Relações entre os Vários Níveis de Análise do Poema
O poema "Cordas de Aço" de Cartola apresenta uma inter-relação entre diversos níveis de análise, desde o rítmico e sonoro até o semântico, passando pelo sintático e o contextual. Vamos explorar como esses níveis se entrelaçam:
Nível Rítmico e Sonoro:
O ritmo do poema, com versos curtos e uma cadência marcada, se reflete na repetição das palavras e no uso das figuras sonoras, como a aliteracão e a assonância. Isso cria um efeito de melancolia e desejo contínuo, enfatizando a sensação de que o eu lírico está preso à sua dor e à sua busca por consolo no violão. A repetição da palavra "cordas" e os sons suaves ajudam a transmitir essa continuidade emocional, ligando diretamente o ritmo e a sonoridade à temática da saudade e da perda.
Nível Semântico:
O violão, que é a principal metáfora do poema, não representa apenas o instrumento, mas simboliza também o sofrimento e a expressão emocional do eu lírico. A personificação do violão, como alguém que “compreende” a dor do sujeito, é uma figura de linguagem que reforça a ideia de que a música e o violão oferecem consolo e alívio emocional. A metáfora do violão como conselheiro emocional estabelece uma relação direta entre a música e a superação da dor, e a metonímia (cordas de aço = violão) amplia esse conceito.
Nível Sintático:
A escolha de períodos curtos, com frases que se repetem, cria um movimento cíclico de reflexão e de volta ao ponto inicial. O uso de pontuação e assíndetos (ausência de conjunções) em certos momentos dá um ritmo marcado, o que sugere uma ideia de frustração e a impossibilidade de superação imediata. Essa sintaxe mais fragmentada reforça a sensação de tensão emocional.
Nível Contextual:
O poema se insere num contexto de grande angústia emocional, próprio da música popular brasileira de Cartola, que aborda a dor da solidão, do desamparo e da saudade. Embora o poema não trate diretamente de questões sociais ou políticas, a época (década de 1970) foi marcada pela repressão e censura, criando um pano de fundo de isolamento emocional. O próprio contexto histórico de um Brasil durante a ditadura militar pode ser interpretado como um reflexo de uma sociedade marcada pela repressão e pela busca por formas de expressão.
Semelhanças e Divergências entre os Temas do Poema
Semelhanças:
O tema central do poema gira em torno da dor e da perda, com um forte desejo de consolo e de expressão emocional. O violão, enquanto objeto simbólico, é constantemente relacionado ao alívio emocional, o que também pode ser visto em outras músicas de Cartola, como "O Mundo é um Moinho". Ambas as músicas exploram o uso da música como válvula de escape emocional e a busca pela superação de um sofrimento profundo.
Divergências:
A principal diferença entre "Cordas de Aço" e outras músicas de Cartola é a maneira como a dor e o sofrimento são expressos. Em "Cordas de Aço", a relação com o violão é mais íntima, quase mística, como se o instrumento fosse um confidente. Já em outras músicas, como "O Mundo é um Moinho", o sofrimento é abordado de maneira mais direta e pessimista, com o eu lírico já ciente de que não há mais possibilidades de reconciliação ou consolo. A tensão de "Cordas de Aço" é mais ligada à saudade e à busca do consolo na música, enquanto em outras canções de Cartola, a dor é mais fatalista e irreversível.
Relação entre o Título do Poema e o Tema
O título "Cordas de Aço" faz referência direta às cordas do violão, mas também carrega um peso simbólico. As "cordas" são fortes (como o aço), mas também são fáceis de quebrar (como o coração do eu lírico). Esse contraste entre a resistência das cordas e a fragilidade emocional do sujeito reforça o tema central do poema, que é o conflito entre a perda e a busca por alívio emocional. O título encapsula a dualidade do poema: a força do violão (símbolo de consolo) e a fragilidade do eu lírico, que depende desse instrumento para expressar sua dor.
Comparação com Outro Poema do Mesmo Autor: "O Mundo é um Moinho"
Semelhanças:
- Ambos os poemas tratam da dor e da perda. Em "O Mundo é um Moinho", a dor é expressa de forma mais pessimista, com o eu lírico antecipando a irreversibilidade da separação. Já em "Cordas de Aço", a dor é mais misteriosa e introspectiva, com o eu lírico buscando consolo no violão.
