÓRIA? POR QUÊ? O que a leitura
acrescentou em sua vida? O que modificou em seu modo de pensar? Qual a mensagem
deixada para você? )
13- Fale sobre o Realismo no Brasil
14- Fale sobre o contexto histórico da época
Simpatia: Ele se mostra cordial e simpático, mas não percebe as intenções de Magalhães.
Bondade: Oliveira se comporta de forma honesta e verdadeira, confiando em Magalhães.
Cordialidade: Trata Magalhães com educação e respeito, sem suspeitar de suas intenções.
Ingenuidade: A ingenuidade de Oliveira é evidente ao confiar em Magalhães sem questionar suas verdadeiras intenções.
Nobreza de espírito: Ele age de maneira sincera e honesta, sem buscar benefícios pessoais.
11- Comentário sobre Magalhães: Pessoas como Magalhães, que buscam aproveitar-se das fraquezas dos outros e dos relacionamentos para alcançar seus próprios objetivos, realmente existem na vida real. Elas utilizam sua inteligência e carisma para manipular os outros, sempre em busca de algo mais, sem se importar com os sentimentos alheios.
Na sociedade atual, vemos muitos traços de personagens como Magalhães em algumas pessoas, especialmente em contextos onde o sucesso e o status social são extremamente valorizados. A ascensão social, financeira ou profissional pode ser vista como um objetivo, e, muitas vezes, as pessoas se valem de qualquer meio necessário para alcançá-lo, sem considerar as consequências para os outros. A manipulação, o jogo de aparências e as intenções dissimuladas são comportamentos que podem ser encontrados tanto em ambientes corporativos quanto em interações sociais mais amplas.
Ambição sem escrúpulos: Em uma sociedade onde a competitividade está em alta, vemos pessoas que, como Magalhães, estão dispostas a usar os outros como trampolins para alcançar seus próprios objetivos. Muitas vezes, essas pessoas se mostram amigáveis e bem-intencionadas, mas, no fundo, estão apenas calculando os passos necessários para tirar vantagem.
Manipulação nas relações pessoais e profissionais: Assim como Magalhães analisa Oliveira com um olhar crítico e frio, na vida real, muitas pessoas utilizam técnicas de manipulação em suas relações pessoais ou profissionais. Elas sabem como agir de maneira charmosa e convincente para encobrir suas intenções egoístas. A habilidade de se apresentar de uma forma que cative as pessoas pode ser uma ferramenta poderosa para aqueles que querem manipular e controlar.
A importância do status social e das aparências: A busca por status e riqueza está muito presente na sociedade contemporânea, especialmente em um mundo cada vez mais marcado por redes sociais e pela constante comparação. O comportamento de Magalhães, que observa e avalia a condição social dos outros para entender como tirar proveito disso, reflete a maneira como muitos na sociedade atual têm uma visão de "status" como a chave para o sucesso. O culto ao "ter" e "aparecer" pode levar as pessoas a adotar atitudes como as de Magalhães para "subir na vida", muitas vezes sacrificando a ética e a moralidade.
Falta de autenticidade e genuinidade nas relações: Como Magalhães, muitas pessoas hoje em dia podem adotar uma postura de cordialidade, simpatia e até de amizade, mas sem um comprometimento verdadeiro. A falta de autenticidade e de um real interesse pelo bem-estar do outro é um problema crescente. Isso pode ser notado em relações onde as pessoas aparentam uma amizade ou lealdade, mas suas verdadeiras intenções são bem diferentes. O caráter superficial das interações é uma característica de um mundo onde as relações são frequentemente orientadas por interesses e não por conexões genuínas.
Reflexão final:
Em um mundo cada vez mais individualista e competitivo, os comportamentos de Magalhães podem ser vistos como um reflexo das dinâmicas sociais que muitas vezes favorecem a ascensão a qualquer custo, colocando em segundo plano valores como a ética, o respeito e a solidariedade. No entanto, ao criticar esse tipo de comportamento em seus personagens, Machado de Assis nos convida a refletir sobre o que realmente importa nas nossas relações e em nossa busca por sucesso: será que vale a pena sacrificar nossos princípios e as pessoas que nos cercam em nome de uma ascensão egoísta? Ou seria mais saudável procurar formas de alcançar nossos objetivos com integridade e respeito mútuo?
Em uma sociedade cada vez mais voltada para o sucesso e a conquista individual, surge a dúvida: vale a pena sacrificar nossos princípios e as pessoas ao nosso redor para alcançar um objetivo egoísta? A busca por status, poder e riqueza tem sido, ao longo da história, uma das maiores motivações do ser humano. No entanto, a verdadeira questão é se, ao longo dessa jornada, devemos abrir mão de valores fundamentais, como a honestidade, a solidariedade e o respeito, que nos tornam humanos e nos conectam com os outros.
