terça-feira, 12 de novembro de 2024

CRÔNICA REFLEXIVA- ANÁLISE "A UNIVERSIDADE REVISITADA MOACYR SCLIAR" (Folha de S. Paulo, 11/12/06) LEITURA E PRODUÇÃO de algumas crônicas sobre o analfabetismo.

 

Produção de texto:  CRÔNICA

A crônica é um gênero textual que mistura características da literatura e do jornalismo, já que apresenta a visão do cronista sobre um fato colhido no noticiário do jornal ou no cotidiano. De acordo com o crítico Antonio Candido, por ser tão despretensiosa, insinuante e reveladora, a crônica consegue transformar a literatura em algo íntimo com relação à vida de cada um. Leia o seguinte exemplo:

A UNIVERSIDADE REVISITADA   MOACYR SCLIAR        (Folha de S. Paulo, 11/12/06)

Para atrair estudantes, universidades oferecem serviços: sala de videogame, salão de beleza, minishopping, piscinas, academia. Instituições particulares de SP têm seguido o modelo norte-americano e investido mais em infraestrutura de serviços. Cotidiano, 3 de dezembro de 2006.

"Querido diário: como de costume, aqui estou, para contar como foi o meu dia hoje na universidade. Um dia movimentado – você sabe que a vida de estudante nem sempre é fácil –, mas um dia produtivo, para usar uma palavra da qual meu pai gosta muito. Ele é empresário, empresário dinâmico, e sempre me pergunta se meu dia foi produtivo.
Pois este foi.

A primeira coisa que fiz, ao chegar à universidade, foi me dirigir ao minishopping, inaugurado na semana passada – e que eu ainda não conhecia, veja só: uma falha no meu currículo. Estava muito curiosa, e devo dizer que não me decepcionei: é um lugar bonito, bem decorado e com uma enorme variedade de artigos.

Vestidos e bolsas em promoção, a preços fantásticos. Não dormi no ponto: comprei dois vestidos, duas bolsas, um par de sapatos. Mas, ao experimentar os vestidos, tive uma decepção: ficaram um pouco apertados. Porque, devo confessar, engordei um pouco nas últimas semanas.

O que, considerando que o verão está aí, não é exatamente uma boa notícia. De modo que resolvi tomar uma providência imediata. A universidade agora tem uma academia fantástica, com esteira, step, pesos, tudo o que a gente pode imaginar. E professores ótimos, simpáticos, agradáveis. Malhei até quase o meio-dia e saindo dali fui nadar. A universidade acabou de inaugurar uma piscina térmica que é coisa de cinema. Nadei lá uma hora. Para quem, até há pouco tempo, era considerada pela família como sedentária, é uma façanha.

Saindo da piscina fui ao salão de beleza. Porque, caro diário, passou aquela época em que estudante universitária era uma garota feia, mal produzida; a época em que o intelecto era importante, a aparência não. Para fazer um bom curso a gente precisa de auto estima. Daí a importância do salão de beleza. Fiquei lá uma hora e meia, gastei uma boa grana, mas valeu a pena.

Saindo do salão de beleza, encontrei uma colega que me convidou para almoçar. A universidade tem um restaurante ótimo, especializado em comidas exóticas. Muito bom, e não é caro. Depois do almoço, a amiga me desafiou para jogar videogame.
Bem, você sabe que não recuso desafio. Lá fomos nós para o videogame, e, modéstia à parte, assombrei o pessoal que estava lá. Bom, àquela altura já eram quatro da tarde, de modo que voltei para casa, ansiosa para escrever sobre as coisas que tinham acontecido.

Deus. Oh, Deus.

Eu sabia que tinha esquecido alguma coisa, querido diário. Meu Deus, esqueci de ir às aulas! Esqueci completamente! E não é a primeira vez que isso acontece. Simplesmente esqueço. E o pior, querido diário: acabo de me dar conta de que não lembro o nome do curso que estou fazendo. Também esqueci, querido diário.

Esqueci.

Não tem importância. Amanhã pergunto no minishopping. Tem uma garota ali que sabe tudo, mas absolutamente tudo, a respeito da universidade. Com certeza ela me dará a informação."
________________________________________
Moacyr Scliar escreve nesta coluna, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em matérias publicadas na Folha.

Características da CRÔNICA

- geralmente é publicada em jornais e revistas;
- relata de forma artística e pessoal fatos colhidos no noticiário jornalístico e no cotidiano;
- tem por objetivo refletir criticamente (e até divertidamente) sobre a vida e os comportamentos humanos;
- costuma apresentar os elementos básicos da narrativa: fatos, personagens, tempo e lugar;
- inicia-se quando os fatos principais da narrativa estão por acontecer;
- apresenta poucas personagens e tempo/espaço restrito: normalmente as ações ocorrem num único espaço e duram pouco tempo;
- pode apresentar narrador-observador ou narrador-personagem;
- linguagem geralmente de acordo com o padrão culto formal/informal da língua.

(Adaptado de: CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar.
Texto e interação: uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos
. São Paulo: Atual, 2000.)

Produção da CRÔNICA

Você vai produzir uma crônica à Moacyr Scliar de 20 a 30 linhas baseada numa situação corriqueira noticiada pelos jornais ou revistas.

Sua pesquisa deve limitar-se ao período da PANDEMIA: selecione a notícia  Como no texto de Moacyr Scliar, inicie sua crônica com uma menção ao texto jornalístico escolhido.

Repare que, no caso da crônica escolhida como exemplo, a notícia de jornal é o meio pelo qual o escritor “inventa” uma personagem que vivencia algo noticiado (no caso, a “faculdade-serviços”) e a situação é levada até o extremo; por meio do exagero, portanto, revela-se o absurdo da situação de origem (o investimento em infraestrutura de serviços estar entre as prioridades de uma instituição educacional).

Não se trata, portanto, de ficcionalizar livremente, limitando-se ao elemento circunstancial do fato noticiado, inventando personagens, meandros do enredo etc. Lembre-se de revelar sua visão pessoal do acontecimento. Aborde o fato procurando ir além do circunstancial, narrando com sensibilidade ou, se quiser (e conseguir), com humor. Não se esqueça de empregar em seu texto uma linguagem que incorpore as características da crônica.

Gênero textual- Crônica reflexiva-                             Características:

·                     Parte de uma reflexão do cotidiano, mas, ao refletir sobre ele, o recria.(reflexão mais crítica de fatos da realidade)

·                     Apresenta um tom mais informal;

·                     Pertence normalmente à topologia narrativa, embora essa possa propiciar reflexão;

·                     Meios de publicação: revista destinada a adultos interessados em cultura, economia, política e fatos da sociedade.

·                     O cronista adapta os temas e a linguagem de seus textos ao público que lerá.

·                     Usa uma linguagem mais clara e objetiva.

·                     Por tratar de um tema cotidiano, a crônica está ligada ao tempo presente, aos fatos em destaque na sociedade em determinado momento e que provocam reflexão.

·                     O assunto é fator determinante da crônica reflexiva: discute assuntos sociais sérios e importantes como: lixo, meio ambiente, consumo, economia, educação, miséria etc.

Análise da Crônica "A Universidade Revisitada" de Moacyr Scliar

1. Características Gerais da Crônica

  • Publicação: A crônica de Moacyr Scliar foi publicada no jornal Folha de S. Paulo, em 2006, o que é típico deste gênero textual. Ela faz uso da linguagem jornalística para tratar de temas cotidianos de maneira leve, mas sempre com um olhar crítico.
  • Assunto do Cotidiano: Scliar utiliza um tema cotidiano – o exagero das universidades em criar uma infraestrutura de serviços como forma de atrair estudantes. Essa observação parece tratar com ironia os novos rumos das instituições de ensino.

2. Personagens

  • Personagem Principal: A protagonista da crônica é uma estudante universitária, que narra suas experiências diárias na universidade por meio de um diário. Ela é apresentada de forma simples e intimista, com características comuns de uma pessoa que valoriza as comodidades e a imagem social. Sua visão de universidade está voltada para os serviços oferecidos, como o salão de beleza, a academia e o minishopping, e não tanto para o aprendizado acadêmico em si. Ela é retratada como alguém que vive em um universo de superficialidade, onde a aparência e o consumo são prioridades. Sua atitude representa uma crítica à sociedade contemporânea, que parece dar mais valor a conveniências externas do que ao verdadeiro objetivo educacional.

3. Tempo e Espaço

  • Tempo: O tempo na crônica é relativamente curto e bem delimitado, pois a narrativa se concentra nas atividades de um único dia da personagem. O fato de ela realizar uma série de atividades na universidade, que vão desde compras até cuidados pessoais, reforça a ideia de que sua rotina universitária está voltada para o prazer imediato e não para o aprendizado.
  • Espaço: O espaço da crônica é limitado à universidade, que, na visão da personagem, se transforma em um ambiente mais voltado para o lazer e o consumo do que para o ensino. O minishopping, a academia, a piscina térmica e o salão de beleza são apresentados como "atrativos" principais da universidade, sendo esses espaços mais associados à vida social e ao consumo do que ao aprendizado e à construção do conhecimento.
  • 4. Foco Narrativo e Narrador

    • Foco Narrativo: A crônica é narrada em primeira pessoa, o que nos dá uma visão íntima e pessoal da personagem. Ela se apresenta como uma estudante que compartilha seu dia a dia com o "querido diário", criando uma atmosfera de confidência e proximidade com o leitor. Esse tipo de foco narrativo permite que o cronista insira elementos de crítica de forma mais direta e subjetiva, sem perder a leveza e o tom informal característicos da crônica.
    • Narrador: A personagem, além de ser a narradora, é também a protagonista da história. Seu ponto de vista é limitado e bastante egocêntrico, o que a torna uma narradora-personagem. Esse tipo de narrador é eficaz para a proposta da crônica, pois cria uma conexão com o leitor, que acompanha o fluxo de pensamentos e ações da estudante.

    5. Humor e Crítica Social

    • Humor: Moacyr Scliar utiliza o humor como uma ferramenta para criticar a superficialidade das universidades modernas. A crônica apresenta situações exageradas e irônicas, como a estudante esquecendo de ir às aulas e, ao mesmo tempo, gastando tempo em atividades fúteis. Esse tom humorístico é uma maneira de criticar a tendência das instituições de ensino em investir mais em serviços e atrações externas do que no verdadeiro papel educativo.
    • Crítica Social: O autor critica, de forma sutil, a mercantilização da educação, onde as universidades acabam se tornando um espaço mais voltado ao consumo e ao prazer dos alunos do que ao desenvolvimento intelectual. A protagonista representa a juventude que se distanciou da verdadeira função do ensino superior, priorizando os aspectos materiais e de imagem em detrimento do conhecimento acadêmico. A reflexão aqui é clara: a educação deve ser mais do que um produto a ser consumido.

    6. Linguagem e Estilo

    • Linguagem: A linguagem utilizada por Scliar é simples, direta e de fácil compreensão. Ele mistura o tom coloquial com a ironia, o que faz com que o texto seja acessível ao grande público, mas também carregado de crítica social. O estilo é característico da crônica: informal, observacional e com toques de humor.
    • Estilo do Autor: Moacyr Scliar, com seu estilo único, utiliza a crônica como uma maneira de refletir sobre as contradições e absurdos do cotidiano, sempre com uma visão crítica. A autora não apenas relata um fato cotidiano, mas o transforma em uma reflexão mais profunda sobre a sociedade e seus valores.

    7. Reflexão Crítica A crônica "A Universidade Revisitada" faz uma crítica ao modelo atual de ensino superior que muitas vezes se preocupa mais em oferecer serviços e comodidades aos estudantes do que em promover um aprendizado profundo e significativo. A busca por atraentes espaços de lazer e consumo acaba refletindo uma tendência em priorizar o status social e a aparência em detrimento da educação real. Por meio do exagero e do humor, Moacyr Scliar nos faz refletir sobre o papel da educação e a importância de resgatar a verdadeira função da universidade: a formação de indivíduos críticos e capacitados para o mercado de trabalho e a vida em sociedade.


O tema central da crônica "A Universidade Revisitada", de Moacyr Scliar, é a crítica à mercantilização da educação superior e à superficialidade das relações e práticas dentro do ambiente universitário contemporâneo. A obra reflete, de maneira irônica e sarcástica, sobre como as universidades privadas, seguindo o modelo norte-americano, têm investido mais em infraestrutura e serviços de lazer, como academias, piscinas, salões de beleza e minishoppings, do que no desenvolvimento intelectual dos estudantes. A personagem que narra o dia a dia universitário demonstra como, em vez de se preocupar com o aprendizado acadêmico, ela se entrega aos atrativos consumistas e às comodidades oferecidas pela instituição. Esse comportamento superficial é contrastado com a negligência em relação aos aspectos fundamentais da educação, como o ensino e a reflexão crítica.

Em primeiro lugar, o texto questiona a real função da universidade na sociedade contemporânea, ao tratar a educação como um produto de consumo, acessível não apenas por seu conteúdo acadêmico, mas pela qualidade de seus serviços de apoio ao "bem-estar" do estudante. A personagem, que deveria se preocupar com as aulas, prefere se distrair com compras, academia, salão de beleza e videogame, mostrando como a universidade tem sido vista como um local de consumo e prazer, em detrimento da função intelectual e formadora do pensamento crítico. Essa visão distorcida do papel da educação é uma crítica direta às instituições que buscam atrair alunos com facilidades que nada têm a ver com a verdadeira função de uma universidade.

Além disso, a crônica revela uma desconexão entre o saber acadêmico e os valores superficiais da sociedade moderna. A personagem narra suas atividades cotidianas com um tom leve e descontraído, mas suas ações não têm relação com o aprendizado. A reflexão sobre a falta de foco nas aulas e o esquecimento do curso que está fazendo exemplificam como a educação se torna uma prioridade secundária frente aos outros atrativos que as universidades oferecem. Nesse sentido, Moacyr Scliar expõe uma crítica à sociedade que parece se importar mais com o consumo de produtos e serviços do que com a formação intelectual e cidadã, essencial para o desenvolvimento de um indivíduo crítico e consciente.

Por fim, o texto também aponta para uma ironia sutil: a busca por validação social e autoestima, que a personagem tenta alcançar por meio do consumo e da aparência, não leva à verdadeira satisfação. Ao final, ela se dá conta de que esqueceu de ir às aulas e, mais grave, que não sabe nem o nome do curso que está fazendo, o que ironiza a ideia de uma educação voltada apenas para as aparências. Essa desconexão entre o superficial e o essencial é o que Moacyr Scliar critica em sua obra, ao mostrar que a universidade, ao priorizar a infraestrutura e o consumo, perde sua função primordial de formar cidadãos capazes de pensar criticamente e de transformar a sociedade.

Sobre o autor: Moacyr Scliar é um escritor brasileiro conhecido por sua capacidade de explorar temas sociais e existenciais com um olhar crítico e, muitas vezes, irônico. Seu trabalho abrange crônicas, romances e contos, e ele é especialmente destacado por suas reflexões sobre a sociedade brasileira. Com um estilo que mistura humor e crítica, Scliar consegue criar personagens e situações que, muitas vezes, fazem o leitor refletir sobre a complexidade das relações humanas e as contradições da vida cotidiana. A crônica "A Universidade Revisitada" é um exemplo claro de como o autor usa a forma literária para questionar e problematizar temas sociais e culturais, especialmente no contexto educacional, trazendo à tona discussões sobre o que a sociedade valoriza e o que ela realmente precisa.

Tema: O Impacto da Superficialização da Educação nas Universidades Contemporâneas

Nas últimas décadas, a educação superior passou por transformações significativas, refletindo uma mudança de foco que prioriza a infraestrutura e o consumo em detrimento da formação intelectual. Muitas universidades, especialmente as privadas, têm seguido um modelo mercadológico que visa atrair estudantes por meio de uma série de facilidades e serviços voltados ao lazer, como academias, minishoppings, e piscinas. Esse movimento, inspirado no modelo norte-americano, tem como objetivo tornar a universidade mais atrativa, mas acaba ofuscando a verdadeira função educacional da instituição. Esse fenômeno levanta a questão de como a educação tem sido tratada em uma sociedade cada vez mais voltada ao consumo e à superficialidade.

O investimento em espaços como salas de videogame e restaurantes gourmet pode ser visto como uma tentativa de modernizar a experiência universitária, mas, ao mesmo tempo, pode ser interpretado como uma forma de desviar o foco daquilo que deveria ser o centro da vida acadêmica: o ensino. Em vez de priorizar a formação crítica e intelectual dos alunos, as universidades acabam incentivando a busca por prazeres imediatos e superficiais. A criação de um "campus de luxo", como acontece em algumas instituições, reflete uma visão utilitarista da educação, em que o aprendizado acaba perdendo espaço para o consumo e o entretenimento.

Além disso, o impacto dessa superficialização é profundo, principalmente na formação dos jovens que ingressam nesse modelo universitário. Os estudantes, muitas vezes, se veem mais preocupados em aproveitar as comodidades oferecidas pelas universidades do que em se engajar com a proposta acadêmica de fato. Esse tipo de abordagem contribui para uma geração de alunos que pode acabar tendo uma visão fragmentada do que é realmente importante no processo educacional, em que a autoimagem, o status social e a superficialidade prevalecem sobre o esforço intelectual e a construção do conhecimento. Em um mundo cada vez mais competitivo, onde a formação acadêmica é vista como uma chave para o sucesso profissional, essa desconexão com o propósito educacional pode gerar consequências negativas a longo prazo.

Por fim, é necessário repensar o modelo educacional atual, que tende a supervalorizar o consumo e as facilidades em detrimento do verdadeiro aprendizado. Embora a infraestrutura seja importante, ela não pode se sobrepor à qualidade do ensino. As universidades devem retomar sua missão primordial: formar cidadãos críticos e preparados para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea. O investimento em uma educação que valorize o conhecimento, a reflexão e a formação ética dos estudantes é fundamental para que possamos ter uma sociedade mais justa e verdadeiramente desenvolvida, onde o valor da educação seja medido pelo impacto que ela tem na construção de um futuro melhor, e não pela quantidade de serviços disponíveis em um campus universitário.

Partindo do sua experiência e  vivência, pense:  Fale sobre o analfabetismo. Quais os motivos? O que quer dizer alfabetizado? Qual o grande problema decorrente  do analfabetismo? O que é necessário  para mudar a situação atual?

CRÔNICAS DE MINHA AUTORIA

Crônica: O Silêncio das Letras

Outro dia, enquanto esperava no ponto de ônibus, observei uma senhora que, com o olhar cansado, segurava um bilhete amassado nas mãos. Ela olhava para ele, passava os dedos por suas palavras, mas não conseguia entender o que estava escrito. A fila se movia lentamente, mas ela permanecia ali, sozinha no seu desconforto silencioso. Perguntei-me o que aquele pedaço de papel representava para ela – talvez uma carta de um filho, uma mensagem de alguém querido, ou um simples lembrete de algo a ser feito. Mas o mais triste de tudo era o fato de que, mesmo segurando aquele bilhete com tanto cuidado, ela não podia se dar ao luxo de ler o que estava ali. Naquele momento, percebi o peso de uma realidade que, por mais que tentemos ignorar, ainda assola tantas vidas ao nosso redor: o analfabetismo.

Alfabetizar não é apenas ensinar a ler e escrever, como muitos pensam. Ser alfabetizado é ser capaz de entender o mundo ao seu redor, de fazer escolhas informadas e de participar ativamente da sociedade. Significa não ser prisioneiro da falta de informação e da exclusão. O ato de ler não é apenas decifrar letras; é compreender o que elas significam, conectá-las com a realidade e, assim, construir um entendimento mais amplo sobre o que acontece no mundo. O analfabetismo, portanto, não é uma questão apenas de letras e palavras, mas de oportunidades que se perdem, de portas fechadas e de um futuro que não se concretiza.

Mas quais são os motivos que ainda mantêm tanta gente fora da escola, sem acesso ao conhecimento básico que deveria ser garantido a todos? Existem vários fatores, mas, em sua grande maioria, estão relacionados à desigualdade social. As pessoas que vivem nas periferias, nas zonas mais afastadas ou nas comunidades de baixo poder aquisitivo, enfrentam uma luta constante para garantir o mínimo para a sobrevivência. A educação muitas vezes fica em segundo plano, não porque elas não queiram aprender, mas porque os recursos são escassos, e a urgência da vida cotidiana atropela qualquer tentativa de investir no futuro. As escolas públicas, que deveriam ser o alicerce para a mudança, muitas vezes carecem de estrutura e de um ensino de qualidade, o que agrava ainda mais a situação.

O grande problema do analfabetismo é que ele perpetua o ciclo da pobreza. A pessoa que não consegue ler e escrever não tem as mesmas oportunidades de quem tem acesso à educação. Isso cria uma sociedade desigual, onde poucos têm o poder de escolha, de lutar por seus direitos e de participar das decisões que afetam suas vidas. O analfabetismo também afasta o indivíduo da cidadania plena. É difícil exigir direitos, acessar informações importantes sobre saúde, emprego ou políticas públicas, quando se vive à margem do conhecimento. Ele nos torna invisíveis, como se estivéssemos falando uma língua que ninguém mais entende.

Então, o que é necessário para mudar essa realidade? Em primeiro lugar, a educação deve ser encarada como uma prioridade urgente e não uma promessa distante. É preciso investir na educação básica, oferecendo escolas bem equipadas e professores bem formados, além de programas de alfabetização para adultos. Mas, mais do que isso, é necessário que haja uma mudança na mentalidade da sociedade. Não podemos continuar a tratar o analfabetismo como algo isolado, sem perceber que ele é reflexo de uma estrutura social injusta. Precisamos encarar a educação como um direito universal, algo que deve ser acessível a todos, independentemente de sua origem ou condição social.

Talvez a senhora do ponto de ônibus nunca consiga ler aquele bilhete. Talvez ela nunca saiba o que está escrito ali. Mas, se a sociedade se unir para mudar esse quadro, talvez, em algum lugar, no futuro, outras pessoas possam se ver livres da cegueira que o analfabetismo impõe.


O Brasileiro e o Analfabetismo: Reflexões a partir da Vivência

Cresci em uma comunidade onde muitos convivem com a dura realidade do analfabetismo. Lembro-me de quando era criança e via meus avós, que eram analfabetos, se esforçando para ler o jornal ou até mesmo uma receita simples. Eles usavam os dedos para seguir as palavras, como se tivessem medo de se perder no texto, e perguntavam a qualquer um ao redor sobre o que estava escrito. Era uma situação comum, mas, com o passar do tempo, comecei a entender que o analfabetismo vai muito além da simples incapacidade de ler ou escrever. Ele é, na verdade, uma barreira que limita a vida e as oportunidades, afetando a capacidade de participar ativamente da sociedade.

Ser alfabetizado é muito mais do que saber formar palavras. Alfabetização é entender o mundo ao seu redor, é conseguir fazer escolhas informadas, é ter acesso à educação e a todas as suas possibilidades. Alfabetizar significa dar ao indivíduo a chave para abrir portas, para entender um contrato, uma conta de luz, um manual de instruções ou, mais profundamente, a própria história do país em que vive. Quando alguém não consegue ler ou escrever adequadamente, ele não consegue compreender a complexidade do mundo e, por isso, torna-se vulnerável às injustiças e desigualdades que o cercam. Em um país como o Brasil, em que a desigualdade social é uma das mais evidentes, a falta de alfabetização se torna um obstáculo gigantesco para o desenvolvimento pessoal e coletivo.

Os motivos do analfabetismo no Brasil são multifacetados. A desigualdade social, com sua divisão entre classes mais altas e as mais vulneráveis, é um dos principais fatores. Muitas pessoas nas regiões mais carentes do país não têm acesso adequado à educação, seja pela falta de escolas, pela carência de materiais didáticos ou pela falta de professores qualificados. Além disso, muitos vivem em condições de extrema pobreza, onde a luta pela sobrevivência diária toma a frente. Essas famílias, muitas vezes, não conseguem investir na educação de seus filhos, seja pela falta de condições financeiras, seja pela falta de conscientização sobre a importância de um bom ensino. Dessa forma, o analfabetismo vai se perpetuando de geração em geração, criando um ciclo vicioso difícil de romper.

O grande problema decorrente do analfabetismo é que ele exclui as pessoas da cidadania plena. A falta de letramento impede que o indivíduo acesse os direitos que lhe são devidos, que entenda as leis que o regem, que possa se posicionar em sua comunidade, que participe de discussões políticas e sociais. Isso perpetua uma sociedade de desigualdade, onde uma parte significativa da população não tem o poder de se expressar ou de lutar por mudanças. O analfabetismo também é um fator limitante no mercado de trabalho, já que muitos empregos exigem pelo menos o conhecimento básico da leitura e escrita. Isso coloca as pessoas em desvantagem no acesso a melhores oportunidades, contribuindo para a perpetuação da pobreza.

Para mudar essa situação, é preciso muito mais do que reformas no sistema educacional. Precisamos de uma abordagem que envolva investimentos consistentes em educação desde a infância até a idade adulta. A alfabetização deve ser vista como uma prioridade nacional, com políticas públicas que garantam o acesso à educação de qualidade para todos, independentemente da classe social ou da região em que vivem. É necessário também um compromisso com a formação de professores, o fortalecimento das escolas públicas e a redução das desigualdades que tornam o acesso à educação mais difícil para aqueles que mais precisam. Além disso, é essencial que a sociedade como um todo valorize a educação como um direito fundamental e como a principal ferramenta para a transformação social. Só assim poderemos romper com o ciclo do analfabetismo e garantir um futuro mais igualitário e justo para todos.

USANDO O ESQUEMA ABAIXO: 

  1. Introdução mais envolvente: Embora a introdução esteja boa, talvez você possa começar com uma situação mais próxima do cotidiano, que faça o leitor se sentir mais envolvido com a realidade do analfabetismo.

  2. Exemplificação mais concreta: Inserir alguns exemplos mais específicos da vida real pode ajudar a tornar a reflexão ainda mais palpável. Pode ser uma menção a uma história de alguém que, devido ao analfabetismo, enfrentou grandes dificuldades durante a pandemia, ou ao contrário, algum caso em que a superação da falta de alfabetização tenha feito a diferença.

  3. Conclusão mais impactante: Sua conclusão é forte e bem resolvida. Para dar um impacto final, talvez você possa usar uma frase mais provocativa, que faça o leitor refletir mais profundamente sobre o papel de todos na resolução desse problema.

Em resumo, a crônica cumpre bem seu objetivo de ser reflexiva e crítica sobre um tema tão importante, com uma boa organização de ideias e um tom adequado à proposta.