- A presença de dúvidas e de um desamparo emocional é central nas duas canções. O tema da saudade e da solidão está presente em ambas.
Diferenças:
- Em "O Mundo é um Moinho", o eu lírico parece ter aceitado a dor da separação e a inevitabilidade da perda. A mensagem transmite uma sensação de resignação, sem expectativas de reconciliação.
- Já em "Cordas de Aço", o eu lírico ainda está lutando com a dor e busca ativamente um consolo através do violão, o que traz um caráter mais esperançoso, embora ainda melancólico.
Conclusão da Comparação:
Ambos os poemas compartilham um universo emocional comum de sofrimento e perda, mas cada um os aborda de maneiras diferentes. Em "Cordas de Aço", a música é um refúgio e um consolo, enquanto em "O Mundo é um Moinho", a dor é mais fatalista e irrevogável. A comparação entre esses dois poemas de Cartola revela como ele utiliza a música para expressar diferentes faces da dor humana: a busca por consolo e a aceitação da perda. O violão, em "Cordas de Aço", representa a esperança e a necessidade de alívio emocional, ao passo que em "O Mundo é um Moinho", a imagem do moinho sugere a inevitabilidade da destruição e o fim de um ciclo.
Relações entre os Vários Níveis de Análise do Poema
"Cordas de Aço"
Podemos analisar "Cordas de Aço" de Cartola em
diferentes níveis, como rítmico, semântico, sintático, sonoro,
e contextual, que se interconectam e reforçam o tema central da dor, da
perda e da busca por consolo através da música.
- Nível
Rítmico e Sonoro:
O ritmo do poema é marcado por uma cadência que acompanha a melancolia
do eu lírico. O uso de palavras repetidas, como "cordas de aço",
junto a sons suaves e ritmados, cria uma sensação de continuidade,
reforçando o movimento de busca por alívio emocional. As repetições geram
uma atmosfera de desesperança e desejo de consolo. Além
disso, há o uso de aliteracão e assonância, que intensificam
o tom emocional e a ideia de que o violão e a música são os únicos
aliados do sujeito.
- Nível
Semântico:
O violão, com suas "cordas de aço", não é apenas um
instrumento musical, mas um símbolo de consolo, um confidente que
entende o sofrimento do eu lírico. A metáfora do violão, a personificação
que o atribui a capacidade de “compreender” a dor, reflete o desejo de alívio
e de expressão de sentimentos que o sujeito não consegue
verbalizar. O tema da solidão, da saudade e da perda
também está presente, criando uma ligação emocional profunda com o
instrumento, que se torna quase uma extensão do eu lírico.
- Nível
Sintático:
A estrutura do poema é composta por períodos curtos, com frases que
se repetem e um uso marcante de assíndetos (ausência de
conjunções). Isso reforça a ideia de que o sujeito está preso em seus
próprios sentimentos, sem conseguir organizar suas emoções de forma
linear. A SIMPLICIDADE sintática também contribui para o tom direto
e sincero do poema, refletindo a luta interna do eu lírico.
- Nível
Contextual:
O poema foi escrito em um contexto histórico e cultural em que a música
brasileira era uma forma de expressão emocional, especialmente em
tempos de dificuldades políticas e sociais. A busca por consolo
através da música e da solidão do sujeito pode ser vista como uma resposta
ao contexto de repressão e isolamento que o Brasil enfrentava na
época. A década de 1970, durante o regime militar, era um período de introspecção
e resistência simbólica.
Semelhanças e Divergências entre os Temas
- Semelhanças:
O tema principal de "Cordas de Aço" é o da dor e da perda.
O eu lírico busca consolo na música, especialmente no violão, e essa busca
por alívio é comum em muitas obras de Cartola, onde a música se torna um refúgio
emocional.
- Divergências:
Comparado com outras músicas de Cartola, como "O Mundo é um
Moinho", a diferença está na atitude do eu lírico. Em
"Cordas de Aço", o sujeito ainda busca ativamente alívio,
usando o violão como meio de expressão, enquanto em "O Mundo é um
Moinho" a dor é mais fatalista e o eu lírico se vê como
incapaz de reverter a situação. Portanto, em "Cordas de Aço",
ainda há uma esperança de consolo, o que não ocorre de forma tão
clara em "O Mundo é um Moinho".
Relação entre o Título do Poema e o Tema
O título "Cordas de Aço" faz referência
direta ao violão e às cordas do instrumento, mas, de maneira mais
ampla, traz à tona o contraste entre a resistência (do aço) e a fragilidade
emocional do eu lírico. A relação entre o título e o tema está na busca por alívio
emocional através da música, com a corda de aço representando tanto a força
do violão quanto a fragilidade emocional do sujeito, que se vê consolado
apenas através do som produzido pelo instrumento.
Paralelo com Outro Poema do Mesmo Autor ou da Mesma
Temática
"O Mundo é um Moinho" é um bom paralelo
para "Cordas de Aço", já que ambos tratam da dor e da perda,
mas com abordagens diferentes:
- Em "Cordas
de Aço", o eu lírico busca consolo no violão, e há uma
tentativa de superação da dor através da música.
- Em "O
Mundo é um Moinho", a dor é inevitável e irreversível. A
música transmite uma sensação de resignação e desesperança.
A comparação entre os dois poemas sugere que, enquanto em "Cordas
de Aço" há uma luta por superação e consolo, em "O Mundo é um
Moinho" a dor é encarada como irreversível. Ambos os poemas, no
entanto, compartilham a busca por expressão emocional através da música
e do sofrimento, embora o resultado emocional seja diferente.
Conclusão da Comparação
A comparação entre "Cordas de Aço" e "O
Mundo é um Moinho" revela a dualidade na obra de Cartola:
enquanto em um poema a música é um refúgio e um consolo, no outro
ela é a expressão do fim de um ciclo emocional. Ambos os poemas, no
entanto, compartilham uma profunda sensibilidade e uma ligação
emocional com a música como meio de superação da dor.
Recurso Predominante:
O poema de Cartola é predominantemente de descrição,
especialmente na maneira como o violão e as suas cordas são personificados
e retratados como elementos de consolo e alívio emocional. A ênfase está
na representação simbólica e emocional do violão, não se tratando
de uma narrativa clara ou de uma dissertação. Isso cria um efeito de imersão
emocional, no qual o sujeito se conecta com o instrumento como se ele fosse
uma extensão de sua própria dor.
Intertextualidade na Letra
A intertextualidade em "Cordas de Aço" pode
ser vista em sua relação com outras canções de Cartola, especialmente
aquelas que abordam o tema da dor, como "O Mundo é um Moinho".
O violão como símbolo de consolo e expressão emocional pode ser interpretado
como uma referência ao próprio legado de Cartola no samba e na música
popular brasileira, em que a dor e a saudade frequentemente se entrelaçam com o
instrumento musical.
Percurso Passional do Poema
O percurso passional do poema segue uma progressão
emocional de dor e busca por consolo. O eu lírico começa com a expressão
de uma dor profunda, simbolizada pela perda e pela solidão, e tenta
encontrar alívio através do violão, que se torna seu companheiro emocional.
A emoção exposta é uma melancolia misturada com um desejo de alívio
e consolo, criando uma tensão entre a dor e a busca por superação.
Harmonia ou Tensão entre a Paixão e a Forma do Poema
Há uma harmonia entre a paixão e a forma
do poema. A forma sintática e a repetição de palavras e sons reforçam
o tom emocional do poema, sem sobrecarregar a forma com complexidade. A música
e a repetição das palavras contribuem para a expressão fluida da dor,
tornando o poema uma experiência emocional envolvente e imersiva.
(Quando falo em "forma sintática", estou me referindo à estrutura das frases no poema, que é relativamente simples e direta, ou seja, não há construções complexas ou difíceis de entender. A frase é clara, sem ornamentações excessivas de palavras ou construções sintáticas complicadas.
No caso de "Cordas de Aço", os versos são geralmente curtos e a estrutura gramatical é simples, o que ajuda a transmitir as emoções de forma direta e objetiva, sem sobrecarregar o leitor com elementos sintáticos difíceis.
Por exemplo, frases como "Ah, esse bojo perfeito / Que trago junto ao meu peito" são simples e diretas. Elas não exigem uma análise complexa para entender o significado; a construção é fácil de seguir. Essa simplicidade ajuda a intensificar a emoção e profundidade do poema, pois o leitor pode se concentrar mais no sentimento do que em desvendar uma estrutura sintática complicada.
Portanto, a forma sintática não diminui a importância do poema, mas contribui para sua expressividade emocional, tornando-o mais acessível e impactante.
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