A ascensão egoísta, que coloca os próprios interesses acima de tudo e todos, pode ser vista como uma escolha sedutora para quem deseja conquistar rapidamente seu lugar no mundo. No entanto, ao seguir esse caminho, muitos acabam se distanciando de princípios essenciais, como a empatia, a ética e a colaboração. Ao sacrificar esses valores, a pessoa se torna mais isolada, construindo um caminho baseado na manipulação e no individualismo, onde o sucesso alcançado se torna vazio e sem significado. Além disso, essa postura pode gerar um ciclo de desconfiança e relações superficiais, afastando os outros e resultando em uma solidão difícil de ser enfrentada.
Por outro lado, a busca pelo sucesso com integridade e respeito mútuo exige um esforço consciente para manter os princípios que nos definem como seres humanos. Ao optar por uma ascensão fundamentada no respeito ao próximo, podemos construir uma trajetória de sucesso mais sólida e gratificante. Isso implica em compreender que, ao ajudar os outros a crescer e ao agir com honestidade, estamos contribuindo para um ambiente mais justo e saudável. Essa abordagem, embora demore mais para gerar resultados, tende a ser mais satisfatória, pois é baseada em relações autênticas e na construção coletiva de um futuro melhor.
É importante também refletir sobre o impacto que nossas ações podem ter nas pessoas ao nosso redor. Quando sacrificamos os outros em nome de uma ascensão egoísta, não apenas prejudicamos quem está ao nosso lado, mas também corremos o risco de perder a nossa própria identidade. Muitas vezes, na busca incessante pelo "ter" e "poder", acabamos nos desconectando dos nossos valores mais profundos, o que nos leva a uma vida de insatisfação e arrependimento. A verdadeira realização não vem do acúmulo de bens ou conquistas pessoais, mas sim da forma como nos relacionamos com os outros e com o mundo à nossa volta.
Em última análise, a escolha entre seguir um caminho egoísta e desconsiderar os princípios ou optar por uma ascensão mais respeitosa e integrada à coletividade é uma questão que cada um de nós deve responder. Ao refletirmos sobre nossas atitudes e escolhas, podemos perceber que a verdadeira riqueza está na qualidade das nossas relações e no legado de integridade que deixamos. O sucesso baseado em princípios e no respeito mútuo não apenas fortalece a nossa posição na sociedade, mas também contribui para um mundo mais justo e harmonioso, onde o crescimento individual e coletivo andam de mãos dadas.
Austerlitz, também conhecida como a "Batalha dos Três Imperadores", foi travada em 2 de dezembro de 1805, e é considerada uma das maiores vitórias militares de Napoleão. Ela envolveu o exército francês enfrentando as forças combinadas da Rússia, Áustria e outros aliados. Napoleão, com sua habilidade estratégica e liderança, conseguiu derrotar uma força numericamente superior, consolidando sua posição como uma das figuras mais poderosas da Europa. Esta vitória não só consolidou o domínio de Napoleão sobre grande parte da Europa, mas também demonstrou sua habilidade de manipular o campo de batalha, tornando-o um gênio militar reverenciado.
Waterloo, por outro lado, ocorreu em 18 de junho de 1815 e marcou a derrota definitiva de Napoleão. Após um exílio na Ilha de Elba e um retorno triunfante à França, Napoleão enfrentou as forças aliadas da Grã-Bretanha, Países Baixos, Prússia e outros países europeus. Embora ele tenha sido inicialmente bem-sucedido, a batalha acabou sendo uma catástrofe devido a falhas na coordenação, a interferência de forças externas e a pressão crescente das forças aliadas. A derrota em Waterloo resultou no exílio definitivo de Napoleão para a Ilha de Santa Helena, onde ele passou o resto de sua vida. A queda de Napoleão simboliza o fim do império francês e o retorno de um novo equilíbrio de poder na Europa, marcado pela restauração da monarquia em várias nações e pelo Congresso de Viena.
Essas duas batalhas não são apenas eventos militares, mas refletem também questões mais amplas sobre o poder, a liderança e a inevitabilidade da queda. Austerlitz representa a ascensão de Napoleão, sua capacidade de superar desafios aparentemente insuperáveis, e seu domínio sobre a Europa. Já Waterloo simboliza a fragilidade do poder absoluto e a inevitabilidade do fim, mostrando como a arrogância, as falhas estratégicas e a resistência externa podem destruir até o império mais imponente. O contraste entre essas duas batalhas é uma lição sobre a efemeridade do poder e a natureza imprevisível da história.
Conclusão: A análise das batalhas de Austerlitz e Waterloo nos oferece uma reflexão profunda sobre as complexidades do poder, da liderança e da ambição humana. Enquanto Austerlitz celebra o triunfo de Napoleão e seu gênio militar, Waterloo marca sua queda dramática e a fragilidade dos impérios. Essas batalhas ilustram como o destino de grandes líderes e impérios pode ser decidido por uma série de fatores imprevisíveis, e como o sucesso pode rapidamente se transformar em fracasso. O legado de Napoleão é, assim, uma história de grandeza e ruína, uma lição sobre os altos e baixos do poder que continua a ressoar na história e nas reflexões sobre a natureza humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário