terça-feira, 12 de novembro de 2024

SANGUE DA AVÓ MANCHANDO A ALCATIFA- MIA COUTO (OBSERVAR ACENTUAÇÃO) ANÁLISE E PROVA COM PERGUNTAS E RESPOSTAS

SANGUE DA AVÓ MANCHANDO A ALCATIFA

 Siga-se o improvérbio: dá-se o braço e logo querem a mão. Afinal, quem tudo perde, tudo quer. Contarei o episódio evitando juntar o inútil ao desagradável. Veremos, no final sem contas, que o último a melhorar é aquele que ri. Mandaram vir para Maputo a avó Carolina. Razões de guerra. A velha mantinha magras sobrevivências lá, no interior, em terra mais frequentada por balas que por chuva. Além disso, a avó estava bastante cheia de idade. Carolina merecia as penas. A vovó chegou e logo se admirou dos luxos da família. Alcatifas, mármores, carros, uísques, tudo abundava.

Nos princípios, ela muito se orgulhou daquelas riquezas. A Independência, afinal, não tinha sido para o povo viver bem? Mas depois, a velha se foi duvidando. Afinal, de onde vinham tantas vaidades? E por que razão os tesouros desta vida não se distribuem pelos todos? Carolina, calada em si, não desistia de se perguntar.

Parecia demorar-se em estado de domingo. Mas, por dentro, os mistérios lhe davam serviço. Na aldeia, a velha muito elogiara a militância dos filhos citadinos, comentando os seus sacrifícios pela causa do povo. Em sua boca, a família era bandeira hasteada bem no alto, onde nem poeira pode trazer mancha. Mas agora ela se inquietava olhando aquela casa empanturrada de luxos. A filha vinha da loja com sacos cheios, abarrotados.

  • Este abastecimento não é tão demais?
  • Cala, vovó. Vai lá ver televisão.

Sentavam a avó frente ao aparelho e ela ficava prisioneira das luzes. Apoiada numa velha bengala, adormecia no sofá. E ali lhe deixavam. Mais noite, ela despertava e lusco-fuscava seus pequenos olhos pela sala. Filhos e netos se fechavam numa roda, assistindo vídeo. Quase lhe vinha um sentimento doce, a memória da fogueira arredondando os corações. E lhe subia uma vontade de contar histórias. Mas ninguém lhe escutava. Os miúdos enchiam as orelhas de auscultadores. O genro, de óculos escuros, se despropositava, ressonante. A filha tratava-se com pomadas, em homenagem aos gala-galas (*). A avó regressava à sua ilha, recordando a aldeia. Lá, no incêndio da guerra, tudo se perdera. Ficaram sofrimentos, cinzas, nadas.

  • Essas coisas todas, meu genro, de onde vêm?
  • São horas extraordinárias.

Devia ser horas muito extraordinárias, avaliava a avó. Cansada de tanta coisa que não podia explicar, ela pediu para regressar. Voltava para o lugar onde pertencia, vizinha da ausência. Então, os filhos lhe ofereceram roupas bonitas, sapatos de muito tacão e até um par de óculos para corrigir as atenções da idosa senhora. Carolina cedeu à tentação. Bonitou-se. Pela primeira vez saiu a ver a cidade.

  • Nunca atravesse nenhuma rua. Você não tem idade para pedestrar.

Não chegou a atravessar. Logo no passeio, ela viu os meninos farrapudos, a miséria mendigando. Quantas mãos se lhe estenderiam, acreditando que ela fosse proprietária de fundos bolsos? A avó sentou-se na esquina, tirou os óculos, esfregou os olhos.

Chorava? Ou sentia apenas lágrimas faciais, por causa das indevidas lentes? Regressada a casa, ela despiu as roupas, atirou no chão os enfeites. Da mala de cartão retirou as consagradas capulanas, cobriu o cabelo com o lenço estampado. E juntou-se à sala, inexistindo, entre o parêntesis dos parentes. Nessa noite, a televisão transmitia uma reportagem sobre a guerra. Mostravam-se bandidos armados, suas medonhas ações. De súbito, sem que ninguém pudesse evitar, a velha atirou sua pesada bengala de encontro ao aparelho de televisão. O ecrã se estilhaçou, os vidros tintilaram na alcatifa. Os bandidos se desligaram, ficou um fumo retangular.

  • Matei-lhes, satanhocos! – gritou a avó.

Primeiro todos se estupefactaram. Os meninos até choraram, assustados. O genro reabilitou-se aos custos. Soprando raivas, ergueu-se em gesto de ameaça. Mas a avó, apanhando a bengala, avisou o homem:

  • Tu cala-te. Não sentes vergonha? Há bandidos a passear aqui na tua sala e tu não fazes nada.

Incrustada em espanto, a família encarava a anciã. Carolina monumentara-se, acrescida de muitos tamanhos. Então, atravessou a sala, vassourou os estragos, meteu os vidrinhos num saco de plástico.

  • Estão aqui todos – disse.

E entregou o saco ao genro. Do plástico pingavam gotas de sangue. O genro espreitou as próprias mãos. Não, ele não se tinha cortado. Era sangue da avó, gotas antiquíssimas. Tombaram no tapete, em vermelha acusação. Na manhã seguinte, a avó despachou o seu regresso. Voltou à sua terra, nem dela se soube mais. Na cidade, a família se recompos sem demora. Compraram um novo aparelho de televisão, até que o anterior já nem era compatível. De vez em quando recordavam a avó e todos se riam por unanimidade e aclamação. Festejavam a insanidade da velha. Coitada da avó. No entanto, ainda hoje uma mancha vermelha persiste na alcatifa. Tentaram lavar, desconseguiram. Tentaram tirar os tapetes, impossível. A mancha colara-se ao soalho com tal sofreguidão que só mesmo arrancando o chão. Chamaram o parecer do feiticeiro. O homem consultou o lugar, recolheu sombras. Enfim, se pronunciou. Disse que aquele sangue não terminava, crescia com os tempos, transitando de gota para o rio, de rio para oceano. Aquela mancha não podia, afinal, resultar de pessoa única.

Era sangue da terra, soberano e irrevogável como a própria vida.

RESUMO: 

O conto narra a história de Carolina, uma avó idosa que, após ser enviada de sua aldeia para Maputo devido à guerra, vivencia um choque de valores ao se deparar com o luxo e a ostentação da família. Ela, que antes vivia em um ambiente de simplicidade e sofrimento, começa a questionar as riquezas dos filhos e o desperdício que vê ao seu redor. Com o tempo, sente-se cada vez mais deslocada e angustiada, lembrando de sua terra natal destruída pela guerra. A avó, por fim, perde a paciência ao assistir a uma reportagem sobre a violência na guerra e, em um gesto impulsivo, destrói a televisão com sua bengala, jogando uma pesada acusação sobre a sua família. Ao final, uma mancha de sangue da avó permanece na alcatifa, simbolizando a continuidade do sofrimento e da resistência da terra e do povo.

Elementos da narrativa:

  1. Personagens:

    • Carolina (Avó): A personagem principal. Uma mulher idosa, de origem simples e rural, que se vê imersa no luxo e na futilidade de seus filhos. Sua resistência e memória da guerra marcam sua personalidade.
    • Filhos e netos de Carolina: Representam a modernidade e o distanciamento da realidade do interior, vivendo em uma realidade de consumo e ostentação.
    • Genro: Um dos membros da família que demonstra uma atitude desinteressada e autoritária, especialmente com a avó.
  2. Tempo:

    • O tempo no conto é contemporâneo, situado após a independência de Moçambique, quando há uma grande disparidade entre a vida na cidade e nas zonas rurais, marcada pelas dificuldades e a guerra.
  3. Espaço:

    • O conto se passa em Maputo, a capital de Moçambique, e também faz menção à aldeia de onde Carolina veio, marcada pela pobreza e pelos efeitos da guerra. O contraste entre esses dois espaços reflete o conflito interno da personagem.
  4. Enredo:

    • A trama gira em torno da avó Carolina que, ao chegar em Maputo, se depara com a ostentação de seus filhos e começa a questionar os valores da família. Sua angústia cresce até o momento em que ela explode, destruindo a televisão e deixando uma marca de sangue, que representa a resistência de sua história e de sua terra natal.
  5. Clímax:

    • O clímax do conto ocorre quando a avó, em um momento de frustração e revolta, destrói a televisão com sua bengala e, ao fazer isso, deixa uma mancha de sangue que simboliza sua resistência e dor acumulada.
  6. Foco narrativo:

    • O conto é narrado em terceira pessoa, permitindo ao leitor uma visão mais ampla dos conflitos internos da personagem e da crítica social, ao mesmo tempo que proporciona a imersão nas percepções e sentimentos de Carolina.

Análise do conto:

  • Mensagem central: O conto aborda a desigualdade social, os contrastes entre as gerações e os valores culturais de um povo. A avó Carolina representa a resistência do passado, enquanto seus filhos simbolizam a busca por status e riqueza, muitas vezes à custa de seus princípios. O sangue que mancha a alcatifa é um símbolo da continuidade das lutas e do sofrimento do povo, que não pode ser apagado nem pela modernização nem pelo consumismo.

  • Símbolos: O sangue da avó na alcatifa simboliza a luta e o sofrimento da terra e do povo, que não podem ser facilmente esquecidos. A televisão quebrada é um símbolo da ruptura entre os valores tradicionais e os valores materialistas da nova geração.

Características das personagens:

  1. Carolina (Avó):

    • Físicas: Idosa, usa bengala, com sinais de cansaço e fragilidade, mas também com uma força interna.
    • Psicológicas: A avó é uma personagem introspectiva e reflexiva. Sua psicologia é marcada por um sentimento de desconforto com a nova realidade em que se encontra. Sua revolta, no entanto, cresce conforme ela percebe a distância entre a vida de seus filhos e a vida simples e sofrida da aldeia.
  2. Filhos e netos de Carolina:

    • Físicas: Representam a juventude, mas não são descritos com muitos detalhes físicos no conto. São pessoas bem-sucedidas e com aparência de pertencentes à classe alta.
    • Psicológicas: Demonstram superficialidade e distanciamento das origens da família. São mais preocupados com o consumo e o status do que com os problemas e os sentimentos da avó.

Tema principal e secundário:

  • Tema principal: O conflito entre as gerações e as diferenças de valores entre a vida rural e urbana. A avó representa o sofrimento, a luta e os valores tradicionais, enquanto seus filhos estão imersos em um mundo de consumo e ostentação.

  • Tema secundário: A crítica à desigualdade social e à desconexão entre as elites e o povo que sofre com as consequências da guerra e da pobreza. A mancha de sangue na alcatifa simboliza a imutabilidade do sofrimento do povo e a resistência da memória histórica.

Reflexão sobre o conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa":

  1. Por que a avó Carolina sente-se deslocada na casa de seus filhos?

    • Resposta: A avó se sente deslocada porque os valores de seus filhos e netos estão completamente distantes dos seus. Ela vem de um ambiente simples e marcado pelo sofrimento, enquanto a família de seus filhos vive em um mundo de luxos e ostentação, sem se preocupar com as dificuldades da vida real e a miséria ao seu redor.
  2. Qual é o simbolismo da mancha de sangue que permanece na alcatifa?

    • Resposta: A mancha de sangue simboliza a memória das lutas passadas e o sofrimento do povo. Ela representa a resistência da avó e de sua terra, que não podem ser apagadas, mesmo diante da modernização e do consumo excessivo. A mancha também reflete a crítica à indiferença da nova geração em relação à realidade do país.
  3. O que o gesto de destruir a televisão revela sobre a avó Carolina?

    • Resposta: O gesto de destruir a televisão revela a frustração e o desespero da avó diante da situação em que se encontra. A televisão, símbolo da alienação e do consumo, representa a desconexão de seus filhos com a realidade do povo, enquanto a avó, ao destruir o aparelho, expressa sua revolta contra a falta de ação diante das injustiças que vê.
  4. O que podemos aprender com a reação da família diante do ato da avó?

    • Resposta: A reação da família mostra a desconexão emocional que existe entre as gerações. Eles riem da avó e a consideram insana, sem entender o significado profundo de seu ato. Isso nos ensina sobre a falta de empatia e compreensão entre diferentes gerações, especialmente em um contexto de mudanças sociais e econômicas rápidas. A atitude da avó, embora impulsiva, é uma forma de resistência e alerta sobre as consequências de ignorar o sofrimento do outro.

Essas perguntas e respostas ajudam a refletir sobre os temas centrais do conto e os conflitos entre as gerações, além de oferecer uma análise crítica sobre a relação entre o passado e o presente, e sobre as consequências da indiferença.

Análise da Obra "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa"

Tema Principal: A desconexão entre gerações e a crítica social

O tema principal do conto gira em torno da desconexão entre gerações e a crítica à desigualdade social, refletida pela vida dos filhos da avó Carolina, que vivem no luxo, enquanto ela carrega o peso do sofrimento e das perdas em um contexto de guerra e miséria. O autor, ao apresentar a convivência entre a avó e seus filhos, faz uma reflexão sobre as transformações socioculturais, principalmente após a Independência de Moçambique. A avó, oriunda de um mundo simples e marcado pela escassez, vê a família e os filhos inseridos em um cenário de riqueza e consumismo desenfreado. Ela, no entanto, questiona o preço da prosperidade e a ausência de uma distribuição mais justa dos bens materiais, o que provoca uma ruptura entre a sua visão de mundo e a daqueles que foram forjados em um sistema diferente.

Consequências dos Atos das Personagens

Os atos das personagens têm consequências diretas tanto no nível individual quanto familiar. A avó Carolina, com seu gesto de destruir a televisão, simboliza o rompimento com a alienação e o consumismo da sociedade em que seus filhos estão inseridos. Esse ato, inicialmente considerado irracional e insano, é, na verdade, uma expressão de resistência e de crítica à desumanização que a televisão e os bens materiais representam para ela. Sua reação, que provoca um choque na família, é um grito de alerta contra a indiferença e a desconexão com os problemas reais da sociedade. No entanto, as consequências desse gesto são imediatas: a avó é tratada como uma figura insana, enquanto a mancha de sangue que permanece na alcatifa torna-se um símbolo de algo que não pode ser apagado — o sofrimento histórico e a violência das gerações passadas.

Análise Crítica

A obra faz uma crítica contundente ao descompasso entre as gerações e à hipocrisia de uma sociedade que se distancia de suas raízes e dos valores de solidariedade e humanidade. A avó Carolina, ao questionar a origem das riquezas de seus filhos, representa a voz daqueles que sofrem e que, muitas vezes, são esquecidos pelos mais afortunados. Sua revolta é uma metáfora das dificuldades de um país que, após a independência, se vê dividido entre os poucos que prosperam e a maioria que continua à margem da sociedade. A destruição da televisão e a mancha de sangue na alcatifa simbolizam a tentativa de resgatar a memória histórica, que não pode ser ignorada ou apagada, como acontece com as gerações mais novas. A crítica social se estende, assim, à modernização e ao consumo, que muitas vezes apagam as lições do passado e a dor que ainda persiste na sociedade.

Aspectos Literários, Históricos e Sociais

Literariamente, o conto utiliza elementos de realismo e simbolismo para construir uma narrativa que faz uma profunda reflexão sobre a sociedade moçambicana pós-independência. Através do enredo, o autor articula a crítica social ao apresentar as contradições entre a realidade da avó Carolina e a vida luxuosa de seus filhos. O simbolismo da mancha de sangue é um dos aspectos mais fortes da obra, que carrega tanto uma carga emocional quanto histórica. No contexto histórico, a referência à guerra e à miséria do interior de Moçambique evidencia os efeitos devastadores do conflito, que ainda assombram os habitantes das zonas rurais. Socialmente, o conto aborda a desigualdade entre as classes, colocando em evidência o abismo entre os filhos, que se beneficiam das riquezas da cidade, e a avó, que permanece ligada a um passado de sofrimento e luta. Esse contraste revela uma crítica à falta de empatia e ao distanciamento das gerações mais novas, que parecem ter se esquecido das raízes e das lutas que moldaram o país.

Conclusão

Em síntese, o conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa" é uma obra de grande profundidade que faz uma crítica ao consumismo, à falta de memória histórica e à desigualdade social em Moçambique. Através de personagens como a avó Carolina, o autor nos leva a refletir sobre a desconexão entre as gerações e a necessidade de manter viva a memória do sofrimento e das lutas que marcaram o país. A mancha de sangue na alcatifa e o gesto de destruição da televisão são símbolos poderosos de resistência e alerta, revelando as consequências de se ignorar as lições do passado e de se viver em um mundo desconectado da realidade social e histórica.

RESUMO DO TEXTO ACIMA  : O conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa" aborda a desconexão entre gerações e a crítica à desigualdade social em Moçambique, especialmente após a independência. O tema principal é a diferença entre a vida simples e sofrida da avó Carolina e o luxo em que vivem seus filhos, que se distanciaram das raízes e dos valores que ela defendia. O gesto de Carolina ao destruir a televisão, após questionar as riquezas da família, simboliza a resistência contra o consumismo e a alienação da sociedade urbana.

As consequências dos atos da avó são significativas, pois, apesar de sua ação ser vista como irracional, ela revela uma crítica profunda à falta de empatia e à divisão social. A mancha de sangue na alcatifa torna-se um símbolo de um sofrimento histórico que não pode ser apagado, representando o impacto da guerra e da desigualdade. A crítica à sociedade é clara: ela expõe o contraste entre os filhos que vivem no luxo e a avó que se vê desconectada e ignorada.

O conto faz uma análise crítica ao consumismo e à alienação, ao mesmo tempo em que denuncia a desconexão entre as gerações. A narrativa, com seu simbolismo e realismo, aponta a importância de preservar a memória histórica e as lições do passado, sem esquecer os sofrimentos das gerações anteriores. A obra também toca em questões históricas e sociais, como a desigualdade e as consequências da guerra, propondo uma reflexão sobre o presente e o futuro do país.


 FIGURAS DE LINGUAGEM

O conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa" faz uso de diversas figuras de linguagem para intensificar o impacto emocional e transmitir mensagens simbólicas profundas. Aqui estão algumas das principais figuras de linguagem presentes na obra:

1. Metáfora

A metáfora está presente quando o sangue da avó é descrito como algo que "cresce com os tempos, transitando de gota para o rio, de rio para o oceano." Aqui, o sangue não é apenas uma substância física, mas simboliza a memória, a história e o sofrimento acumulado ao longo do tempo, representando as consequências da guerra e das injustiças sociais que não podem ser apagadas.

2. Antítese

A antítese é evidente na oposição entre a vida simples e sofrida da avó e o luxo e consumismo da família. Exemplo disso é a comparação entre a aldeia da avó, marcada pela guerra, e a casa dos filhos, cheia de "alcatifas, mármores, carros, uísques." Esta oposição ressalta a desigualdade social e a desconexão entre gerações, tornando a crítica social ainda mais clara.

3. Ironia

A ironia está presente quando a avó, após ser presenteada com roupas e acessórios caros, sai para ver a cidade e, ao se deparar com a miséria nas ruas, se sente completamente deslocada. A ironia também é percebida na reação da família à destruição da televisão pela avó, que é vista como insana, mas a ação dela é, na verdade, uma crítica à alienação e à falta de consciência social da geração mais jovem.

4. Anacoluto

O anacoluto aparece quando o narrador quebra a fluidez da frase para chamar a atenção para uma ideia importante, como em "Contarei o episódio evitando juntar o inútil ao desagradável." Essa quebra no início do conto prepara o leitor para a reflexão crítica e profunda que virá mais adiante, enquanto também estabelece o tom de julgamento e distanciamento.

5. Hipérbole

A hipérbole pode ser vista em passagens como "Aquela mancha não podia, afinal, resultar de pessoa única" e na descrição da avó, que "monumentou-se, acrescida de muitos tamanhos." Estas expressões exageradas são usadas para enfatizar a importância simbólica da avó e da mancha de sangue na alcatifa, sugerindo que elas representam algo muito maior do que elas mesmas.

6. Personificação

O sangue da avó, que pinga na alcatifa, é descrito como algo que "crescia com os tempos." Aqui, o sangue é tratado como se tivesse vida própria, o que intensifica o caráter simbólico dessa substância, ligada à memória histórica, ao sofrimento e à persistência da desigualdade.

7. Eufemismo

O eufemismo aparece quando a filha diz: "Cala vovó. Vai lá ver televisão." A frase suaviza a situação de abandono e negligência da avó, indicando como ela é tratada pela família, sem confrontar diretamente a dureza da exclusão que a personagem sofre.

8. OnomatopEia

Na cena da televisão quebrando, é utilizado o som das "vidros tintilaram na alcatifa" para criar um efeito dramático e visual. A sonoridade dessa imagem evoca a ideia de destruição e de ruptura com o sistema de valores da família.

Essas figuras de linguagem trabalham juntas para reforçar o tema do conto, tornando a crítica social e a análise da desconexão geracional ainda mais poderosas. Elas também ajudam a criar um ambiente denso e simbólico, que vai além do simples relato de uma história familiar, abordando temas como a desigualdade, a guerra e o consumismo.


CONFLITO: 

No conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa", o conflito central é geracional e social. Ele gira em torno da incompatibilidade entre as gerações mais velhas e as mais jovens, representadas pela avó e pelos filhos e netos, e também entre as diferentes classes sociais.

1. Conflito geracional

O conflito geracional é evidente na discrepância entre os valores da avó e os valores da geração mais jovem. A avó Carolina vem de uma realidade de sofrimento e luta pela sobrevivência, marcada pela guerra e pela pobreza, enquanto seus filhos e netos vivem em um ambiente de luxo e consumo excessivo, em Maputo. A avó sente-se desconfortável com os "luxos" da casa dos filhos e questiona de onde vêm essas "vaidades" e porque os tesouros da vida não são distribuídos igualmente. Ela representa uma moralidade mais simples e tradicional, enquanto seus descendentes estão mergulhados em um modo de vida consumista, distante das dificuldades da realidade social. O momento em que ela quebra a televisão com a bengala, acusando os "satanhocos" (bandidos) que aparecem na tela, é uma reação de revolta e frustração contra a alienação e a hipocrisia da sociedade moderna, que ela não consegue entender.

2. Conflito social

O outro conflito importante é o conflito social, que se revela na crítica à desigualdade entre os ricos e os pobres. A avó observa a diferença gritante entre a vida de sua família e a realidade de outros, como os "meninos farrapudos" nas ruas. A reação dela ao ver a miséria nas ruas é um reflexo da alienação dos filhos, que vivem em um mundo de privilégios, sem perceber ou se importar com as dificuldades de quem está fora de sua bolha de conforto. O sangue da avó que mancha a alcatifa ao final simboliza o sofrimento coletivo, o passado de dor e luta que a família tenta ignorar. O sangue não é só da avó, mas representa o sofrimento da terra e do povo, algo que os filhos não podem apagar com o consumismo e a modernidade.

3. Conflito interno da avó

Dentro da personagem da avó, há também um conflito interno. Ela está dividida entre o orgulho de ver sua família vivendo "bem" em uma cidade moderna, e o desconforto crescente com o luxo e a alienação que isso representa. A avó se sente cada vez mais desconectada de sua família e da cidade, que parece distante do que ela acredita ser o valor real da vida. Ela busca por respostas, tenta entender por que a riqueza não é compartilhada de forma justa e, no final, sente a necessidade de voltar para sua terra, para a simplicidade e o sofrimento que conhecia.

4. Conflito simbólico do sangue

O sangue da avó que mancha a alcatifa representa um conflito simbólico entre o passado e o presente, entre a terra e o luxo. Ao ver a mancha de sangue no tapete, a família não consegue apagar o que ela representa: a luta e o sofrimento das gerações anteriores. O sangue não pode ser lavado, não pode ser esquecido. Ele permanece como uma acusação da desconexão entre a avó e seus filhos, e também como uma representação da história não resolvida do país, que, apesar das mudanças externas (como a independência e o luxo da família), ainda carrega as marcas profundas de um sofrimento histórico.

Esses conflitos formam a espinha dorsal da narrativa e são explorados com intensidade emocional, levando o leitor a refletir sobre questões de classe social, memória histórica e conflitos familiares e sociais. O conto não apenas narra a história de uma avó e sua família, mas também convida à reflexão sobre como as desigualdades e os legados de sofrimento não podem ser facilmente apagados ou ignorados, por mais que se busque viver uma vida de aparências.


NARRADOR E PONTO DE VISTA 

No conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa", o narrador é onisciente e em terceira pessoa, ou seja, ele sabe tudo sobre os personagens e suas emoções, pensamentos e ações, e observa a história de fora. Esse tipo de narrador tem acesso aos sentimentos e reflexões mais íntimas das personagens, proporcionando uma visão mais profunda do conflito interno da avó Carolina e das dinâmicas familiares.

Ponto de vista

O ponto de vista do narrador é objetivo, pois ele apresenta a história de forma mais distanciada, relatando os acontecimentos e a perspectiva dos personagens de maneira ampla. No entanto, também há momentos em que o narrador adota uma perspectiva mais subjetiva, focando na visão da avó Carolina, especialmente no que se refere ao desconforto e ao desajuste dela com a nova realidade urbana e consumista de sua família. Quando o narrador descreve as reflexões da avó, como sua dúvida sobre a origem das riquezas e a estranheza com os "luxos" da cidade, ele adota um ponto de vista mais íntimo, revelando seus pensamentos e sentimentos internos.

O narrador não intervém diretamente no discurso dos personagens, mas transmite os conflitos e as emoções de forma sutil, permitindo ao leitor enxergar o contraste entre o mundo da avó, ligado ao sofrimento e à pobreza, e o mundo da família, ligado ao luxo e à alienação. Essa distância entre os mundos é um elemento essencial da narrativa, pois coloca em evidência o choque entre gerações e classes sociais, sem a interferência de um narrador que julga ou critica diretamente os personagens.

Narrador onisciente e foco na avó

Embora o narrador tenha uma visão ampla de todos os acontecimentos, o foco narrativo recai sobre a avó Carolina, especialmente nas suas reflexões e sentimentos ao observar os comportamentos de sua família. Essa escolha de ponto de vista contribui para a criação de um sentimento de solidão e desconexão da personagem, que se vê cada vez mais afastada da realidade dos filhos e netos. O narrador transmite essa solidão, pois o leitor tem acesso ao monólogo interior da avó e pode perceber sua incomodidade com a mudança de valores e a ostentação material.

Importância do ponto de vista

A escolha do ponto de vista e do tipo de narrador é fundamental para o desenvolvimento do tema central do conto, que é a crítica às desigualdades sociais e à alienação das gerações mais jovens em relação ao sofrimento do passado. O narrador, ao ser onisciente, permite ao leitor uma visão completa dos conflitos e das contradições entre os personagens, mas também cria uma distância emocional que faz com que a história se torne mais profunda e complexa. O ponto de vista é, portanto, uma ferramenta eficaz para expressar os temas da narrativa e destacar as tensões entre os personagens e suas realidades divergentes.


RELAÇÃO DE AUTORIDADE E PODER

No conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa", há uma clara relação de autoridade e poder, que se manifesta tanto nas interações familiares quanto nas tensões entre os valores tradicionais e os valores modernos da sociedade.

1. Autoridade da avó:

A avó, Carolina, representa a autoridade tradicional. Ela vem de um contexto rural, de sofrimento e luta, onde a autoridade era construída em torno de valores simples, como a solidariedade e a luta pela sobrevivência. No entanto, à medida que se encontra com sua família na cidade, essa autoridade se vê desafiada pela nova realidade que seus filhos e netos enfrentam, marcada pelo consumo e pela ostentação. Embora ela não exerça poder de forma direta sobre os membros da família, sua autoridade é baseada em sua experiência de vida e em sua visão moral do mundo. Essa autoridade parece ser ignorada ou minimizada pelos filhos, que estão imersos na vida urbana e no conforto material.

2. Poder da família:

Por outro lado, os filhos e netos de Carolina, que têm uma vida confortável na cidade, exercem um poder econômico e social. Eles representam a modernidade, em que o poder é mediado pela posse de bens materiais, como os carros, alcatifas e outros luxos. O poder deles, no entanto, é superficial, uma vez que a base desse poder — o dinheiro e o consumismo — não é acompanhada de uma reflexão profunda sobre os problemas sociais e as desigualdades que existem ao seu redor, como a guerra e a pobreza, que ainda afetam a avó.

3. Conflito entre autoridade e poder:

O conflito entre a autoridade moral da avó e o poder material da família é um dos elementos centrais da narrativa. A avó questiona os valores e o estilo de vida de seus filhos, que, ao estarem distantes dos princípios que ela considera fundamentais, parecem não compreender o sofrimento e as dificuldades das pessoas como ela, que viveram na pobreza e no sofrimento. Esse choque entre as gerações representa a disputa entre valores antigos (autoridade tradicional) e valores modernos (poder material).

4. A manifestação de poder e autoridade no clímax:

O ato simbólico de Carolina quebrando a televisão e atirando sua bengala contra o aparelho é uma manifestação de seu poder simbólico. Ao fazer isso, ela resgata a autoridade moral que perdeu ao longo do tempo e das mudanças sociais, afirmando sua própria identidade e os princípios pelos quais sempre lutou. A mancha de sangue na alcatifa, que não pode ser apagada, simboliza a persistência da memória e da luta da avó, mesmo diante da mudança e da alienação das gerações mais novas.

5. Conclusão:

Portanto, o conto expõe uma relação de desigualdade de poder entre as gerações e entre o passado (representado pela avó) e o presente (representado pela família). A avó, embora sem o poder material, possui uma autoridade moral que, no final, se revela mais forte, pois se conecta a uma verdade profunda e histórica sobre o sofrimento humano, enquanto a família, com seu poder material, acaba sendo vazia e desconectada da realidade.


PERGUNTAS COM RESPOSTAS 

1. Questões Dissertativas

1.1 Quais são os principais conflitos enfrentados pela avó Carolina ao se mudar para Maputo? Explique como esses conflitos refletem a tensão entre os valores tradicionais e a vida moderna.

Resposta: Carolina enfrenta um conflito interno ao se deparar com a ostentação e o consumo exagerado de sua família, o que a faz questionar os valores que sempre defendeu. Ela se incomoda com a vida luxuosa da família, que parece distante das dificuldades que ela conheceu na aldeia. O conto, portanto, aborda a luta entre a autoridade tradicional da avó, que representa os valores rurais e simples, e o poder material da família, que se identifica com a modernidade urbana e o consumismo.


1.2 Como o autor utiliza a figura de linguagem para destacar as emoções da personagem principal durante o conto? Cite exemplos.

Resposta: O autor usa figuras de linguagem, como metáforas e personificação, para evidenciar os sentimentos da avó. Por exemplo, ao descrever a "mancha de sangue" na alcatifa, que simboliza o sofrimento da avó, o autor personifica o sangue, tornando-o uma metáfora para a memória de um passado doloroso. A repetição da ideia de sangue também reforça o peso da história e as raízes profundas da personagem.


1.3 O que o conto nos diz sobre a relação entre as gerações na família de Carolina? Faça uma análise crítica dessa relação.

Resposta: O conto revela uma desconexão geracional entre a avó e seus filhos e netos. A avó representa os valores e o sofrimento do passado, enquanto seus filhos e netos estão mais preocupados com o consumismo e as vaidades da vida urbana. Essa diferença de perspectivas gera um conflito de valores, e a avó, ao quebrar a televisão, simboliza sua tentativa de resgatar a autoridade moral e o sentido do passado, que parece perdido para a nova geração.


1.4 O que você entende como sendo a "mancha de sangue" no final do conto? Qual seu significado simbólico?

Resposta: A "mancha de sangue" simboliza a persistência da história e dos sofrimentos do passado da avó. Mesmo com a tentativa da família de apagar ou ignorar as raízes de Carolina, o sangue da avó, que mancha a alcatifa, representa a impossibilidade de esquecer a dor histórica e o legado da vida simples e sofrida que ela viveu. A mancha se torna um símbolo de resistência e memória.


2. Questões de Múltipla Escolha

2.1 Qual o principal tema do conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa"?

a) O sofrimento da avó durante a guerra
b) O choque entre gerações e valores familiares
c) O crescimento econômico de Maputo
d) A importância dos luxos materiais

Resposta: b) O choque entre gerações e valores familiares


2.2 A avó Carolina se incomoda principalmente com:

a) A guerra em Maputo
b) A pobreza dos seus filhos
c) O consumo exagerado e a ostentação da família
d) A falta de comida

Resposta: c) O consumo exagerado e a ostentação da família


2.3 O que Carolina faz ao ver os meninos farrapudos nas ruas de Maputo?

a) Ignora-os
b) Dá-lhes dinheiro
c) Chora e sente-se desconfortável
d) Tira fotos dos meninos

Resposta: c) Chora e sente-se desconfortável


2.4 O que representa o ato de Carolina quebrar a televisão?

a) Seu desejo de se afastar da cidade
b) Sua frustração com a guerra
c) Sua crítica ao consumismo e à alienação da família
d) Sua tentativa de se tornar parte da família moderna

Resposta: c) Sua crítica ao consumismo e à alienação da família


2.5 Qual é a reação dos filhos e netos quando Carolina quebra a televisão?

a) Eles a aplaudem
b) Eles ficam furiosos e ameaçam a avó
c) Eles ficam surpresos e se afastam
d) Eles tentam consertar a televisão imediatamente

Resposta: c) Eles ficam surpresos e se afastam


3. Questões de Verdadeiro ou Falso

3.1 A avó Carolina sempre foi feliz com a vida que levou na cidade.

Resposta: Falso. A avó Carolina se sente desconfortável com o consumismo e os luxos da cidade, preferindo os valores simples e as memórias do campo.


3.2 O sangue que mancha a alcatifa é uma metáfora para a dor da avó e seu passado marcado pela guerra.

Resposta: Verdadeiro. O sangue simboliza as cicatrizes do passado de Carolina e sua ligação com o sofrimento que ela vivenciou.


3.3 Os filhos de Carolina não valorizam as suas opiniões e a ignoram completamente.

Resposta: Falso. Embora os filhos ignorem suas críticas, eles ainda demonstram certo carinho por ela, oferecendo-lhe roupas e tentando agradá-la com presentes.


3.4 A avó se sente pertencente à cidade após receber roupas novas e óculos.

Resposta: Falso. Apesar dos presentes, Carolina ainda sente que não pertence à cidade e se lembra da vida simples da aldeia.


3.5 O ato de Carolina de jogar a bengala na televisão é um ato de raiva sem justificativa.

Resposta: Falso. O ato é simbólico, uma manifestação de sua crítica ao consumismo e a alienação da família diante da situação do povo.


4. Questões de Correspondência

4.1 Associe as personagens do conto com seus respectivos papéis:

a) Carolina | 1. Representa a modernidade e o consumismo
b) Filhos da avó | 2. Representa os valores tradicionais e a crítica à sociedade moderna
c) O genro | 3. Afastado da realidade, alheio aos problemas sociais
d) O narrador | 4. Fornece uma visão crítica da história, mediando os conflitos

Respostas:

  • a) Carolina - 2. Representa os valores tradicionais e a crítica à sociedade moderna
  • b) Filhos da avó - 1. Representa a modernidade e o consumismo
  • c) O genro - 3. Afastado da realidade, alheio aos problemas sociais
  • d) O narrador - 4. Fornece uma visão crítica da história, mediando os conflitos

5. Questões de Interpretação

5.1 O que a avó Carolina representa em relação ao contexto social da época?

Resposta: Carolina representa os valores do passado, a luta pela sobrevivência e os sacrifícios feitos durante o período de guerra. Sua visão de mundo contrasta com a vida moderna e consumista de seus filhos e netos, que se distanciaram das dificuldades do povo e dos valores tradicionais.


5.2 Qual é a mensagem do autor ao mostrar a avó quebrando a televisão?

Resposta: A mensagem é uma crítica ao consumismo desenfreado e à alienação das gerações mais jovens, que se distanciaram dos problemas reais e das experiências do passado. A avó, ao quebrar a televisão, simboliza uma tentativa de resgatar os valores da luta e da memória histórica.


6. Análise Crítica

6.1 O que você acha da postura dos filhos da avó? Eles representam um modelo ideal de vida ou estão alienados?

Resposta: Os filhos de Carolina representam uma vida de conforto e consumismo, mas estão alienados das questões sociais e do sofrimento que marcaram a vida da avó. Sua postura reflete uma sociedade que, ao buscar o progresso material, acaba se distanciando dos valores mais humanos e da reflexão sobre o sofrimento coletivo.


6.2 Qual é a crítica social mais evidente no conto?

Resposta: A crítica social mais evidente no conto é ao consumismo e à alienação das gerações mais jovens, que se afastam da realidade e das lutas históricas que caracterizam o passado da avó. O autor denuncia a superficialidade das conquistas materiais, que não têm valor se não forem acompanhadas de uma consciência crítica das desigualdades e do sofrimento humano

1. Qual é o principal conflito presente no conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa"?

Resposta: O principal conflito do conto é o choque de gerações e valores entre a avó Carolina, que representa o mundo rural e tradicional, e seus filhos e netos, que vivem em Maputo, com uma vida urbana, consumista e distante dos problemas sociais. Esse confronto é expresso pelo desconforto da avó com os luxos e vaidades da família, e seu sentimento de alienação.


2. De que maneira o autor utiliza a figura do "sangue da avó" para transmitir uma mensagem simbólica no conto?

Resposta: O "sangue da avó" simboliza a memória histórica, o sofrimento e as raízes profundas da avó Carolina. A mancha de sangue na alcatifa representa a persistência do passado, que não pode ser apagado ou esquecido, apesar dos esforços da família em viver uma vida de luxos. O sangue também alude à ligação indissolúvel da personagem com sua terra natal e os traumas da guerra.


3. Qual é a crítica social presente no conto, de acordo com o comportamento dos filhos de Carolina?

Resposta: A crítica social no conto está centrada na alienação da classe média urbana que, ao buscar conforto e luxos materiais, perde a conexão com suas raízes e com os problemas sociais. Os filhos de Carolina, imersos no consumismo e distantes das dificuldades enfrentadas pelas gerações anteriores, representam uma sociedade que se esquece do sofrimento coletivo em prol da busca por status e bem-estar material.


4. O que o gesto de Carolina de quebrar a televisão simboliza dentro do contexto social e familiar do conto?

Resposta: O gesto de Carolina de quebrar a televisão simboliza sua revolta contra a alienação e superficialidade de sua família, que se distrai com a modernidade e os luxos da vida urbana enquanto ignora as questões sociais importantes. É uma forma de resistência à passividade e ao consumismo que dominam a vida de seus filhos e netos. Carolina tenta, assim, resgatar os valores de luta e memória, que ela considera mais importantes do que os prazeres fúteis da vida moderna.


5. Como a avó Carolina reage ao se deparar com as desigualdades na cidade?

Resposta: Ao ver a miséria nas ruas e os meninos farrapudos, Carolina se sente profundamente desconfortável e até chora. A disparidade entre a vida de sua família, que é marcada pelo luxo, e a pobreza das ruas de Maputo, a faz refletir sobre o que realmente importa e a distancia ainda mais do ambiente urbano que ela não compreende totalmente.


6. Qual é a função do narrador no conto "Sangue da Avó Manchando a Alcatifa"?

Resposta: O narrador no conto tem uma função onisciente, fornecendo uma visão crítica da situação e mediando o confronto entre as gerações e os valores. O narrador também nos permite acessar os pensamentos e sentimentos de Carolina, o que ajuda a compreender a profundidade de seus conflitos internos e as razões de sua alienação em relação à vida de seus filhos e netos.


7. O conto faz referência à guerra. De que maneira isso influencia a percepção da avó sobre o mundo urbano?

Resposta: A experiência da guerra de Carolina e sua vida no campo, marcada pela escassez e pela violência, a tornam profundamente desconectada da vida urbana e consumista. Quando se vê em Maputo, cercada de luxos e comodidades, ela questiona as prioridades da sua família e a desigualdade que ainda persiste na sociedade, refletindo sobre como as "vaidades" da cidade não podem compensar os sofrimentos passados.


8. O que a mancha de sangue que permanece na alcatifa simboliza, mesmo após a partida de Carolina?

Resposta: A mancha de sangue que persiste na alcatifa após a partida de Carolina simboliza a impossibilidade de apagar o passado e as cicatrizes da história. Mesmo que a família tente continuar suas vidas normalmente, a mancha se torna um lembrete permanente da resistência de Carolina e de seu legado de sofrimento, que está intrinsecamente ligado à sua identidade.


9. Em que aspectos a avó Carolina pode ser considerada uma figura de resistência no conto?

Resposta: A avó Carolina é uma figura de resistência ao desafiar o consumismo e a alienação de sua família. Ela não aceita passivamente o luxo material da cidade e busca preservar os valores de luta, simplicidade e memória histórica. Seu gesto de quebrar a televisão é uma forma de resistir à passividade da família diante dos problemas sociais e ao mundo superficial em que estão imersos.


10. Qual é a importância da crítica ao consumismo e à alienação no contexto social de Moçambique pós-independência?

Resposta: A crítica ao consumismo e à alienação no conto reflete a realidade social de Moçambique pós-independência, onde o desejo de ascensão social e a busca pelo consumo exacerbado acabam distantes dos ideais de solidariedade e bem comum que marcaram a luta pela independência. O conto questiona a ideia de que a independência e a prosperidade material são suficientes para trazer felicidade e justiça social, destacando as desigualdades que persistem.

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