O Analfabetismo e a Realidade que Não Vemos

Era uma manhã qualquer, e o senhor João, um morador simples da comunidade, estava na fila da agência bancária. Como todos os  meses, ele tinha uma missão: retirar sua aposentadoria. Mas, ao chegar no caixa eletrônico, se viu diante de uma tela repleta de opções. A dúvida se instalou. O senhor João sabia que precisava fazer um saque, mas, como sempre, o botão de "Retirar" parecia ter se escondido entre tantas outras opções. Tentou por alguns minutos, apertou algumas teclas aleatórias, mas o receio de errar o fez voltar para a fila. Era a última vez que ele estava ali antes de voltar para casa, e sabia que a única alternativa era pedir ajuda a alguém. "O senhor sabe como usar o caixa eletrônico?" perguntou a ele uma mulher ao seu lado, e ele, com um sorriso sem graça, respondeu: "Eu não sei ler muito bem, não entendo essas opções."

Essa cena é mais comum do que imaginamos, e é apenas um reflexo de uma realidade que continua invisível para muitos: o analfabetismo. No Brasil, mais de 11 milhões de pessoas ainda não sabem ler e escrever. É um número alarmante, que não é só um dado frio, mas que traduz limitações reais no dia a dia das pessoas. O analfabetismo não é apenas uma falta de habilidade para formar palavras, mas sim um abismo que separa o indivíduo daquilo que se espera que ele faça: entender o mundo ao seu redor, exercer sua cidadania de forma plena e até mesmo tomar decisões simples, como o senhor João ao tentar usar o caixa eletrônico.

Ser alfabetizado vai muito além de saber ler e escrever. Significa ser capaz de interpretar o que está ao seu redor, de compreender instruções, entender um contrato, ler uma receita, buscar informações sobre um medicamento ou até mesmo saber como agir em uma situação de emergência. A alfabetização, portanto, é a chave para a autonomia e a participação ativa na sociedade. No entanto, para muitos brasileiros, essa chave está fora de alcance. O analfabetismo é uma consequência das desigualdades sociais, da falta de acesso a uma educação de qualidade e de um sistema educacional que nem sempre consegue atender às necessidades de todos, especialmente das populações mais vulneráveis.

Os impactos do analfabetismo são profundos e vão muito além da incapacidade de ler um livro ou escrever uma carta. Ele acarreta, por exemplo, dificuldades na inserção no mercado de trabalho, pois o analfabeto encontra barreiras para acessar as informações necessárias em processos seletivos ou para manter-se atualizado no ambiente profissional. A pandemia trouxe à tona uma realidade ainda mais cruel: muitas dessas pessoas, ao não terem acesso a plataformas digitais ou dificuldades em entender os conteúdos online, ficaram ainda mais excluídas. E assim, o ciclo de exclusão se perpetua.

A solução para esse problema exige um esforço coletivo. Precisamos garantir que todas as crianças tenham acesso a uma educação de qualidade desde os primeiros anos de vida. Isso envolve não só a criação de escolas mais acessíveis, mas também a formação de professores qualificados e o investimento em tecnologias de ensino que contemplem a realidade de todos. Para os adultos que ainda não sabem ler e escrever, é necessário que existam programas de alfabetização contínuos, que considerem suas rotinas e dificuldades e que ofereçam um espaço de aprendizado livre de julgamentos.

A superação do analfabetismo é uma responsabilidade que deve ser de todos. Como sociedade, não podemos continuar fechando os olhos para a realidade de milhões de brasileiros que não têm as mesmas oportunidades. O analfabetismo não é um problema isolado; ele está ligado à desigualdade social e ao acesso à educação. Portanto, se queremos realmente mudar a realidade do nosso país, precisamos começar pela base: garantindo que todos, sem exceção, tenham acesso à educação de qualidade e, assim, ao direito de escrever sua própria história.



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